quinta-feira, 26 de setembro de 2013

ABRIR A PORTA A LÁZARO, ENQUANTO SE DISSER "HOJE"

Missa do 26º. dom. comum. Palavra de Deus: Amós 6,1a.4-7; 1Timóteo 6,11-16; Lucas 16,19-31.

         Às vezes, nós precisamos fechar a porta. Quando nos sentimos cobrados em excesso pelo mundo, ou quando nos sentimos invadidos, desrespeitados nos nossos limites, nos faz bem fechar a porta. Nós precisamos fechar a porta para rever os nossos valores, para proteger a nossa alma, para direcionar a nossa vida a partir da voz interior de Deus em nós, e não a partir das exigências do mundo que parecem querer nos devorar.
            Mas há um problema: a porta não pode permanecer fechada indefinidamente. Nós não podemos nos fechar em nós mesmos, assumindo uma postura extremamente individualista, enxergando apenas a nós mesmos, sem nos dar conta das pessoas que estão ao nosso redor. Por isso, é importante lembrar que, do lado de fora da porta da nossa casa, pode haver algum Lázaro precisando da nossa ajuda. Jesus nos convida a ter esse cuidado de olhar além de nós, e de perceber as pessoas que estão à nossa volta e que podemos, de alguma forma, ajudar.
            O grande erro de interpretação deste Evangelho é concluir que todo pobre já está salvo por ser pobre e todo rico já está condenado por ser rico. O que nos salva ou nos condena diante de Deus não é a nossa condição social, mas as nossas atitudes para com as pessoas que precisam de nós, quer sejamos ricos, quer sejamos pobres. O profeta Amós esclarece quais são essas atitudes que nos condenam perante Deus: viver na indiferença para com quem sofre, sentir-se seguro com a sua riqueza, dormir em camas luxuosas, comer e beber do bom e do melhor, se perfumar com os mais finos perfumes, mas não se preocupar com a ruína dos mais fracos (cf. Am 6,1a.4-6). Essas atitudes nos fecham em nós mesmos e criam um abismo entre nós e as outras pessoas, um abismo chamado indiferença, cavado a partir do nosso individualismo.
            Qual é o abismo que separa você das outras pessoas? Indiferença, ressentimento, falta de tempo, medo de enfrentar o necessário diálogo, egoísmo? Como é que você interpreta o abismo social entre ricos e pobres: como desígnio de Deus – porque nesta vida uns nascem para sofrer e outros para serem felizes – ou como fruto do egoísmo e da ambição de alguns? Como você lida com os abismos que estão na sua vida: assumindo uma postura de vítima ou modificando aquelas atitudes que levaram você a cavar aquele abismo para mantê-lo(a) separado(a) de determinadas pessoas?
            Jesus usa imagens para falar do céu (estar junto de Abraão) e do inferno (estar no meio de tormentos). O céu e o inferno são realidade que experimentamos já nesta vida. Manter a porta da nossa vida fechada a quem precisa de nós, ter atitudes que aumentam o abismo que separa as pessoas, isso cria o inferno, para nós e para a nossa sociedade. Abrir a porta da nossa vida para quem está ferido, ter atitudes que diminuam o abismo que separa as pessoas, isso cria o céu, para nós e para a nossa sociedade.
            Muitas pessoas ouvem o Evangelho. Enquanto algumas tomam a decisão de mudar, outras adiam essa decisão indefinidamente. Jesus nos faz um alerta nesta parábola: enquanto estamos nesta vida, podemos tomar atitudes e mudar; mas quando estivermos “do outro lado de lá”, não haverá mais como mudar nada. Enquanto estamos nesta vida, podemos abrir a porta e diminuir o abismo que nos separa das pessoas que precisam de nós, mas, depois que partirmos desta vida, o que fechamos ficará fechado, o abismo que não quisemos transpor se tornará intransponível para sempre: “Há um grande abismo entre nós. Por mais que alguém desejasse, não poderia passar...” (Lc 16,26).

            Jesus estaria fazendo “terrorismo espiritual” conosco? Não. Ele está nos convidando a viver com responsabilidade esta vida única que temos. Muitos vivem sua vida na base do improviso, achando que, se no fim deu errado, poderão voltar para corrigir os erros que cometeram. Mas o Evangelho afirma que nós não voltaremos para corrigir nada. Isso significa que cada escolha, cada decisão, cada atitude que tomamos hoje na vida tem um valor de eternidade. Cada momento é único e não se repetirá mais. É isso que torna sagrada a nossa vida. Portanto, “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6,10). “Enquanto ainda se disser ‘hoje’” (Hb 3,13), procuremos a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão. Combatamos o bom combate da fé, conquistemos a vida eterna (cf. 1Tm 6,11-12), abrindo nossa porta a Lázaro e oferecendo o bálsamo da nossa compaixão para curar suas feridas.  

                 Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

FILHOS DESTE MUNDO OU FILHOS DA LUZ?

Missa do 25º. dom. comum. Palavra de Deus: Amós 8,4-7; 1Timóteo 2,1-8; Lucas 16,1-13.

Por se apegarem ao dinheiro e desprezarem a Deus, alguns donos de Bancos não apenas cobram juros abusivos dos seus clientes, como também pressionam seus funcionários a “atingirem metas” de vendas de produtos dos próprios Bancos, se quiserem manter seus cargos e empregos. O preço disso é que cada vez mais aumenta o número de bancários fazendo tratamento psiquiátrico.
Por se apegarem ao dinheiro e desprezarem a Deus, algumas redes de Supermercados decidem abrir aos domingos porque, como denunciou o profeta Amós (cf. Am 8,5), o dia do Senhor, dia de descanso, só serve de “estorvo” ao mercado, que “precisa” ganhar dinheiro também no domingo, e não somente de segunda a sábado. Por se apegarem ao dinheiro e desprezarem a Deus, empresas “põem à venda o refugo do trigo” (Am 8,7), isto é, transformam seus funcionários em “refugos humanos”, em pessoas que são privadas de seu sagrado descanso dominical, o único dia da semana em que poderiam estar com suas famílias, já que os demais dias da semana não permitem tal convívio.
Por nos apegarmos ao dinheiro e desprezarmos a Deus, quantos de nós nos tornamos indiferentes à “prostração dos pobres da terra” (Am 8,4), e nos habituamos a “diminuir medidas, aumentar pesos, adulterar balanças” (Am 8,5), ou seja, nos habituamos a nos corromper para ganhar algum dinheiro extra?
Recentemente, o Papa Francisco nos lembrou da inversão de valores em que vive o nosso mundo: “Quem manda hoje é o dinheiro... a feroz idolatria do dinheiro... Hoje em dia há crianças que morrem de fome, há enfermos que não têm acesso a tratamento, há homens e mulheres que são mendigos. Nada disso é notícia. Mas quando as bolsas de valores de algumas capitais caem 3 ou 4 pontos, isso é tratado como uma grande catástrofe mundial. Esse é o drama desse humanismo desumano que estamos vivendo” (Entrevista concedida a um repórter da Rede Globo).
Para resgatar os verdadeiros valores, o apóstolo Paulo nos convida a fazer “preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos que ocupam altos cargos” (1Tm 2,1-2), sobretudo para que essas pessoas se coloquem sob a autoridade de Deus e não sob a autoridade do dinheiro, pois quem se coloca sob a autoridade do dinheiro se desumaniza. A verdade é que muitos daqueles que nos governam são “governados” por quem tem dinheiro e sustentou suas campanhas eleitorais. A verdade também é que aqueles que ocupam altos cargos ganham, obviamente, altos salários, e altos salários tornam a consciência indiferente às injustiças sociais. É por isso que essas pessoas precisam das nossas orações, para que a consciência de cada uma delas sirva a Deus e não ao dinheiro.
“Presta contas da tua administração” (Lc 16,2). O Evangelho nos recorda que, no momento do nosso encontro definitivo com Deus, deveremos prestar contas sobre a forma como conduzimos a nossa vida, e também sobre a forma como lidamos com o dinheiro. O administrador desonesto havia prejudicado muitas pessoas com os juros que cobrou em excesso, usando o dinheiro do seu patrão. Pensando na sua “salvação” (“para que alguém me receba em sua casa, quando eu for afastado da administração” Lc 16,4), chamou cada uma dessas pessoas e recalculou a dívida delas, colocando na conta o valor real. A questão central, portanto, é se cada um de nós está conduzindo sua vida em vista da própria salvação.
“Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16,8). As pessoas estão muito mais preocupadas em ganhar dinheiro do que em ter um coração honesto e justo aos olhos de Deus, o que significa preocupar-se com sua salvação. Quantos “filhos da luz”, pessoas que anunciam o Evangelho aos outros, se comportam como “filhos deste mundo”, usando do Evangelho ou do cargo que ocupam na Igreja para se enriquecerem ou para terem vida de príncipes? Esse tipo de atitude não apenas desautoriza essas pessoas a falarem do Evangelho, como também desacreditam, perante a sociedade, a Igreja à qual representam.
Como todos nós lidamos com dinheiro, Jesus nos dá este conselho: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos” (Lc 16,9), isto é, para socorrer os pobres, para combater as injustiças sociais. Desse modo “eles (os pobres) vos receberão nas moradas eternas” (Lc 16,9). Jesus nos adverte também: “Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes” (Lc 16,10). Tanto a justiça quanto a injustiça, a integridade quanto a corrupção, começam com pequenas atitudes diárias, que aos poucos se tornam hábitos; são como pequenos degraus que vamos subindo, até chegarmos ao topo, ou como páginas diárias de um livro que vamos escrevendo e que se tornará a autobiografia de um autêntico cristão ou de um autêntico corrupto, ainda que aparentando ser um homem de Deus. 
A conclusão do Evangelho é que não podemos servir a Deus e ao dinheiro, porque sempre nos apegaremos a um e desprezaremos o outro (cf. Lc 16,13). Permitamos que a Palavra radiografe o nosso bolso, a nossa consciência e o nosso coração, e nos ajude a reconhecer com sinceridade quem ocupa o centro da nossa vida, em quem encontramos segurança, a quem temos confiado a nossa alma: Deus ou o dinheiro. 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

NADA ESTÁ PERDIDO PARA SEMPRE

Missa do 24º. dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 32,7-11.13-14; 1Timóteo 1,12-17; Lucas 15,1-32.

Um homem tinha cem ovelhas e perdeu uma. Uma mulher tinha 10 moedas de prata e perdeu uma. Um pai tinha dois filhos e “perdeu” o mais novo. Quantas perdas nós já sofremos na vida? Quem de nós já não perdeu algo ou alguém precioso na vida? Quem de nós não se sente às vezes perdido na vida, perdido não só no sentido de não saber “para onde ir” com sua vida, mas também perdido no sentido de achar que não há salvação para si? Quem aqui já não se sentiu “um caso perdido”?
Sejam quais forem as perdas que sofremos na vida, sejam quais forem as perdas que teremos que lidar na vida, o Evangelho nos convida a olhar para Jesus, que disse: “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Como o apóstolo Paulo, somos convidados a proclamar a nossa fé, declarando: Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu sou o primeiro deles!” (1Tm 1,15).
O que motivou Jesus a contar as parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho perdido foi a crítica dos fariseus e dos mestres da Lei: “Este homem acolhe pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15,2). Por trás dessa crítica, há uma imagem distorcida de Deus e da religião/Igreja: quando o homem decide conscientemente pecar e se afastar de Deus, Deus o abandona no seu pecado, e o papel da religião/Igreja é declarar que tal pessoa está perdida, isto é, que não tem salvação. Em outras palavras, para os fariseus e os mestres da Lei de ontem e de hoje, a Igreja é o lugar dos salvos, e o “mundo” é o lugar dos perdidos.
Jesus corrige a imagem distorcida que temos de Deus e da Igreja. Deus não aceita perder ninguém, e para recuperar um filho Seu, Ele é capaz de tudo. Ao mesmo tempo, Deus convida cada um de nós a sairmos de nossas igrejas e caminharmos pelo mundo, atrás daqueles que se sentem perdidos ou que estão em risco de se perderem. Em outras palavras, a Igreja não é o lugar dos salvos, mas dos reencontrados, porque não há ninguém que algum dia não tenha se perdido na vida. Portanto, a mesma missão que o Pai confiou a Jesus, confia a cada um de nós, discípulos de Jesus: procurar e salvar o que estava perdido, custe o que custar.
Algumas pessoas se afastam das nossas comunidades, por diversos motivos. Convém examinar se esse afastamento não se deve a algumas atitudes nossas. Nós nos preocupamos em conversar com essas pessoas que se afastam? Quando elas retornam, nós “fazemos festa” e as acolhemos com sincera alegria (cf. Lc 15,6.9.24.30), ou lhes dirigimos perguntas irônicas, do tipo: “Ressuscitou?” O Evangelho convida cada um de nós a ser um sacramento dessa procura incansável de Deus, até trazer de volta aqueles que, por diversos motivos, se afastaram.   
“Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!” (Lc 15,6). “Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!” (Lc 15,9). “Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado” (Lc 15,24). Cada vez que nós fazemos o que está ao nosso alcance para procurar e salvar o que estava perdido, enchemos o coração de Deus de alegria e nos tornamos para o mundo um sinal vivo do amor de Deus, amor que ama cada pessoa desde sempre e para sempre, independente dos seus méritos e das suas culpas.
Há tempos atrás, o Papa Francisco disse: “Deus nunca se cansa de nos perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão”. Poderíamos dizer também: Deus nunca se cansa de se levantar e de ir à nossa procura; somos nós que nos cansamos de nos levantar, de ir ao Seu encontro e de nos deixar abraçar por Ele. Essa foi a decisão que salvou a vida do filho mais novo: “Vou me levantar. Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei...’ Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15,18.20).
Das três parábolas contadas por Jesus, talvez uma mereça uma consideração particular: a da moeda perdida. Essa moeda foi perdida dentro de casa. Dentro da nossa casa interior algumas coisas foram perdidas ao longo do tempo, coisas pequenas como uma moeda, mas são coisas valiosas – a moeda era de prata! Há quanto tempo você não varre sua casa interior? Talvez você tenha desistido de encontrar essa moeda e considere que hoje seja tarde demais para procurá-la. Jesus nos ensina que nunca é tarde demais para procurar aquilo que se perdeu. Ao invés de seguir pela vida como vítima, lamentando a perda, a atitude mais construtiva é decidir levantar-se, acender a luz – pedir a luz de Deus para encontrar o que perdemos – varrer a casa, remover a sujeira que por anos permitimos que se acumulasse dentro de nós e, quem sabe, poderemos voltar a nos alegrar pela moeda reencontrada... 
O recado do Evangelho é claro: para Deus ninguém é um caso perdido; para Deus nada está perdido para sempre; o que falta no mundo – e em alguns de nós – é a vontade de nos levantar e a disposição em procurar até encontrar aquilo que se perdeu, permitindo, desse modo, que a alegria de Deus volte a encher o nosso coração com a sua presença... 
                                                             Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

CRISTO POR INTEIRO, NÃO AOS PEDAÇOS

Missa do 23º. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 9,13-18; Filêmon 9b-10.12-17; Lucas 14,25-33

            “Este homem começou a construir e não capaz de acabar!” (Lc 14,30). Qual é a construção mais importante a se fazer na vida? A construção de uma casa? De uma profissão? De um relacionamento/casamento? De uma família? De um patrimônio?  A primeira construção a se fazer na vida é a construção de nós mesmos como pessoas. Ora, se temos que nos construir como pessoas, isso significa que não nascemos prontos. Ainda que tenhamos herdado algo dos nossos pais e do ambiente em que nascemos e crescemos, é tarefa nossa nos construir como pessoas, uma tarefa que não podemos transferir para os outros. Construir-se como pessoa é uma responsabilidade que a vida delega a cada um de nós.
            “Este homem começou a construir e não capaz de acabar!” (Lc 14,30). Jesus dirigiu essas palavras às grandes multidões que o seguiam (cf. Lc 14,25). Portanto, o que Jesus está nos dizendo é que muitos começaram a segui-lo com entusiasmo, mas não foram capazes de chegar até o fim. Abandonaram a fé pelo meio do caminho. Por qual motivo? Porque não calcularam “os gastos” dessa construção; porque esperavam que ela fosse menos custosa, que exigisse menos renúncia e sacrifício. Numa palavra, muitos iniciaram a construção de um relacionamento, de uma família, de uma profissão, de um trabalho voluntário, de uma espiritualidade, de sua própria santificação, mas não foram capazes de chegar até o fim porque não souberam lidar com a própria cruz.
   Às multidões que seguiam Jesus ontem, e a qualquer pessoa que se propõe a segui-lo hoje, Ele diz: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega... até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo... Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26-27.33). Quem quer construir um relacionamento, mas não se desapega do seu ego, colocando no centro do relacionamento o que convém a si e não o que convém ao relacionamento, não será capaz de permanecer nele.
  “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). Muitos iniciaram um caminho de fé com Jesus, mas depois desistiram, porque não aceitaram caminhar atrás de Jesus; queriam caminhar na frente, escolhendo por si mesmos o melhor caminho, o mais tranquilo, o menos sofrido. É aquilo que diz o Pe. Zezinho: “Não querem Jesus, querem a parte suave de Jesus. Não querem o Cristo, querem a parte agradável do Cristo. Não querem a cruz, querem a parte menos dolorosa da cruz... Não querem a Bíblia, querem parte dela: a que prova que estão certos. Assim agem muitos cristãos. Assim talvez nós ajamos” (Cristo aos pedaços, parte da reflexão publicada na Revista Paróquias, julho/agosto de 2013, p.58)
  Jesus convida cada um de nós a fazer um caminho com ele, o caminho da construção da nossa fé, da nossa cura, da nossa libertação, da nossa salvação, da nossa transformação... Se o alicerce dessa construção for o nosso ego, ela está fadada ao fracasso, porque o nosso ego rejeita tudo aquilo que exige dele renúncia ou sacrifício. Porque Jesus foi bem sucedido na sua construção como pessoa? Porque o centro da vida de Jesus não foi o seu ego; o centro da vida de Jesus nunca esteve nele mesmo, mas na comunhão com a vontade do Pai. Portanto, desapegue-se! Desapegue-se até da sua própria vida! (cf. Lc 14,26). Desapegue-se de tudo o que afasta você da vontade de Deus. Aceite pagar o preço pela sua transformação!
  “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). A cruz hoje está tatuada no corpo de muitas pessoas, inclusive de bandidos, assassinos e traficantes. A cruz hoje está pendurada no pescoço de algumas pessoas como uma “simples” jóia. Mas, qual a disposição que essas pessoas têm em carregar a própria cruz e caminhar atrás – atrás porque é Ele quem indica o caminho, e não nós – de Jesus? Carregar a cruz significa aceitar-se, acolher-se como se é, com suas fraquezas e contradições. Carregar a cruz significa assumir as consequências da nossa construção diária como pessoas. Carregar a cruz significa amar até o fim, ser fiel, sustentar até o fim a construção que iniciamos. Numa palavra, carregar a cruz e caminhar atrás de Jesus significa ir até o fim... “Não, não pares. É graça divina começar bem. Graça maior, persistir na caminhada certa, manter o ritmo... Mas graça das graças é não desistir. Podendo ou não podendo, caindo, embora, aos pedaços, chegar até o fim...” (Até o fim, poema de Dom Hélder Câmara).

              Pe. Paulo Cezar Mazzi