quinta-feira, 28 de setembro de 2023

O CUSTO DIÁRIO DO 'SIM' E DO 'NÃO'

 Missa do 26º dom. comum. Palavra de Deus: Ezequiel 18,25-28; Filipenses 2,1-11; Mateus 21,28-32

 

Todos os dias a vida nos chama a fazer escolhas e a tomar decisões. Essas escolhas e decisões implicam em dizer ‘sim’ a algumas situações e dizer ‘não’ a outras. Se nós podemos fazer escolhas e tomar decisões significa que somos livres, e a história da nossa vida está sendo escrita exatamente hoje, quando podemos ou manter o nosso ‘sim’, ou mudá-lo em ‘não’.

O pai e os dois filhos, na parábola contada por Jesus, representam Deus, nós e a nossa liberdade. Cada vez que Deus nos dirige a sua Palavra, está dialogando com a nossa liberdade: “Filho, vai trabalhar hoje na vinha!” (Mt 21,28). Ao nos chamar a trabalhar na vinha, Deus está nos propondo valores, ideais, tarefas – numa palavra, uma missão, e nós temos a liberdade de responder ‘sim’ ou ‘não’ à sua proposta. Jesus chama a atenção não para a resposta dada no momento, mas para a atitude tomada depois da resposta: no primeiro momento, um filho disse ‘sim’ ao pai, mas depois acabou não sustentando o ‘sim’ dito; já o outro, no primeiro momento, disse ‘não’ ao pai, mas acabou mudando de ideia e fazendo o que o pai lhe pediu, dizendo, portanto, ‘sim’.

Cada um de nós poderia olhar para a sua história de vida e se perguntar: para o quê eu disse ‘sim’ ontem? Esse ‘sim’ está sendo mantido, ou se tornou ‘não’, com as minhas atitudes? Posso ter dito ‘sim’ ao abraçar um relacionamento, ao me comprometer com uma causa em favor do bem comum, ao tomar a decisão de seguir Jesus e viver segundo seu Evangelho... A questão é saber se as minhas atitudes hoje estão atualizando o ‘sim’ dado ontem, ou se estão fazendo exatamente o contrário.

Também seria importante analisarmos o outro lado: para o quê eu disse ‘não’ ontem? Posso ter dito ‘não’ para um vício, uma atitude corrupta, uma proposta de infidelidade, uma tentação etc. Mas, e hoje? Eu ainda sustento o ‘não’ que disse, ou ele tem se transformado em ‘sim’? Mudar o ‘sim’ em ‘não’ e o ‘não’ em ‘sim’ não tem problema algum, desde que aquilo que nos mova na vida seja ajustar o nosso comportamento à vontade de Deus. O problema é quando a mudança que fazemos nos leva a nos afastar da vontade de Deus e da sua salvação.  

Trazendo o Evangelho para os nossos dias atuais, não é difícil constatar a constante instabilidade na resposta que nós, pessoas do século XXI, damos às várias propostas que a vida nos apresenta. Tanto o nosso ‘sim’ quanto o nosso ‘não’ carecem de perseverança, de compromisso e de fidelidade, seja porque foram dados na hora da emoção – e emoção passa –, seja porque o custo para sustentá-los se apresentou alto demais, e acabamos mudando de resposta para pararmos de sofrer. Nos esquecemos de que Jesus, embora sendo Filho de Deus, aprendeu o que significa a obediência à vontade do Pai por aquilo que sofreu (cf. Hb 5,8). Ninguém sustenta seu ‘sim’ ou seu ‘não’ sem sofrer. Como nossa geração é avessa ao sofrimento, toda e qualquer dor torna-se justificativa mais do que suficiente para sermos infiéis à resposta dada a Deus.

O profeta Ezequiel nos mostra que o tempo mais importante para respondermos ao chamado de Deus é o dia de hoje: se até ontem dissemos ‘não’ a Deus e hoje decidirmos dizer ‘sim’, encontraremos a verdadeira vida. O contrário também é verdade: se até ontem dissemos ‘sim’ a Deus e hoje decidirmos dizer ‘não’, nos afastaremos da vida e caminharemos na direção da morte, lembrando que essa morte não é “castigo” de Deus, mas consequência de escolhas que nos levam à destruição de nós mesmos como pessoas. Portanto, o nosso grande desafio é atualizar o nosso ‘sim’ a Deus, conformando diariamente nossa vida à Sua vontade. Sem essa atualização, a nossa intenção de viver segundo a vontade de Deus perde o sentido e nós abandonamos a missão que havíamos abraçado.   

Houve uma religiosa que se consagrou a Deus durante cinquenta anos. Ao completar seu jubileu, ela recebeu como “prêmio” um período de férias com sua família. Estando em casa, com sua família, a religiosa tomou a decisão de não mais voltar para a vida consagrada no convento. Esse fato chocante nos faz perceber que nenhuma resposta que damos a Deus e à vida são definitivas. Nosso ‘sim’ pode mudar-se em ‘não’, e vice-versa. A questão é nos perguntar se os motivos da mudança se justificam ou não, e se toda mudança que fazemos na vida está nos aproximando ou nos afastando da vontade de Deus, que nada mais é do que o nosso bem e a nossa salvação.

 A oração do salmista pode nos ajudar: “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos, e fazei-me conhecer a vossa estrada! Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação” (Sl 25,4-5). Num tempo como o nosso, onde os compromissos assumidos ontem são abandonados hoje, com ou sem motivo justo, precisamos que Deus nos oriente com sua verdade, em nossas escolhas e decisões, para que não nos afastemos da sua vontade. Precisamos ter em nós o mesmo sentimento que havia em Cristo Jesus (cf. Fl 2,5): “Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,7). Quando nos submetemos à vontade de Deus (obediência), podemos até fazer uma dura experiência de cruz, mas ali está a certeza da nossa salvação, pois Deus quer somente o nosso verdadeiro bem.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi  

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