sábado, 29 de dezembro de 2012

EM TUDO O QUE ME ACONTECER, ENCONTRAREI O TEU AMOR


Missa de Ano Novo – Maria, mãe de Deus. Dia mundial da Paz e da Fraternidade universal. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21.

            Nós sempre iniciamos o ano com alguma expectativa. Suas expectativas se concretizaram, ao longo deste ano que termina? Que sentimento o(a) acompanha neste final de ano: Gratidão? Louvor? Frustração? Raiva? Considerando as palavras: “... já não és escravo, mas filho” (Gl 4,7), você viveu este ano como escravo(a) ou como filho(a)?
Seria bom que, antes de passarmos de um ano para outro, fizéssemos uma avaliação sobre como foi o ano que está terminando. Mas, como avaliar se ele foi bom? Muitos o avaliam a partir da sua conta bancária, do crescimento da sua empresa, da condição em que se encontra a sua vida afetiva etc.: se você termina o ano com mais dinheiro do que quando começou, ou com a pessoa amada ao seu lado, então o ano foi bom; caso contrário, você o avalia como ruim. Porém, como cristão, você tem outro critério para avaliar o ano que termina. Pergunte-se: eu terminei este ano mais aberto(a) ou mais fechado(a) à vontade de Deus?
Antes de virar a página, de trocar de calendário, olhe para a atitude de Maria: “Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19). Na música “É impossível”, se diz: “Em tudo que me acontece encontro o Teu amor. Já não se pode mais deixar de crer no Teu amor”. Olhando para os acontecimentos que se deram na sua vida ao longo deste ano que termina, em quais deles você consegue perceber o amor de Deus por você? “Em tudo que me acontece...” significa quando Deus também me disse “não”, ou “ainda não”...
 A atitude de Maria nos ajuda a refletir sobre tudo o que nos acontece e perceber ali o amor de Deus nos conduzindo. A atitude de Maria nos ajuda também a nos colocar diante do novo ano que nasce, e a nos dispor a vivê-lo ouvindo nosso próprio coração. Dentro dele, conforme São Paulo apóstolo nos recorda, está o Espírito de Jesus, que clama: “Abá – ó Pai!” (Gl 4,6), o clamor de quem é filho e sabe ser conduzido pelo Pai, o clamor de quem é herdeiro, portador de uma herança eterna, portador da bênção espiritual do Pai, mais preciosa do que toda a riqueza deste mundo.
Ao virar a página, ao mudar de calendário, pergunte-se: que sentimentos me acompanham no início deste ano? Estou iniciando o novo ano com fé, com confiança, ou com desânimo, com descrédito? O que fazer, para que o novo ano seja bom? Vestir-se de branco? Tomar sopa de lentilha? Comer caroçinhos de romã? O caminho que se abre à nossa frente é incerto. Não sabemos o que vamos enfrentar. Não sabemos o que nos acontecerá. Mas podemos iniciar este novo ano confiando-nos ao Senhor, como diz a Palavra: “Entrega teu caminho ao Senhor, confia nele e ele agirá” (Sl 37,5). 
Nesta noite de ano novo, pedimos a bênção de Deus para a nossa vida: “Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção, e sua face resplandeça sobre nós” (Sl 67,2). Todavia, se pedimos a bênção de Deus, devemos também nos dispor a conhecer o seu caminho, a andar de acordo com a sua vontade: “Que na terra se conheça o seu caminho e a sua salvação por entre os povos (Sl 67,3).
O evangelho nos lembra que estamos no oitavo dia do Natal, dia em que foi dado ao Filho nascido de Maria o nome de “Jesus”, que significa “Deus salva”. “Jesus” não é uma palavra mágica, mas o nome pelo qual podemos invocar a salvação de Deus sobre nós. Porém, o próprio Jesus disse: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Portanto, não se trata de invocar o nome de Jesus e tudo se revolve, mas de viver como ele e sua mãe viveram, procurando fazer em tudo a vontade do Pai. 
Neste dia em que invocamos a bênção de Deus sobre a humanidade, a bênção da paz e da fraternidade universal, podemos fazer um gesto: nos voltar uns para os outros, colocar a mão sobre a cabeça uns dos outros e pedir: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26). Se a pessoa não está presente, podemos pegar uma foto dela, colocar a mão sobre a foto e pedir a mesma bênção.
Enfim, iniciando este Ano da Fé, podemos dizer: “Em tudo o que me acontecer, encontrarei o Teu amor”; podemos viver cada dia deste novo ano tendo no coração esta certeza: “Somos amados por Deus desde antes de termos nascido e depois de termos morrido. Todas as circunstâncias entre nosso nascimento e nossa morte não negarão essa realidade” (Henri Nouwen). Assim, podemos declarar nossa fé no amor do Pai por nós e por toda a humanidade, cantando: 
Teu amor me cura, me abraça, meu Deus! Teu amor me cura, me abraça, meu Deus, meu tudo! 
Me modelando estás com Teu Espírito, como um barro nas mãos do oleiro, cuidando de mim, do meu coração. É impossível não me render à ação do Teu amor! 
Me acolhendo estás todo em Teus braços, como criança no colo materno. Confio em Ti, em Ti quero estar. Senhor, eu sei que o Teu amor sempre irá me acompanhar por onde eu for! 
Teu amor me cura (Nando Mendes) 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

DA PERDA PARA O REENCONTRO


Missa da Sagrada Família – Palavra de Deus: Eclesiástico 3,3-7.14-17a.; Colossenses 3,12-21; Lucas 2,41-52

            A febre não é uma doença; ela apenas indica que existe uma enfermidade no corpo da pessoa. Por isso, não basta apenas combater a febre; é preciso investigar e tratar a causa dela, a infecção que começa a se desenvolver no corpo da pessoa.
            Normalmente, é nas escolas que se constata a febre: a criança não vai bem nos estudos, tem crises de choro, é depressiva, come em excesso, em outros casos quase não se alimenta, agride os colegas com palavras e com atitudes etc. O comportamento “estranho” da criança na escola nos diz, muitas vezes, que a sua família está doente. Há uma ferida dentro de casa que não está sendo tratada. Há um conflito no seio da família que não está sendo enfrentado, ou está sendo enfrentado de forma errada.   
            O alto índice de criminalidade entre os jovens, o envolvimento cada vez mais precoce e cada vez mais profundo com a bebida e as drogas nas novas gerações nos faz constatar que algo não vai bem com a família: o vínculo conjugal está fragilizado ou se rompeu; o diálogo entre pais e filhos é sempre tenso, ou não existe; a ausência de um dos pais não foi assimilada pelos filhos; as ofensas verbais, e às vezes físicas também, se tornaram rotina etc.
            A celebração de hoje nos propõe a família de Nazaré como ponto de partida de reflexão sobre a nossa família. Os evangelhos nos revelam que Maria, José e o menino Jesus passaram por momentos muito difíceis. Um deles é retratado aqui: a perda e o reencontro do menino Jesus. Este fato, por si só, já nos mostra que a perda faz parte da vida de qualquer família, por mais que exista amor entre seus membros, por mais que a família tenha uma religião e cultive a sua fé. Mas o evangelho de hoje nos diz que, se não desistirmos de procurar aquele que perdemos, poderemos reencontrá-lo e reintegrá-lo em nossa família.
          A perda de Jesus não foi proposital: “... o menino ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem” (Lc 2,43). Existem perdas que são consequência da nossa intransigência, da nossa teimosia em não querer mudar nossas atitudes. Por isso, quando sofremos uma perda, é sempre bom nos perguntar: “Qual foi a minha parcela de responsabilidade nesta perda?”. Isso nos ajuda a sair do papel de vítima e a ter uma atitude positiva diante do problema.
Há perdas que são consequência do “não notar”, “não perceber o outro”, que está se afastando de nós a cada dia. Muitos filhos se perdem nas drogas ou na criminalidade sem que seus pais o notem, seja porque os pais estão ocupados demais consigo mesmos, com o seu trabalho, seja porque estão distraídos com as compensações afetivas que encontram como remendo para tapar o buraco de uma vida sexual frustrante no casamento. Da mesma forma como, hoje em dia, muitos filhos se perdem dos pais dentro de casa, na internet, muitos pais nem se dão conta de estarem perdendo seus filhos porque eles mesmos estão perdidos no labirinto da internet.
Ao se darem conta da perda, os pais de Jesus “voltaram para Jerusalém à sua procura” (Lc 2,45). A perda não tem que ser definitiva, mas pode se converter em reencontro, desde que não desistamos das pessoas, desde que os pais deixem de se acusarem mutuamente pelo que aconteceu e decidam trabalhar juntos para recuperar o filho que se perdeu ou que está se perdendo. Cada membro da família precisa voltar, refazer o caminho, perceber onde foi que a perda começou a se concretizar, e se propor a mudar: “Esposas, sede solícitas para com vossos maridos... Maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros com elas. Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais... Pais, não intimideis os vossos filhos...” (Cl 3,18-21).
“Três dias depois, o encontraram no templo” (Lc 2,46). O templo é sinônimo da presença de Deus. Poderíamos, então, dizer: ‘três dias depois, o encontraram em Deus’. Só em Deus nossas perdas podem se converter em reencontro. Só em Deus aquilo que morreu em nós pode ressuscitar. Ele é o Deus que, em seu Filho Jesus, veio procurar cada um de nós, “veio procurar e salvar aquele que estava perdido” (Lc 19,10). Daí a importância de os pais formarem em seus filhos a consciência da filiação divina, e não apenas da filiação humana. Além do mais, como disse Içami Tiba: “Pais que levam seus filhos à igreja dificilmente terão que visitá-los numa cadeia”.
            Crê na força do amor que tudo pode mudar! Ama a tua família. O amor vencerá! Como foi feliz a santa família de Nazaré, a tua também será se tiveres fé! Jesus, Maria e José minha família vossa é! Jesus, Maria e José minha família vossa é! Abençoai a minha casa! Cuidai bem dela pra mim. Vou amar minha família até o fim! (Banda Louvor e Glória, música Sagrada Família).
                                                                        Pe. Paulo Cezar Mazzi

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

UM FILHO NOS FOI DADO


Missa da Vigília de Natal. Palavra de Deus: Isaías 9,1-3.5-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14. 

Cada vez que celebramos o Natal, recordamos que o nosso Deus se fez homem, na pessoa de seu Filho Jesus. O divino se humanizou. Assim, nesta noite de Natal, convém perguntar: estamos mais humanizados hoje?  Cada vez que celebramos o Natal, recordamos que o nosso Deus, que habita em lugar alto e santo, se fez homem para se colocar junto com o humilhado e desamparado, “a fim de animar os espíritos desamparados, a fim de animar os corações humilhados” (Is 57,15). Foi por isso que o Filho de Deus não nasceu no Palácio do imperador César Augusto, mas numa estrebaria, sendo colocado numa manjedoura, para nos dizer que Deus sempre entra em nossa história pela porta dos fundos, a partir da nossa fraqueza e da nossa humilhação.
O Natal nos convida a sermos mais humanos. O Natal também nos convida a descer do lugar alto do nosso orgulho, da nossa autossuficiência, e nos colocar junto do humilhado e desamparado, além de acolher a nossa própria humilhação e desamparo como portas abertas para Deus entrar em nossa vida e se colocar junto a nós como Salvador.  
O nascimento de Jesus se deu numa estrebaria, onde os animais costumavam dormir e se alimentar, porque “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Isso nos leva a reconhecer que, embora hoje a maioria das pessoas celebre o Natal, ainda não há lugar para Deus nascer na vida delas, porque seus corações estão voltados para o Palácio e não para a manjedoura, para o Imperador e não para um menino, para a grandiosidade e não para a simplicidade. A graça do Natal pode passar despercebida na vida da maioria das pessoas, porque muitas delas estão perdidas no ativismo, na correria, no consumismo, na superficialidade, no vazio, distanciando seu coração de Belém.
Ao narrar o nascimento de Jesus, o evangelho nos fala de um recenseamento que obrigou Maria e José a se deslocarem de Nazaré para Belém. Recenseamento é sinônimo de dominação política. Hoje nós nos sentimos debaixo de uma espécie de mão invisível que nos domina, que nos joga de um lado para outro: a mão invisível do domínio econômico, da violência dos traficantes, da corrupção política que também alimenta a violência em nossa sociedade. Mas a Escritura diz que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio” (Rm 8,28). Tudo serve aos planos de Deus. Ele pode usar dos ventos contrários para nos conduzir ao porto. Desse modo, seu Filho nasce em Belém para se cumprir a profecia que ouvíamos ontem, na primeira leitura, e para que nós tenhamos fé na Palavra do Senhor, a qual afirma que a nossa vida está nas mãos de Deus, não nas mãos dos homens, muito menos de um destino cego.
Diante dessa Palavra nos colocamos hoje. Ela nos diz: “... o jugo que pesava sobre eles..., a vara do opressor, tu os despedaçaste... Todo calçado que pisa com violência o chão, toda veste manchada de sangue serão queimadas, serão devoradas pelo fogo. Porque para nós nasceu um menino, um filho nos foi dado” (Is 9,3-5). Cada vez que Jesus volta a nascer no coração das pessoas, os instrumentos de guerra são destruídos, as atitudes violentas se transformam e desaparecem os sinais de violência e de exploração. Por isso, o apóstolo Paulo diz que a graça de Deus, que se manifestou como salvação para todas as pessoas em seu Filho Jesus, nos convida a não mais viver com o coração fechado para Deus, a não mais nos deixar arrastar pelas paixões mundanas, mas a ter uma vida equilibrada, um comportamento justo e um coração obediente a Deus, enquanto aguardamos a manifestação definitiva de seu Filho Jesus, nosso Salvador. 
Em cada Natal, voltamos a ouvir estas palavras do Anjo: “Não tenhais medo!... Nasceu-vos hoje um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2,10-11). Em cada hoje da nossa vida Jesus quer voltar a nascer e se fazer sentir vivo como nosso Salvador. Este é o sinal da sua presença junto a nós: “um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura”. Acolhamos este sinal. Acolhamos a graça de Deus que veio trazer a salvação a todas as pessoas. Acolhamos o menino que nasceu para nós, o filho que nos foi dado, Aquele que vem destruir as armas de guerra, transformar nossas atitudes violentas e nos dar a sua paz.
Pe. Paulo Cezar Mazzi





quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Antes do nascimento, a espera; antes da espera, a fé


Missa do 4º. dom. do advento. Palavra de Deus: Miquéias 5,1-4a; Hebreus 10,5-10; Lucas 1,39-45.

Estamos às vésperas da celebração do Natal. Natal significa nascimento, e todo nascimento é feito de espera. Quantas coisas já foram abortadas em sua vida por você não saber esperar? O nascimento precisa da espera para se concretizar, e a espera é feita de confiança, é feita de fé, não de fé em nós mesmos, e sim de fé em Deus, na sua Palavra.
O evangelho que acabamos de ouvir nos mostra que antes de Jesus nascer de Maria, nasceu em Maria, conforme as palavras de Isabel: “Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!” (Lc 1,45). Antes que as bênçãos de Deus nasçam concretamente em sua vida, elas precisam, primeiro, nascer dentro de você pela fé, uma fé que sabe esperar no Senhor, até que a Palavra dele se cumpra em sua vida.
O profeta Miquéias nos lembra que a espera é sempre sofrida, porque enquanto esperamos somos tentados a nos sentir abandonados por Deus: “Deus deixará seu povo ao abandono até o tempo em que uma mãe der à luz” (Mq 5,2). Quem de nós já não fez na vida a experiência de ter sido abandonado por Deus? Ainda que essa experiência se repita muitas vezes, o profeta nos diz que esse abandono é temporário. Na verdade, ele é o tempo da gravidez, da gestação de algo que Deus quer gerar em nossa vida, mas que precisa de tempo, o tempo da espera, o tempo da fé.
Se temos dificuldade em crer nas promessas do Senhor, o evangelho nos coloca diante de Isabel, imagem do Antigo Testamento, símbolo de um povo que envelheceu e cujo ventre, cujas entranhas, cujo coração, se tornou estéril. Mas justamente ali Deus fez nascer a vida, porque para Ele nada é impossível (cf. Lc 1,37). Foi essa a experiência que Abraão também fez: “E foi sem vacilar na fé que considerou seu corpo já morto (velhice)... e o seio de Sara também morto (esterilidade). Ante a promessa de Deus, ele não se deixou abalar pela desconfiança, mas se fortaleceu na fé... convencido de que podia cumprir o que prometeu” (Rm 4,19-21).
 Se Isabel, idosa e estéril, está grávida é porque a fé não se apoia naquilo que nós podemos fazer, mas naquilo que Deus pode fazer em nós e por meio de nós. Se às vezes nos sentimos pequenos, insignificantes, fracos, lembremos do que o Senhor nos diz: “Basta-te a minha graça, pois é na (tua) fraqueza que a (minha) força manifesta todo o seu poder” (2Cor 12,9). Em nossa pequenez e em nossa fraqueza Deus encontra espaço para agir. Foi por isso que Ele escolheu a pequena e insignificante Belém como lugar de nascimento daquele que não recua diante do mal, que apascenta a humanidade com a força do Senhor e que vem nos trazer a paz e a salvação (cf. Mq 5,1.3-4).
O nascimento precisa da espera para se concretizar, e a espera é feita de fé: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45). Feliz é aquele que crê na Palavra do Senhor e espera na Sua promessa. Feliz é aquele que considera sua fraqueza à luz da fé e compreende que ela pode se tornar a porta de entrada para a graça transformadora de Deus em sua vida. Se, a exemplo de Maria, crermos naquilo que o Senhor nos diz e esperarmos pelo cumprimento das Suas promessas, permitiremos que uma nova vida comece a se formar e a nascer em nós.
Peçamos ao Senhor que nos ajude a viver o nosso tempo de espera nas Suas promessas não como tempo de abandono, mas como tempo de gestação daquilo que Ele quer gerar em nós pela fé. Ao nos deparar com a nossa pequenez e a nossa fraqueza, não nos deixemos abalar pela desconfiança, mas nos fortaleçamos na fé, convencidos de que Deus pode realizar em nós aquilo que prometeu. Desse modo, experimentemos a mesma alegria que Isabel e Maria experimentaram, reconhecendo em nossa vida a ação misericordiosa de Deus, que transforma a vida daqueles que nele creem e nele esperam.
 Pe. Paulo Cezar Mazzi 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A alegria pela busca e pela espera


Missa do 3º. dom. do advento. Palavra de Deus: Sofonias 3,14-18a; Filipenses 4,4-7; Lucas 3,10-18.

            “Alegra-te e exulta de todo o coração!” (Sf 3,14). Na medida em que nos aproximamos da celebração do Natal, a Palavra de Deus nos convida a nos alegrar: “Alegrai-vos sempre no Senhor!... O Senhor está próximo” (Fl 4,4). Você está alegre? Ultimamente você tem sentido alegria? É até possível que você tenha razões para não estar alegre, neste momento, mas quais razões você teria para recuperar a sua alegria?
            As razões que temos para não nos sentirmos alegres podem ser muitas: a doença, o desemprego, o conflito com determinada pessoa, a dificuldade financeira, a solidão, o fim do relacionamento etc. Contudo, a Escritura nos dá razões para recuperarmos a nossa alegria: “O Senhor está em teu meio...; não precisará mais ter medo de alguma desgraça. O Senhor teu Deus está a teu lado como valente libertador!” (Sf 3,16-17).
O motivo da nossa alegria não está no fato de termos uma vida sem problemas ou dificuldades, mas em termos em quem confiar, em quem depositar a nossa fé: no Senhor, nosso libertador. Se muitas são as coisas nos preocupam, ao invés de sermos consumidos pelo medo, pela inquietação e pela ansiedade, devemos apresentar as nossas necessidades a Deus por meio da oração. “Então, a paz de Deus, que supera todo entendimento”, que supera toda a nossa expectativa humana, guardará nosso coração e nosso pensamento em Cristo Jesus (cf. Fl 4,6-7).
Existe um convite à alegria, por parte de Deus, e existe também uma cobrança de alegria, por parte do mundo. O mundo exige que estejamos alegres 24 horas por dia. Desse modo, se a alegria não nascer espontaneamente dentro de nós, ela deverá vir para fora à força, à custa de bebida ou de droga. O importante é passar para os outros a imagem de que você está alegre. Assim também, a propaganda joga com a imagem da alegria: se você adquirir determinado produto, sentirá uma alegria intensa e, o que é melhor, imediata! Você compra o produto, e depois de uma semana a alegria por tê-lo adquirido volta a se apagar dentro de você, esperando ser acesa novamente na aquisição de um novo produto.
Deus não nos cobra alegria, não exige que estejamos alegres a todo momento, mas nos convida a nos voltarmos para Ele, fonte da nossa alegria. O próprio fato de procurarmos por Deus em nosso caminho de fé já deve ser motivo de alegria, como diz a Escritura: “Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor” (Sl 105,3). E, neste tempo de advento, poderíamos dizer: ‘Alegre-se o coração dos que esperam pelo Senhor’. A própria procura, a própria espera já é motivo de alegria. Como disse a raposa ao Pequeno Príncipe, “Se tu vens às quatro, desde as três começarei a ser feliz” (Exupery). Não sabemos a que horas o Senhor virá, mas basta a nossa espera diária por Ele para que o nosso coração se alegre. 
“Que devemos fazer?”, perguntaram tantas pessoas a João Batista, em vista de se prepararem para a chegada do Salvador. “Que devemos fazer?”, perguntamos nós hoje, para participarmos da alegria que vem de Deus. João nos dá algumas indicações: repartir, partilhar os bens, ao invés de só acumular; não apoiar a nossa alegria em coisas que podem ser tiradas de nós ou destruídas; passar do pensar apenas em si mesmo e ver o outro como inimigo/ameaça, para pensar também no outro e vê-lo como irmão; agir com misericórdia, no trato com as pessoas; não explorá-las; não usar do poder, do cargo, da autoridade para oprimir ou maltratar alguém; não se corromper etc.
Para ajudar as pessoas a se prepararem para a vinda de Jesus, João as batizava com água, mergulhando-as na sua própria verdade, na água do seu limite e da sua morte, na sua finitude humana, na esperança que viesse Aquele que João designava como o “mais forte do que eu” (Lc 3,16). Jesus veio para nos mergulhar no Espírito Santo, na vida que vem de Deus, e somente o Espírito Santo pode nos dar verdadeira alegria. O seu fogo que queima é a verdade que consome as nossas mentiras e nos liberta das nossas falsas alegrias.
Entreguemo-nos Àquele que é mais forte do que nós, e deixemos com que Ele separe o que em nós é trigo e palha (cf. Lc 3,17), e coloque em nosso coração a sua alegria em nós, para que a nossa alegria seja plena (cf. Jo 15,11). 
                              Pe. Paulo Cezar Mazzi 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

DESOBSTRUIR O ACESSO À SALVAÇÃO


Missa do 2º. dom. do advento. Palavra de Deus: Baruc 5,1-9; Filipenses 1,4-6.8-11; Lucas 3,1-6

                        Hoje estamos dando nosso segundo passo na direção d’Aquele que vem. Assim como João Batista preparou a humanidade para a primeira vinda de Jesus, assim a sua voz ecoa hoje em nós, convidando-nos a rever a estrada da nossa vida, pela qual Jesus deve passar e chegar até nós.
                        “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Lc 3,4). Talvez você já tenha feito a experiência, na sua oração, de ficar esperando “inutilmente” pelo Senhor. Você espera, espera, mas Ele não vem. Embora nós não possamos controlar Deus e determinar para Ele quando e como vir até nós, nós sempre podemos – e devemos – “preparar o caminho” para Ele vir, “endireitar a estrada” para Ele chegar até nós. Isso significa que devemos reconhecer nossas resistências em relação a Ele e à sua Palavra; significa ter a coragem de remover os obstáculos que nós mesmos colocamos entre nós e Deus; significa ainda lidar com o medo que temos de que Deus chegue muito perto ou nos peça para mexer em algo que não queremos mexer.
                        E então, como está o caminho, a estrada da sua vida, neste momento? “Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados” (Lc 3,5). No sentido pessoal, o vale pode representar sua falta de fé e de confiança em Deus, as quais fazem você cavar um buraco e se enfiar dentro dele. A montanha e a colina podem representar seu orgulho, sua mania de grandeza, sua autossuficiência, aquela atitude de viver o seu dia a dia como se Deus não existisse e só procurá-Lo quando você não consegue mais dar conta dos problemas que você mesmo criou. As passagens tortuosas e os caminhos acidentados são aquelas irregularidades com as quais já nos habituamos a conviver e que não mais questionam a nossa consciência, mas que nos afastam da verdade de Deus.
                        Mas o vale, a montanha e a colina, as passagens tortuosas e os caminhos acidentados têm também um sentido social: eles nos falam das desigualdades sociais que não mais nos escandalizam e com as quais talvez estejamos até colaborando para se perpetuarem. “Deus ordenou que se abaixassem todos os altos montes e as colinas eternas e se enchessem os vales para aplainar a terra, a fim de que Israel caminhe com segurança, sob a glória de Deus” (Br 5,7). A terra precisa ser aplainada, as desigualdades sociais precisam ser enfrentadas e superadas. Só assim poderemos caminhar com segurança, isto é, viver em paz uns com os outros.
                        “E todas as pessoas verão a salvação de Deus” (Lc 3,6). Quando endireitamos as nossas veredas pessoais, quando nos esforçamos para aterrar os vales e rebaixar os montes que nos distanciam daqueles com quem convivemos na família e no trabalho, quando colaboramos para consertar as passagens tortuosas e os caminhos acidentados das desigualdades sociais, a salvação de Deus começa a ser vista, começa a se tornar realidade em nossa vida e na vida das outras pessoas.  
Olhando para a nossa realidade pessoal e social, certamente podemos suplicar como o salmista: “Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como torrentes no deserto” (Sl 126,4). De fato, o salmo 65 afirma que quando Deus passa pelo deserto da nossa vida, ele se transforma em terra fértil (cf. Sl 65,12-13). A nós cabe remover os obstáculos para que Ele possa passar. A nós cabe também semear, mesmo que em meio ao sofrimento, à dor, às lágrimas, pois “os que lançam as sementes entre lágrimas ceifarão com alegria. Chorando de tristeza sairão espalhando suas sementes; cantando de alegria, voltarão, carregando os seus feixes” (Sl 126,5-6).
Lançar as sementes entre lágrimas significa não perder a fé mesmo em meio a uma grande dor; significa crer na Palavra que diz: “Saíram de ti, caminhando a pé, levados pelos inimigos. Deus os devolve a ti, conduzidos com honras, como príncipes reais” (Br 5,6); significa ter a certeza de que “aquele que começou em vós uma boa obra há de levá-la à perfeição até o dia de Cristo Jesus” (Fl 1,6). Assim como “a palavra de Deus foi dirigida a João, (...) no deserto” (Lc 3,2), hoje ela é dirigida a você, para que no deserto deste mundo, marcado pela aridez espiritual, por uma fé que seca e por uma esperança que murcha cada vez mais no coração das pessoas, você possa anunciar a Palavra que transforma o deserto numa terra fértil, um coração que perdeu o sentido da fé num coração que voltou a crer e a enxergar a salvação que vem de Deus, e somente d’Ele. 
                                  Pe. Paulo Cezar Mazzi 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ALGUÉM ESTÁ ESPERANDO POR MIM!



Missa do 1º. dom. do advento. Palavra de Deus: Jeremias 33,14-16; 1 Tessalonicenses 3,12 – 4,2; Lucas 21,25-28.34-36.

Você espera? Espera por algo? Espera por alguém em sua vida? Você tem esperança?
Na época dos campos de concentração, muitas pessoas enlouqueceram e tantas outras se suicidaram por não suportarem os terríveis sofrimentos a que foram expostas. Mas algumas delas conseguiram sobreviver a todo aquele sofrimento, sem enlouquecer e sem se desesperar, por um único motivo: elas tinham alguém esperando por elas fora do campo de concentração, e a esperança de reencontrar essa pessoa as ajudava a ter uma outra postura diante daquele sofrimento. 
 Advento significa esperar aquele que vem. Ao mesmo tempo em que recordamos a primeira vinda de Cristo (celebração do Natal), reafirmamos a nossa fé na sua segunda vinda (Parusia), conforme a sua promessa: “Sim, venho muito em breve!” (Ap 22,20). Aos cristãos, que já estavam se cansando de esperar, o autor da carta aos Hebreus escreveu: “Porque ainda um pouco, muito pouco tempo, e aquele que vem, chegará e ele não tardará” (Hb 10,37). A questão é saber se ainda estamos esperando por Cristo, e de que forma estamos esperando.
   “Tu vens! Tu vens! Eu já escuto os teus sinais!”, diz a música Anunciação, de Alceu Valença. Da mesma forma que a hora do parto é precedida por dores, a chegada de Cristo será precedida pela dor de toda a criação, pela angústia das nações e pelo medo dos homens. “Então eles verão o Filho do homem vindo numa nuvem com grande poder e glória” (Lc 21,27). Mas, por que o medo diante da vinda de Jesus? Porque, para muitos, Jesus se tornou como que um estranho. No começo, tinham intimidade com ele; mas depois se afastaram, se cansaram de esperar pelas suas promessas, abandonaram a prática da fé, e agora a vinda de Cristo soa para eles como uma ameaça.
   Jesus nos convida a esperá-lo não com medo, mas com amor; não angustiados, mas com o coração cheio de alegria: “Quando essas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21,28). Assim como algumas pessoas não se entregavam à loucura ou ao desespero, porque sabiam que havia alguém esperando por elas fora do campo de concentração, assim nós enfrentamos as turbulências do tempo presente em pé e com a cabeça erguida, porque sabemos em quem colocamos a nossa fé (cf. 2Tm 1,12); sabemos por quem esperamos (cf. Fl 3,20-21).
 Muitos, por terem deixado de crer e de esperar, colocaram o sentido da sua vida no consumismo, na comida (gula), na bebida (embriaguez), e se atormentam com inúmeras preocupações. São pessoas que constroem para si mesmas uma armadilha, na qual se aprisionam e dentro da qual sofrem, sem esperança de serem libertas. Por isso, Jesus nos convida a ficarmos atentos, a guardarmos a nossa fé e a revitalizarmos a nossa esperança por meio da oração.
“Ficai atentos e orai a todo momento” (Lc 21,36). Cada momento da nossa vida é oportunidade ou de nos aproximarmos do Senhor, ou de nos distanciarmos dele. A oração nos ajuda a perceber se estamos próximos ou distantes do Senhor. Quando nos colocamos em oração, nos colocamos na presença de Deus, e quem vive a cada dia na presença de Deus não tem porque temer a Sua chegada. Pelo contrário, a deseja com alegria, porque poderá vê-Lo face a face (cf. 1Cor 13,12).
         Jesus termina o evangelho de hoje dizendo: “... orai a todo momento... para ficardes de pé diante do Filho do homem” (Lc 21,36). Quem diariamente dobra seus joelhos na oração não se dobra, ou seja, não é derrubado pelas turbulências que enfrenta no mundo. Essa pessoa poderá ficar em pé diante do Senhor Jesus, em pé como alguém que não se deixou enlouquecer ou perder o sentido da vida diante do sofrimento, mas o superou porque sempre soube em quem depositou a sua fé e por quem esperou. 
Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

SOB O SENHORIO DE DEUS


Missa de Cristo Rei – Palavra de Deus: Daniel 7,13-14; Apocalipse 1,5-8; João 18,33b-37.

Nos povos antigos, a figura do rei simbolizava proteção, defesa, garantia de vida e de paz. O rei era visto também como alguém que está acima de todos e que detém o poder sobre todos. Aos poucos, a imagem do rei foi associada a Deus. Ele é rei soberano, o Todo-poderoso, Aquele que nos protege, nos defende dos inimigos. Junto a Ele encontramos vida, encontramos paz.
O povo de Israel viveu muito tempo sem ter um rei, governado apenas pelo Senhor e por sua Palavra. Mas um dia Israel quis ter seu próprio rei humano, à semelhança de outros povos. E Deus, então, concluiu: “Israel não quer mais que eu reine sobre ele” (citação livre de 1Sm 8,7). A primeira questão, portanto, que se coloca para cada um de nós é esta: eu quero que Deus reine sobre mim? Eu vivo sob o senhorio de Deus?
A Palavra de Deus nos traz hoje duas afirmações a respeito do reinado, do senhorio de Deus: “Seu poder é um poder eterno... e seu reino, um reino que não se dissolverá” (Dn 7,14). “Vós firmastes vosso trono desde a origem, desde sempre, ó Senhor, vós existis” (Sl 93,2). Contudo, na prática, o que temos visto é o reinado dos bandidos e dos traficantes, que subjuga a todos por meio da violência, o reinado da injustiça e da corrupção, ou ainda o reinado de meia dúzia de especuladores financeiros, que manipulam os governantes dos países como se fossem fantoches. Em resumo, o que temos visto à nossa volta não é reinado de Deus, mas o reinado do mal.
            Não por acaso, o evangelho deste domingo de Cristo Rei nos apresenta o diálogo entre Jesus e Pilatos. As palavras de Pilatos a Jesus – “o teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim” (Jo 18,35 – grifo meu) – retratam a nossa realidade: o bem foi entregue às mãos do mal. Portanto, o mal é mais forte do que o bem. O reinado de Deus foi vencido pelo reinado do maligno. Quem, de fato, reina em nosso mundo é a injustiça, a mentira, a violência, a morte.
Diante da pretensão de Pilatos em ver Jesus como alguém que está subjugado à autoridade de um rei humano, Jesus esclarece: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Os reinos deste mundo se impõem pela força, pela violência, pelo dinheiro, pela mentira, pelo medo, pela ameaça etc. Mas Deus se impõe unicamente pela verdade. Por isso, Jesus declara diante de Pilatos: “Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,36-38).
O único poder que nos liberta de todos os falsos poderes deste mundo é o poder da verdade. Se na vida de muitas pessoas hoje reina o vício, o comportamento autodestrutivo, a opressão, a culpa, a tristeza, a raiva etc., é porque essas pessoas ainda não tomaram consciência da verdade a respeito de si mesmas. Jesus é a verdade que nos liberta de todas as nossas mentiras, que quebra as correntes que ainda nos mantêm prisioneiros de coisas ou de pessoas que permitimos que reinassem sobre nós, na esperança de que nos fizessem felizes. 
            A festa de Cristo Rei nos recorda que existem dois reinos: o reino do bem e o reino do mal, o reino da verdade e o reino da mentira, o reino da graça e o reino do pecado. Qual deles reina em sua vida? Quem você quer hoje que reine sobre você? Sob o senhorio de quem você tem se colocado no seu dia a dia? O apóstolo João convida você a se colocar debaixo do senhorio de Jesus, “o soberano dos reis da terra”, Aquele “que nos ama” e “que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e que fez de nós um reino” (Ap 1,5), isto é, nos devolveu ao senhorio de Deus. Renda-se, portanto, Àquele “que é, que era e que vem, o todo-poderoso” (Ap 1,7-8).  
           Reina o Senhor! Toda a terra verá. Ele voltará com glória, força e poder. Povos e nações, todos afluirão ao ouvirem o som dos anjos anunciando, e então diante do Rei dos reis tremerão. Glória e majestade ao Rei, Cristo Jesus, Cordeiro Santo, Raiz de Davi que amou o mundo e abriu as portas do céu a todo aquele que Ele redimir. Renda-se! Ainda há tempo de retornar. Renda-se! Vida nova receberá . Renda-se! Abandone-se sem reservas! Renda-se! O Senhor disse e cumprirá. Renda-se! Toda lágrima enxugará. Renda-se! Àquele que era, que é e que há de vir! (da música Renda-se, Ministério Adoração e Vida).
 Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O ÚLTIMO CAPÍTULO


Missa do 33º. dom. comum. Palavra de Deus: Daniel 12,1-3; Hebreus 10,11-14.18; Marcos 13,24-32.

Assusta-nos a violência, seja por parte dos bandidos, seja por parte da polícia. Amedronta-nos a ousadia dos traficantes e o alastramento do consumo de droga em todas as classes sociais. Ameaçam-nos as doenças, sobretudo o câncer. Sentimo-nos cada vez mais impotentes diante do mal. A sensação que temos é que o mundo, como está hoje, não vai longe. A humanidade está acelerando o seu próprio fim, caminhando a passos largos para a sua própria destruição.
Há alguma luz no fim do túnel? O mesmo Deus, que pronunciou sua Palavra sobre o caos original do universo, chamando cada coisa à existência (cf. Gn 1), é o Deus a quem pertence a última palavra sobre o universo e sobre a vida de cada ser humano. E sua Palavra nos diz hoje que o tempo que estamos vivendo é um tempo de angústia, mas um tempo em que se opera a salvação de Deus em favor do seu povo (cf. Dn 12,1), salvação que também se manifestará aos que já morreram, proclamando a justiça de Deus, que destina para a vida eterna os que fizeram o bem, e para o sofrimento eterno os que fizeram o mal (cf. Dn 12,2).
Jesus é a palavra definitiva do Pai para a humanidade, palavra de justiça, de misericórdia, de vida e de salvação. Jesus nos fala da grande tribulação. Para ele, a grande tribulação foi a sua experiência de cruz, quando houve uma escuridão por toda a terra (cf. Mc 15,33). Nós também passamos por essa experiência, nas nossas tribulações, quando tudo fica escuro, quando as luzes da nossa esperança se apagam, quando experimentamos aquilo que se chama de “eclipse de Deus”, a hora em que nossa fé é duramente provada.
Mas Jesus nos diz que essa escuridão não é a palavra final sobre a história da humanidade, como se fosse a apagar das luzes no fim de um espetáculo. Em meio a essa escuridão, nós veremos Jesus “vindo nas nuvens com grande pode e glória” (Mc 13,26). “Eis que ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão, até mesmo os que o transpassaram” (Ap 1,7). O último capítulo da vida de cada ser humano, seja daquele que acreditou, bem como daquele que não chegou a conhecer Jesus e, ainda, daquele que o crucificou, isto é, que o rejeitou, é o seu encontro com Jesus Cristo e a verdade do seu Evangelho. Por isso, Jesus afirma: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13,31).      
 Tudo passa. Tudo passará. A única coisa que permanecerá é aquilo que em nós foi construído a partir da Palavra do nosso Deus. Tudo passa. Tudo passará. A única coisa que temos para nos agarrar é às promessas de Deus, contidas na sua Palavra, promessas que têm em Jesus o seu pleno cumprimento, como está escrito: “Todas as promessas de Deus encontraram nele o seu sim: por isso, é por ele que dizemos ‘Amém’ a Deus” (2Cor 1,20).
A palavra “amém” é o nome da estaca que os israelitas fincavam no chão para amarrar suas tendas, enquanto caminhavam pelo deserto, até chegarem à Terra Prometida. Enquanto caminhamos por este mundo passageiro, vivendo em meio a esse tempo de angústia, atravessando o período da grande tribulação, fincamos a estaca da nossa fé em Deus, esperando pelo cumprimento de cada promessa sua em favor do seu povo. Assim, dizemos com o salmista: “Meu destino está seguro em vossas mãos. Até meu corpo no repouso (da morte) está tranquilo, pois não haveis de me deixar entregue à morte... Vós me ensinais vosso caminho para a vida...” (Sl 16,5.9-11). 
Para um mundo que afunda no medo, no desespero e na instabilidade emocional, próprios da sua falta de fé, respondendo à angústia do nosso tempo com o consumismo desenfreado, com os ansiolíticos e os antidepressivos, com a bebida e a droga, com a agressividade cada vez mais descontrolada, com a banalização da vida e com o suicídio, sejamos um sinal da verdadeira fé, apontando para Jesus, o “amém” à promessa do Pai de julgar e de restaurar todas as coisas em seu Filho Jesus (cf. Ef 1,10).  
Pe. Paulo Cezar Mazzi 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O SEU MELHOR, NÃO AS SUAS SOBRAS



Missa do 32º. dom. comum - Palavra de Deus: 1Reis 17,10-16; Hebreus 9,24-28; Marcos 12,38-44.

“Jesus estava sentado no templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava as suas moedas no cofre” (Mc 12,41). Jesus está no meio de nós, em nossos templos, em nossas igrejas, e observa como vivenciamos a nossa relação com Deus. Jesus hoje nos pergunta: Você vem aqui para receber algo de Deus ou para doar algo seu a Ele? Você faz suas orações com o objetivo de receber algo de Deus ou com o objetivo de tornar o seu coração mais disponível para Ele? Como você se coloca diante de Deus?     
O altar é o lugar da grande oferenda. No altar da cruz o Pai fez ao mundo a grande oferenda da salvação em seu Filho Jesus. No altar da cruz, o Filho se ofereceu ao Pai em favor da salvação de cada um de nós. No altar das nossas igrejas, o Espírito Santo atualiza para nós, em cada Eucaristia, a oferenda do Pai e do Filho. Diante do altar, cada um de nós é convidado a fazer de si mesmo uma oferenda ao Pai no mesmo Espírito com que Jesus se ofereceu: o sacrifício de si mesmo (cf. Hb 9,26).
A oferenda mais difícil de ser feita não é a oferenda do nosso dinheiro, mas da nossa fé: confiar que quando nos esquecemos de nós mesmos e nos dedicamos a servir a Deus, Ele proverá em todas as nossas necessidades, segundo a sua Palavra: “Eu nunca te deixarei, jamais te abandonarei” (Hb 13,5). Essa foi a experiência da viúva de Sarepta, desafiada em sua fé pelo profeta Elias a pegar o resto que tinha – um punhado de farinha e um pouco de azeite – preparar um pãozinho para o profeta e só depois ela e o filho comerem, confiando na palavra do Senhor: “a vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá” (1Rs 17,14).
Qual é o seu resto? Existe ainda um resto de fé em você, um resto de amor, um resto de esperança, um resto de tempo, um resto de boa vontade, um resto de força, um resto de saúde, um resto de dinheiro? A fé desafia você a oferecer esse resto a Deus, a utilizá-lo no serviço a Deus, confiando que nada haverá de lhe faltar, confiando que tudo aquilo que você entrega a Deus é por Ele transformado, mas tudo aquilo que você retém consigo fica como está, como um resto que uma hora vai acabar.
 Jesus faz uma comparação entre a oferta dos ricos e a oferta da pobre viúva: “Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (Mc 12,44). Pense na palavra “sobra”. No seu dia a dia tem sobrado tempo para você rezar? Tem sobrado tempo para você entrar em contato com a Palavra de Deus? Na sua semana tem sobrado tempo para você ajudar o próximo, para fazer algum trabalho voluntário? No seu mês, tem sobrado dinheiro para você fazer a oferta do seu dízimo a Deus? Se você for esperar sobrar, a resposta para todas essas perguntas é: “não”. Simplesmente não sobra!
A verdadeira oferta, aquela que agrada a Deus, aquela que transforma o seu coração, não nasce das suas sobras, mas da sua atitude em oferecer a Deus o seu melhor: a sua melhor hora de cada dia para se colocar na presença de Deus, para fazer a sua oração, para ler a Bíblia; a sua melhor hora na semana para ajudar alguém, para ser voluntário; o melhor do seu salário mensal para oferecer a Deus o seu dízimo como expressão da sua gratidão e da sua confiança de que Ele continuará a prover em todas as suas necessidades.
 Na presença de Jesus, a grande oferenda do Pai em favor da salvação do mundo, compreendemos que somos chamados a ser construtores das nossas comunidades e não consumidores das mesmas; somos chamados a fazer da nossa oferta uma oferta de nós mesmos a Deus e aos irmãos. Somos chamados também a rever a compreensão que temos do dízimo, entendendo que a oferta mensal do nosso dízimo não depende de termos dinheiro, mas de termos um coração convertido a Deus, um coração que agradecido pelos bens que todos os dias recebe, um coração que experimenta todos os dias a resposta providencial de Deus diante de cada necessidade, porque escolheu oferecer a Deus o seu melhor, não as suas sobras.  
Pe. Paulo Cezar Mazzi
  

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DEIXAR-SE SANTIFICAR


Missa para o dia de todos os Santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12a.

Qual é o objetivo principal da nossa vida de fé? A resposta a essa pergunta varia de pessoa para pessoa. Uns estão buscando cura; outros, libertação de algum problema; uns querem resolver seus problemas afetivos; outros, seus problemas financeiros. Embora as razões que levam as pessoas a procurarem por Deus sejam inúmeras, o dia de todos os santos, que celebramos hoje, nos recorda que o objetivo principal da nossa vida de fé, da nossa relação com Deus, é a nossa santificação.
Muitas vezes ficamos frustrados com Deus porque os resultados que colhemos em nossa vida de fé não são aqueles que esperamos. Não entendemos por que isto ou aquilo nos acontece. Contudo, se a vontade de Deus é a nossa santificação, devemos confiar que Ele conduz todas as coisas segundo esse propósito. Aquilo que para nós não tem nenhum sentido pode estar acontecendo justamente em função da nossa santificação.
É assim que podemos entender o sentido da tribulação em nossa vida. Quando o livro do Apocalipse descreve os Santos, usa essas palavras: eles “vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). É verdade que algumas das tribulações que passamos na vida são resultado da nossa obstinação em caminhar fora da vontade de Deus. Contudo, quando procuramos caminhar na fidelidade a Deus, vamos experimentar muitas tribulações, nas quais a nossa vida será mergulhada no sangue do Cordeiro, isto é, no sofrimento de Cristo na cruz pela sua fidelidade ao Pai. 
O que torna desafiadora a nossa santificação é que ela não está em função de nós mesmos, mas de Deus. Nós somos chamados a ser santos não em vista dos nossos próprios méritos, mas para que a vida de Deus se manifeste ao mundo por meio de nós. Se existe hoje uma perda de fé em Deus no coração de muitas pessoas é porque também existe uma perda de santidade em muitos de nós, que dizemos crer em Deus.
Jesus, no seu evangelho, nos propõe um caminho de santificação: as bem-aventuranças. Elas são atitudes de vida. A proposta de Jesus é que vivamos diariamente a nossa santificação por meio dessas atitudes: ser pobre em espírito, isto é, viver na absoluta dependência de Deus e na confiança em seu amor; ser aflito, no sentido de deixar-se afetar pelo sofrimento alheio; ser manso, aprendendo a lidar consigo mesmo e com os outros; ter fome e sede de justiça, no sentido de não desistir de ser uma pessoa justa e de trabalhar em favor daquilo que é justo; agir com misericórdia para consigo mesmo e para com os outros; ser puro de coração, tendo reta intenção e valorizando o bem que habita em cada pessoa; promover a paz, desarmando-se e ajudando os outros a se desarmarem no relacionamento cotidiano; suportar ser perseguido ou criticado por ser uma pessoa justa; enfim, suportar ser perseguido ou criticado por servir a Jesus e à causa do Evangelho. 
            O apóstolo João nos lembra que a nossa santificação é um processo que dura a vida toda e só vai ter a sua conclusão no momento da nossa ressurreição, do nosso encontro com o Senhor Jesus. Partimos daquilo que somos e caminhamos na direção daquilo que somos chamados a ser. O que nós somos como pessoa não é algo definitivo. Estamos em abertura, em processo, em transformação: a santificação tem por objetivo nos tornar semelhantes a Jesus, até que sejamos puros como ele é puro, até que sejamos como ele é: um verdadeiro sacramento de Deus.  
Quando professamos a nossa fé, dizemos: “Creio na comunhão dos santos”. Na liturgia desse dia de todos os santos, os cristãos na terra se unem aos cristãos no céu para proclamar que “a salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro” (Ap 7,10). Tanto a salvação quanto a santificação são pura graça de Deus, nunca méritos nossos. É Deus quem nos santifica, assim como é Deus quem nos salva por meio de seu Filho Jesus, o Cordeiro imolado. A nós cabe nos deixar conduzir pelo Espírito de Deus, nos deixar santificar por seu Filho Jesus, assumindo em nossa vida cotidiana os valores descritos nas bem-aventuranças que Jesus nos anunciou hoje.
                                                                                    Pe. Paulo Cezar Mazzi 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

VOLTAR A VER


Missa do 30º. dom. comum. Palavra de Deus: Jeremias 31,7-9; Hebreus 5,1-6; Marcos 10,46-52.

Estamos diante do último milagre de Jesus no evangelho de Marcos: a cura do cego Bartimeu. Quem de nós sabe alguma coisa da experiência de não poder enxergar? Mas, ainda que você tenha a graça de poder ver, quantas vezes já se sentiu incapaz de enxergar uma saída, uma luz no fim do túnel? Muitas vezes, o nosso ver é marcado por um olhar míope, danificado pelo preconceito, ou então assumimos na vida a postura de quem não quer ver, de quem não quer enxergar, e aí vale o ditado que diz: “o pior cego é aquele que não quer enxergar”.
            Às vezes não queremos enxergar, não queremos ver aquilo que está mostrando que estamos errados, que precisamos mudar. Outras vezes, a experiência do sofrimento pode ser tão grande que tira de nós a capacidade de ver com clareza o que está acontecendo. Nessas horas, não conseguimos ver nem mesmo a presença de Deus junto a nós, como aconteceu com os discípulos de Emaús: a tristeza pela morte de Jesus era tão intensa que seus olhos foram incapazes de enxergar Jesus Ressuscitado que se pôs a caminhar com eles (cf. Lc 24,16).
            A tristeza, a depressão, o pessimismo, a sensação de que somos engolidos por algum problema podem nos tornar cegos, incapazes de enxergar Deus junto a nós; incapazes de enxergar algo de bom em nós, nas pessoas, na vida, no mundo. Mas é bom lembrar a experiência de Israel no exílio da Babilônia: “Os que lançam as sementes entre lágrimas, colherão com alegria” (Sl 126,5). As lágrimas nos impedem de ver com clareza, mas mesmo com a nossa visão comprometida pela tristeza ou pelo abatimento, a fé nos desafia a lançar as sementes. O agricultor pode não enxergar nenhuma nuvem de chuva no céu, mas ele lança as sementes na esperança de que a chuva virá. E quando a chuva vem, cai sobre todos os terrenos. Contudo, os frutos só surgirão no terreno onde as sementes foram lançadas, quando ainda era tempo de tristeza, de seca, de aridez.
            Nossa fé é sempre um caminhar sem ver. Nós não vemos Deus, mas caminhamos sustentados por sua Palavra que diz: “Eu os trarei... Eu os reunirei... Entre eles há cegos... Eles chegarão entre lágrimas e eu os receberei entre preces... Eu os conduzirei... Eles não tropeçarão, pois tornei-me um pai para eles” (Jr 31,8-9). Nas horas em que não conseguimos enxergar nada, a melhor coisa a fazer é estender a mão e pedir que o Pai nos conduza e nos ajude a atravessar esse trecho escuro da estrada. Mas, para isso, precisamos abrir mão do controle e confiar que estamos em boas mãos; Deus está no controle. Ele vê o que nós ainda não conseguimos enxergar.
            Bartimeu é a imagem da fé, uma fé que não pode ver Deus, mas consegue ouvir sua Palavra e tem a coragem de gritar, de suplicar a Deus mesmo sem vê-Lo. Ouvindo que Jesus passava por ali, Bartimeu gritou. E quando tentaram silenciá-lo, gritou mais ainda. Assim como o pior cego é aquele que não quer enxergar, a pior fé é aquela que se cala diante de qualquer obstáculo que encontra para tentar chegar mais perto de Deus. Quem não reage diante das dificuldades, passará toda a sua vida sentado à beira do caminho, vivendo de esmolas. Não é uma vida digna, mas há muitas pessoas que escolhem viver assim porque têm ganhos secundários: as esmolas.
            “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” (Mc 10,49). Bartimeu já havia manifestado sua coragem ao não se deixar silenciar pela multidão que o repreendia. Essa coragem contrasta com a resignação de tantos que insistem em não se levantar: são aqueles casos nos quais nem um guincho é capaz de fazer a pessoa se levantar, ainda que Jesus a chame. Por isso, a pergunta de Jesus a Bartimeu vale para qualquer um de nós: “O que você quer que eu te faça?” (Mc 10,51). Você quer esmolas ou quer caminhar com suas próprias pernas? Você quer realmente ver ou quer continuar a se guiar na vida pela visão dos outros, para se isentar de responsabilidades perante sua própria existência?
            “Que eu veja!” (Mc 10,51). Que eu não tenha medo de enxergar o que há dentro de mim! Que eu veja para além de mim e não tenha medo de me deixar afetar pela realidade que me cerca ou pelos que sofrem à minha volta! Que eu enxergue para além do aqui e do agora e lance minhas sementes, mesmo em meio a lágrimas! Que eu veja o que não tenho conseguido enxergar para melhorar meu relacionamento com as pessoas e com Deus!
            “Vai, a tua fé te curou” (Mc 10,52). A fé converte a nossa cegueira em visão. Desejando sinceramente ver, Bartimeu ampliou sua visão de mundo, e mesmo estando livre para seguir adiante com sua vida, escolheu seguir Jesus pelo caminho, tornando-se modelo para qualquer um de nós que escolha ser discípulo de Jesus Cristo, lembrando que seguir Jesus sempre será um “caminhar à luz da fé, não na visão clara” (2Cor 5,7), até que possamos vê-lo face a face, no céu (cf. 1Cor 13,12).
                                                                                                Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

SUAS ATITUDES EVANGELIZAM?


Missa do 29º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 53,10-11; Hebreus, 4,14-16; Marcos 10,35-45.

Diga-me como você se comporta no seu dia a dia e eu te direi no quê ou em quem você crê. Estamos no Ano da Fé. A fé vem da pregação, vem do anúncio da palavra de Cristo (cf. Rm 10,17). Mas, como muitas pessoas estão fora do alcance da pregação das diversas igrejas, a fé pode nascer ou morrer no coração das pessoas a partir daquilo que elas veem em nós, que nos dizemos “cristãos”. Por isso, é importante termos consciência de que as nossas atitudes no dia a dia comunicam para as pessoas em quem ou no quê nós cremos.
Olhemos para a atitude de Tiago e João. Jesus havia acabado de ser claro com os discípulos a respeito do sofrimento de cruz que o aguardava em Jerusalém (cf. Mc 10,32-34), sofrimento que também atingiria os discípulos. Em reação a isso, Tiago e João fazem o seguinte pedido a Jesus: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda quando estiveres na tua glória!” (Mc 10,37).    
Assim como Tiago e João, nós queremos a glória, a vitória, o triunfo! Dentro das nossas igrejas, até podemos ter uma atitude de simplicidade, de humildade e de serviço, mas quando estamos fora, agimos a partir da nossa ambição, da nossa mesquinhez e do nosso egoísmo. Aqui se revela a nossa falta de fé: nós não cremos na força da cruz, não cremos no valor do serviço, nós cremos naquilo que o mundo crê: na glória dos homens.
Por isso, Jesus também diz a nós o que disse a Tiago e João: “Vocês não sabem o que estão pedindo” (Mc 10,38). Vocês estão caminhando na contramão do meu Evangelho. Vocês são chamados a trabalhar pela salvação da humanidade, mas a ambição pessoal e a disputa pelo poder distanciam vocês de quem sofre, de quem mais precisa ouvir o anúncio da minha salvação. Vocês se esquecem de que, antes de experimentarem a glória da ressurreição, precisam enfrentar a escuridão da cruz; antes de experimentarem a glória da exaltação, precisam se confrontar com a dor da humilhação; antes de experimentarem a alegria de serem reconhecidos por Deus, vocês precisam suportar ser ignorados e desprezados pelos homens
A atitude de Tiago e João teve repercussão nos demais discípulos: eles ficaram indignados, mas essa indignação tinha como pano de fundo a inveja. Cada um deles tinha a mesma ambição: estar à direita ou à esquerda de Jesus na sua glória. Sabendo disso, Jesus os reuniu todos e lembrou-lhes de como funciona o mundo do poder: dominação, trapaça, mentira, concorrência desleal, corrupção, difamação e até mesmo crimes encomendados. E o alerta que Jesus fez aos discípulos faz hoje para nós: “Mas, entre vocês não deve ser assim: quem quiser ser grande seja servo de vocês; e quem quiser ser o primeiro seja o escravo de todos. Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos” (Mc 10,43-45).
Você ocupa um lugar na sociedade, por mais simples que seja esse lugar. Você convive diariamente com outras pessoas. Como é a sua postura diante dessas pessoas: a de alguém que está ali para servir, ou a de alguém que sempre busca ser servido? Você é alguém que faz tudo para “estar na glória”, para ser visto, elogiado, admirado e temido pelos outros, ou é alguém que faz tudo para se configurar a Jesus Cristo, que veio para servir e não ser servido? Suas atitudes são um anúncio vivo do Evangelho, favorecendo a fé na pessoa de Jesus Cristo, ou são uma espécie de anti-Evangelho, colaborando para que as pessoas à sua volta desacreditem de Jesus e da sua mensagem?  
            Hoje é o Dia Mundial das Missões. Nosso Papa nos lembra da urgência da missão, uma vez que aumenta cada vez mais o número dos que não conhecem Jesus Cristo. Por isso, todos devem trabalhar para que Cristo seja anunciado em toda parte, com atenção particular pelos que estão longe, que ainda não conhecem Cristo. O seu Evangelho, nos lembra o Papa, é sempre atual, penetra no coração e é capaz de dar respostas às inquietações mais profundas de cada homem.
Além de colaborarmos com a coleta para as missões, nas missas desse final de semana, rezemos pela África, um Continente ferido pela seca, pela AIDs, pelas epidemias, pelas guerras... Rezemos pela América, o Continente com o maior número de cristãos, mas também o mais desigual, o mais injusto, que agride a natureza, não respeita as pessoas e visa unicamente o lucro... Rezemos pela Oceania, um Continente marcado pelo desemprego, pela criminalidade e, pelo isolamento e pelas distâncias entre as comunidades cristãs... Rezemos pela Europa, o Continente envelhecido pela diminuição da natalidade, marcado por graves crises econômicas e que perde cada vez mais a sua fé em Deus... Rezemos, por fim, pela Ásia, o Continente mais povoado do planeta, onde os cristãos são apenas 9% da população e onde muitos se declaram ateus. 
                            Pe. Paulo Cezar Mazzi 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

INTEIROS PARA DEUS, NÃO PELA METADE


Missa do 29º. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 7,7-11; Hebreus 4,12-13; Marcos 10,17-30.

            Um homem corre até Jesus, preocupado com a vida eterna. Atrás do quê as pessoas estão correndo? O que preocupa o coração das pessoas hoje? Para alguns, é a sobrevivência em meio à guerra entre a polícia e os traficantes; para outros, é a aquisição de novos bens de consumo; para alguns, se trata de arranjar um emprego; para outros, se trata de resolver os problemas da sua vida afetiva; para tantos, se trata de vencer sua doença... Sejamos sinceros: quem à nossa volta está preocupado com a vida eterna?
Este homem que procurou Jesus era muito rico. Diríamos, então, que ele poderia se dar ao “luxo” de preocupar-se com a vida eterna. Mas ao perguntar a Jesus sobre a vida eterna, este homem nos ensina que existe algo que inquieta o nosso coração: o desejo pela verdadeira vida, uma sede de sentido que não pode ser saciada com os nossos bens, como nos lembra o livro da Sabedoria: “Preferi a sabedoria... Diante dela, todo o ouro do mundo é um punhado de areia e a prata é como a lama” (citação livre de Sb 7,8-9).
Sempre que estamos diante de Jesus, estamos diante daquele que é a própria Palavra viva de Deus, uma Palavra que é “mais cortante do que qualquer espada de dois gumes”. Jesus, com o seu olhar, com a verdade da sua Palavra, penetra em nós “até dividir alma e espírito”. Sua Palavra “julga os pensamentos e as intenções do coração” de cada um de nós (cf. Hb 4,12). Porque nos conhece mais do que nós mesmos nos conhecemos e porque nos ama, Jesus tem a liberdade de nos desafiar: “Só uma coisa ter falta” (Mc 10,21). É como se Jesus dissesse: ‘Você tem se preocupado com muitas coisas na sua vida, mas falta você se preocupar com o essencial... Você já deu muitos passos no seu caminho de fé, mas falta dar o passo decisivo... Você tem feito muitas coisas para Deus, mas falta ainda uma coisa, para você ser totalmente um homem/uma mulher de Deus’.
Quando aquele homem ouviu de Jesus o que lhe faltava, “ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mc 10,22). Quando a Palavra de Deus provocar em você abatimento e tristeza, não fuja disso. Esse abatimento e essa tristeza estão ali para dizer que alguma coisa precisa ser corrigida na sua vida, que há um desejo mais profundo dentro de você que precisa ser ouvido. Quando você sai desanimado(a) ou revoltado(a) da conversa com um médico, com um psicólogo ou com um diretor espiritual, veja isso como um bom sinal, sinal de que a palavra dele tocou na ferida que precisa ser reconhecida, para que a cura comece a se operar em você.
Jesus aproveitou a causa do abatimento e da tristeza daquele homem para dizer aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrar no reino de Deus!” (Mc 10,23). Os discípulos ficaram espantados, porque a riqueza era entendida como sinal de bênção divina. Jesus poderia ter amenizado a exigência da sua Palavra, mas ele a fez penetrar mais fundo ainda, atingindo o coração de qualquer pessoa, não só dos ricos: “Como é difícil entrar no reino de Deus!” (Mc 10,24). Numa época como a nossa, onde muitas pessoas buscam uma religião “light”, se comprometendo o mínimo com Deus, Jesus nos lembra que isso não preenche o desejo do nosso coração pela verdadeira vida. Enquanto não tivermos a coragem de reconhecer o que ainda nos falta para sermos autenticamente de Deus, nossa vida cristã continuará insossa, sem graça, perdendo o sentido inclusive para nós mesmos.
Eis a proposta de Jesus: tente passar um camelo pelo buraco de uma agulha! Isso não é apenas difícil; isso é impossível! Há coisas na vida de cada um de nós que são incompatíveis com o Evangelho e que precisam ser abandonadas se queremos ser verdadeiramente de Deus. Mas aí entram os nossos mecanismos de defesa, para não permitir que a Palavra penetre onde não queremos. Dizemos: ‘O camelo significa uma corda grossa... O buraco da agulha significa uma porta estreita’. Mas, como lembra José Lisboa M. de Oliveira, no seu livro Viver os votos (pp.99.101), “não dá para falar de corda, de cordão grosso, nem confundir o fundo da agulha com alguma porta estreita. Tanto o camelo como o buraco da agulha devem ser entendidos no sentido totalmente literal... Toda tentativa de emagrecer o camelo e alargar o buraco da agulha é uma violação da Palavra e como tal deve ser rejeitada”.  
Afinal, o que Jesus quer? Jesus quer você livre, não preso a fios de ouro invisíveis. Jesus quer você por inteiro, não uma parte sua, ainda que seja a melhor. Jesus não quer que você faça coisas boas em nome dele, de vez em quando, mas quer que você o siga e que se desprenda de tudo o que atrapalha esse seguimento. Jesus quer que você permita que a Sua Palavra penetre em você e corte onde tem que cortar, em vista da sua conversão e da sua santificação, e pare de tentar torná-la inofensiva, como se fosse apenas conselhos de auto-ajuda. Enfim, Jesus quer que, na sua oração diária, você não tenha medo de escutá-lo dizer o que ainda te falta para ser um autêntico discípulo Seu... 
Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

VOCÊ CONSERTA OU JOGA FORA?



Missa do 27º. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 2,18-24; Hebreus 2,9-11; Marcos 10,2-16.

O que você faz com uma coisa que se quebrou? Joga fora ou procura consertá-la? Para a geração moderna, não existe dúvida: quebrou, jogo fora! Da mesma forma que o celular ou a televisão ou o computador quebrou ou começou a apresentar algum defeito, não se pensa duas vezes: joga-se fora e compra-se outro. Nem se pergunta pela possibilidade de haver conserto. Jogar fora e comprar outro é bem mais interessante do que consertar, pois o novo aparelho, além de prometer mais novidades, tem um designer mais moderno! É mais bonito!
Esta filosofia de vida – quebrou, joga-se fora – tem sido adotada por nós também nos nossos relacionamentos. Quando um relacionamento começa a apresentar problemas, ou quando algo que se quebra nele, achamos muitos mais fácil jogá-lo fora e ir atrás de um novo, do que nos debruçarmos sobre ele e nos esforçarmos por consertá-lo. Desse modo, no fundo do quintal da nossa vida emocional vai se formando uma espécie de “ferro velho”: todos os relacionamentos que não deram certo ficam ali, guardados dentro de nós e não podem ser jogados fora completamente porque, de uma forma ou de outra, eles nos marcaram, eles compõem a nossa história de vida.   
Assim como os fariseus no evangelho, nós vivemos à procura de brechas na Palavra de Deus que justifiquem a nossa atitude de jogar fora aquilo que se quebrou ou que começou a não funcionar bem como antes, sem que isso pese na nossa consciência, isto é, sem que nos sintamos culpados. Quem sabe não foi bem isso o que Deus disse. Quem sabe a afirmação de Jesus “O que Deus uniu, o homem não separe” (Mc 10,9), não poderia ser modificada para “Se o homem separou, foi porque Deus não uniu. Portanto, se Deus não uniu, o homem pode separar” – adaptação feita por alguns pastores evangélicos no atual mercado religioso.
Relacionamentos que se quebram ou que passam a não funcionar bem como antes produzem infelicidade nas pessoas. E aí vêm as falsas consolações: “Deus quer VOCÊ feliz!”, “EU tenho o direito de ser feliz!”, “VOU em busca da MINHA felicidade!”. O que está no centro dessas afirmações? VOCÊ, o seu EGOÍSMO. Os outros são apenas um detalhe, apenas peças que você pode usar, jogar fora e trocar por outras, na SUA busca de felicidade. É isso que Jesus chama de coração endurecido: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio...” (Mc 10,4). Um coração endurecido pelo egoísmo não sabe amar; quando muito, só consegue se apaixonar. Mas a paixão é como fogo de palha: queima logo. Apaga com a mesma rapidez e intensidade com que foi acesa. Um coração endurecido se recusa a entender que “o amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acabará” (1Cor 13,7-8).
           Muitas coisas hoje colaboram para o fim dos relacionamentos: a infantilização dos adultos, que deixam as suas emoções correrem livres e determinarem suas atitudes; a incapacidade de suportar a dor, o sofrimento, e a tentação de buscar soluções fáceis e rápidas para problemas que exigem tempo, dedicação e lágrimas para serem resolvidos; joelhos que não se dobram mais diante de Deus, cuja Presença é mantida sempre mais longe do cotidiano do casal, e buscada apenas quando tudo já desabou; a incompatibilidade de personalidades que teriam as mesmas chances de se manterem unidas quanto as chances de se manter ligados barro e ferro, ou seja, nenhuma.
O fato é que muitos relacionamentos não deram certo, muitos casais se separaram e muitos já estão em uma nova união. Muitos não se deram nem o tempo necessário para lidar com a própria solidão, e já procuraram alguém para “tapar o buraco” que sentiam dentro de si. Desse modo, uma ferida nem cicatrizou direito e outra já começou a se abrir. Antes de se perguntar se é possível uma nova união, deveria se perguntar pelos motivos que levaram ao fim da primeira união. Se esses motivos não forem trabalhados e corrigidos, não há futura união que faça a pessoa feliz.
A nós cabe o respeito e a acolhida para com os casais de segunda união. O mesmo Jesus que nos alerta para o perigo do adultério, é aquele que conhece o homem por dentro (cf. Jo 2,25). Só ele sabe o que há no coração humano, o que levou um relacionamento a terminar. Só ele pode julgar. Ele provou a morte em favor de todos nós (cf. Hb 2,9). A ele precisamos entregar a morte dos nossos relacionamentos. Ele chegou à consumação por meio de sofrimentos (cf. Hb 2,10). Imitando a sua maneira de lidar com os sofrimentos, nós podemos colaborar para que os nossos relacionamentos também cheguem à sua consumação.
Após a polêmica do fim dos relacionamentos e de novas uniões, Jesus “abraçava as crianças e as abençoava impondo-lhes as mãos” (Mc 10,16). As crianças nos lembram aqueles sobre os quais recaem os maiores danos da separação. Com esse gesto, Jesus nos mostra que “algo” precisa ser defendido nos nossos relacionamentos, “algo” que vai além da nossa felicidade pessoal. Com esse gesto, Jesus também nos convida a celebrar, no próximo dia 08, o dia do nascituro, a criança que ainda não nasceu e precisa ser abraçada e protegida por nós desde o ventre materno.
Façamo-nos crianças e deixemo-nos abraçar por Jesus, Aquele que pode curar as feridas dos nossos relacionamentos e nos ensinar a consertá-los: “Amor tão grande, amor tão forte, amor suave, amor sem fim, que a própria morte transforma em vida, abraço eterno de Deus em mim. Nem as torrentes das grandes águas conseguirão apagar esse amor! Pois suas chamas são fogo ardente. Mais do que a morte, é tão forte esse amor! De abraço esmagante, de ausência torturante, de noite e luz é feito esse amor. De dor incomparável, consolo inestimável, de vida e cruz é feito esse amor! (Música Abraço eterno).
                                                                       Pe. Paulo Cezar Mazzi