segunda-feira, 31 de maio de 2021

HÁ SANGUE EM NOSSAS MÃOS?

 Missa do Corpo e Sangue de Cristo. Palavra de Deus: Êxodo 24,3-8; Hebreus 9,11-15; Marcos 14,12-16.22-26.

 

            Sempre que comungamos numa celebração eucarística, recebemos o “corpo de Cristo”, a hóstia consagrada. Raramente recebemos o “Sangue de Cristo”; menos ainda agora, em tempos de pandemia. Mas a imagem do “sangue” apareceu nas três leituras bíblicas que acabamos de ouvir. Por isso, é importante refletir sobre o Sangue de Cristo, na festa de hoje.

O sangue está em estreita relação com o corpo: ele é, por assim dizer, a “vida” do corpo. Perder muito sangue significa correr o sério risco de morrer; receber sangue, por sua vez, significa recuperar a vida. Muitos enfermos de Covid 19 estão precisando receber sangue, porque no sangue há hemoglobina, responsável por transportar o oxigênio dos pulmões para os tecidos do corpo. Neste momento, os hospitais estão precisando muito de doadores de sangue!

Na Sagrada Escritura, sobretudo no Antigo Testamento, se fala com frequência de sangue, não só do sangue derramado nas guerras, mas, principalmente, do sangue dos animais sacrificados no Templo. O sangue desses animais significava o pedido de perdão pelos pecados do povo. Uma vez que o pecado gera a morte na pessoa, animais eram sacrificados e seu sangue era oferecido a Deus como pedido de perdão pelos pecados. Mas aqui precisamos entender que não era Deus quem exigia o sangue desses animais sacrificados e sim os homens religiosos da época que entendiam ser necessário esse derramamento de sangue pelo perdão dos pecados do povo. Deus não é vampiro! Ele não se alimenta de sangue!

Transcendendo essa compreensão imperfeita da religião, a questão principal que os textos bíblicos levantam para nós é a comparação entre o valor do sangue dos animais (Antigo Testamento) e o valor do sangue de Cristo (Novo Testamento). Enquanto alguns animais morriam sem saber por qual razão, e o seu “sangue inconsciente” era derramado (inutilmente) para alertar a consciência de Israel das consequências do pecado, o sangue de Jesus Cristo foi derramado livre e conscientemente pela salvação de todo ser humano: “Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos” (Mc 14,24).

A superioridade do sangue de Cristo em relação ao sangue dos animais sacrificados é claramente demonstrada na carta aos Hebreus: “Se o sangue de bodes e touros, e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros, os santifica e realiza a pureza ritual dos corpos, quanto mais o Sangue de Cristo purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo, pois, em virtude do espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha” (Hb 9,14-15).

            O sangue de Cristo, oferecido como bebida na última ceia e derramado na cruz, realizou uma redenção eterna; não provisória, nem temporária! No entanto, o autor da carta aos Hebreus quer nos ensinar que o sangue de Cristo não tem o poder mágico de nos colocar em comunhão definitiva com Deus. O que este sangue contém é uma pergunta, a mesma pergunta que Deus fez a Caim, após derramar o sangue de seu irmão Abel: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). Essa pergunta significa: o quanto de sangue há em nossas mãos hoje?

Há sangue em nossas mãos quando compartilhamos discursos de ódio pelas redes sociais; quando nos tornamos indiferentes à situação de quem está sendo agredido ou injustiçado à nossa volta; quando não nos preocupamos com aqueles que estão desempregados e passando necessidades. Enquanto grupos católicos conservadores criam discussões desnecessárias se se deve receber a comunhão na mão ou na boca, Deus nos pergunta se nós, que comungamos o Corpo de Cristo na missa, temos feito algo pelo Corpo de Cristo presente naqueles que sofrem. Nosso País é um dos mais violentos do mundo, o que significa que diariamente o sangue de muitas pessoas é derramado devido à violência, que por sua vez é fruto da desigualdade social. Como nós, cristãos, nos posicionamos diante desse triste fato?  

            Hoje temos a oportunidade de nos colocar diante do Sangue de Cristo e suplicar o perdão de Deus por todo sangue derramado na face da terra, pelo fim das guerras e da violência, pela cura das pessoas enfermas, pela proteção de todas as pessoas ameaçadas, pela Amazônia e demais florestas que “sangram” devido ao desmatamento; pela situação preocupante de agricultores cujos pastos ou plantações estão “sangrando” devido à falta de chuva, consequência do desmatamento; supliquemos, enfim, para que as pessoas se conscientizem a respeito da doação de sangue para salvar inúmeras vidas nos hospitais...

             

            Oração:

          Senhor Jesus Cristo, teu Sangue foi prefigurado na morte de Abel, cuja vida foi tirada por seu próprio irmão (cf. Gn 4,8). Hoje pedimos que o teu precioso Sangue seja aspergido sobre a consciência de todas as pessoas que, como Caim, estão feridas pela raiva e pelo ódio, propagando violência, para que aprendam a dialogar com sua própria ira e não deem espaço para o mal agir sobre elas (cf. Ef 4,26-27).

Teu Sangue também foi prefigurado no sangue dos cordeiros que os hebreus passaram nas portas de suas casas, para que elas fossem poupadas do espírito exterminador (cf. Ex 12,13). Hoje pedimos que o teu precioso Sangue seja derramado sobre nossas casas, para nos livrar do espírito exterminador da discórdia, da dependência química, do abuso sexual, do desemprego e da desestruturação familiar.

Teu Sangue foi prefigurado no sangue que Moisés aspergiu sobre o povo de Israel, no momento em que selou a aliança com Deus (cf. Ex 24,8). Diante da consciência da nossa fraqueza e da nossa infidelidade, te pedimos, como o salmista: Purifica-nos dos nossos pecados; lava-nos no teu Sangue, e ficaremos mais brancos do que a neve. Cria em nós um coração que seja puro (cf. Sl 51,9.12). Ajuda-nos em nosso combate contra o pecado!

Teu Sangue foi prefigurado no sangue dos santos inocentes, daqueles meninos que foram mortos por Herodes (cf. Mt 2,16-18). Hoje pedimos que o teu Sangue seja derramado sobre as crianças do mundo inteiro, para que os “Herodes” do tráfico de drogas, da pedofilia, do abuso sexual, da fome, da violência e da guerra não tenham poder sobre nenhuma delas.

Teu Sangue tem o poder de purificar nossa consciência, de perdoar nossos pecados, de curar nossas feridas: derrama-O sobre todos nós! Ele é a expressão do teu amor que nos amou até o fim. Ensina-nos também a amar até o fim! Teu Sangue é a expressão de uma vida entregue, doada, oferecida como sacrifício pelo bem da humanidade. Que assim seja a nossa vida também. Desse modo, estaremos honrando o Sangue que nos redimiu. Que assim seja!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 27 de maio de 2021

O QUE AMA, O QUE É AMADO E O AMOR

 Missa da Santíssima Trindade. Palavra de Deus: Deuteronômio 4,32-34.39-40; Romanos 8,14-17; Mateus 28,16-20.

 

Quem é Deus? Deus é Pessoa, é Alguém, ou apenas uma energia, uma força que não só criou, mas que também sustenta todas as coisas criadas? Enfim, foi o ser humano quem “descobriu” (para alguns, “inventou”) Deus ou foi Deus quem se revelou ao ser humano?

A resposta a essa pergunta se encontra em Gênesis 12,1-4: Deus se revelou a um homem chamado Abraão. Antes dessa revelação, os inúmeros povos que habitavam sobre a terra tinham seus respectivos deuses. Somente a partir de Abraão é que Deus se revela como o único Deus, como séculos mais tarde Ele dirá a respeito de Si mesmo: “Eu sou o Senhor, e não há nenhum outro, fora de mim não há Deus... Voltem-se para mim e vocês serão salvos, homens todos dos confins de toda a terra, porque eu sou Deus e não há nenhum outro!” (Is 45,5.22). Ou como Moisés declarou: “Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele” (Dt 4,39).

Embora as três maiores religiões do mundo atual – judaísmo, cristianismo e islamismo –, creiam na existência de um só Deus, existem muitas outras religiões que creem em deuses diferentes, assim como existem muitas pessoas que deixaram de acreditar em Deus, seja porque Ele frustrou suas expectativas, seja porque pessoas religiosas deformaram a imagem de Deus com o seu contratestemunho.

Voltemos à questão principal: não foi o ser humano quem inventou Deus para suportar sua fraqueza e seu sentimento de impotência perante o mundo, mas foi Deus quem tomou a iniciativa de se revelar ao ser humano na pessoa de Abraão, manifestando o Seu desejo de abençoar “todas as famílias da terra” (Gn 12,3). E o mais intrigante é que, quando Deus aparece a Abraão para lhe comunicar o nascimento de um futuro filho, revela-se na imagem de três homens (cf. Gn 18,1-16)! Apesar dessa “estranha” revelação, o Antigo Testamento professa a fé na existência de um único Deus, salvador de todos os povos.

Passemos agora para o Novo Testamento. Iniciando seu Evangelho, são João faz uma afirmação importantíssima: “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está no seio do Pai, este o deu a conhecer” (Jo 1,18). Só Jesus pode nos revelar quem é o Deus em quem nós cremos! E Jesus, o Filho, nos revelou que Deus é Pai; Pai não somente a partir do momento em que Jesus vem ao mundo por meio da Maria: Deus é Pai desde o momento da criação do mundo, porque já ali existia o Filho! “No princípio... a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus... Tudo foi feito por meio dela e sem ela nada foi feito” (Jo 1,1.3). De qual “Palavra” João fala? Da Palavra que “se fez pessoa humana e habitou entre nós” (Jo 1,14). “Nele (em Cristo) foram criadas todas as coisas” (Cl 1,16). Ele “existe antes de tudo e tudo tem nele sua subsistência” (Cl 1,17).

O mundo só conheceu a Pessoa do Filho quando Maria deu à luz o Filho de Deus, mas este Filho já existia com o Pai antes da fundação do mundo! O Pai e o Filho existem desde sempre. Contudo, existe ainda uma terceira Pessoa de certa forma “escondida”, não plenamente revelada no Antigo Testamento, mas que Se manifestou ora aqui, ora ali; ora como vento (respiro), ora como fogo (poder); ora como água (vida), ora como nuvem (proteção, presença divina), ora como unção (consagração)... Estamos falando do Espírito de Deus. Antes de Jesus revelá-Lo, Ele era entendido como simplesmente a força de Deus que age no ser humano. Mas foi Jesus quem revelou que o Espírito de Deus se chama “Espírito Santo”, “Paráclito”, Defensor”, “Consolador”, “Espírito da Verdade”. Ele foi dado à Igreja em Pentecostes. Ele é a presença do Pai e do Filho em nós (cf. Jo 14,23). Ele é o cumprimento da promessa de Jesus: “Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Ele atesta (comprova, dá a certeza) de que “somos filhos de Deus” (Rm 14,16) e podemos invocá-Lo com a mesma palavra que Jesus O invocava: “Abá – ó Pai!”. Essa invocação não significa que o filho clama pelo pai que está ausente, mas é uma proclamação de confiança de que o filho sabe que tem seu pai sempre junto a si e pode contar com ele em qualquer momento!  

Portanto, o Deus em quem nós cremos é o único Deus, Salvador de todos os homens, e que se revelou a nós como Pai, Filho e Espírito Santo. O próprio Jesus nos fala do seu desejo de que toda pessoa que se torne discípula seja batizada “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Jesus nos quer inseridos nesta comunhão de amor que existe no seio da Santíssima Trindade. O Pai ama o Filho, o Filho é amado pelo Pai e o amor do Pai e do Filho “foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Em um mundo marcado por individualismo, indiferença, solidão e ódio ao diferente, um mundo onde alguns líderes religiosos deformam a imagem de Deus, usando a religião como justificativa para fazer guerra contra os que eles consideram “infiéis”, um mundo onde pessoas religiosas consideram como “inimigos” e dignos de desprezo aqueles que não professam sua mesma fé e creem diferente delas, somos chamados a viver como filhos do Pai que ama incondicionalmente cada ser humano; a viver como irmãos do Filho que veio procurar e salvar o que estava perdido e que pede que amemos especialmente os que não são amados; enfim, somos chamados a nos deixar conduzir pelo Espírito Santo, que nos guarda no amor do Pai e na salvação do Filho, e nos envia como presença de um amor que pode humanizar os ambientes em que nos encontramos.    

    

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 20 de maio de 2021

O SOPRO DE DEUS

 Missa de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios 12,3b-7.12-13; João 20,19-23.

 

Pentecostes: uma festa que os judeus celebravam cinquenta dias após a Páscoa. Nessa festa, agradecia-se a Deus pelo dom das colheitas. Mais tarde, ela passou a celebrar também o dom da Lei de Deus, dada a Moisés, para preservar a vida e a liberdade do povo de Israel. Exatamente nesta festa, Deus derramou sobre os discípulos, isto é, sobre a Igreja, o dom do Espírito Santo, conforme prometido por Jesus (cf. At 1,8). Por isso, para nós, cristãos, Pentecostes se tornou a festa do Espírito Santo! Mas, quem é o Espírito Santo? Deixemos que a Sagrada Escritura nos fale d’Ele...

Ele é mencionado no início da criação como “um sopro de Deus que agitava a superfície das águas” (Gn 1,2). “Um sopro de Deus”. Quando falamos uma palavra, da nossa boca sai sopro. Se tudo o que Deus criou foi por meio da Sua palavra, nessa palavra está o Sopro que é o Espírito Santo. Se quisermos entender a força vivificadora da Palavra e do Sopro de Deus, basta recordarmos dos ossos secos de Israel, símbolo de um povo que havia perdido sua esperança: ao ouvirem a Palavra, os ossos se tornaram esqueletos e os esqueletos se tornaram corpos humanos; ao receberem o Sopro de Deus, aqueles corpos reviveram, levantando-se “como um imenso exército” (cf. Ez 37,1-14). Assim o Espírito Santo faz conosco: nos levanta e nos torna homens e mulheres fortes, preparados para as lutas que somos chamados a enfrentar ao longo da vida.  

Esse “Sopro de Deus” que infunde vida no ser humano (cf. Gn 2,7), aparece como “uma forte ventania que encheu a casa” onde os discípulos se encontravam, no dia de Pentecostes (cf. At 2,2), assim como também aparece nos lábios de Jesus, após sua ressurreição: “soprou sobre eles e disse: ‘Recebam o Espírito Santo’” (Jo 20,22). De fato, Jesus já havia falado da ação do Espírito Santo como vento: “O vento sopra onde quer... Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3,8). O Espírito Santo não pode ser controlado, dominado ou domesticado por ninguém. Ele é absolutamente livre: “Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17). O Espírito Santo nos liberta das nossas amarras interiores; Ele quebra as correntes que nos prendem ao passado e nos torna livres da culpa, livres do medo, livres dos homens e de tudo aquilo que o mundo inventa para nos prender e nos escravizar. Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo não admite se tornar prisioneiro de nada, nem de ninguém. O Espírito Santo nos dá a liberdade de escolher e de decidir o que fazer diante de toda e qualquer situação que somos chamados a enfrentar.

Se no Antigo Testamento nenhum ser humano chegou a ver o Espírito Santo, no Novo Testamento Ele é visto como se fosse uma pomba, descendo do céu e repousando sobre Jesus, no momento do seu batismo (cf. Mt 3,16; Mc 1,10; Lc 4,22; Jo 1,32). A partir desse momento, Jesus será guiado e sustentado pelo Espírito Santo, reconhecendo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção” (Lc 4,18). Assim como Jesus, nós também recebemos a unção do Espírito Santo. No batismo e na crisma fomos ungidos com o óleo da unção. Essa unção faz de nós “cristãos”, isto é, homens e mulheres ungidos.

A unção que recebemos do Espírito Santo significa duas coisas: primeiramente, nossa consagração, nossa pertença a Ele. Não somos pessoas “mundanas” ou simplesmente carnais; somos homens e mulheres espirituais. Segundo, somos “revestidos da força do Alto” – é assim que Jesus se refere à Pessoa do Espírito Santo (cf. Lc 24,49). O apóstolo vai confirmar o Espírito Santo como força de Deus em nós ao dizer: “Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de autodomínio” (2Tm 1,7).

Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo não se acovarda perante a vida, nem perante o mundo, mas enfrenta as situações, olha a vida nos olhos, não foge da verdade com a qual precisa lidar. O Espírito Santo não nos blinda contra a dor e o sofrimento, mas nos dá força para enfrentá-los. Ele nos enche de coragem e de ousadia para nos mantermos em pé diante dos ventos contrários e diante dos ataques de um mundo descrente e seduzido pelo mal. Justamente porque o nosso combate não é contra um ser humano, mas contra o espírito do mal (cf. Ef 6,12), o Espírito Santo nos foi dado como Defensor (cf. Jo 14,16), como Aquele que luta ao nosso lado, impedindo que o inimigo nos destrua.

Algo ainda precisa ser dito a respeito do Espírito Santo. Ele deseja “falar” em nós e por meio de nós. Foi por isso que desceu sobre os discípulos como se fosse “línguas de fogo” (At 2,3). O Espírito Santo nos capacita a falar do Pai e do Filho de modo que as pessoas do nosso tempo entendam: “Todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!” (At 2,11). Neste mundo complexo e diversificado, nós precisamos mais do que nunca do Espírito Santo para que a nossa vida, as nossas atitudes e as nossas palavras falem de Deus para cada pessoa na sua situação específica; sobretudo, que nos tornemos capazes de “levar uma palavra de conforto à pessoa abatida” (Is 50,4).

A humanidade está machucada por palavras e por atitudes que promovem o ódio, a divisão, a inimizade entre as pessoas. O Espírito Santo é o oposto disso. Ele respeita a diversidade, mas age de modo a gerar diálogo, unidade, comunhão, aproximação, reconciliação (cf. 1Cor 12,4-6). Quem não aceita a diversidade não age segundo o Espírito Santo. Quem trabalha contra o diálogo, a comunhão e a unidade está se deixando conduzir pelo espírito do mal, não pelo Espírito Santo, pois “a cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 7,12). O Espírito Santo visa “o bem comum”, não o bem individual em detrimento do bem comum. Porque deseja o bem comum, o bem de todos na Igreja e na humanidade, o Espírito Santo nos convida a trabalhar junto com Ele na derrubada de muros e na construção de pontes.

Resta-nos agora clamar ao Pai que nos dê o Espírito Santo, conforme a promessa de Jesus (cf. Lc 11,13). Resta-nos pedir: “Espírito de Deus, és bem-vindo aqui! Espírito de Deus, és bem-vindo aqui! Eu sou terra sequiosa, sou deserto, e Tu és a chuva... Eu sou o braço de um rio tão pequeno, e Tu és o mar... Imensidão, Amor, vim Te encontrar. Espírito, vem! Batiza-me com fogo de novo! Faça arder Teu fogo, de novo, como na primeira vez!

Espírito de Deus, és bem-vindo aqui! Espírito de Deus, és bem-vindo aqui! Eu sou o pó, eu sou o barro em Tuas mãos e Tu és o Sopro...  Eu quero o bem, mas faço o mal. Eu sou tão fraco, mas Tu és a graça!... Imensidão, Amor, vim Te encontrar. Espírito, vem! Batiza-me com fogo de novo! Faça arder Teu fogo, de novo, como na primeira vez!”

(Gil Monteiro, Com fogo, de novo).

https://www.youtube.com/watch?v=Q4n73E_LTys 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 13 de maio de 2021

A TERRA PRECISA ABRIR-SE AO CÉU

 Missa da Ascensão do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Marcos 16,15-20.

 

            Celebramos hoje a Ascensão, a subida de Jesus ao céu. Deus Pai “manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus” (Ef 1,20). Diante desta revelação bíblica, fica a pergunta: O que é mais importante para nós, discípulos de Jesus: tê-lo junto a nós, na terra, ou tê-lo junto ao Pai, no céu? Aparentemente, o mais importante seria ter Jesus conosco na terra. No entanto, para nós é muito mais importante que Jesus esteja junto ao Pai no céu, como Ele mesmo afirmou: “É do interesse de vocês que eu parta (para o céu), pois, se eu não for, não virá a vocês o Espírito Santo. Se eu for (para o céu), o enviarei a vocês” (Jo 16,7). Portanto, a celebração da Ascensão (subida ou elevação) de Jesus ao céu nos remete diretamente para a festa que celebraremos no próximo domingo: Pentecostes, o derramamento do Espírito Santo!

            A importância de Jesus subir ao céu e não permanecer conosco fisicamente na terra aparece também em dois textos da carta aos Hebreus: Cristo “é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, visto que ele vive para sempre para interceder por eles” (Hb 7,25); “Cristo... entrou no próprio céu, a fim de comparecer, agora, diante da face de Deus a nosso favor” (Hb 9,24). Eis o motivo da nossa alegria e da nossa esperança na subida de Jesus ao céu: Ele está lá diante do Pai intercedendo por nós; está lá em nosso favor, para nos salvar definitivamente, colocando-nos no coração do Pai!

            Há algo que precisa ser esclarecido para nós: a nossa compreensão do que seja o céu. Embora o céu, materialmente falando, esteja infinitamente distante da terra, o fato de Jesus “subir ao céu” significa não um distanciamento infinito de nós, mas uma extensão do seu poder sobre toda a terra e sobre todo ser humano. Aquele que está no céu tem poder sobre todos os poderes que atingem os seres humanos na terra. Exatamente por isso, Jesus afirmou aos seus discípulos, antes de subir ao céu: “Todo poder me foi dado no céu e sobre a terra” (Mt 28,18). Isso significa que nada do que nos atinge na terra está acima do poder de Jesus de nos salvar. Nenhuma força terrena está acima da força redentora de Jesus, a quem o Pai concedeu o poder sobre todo ser humano (cf. Jo 17,2)!

            No domingo de Páscoa, o apóstolo Paulo nos convidou a “buscar as coisas do alto onde Cristo está sentado à direita do Pai” (Cl 3,1). Em qual momento do nosso dia a dia nós nos voltamos para o céu ou nos ocupamos com “as coisas do alto”? Quantos de nós, apesar de nos considerarmos cristãos, vivemos na prática como homens e mulheres meramente mundanos? Quem de nós se lembra do céu? Quem de nós tem consciência de que não é um cidadão do mundo, mas um cidadão do céu? Quem de nós se recorda dessa Palavra: “A nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus Cristo, que transfigurará nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso, pela força que lhe dá poder de submeter a si todas as coisas” (Fl 3,20-21)?

            Os Atos dos Apóstolos nos afirmaram: “Esse mesmo Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). Essa verdade deve estar no horizonte da nossa existência humana. Nossa vida caminha para o encontro definitivo com o nosso Salvador! Nosso corpo, exposto a tudo aquilo que fere o nosso mundo, está destinado a ser transformado num corpo glorioso no céu. Enquanto cristãos, nós somos membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja, cuja Cabeça já se encontra no céu e cujos membros do Corpo estão igualmente destinados ao céu. É por isso que nossa Igreja afirmou, na oração inicial: “Ó Deus todo-poderoso, a Ascensão do vosso Filho, já é nossa vitória... Membros de seu Corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória”.  

            São muitas as pessoas do nosso tempo cuja vida perdeu o horizonte. Tornou-se uma vida sem esperança, “uma terra que perdeu de vista o céu”, uma vida incapaz de transcendência. É daí que nasce a nossa missão. Antes de subir ao céu, Jesus confiou uma missão aos seus discípulos: serem suas testemunhas em todos os lugares, em todos os tempos, a todas as pessoas, até os confins da terra (cf. At 1,8): “Vão pelo mundo inteiro e anunciem o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15). O Evangelho que somos chamados a anunciar deve sê-lo com a nossa vida, com a nossa conduta, antes de mais nada; se for preciso, usaremos de palavras, como disse São Francisco de Assis. O Evangelho que somos chamados a anunciar é, segundo o apóstolo Paulo, “força de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1,16). O Evangelho que temos a missão de anunciar não é um texto bíblico, mas uma Pessoa: Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, perdão para quem está no pecado, cura para quem está enfermo; luz para quem está no escuro; libertação para quem está preso; ressurreição para quem está morto. Que o Espírito Santo nos capacite sempre mais para esta missão!

 

ORAÇÃO: Senhor Jesus, eu creio e confio no teu poder de salvar todo ser humano. Renovo minha esperança em tua vinda e na futura glorificação do meu corpo. Confio na tua intercessão em meu favor e em favor de todos os teus discípulos, espalhados pelo mundo. Devolve a cada ser humano o horizonte do céu, a capacidade de transcender as situações presentes e manter-se aberto ao céu. Envia o Espírito Santo sobre tua Igreja, sobre a face da terra e, principalmente, sobre todo ser humano ferido, injustiçado, cuja esperança do céu foi sufocada por inúmeros sofrimentos. Torna-nos “evangelhos vivos” e sustenta-nos em nossa missão de sermos um sinal do céu na terra. Amém!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi  

quinta-feira, 6 de maio de 2021

A FALTA DE AMOR É A MAIOR DE TODAS AS MISÉRIAS DO NOSSO TEMPO

 Missa do 6. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,25-26.34-35.44-48; 1João 4,7-10; João 15,9-17.

 

A maneira como vivenciamos a nossa religião nos humaniza ou nos desumaniza? A imagem que temos de Deus dentro de nós nos leva a amar ou a odiar pessoas? Essas perguntas podem parecer estranhas, mas são necessárias, uma vez que, em nome de Deus e da religião, homens odiaram e mataram pessoas no passado, e ainda hoje há muitas pessoas “religiosas” que constroem muros que as mantenham separadas daqueles que não professam a mesma fé que elas professam e não creem no mesmo Deus ou da mesma forma como elas creem.

Como entender que pessoas que dizem crer em Deus e em seu Filho Jesus Cristo usem suas redes sociais para fazerem discursos de ódio contra quem não é cristão, contra homossexuais, contra todos aqueles que elas consideram pecadores, perdidos, maus exemplos? O motivo já foi respondido pelo apóstolo João: “Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,8). Quem usa da religião ou da Sagrada Escritura para fazer “guerra santa” contra outros seres humanos não chegou a conhecer a Deus. Quem abusa do nome de Deus para discriminar e condenar pessoas tem dentro de si uma ideia deformada de Deus. Quem não ama o ser humano, sobretudo aquele que é diferente de si, não conhece Deus, porque “Deus é amor”.

A melhor descrição de Deus como amor foi feita por Jesus em Mateus 5,45: “ele faz nascer o sol igualmente sobre bons e maus e cair a chuva sobre justos e injustos”. Como o apóstolo Pedro acabou de afirmar, “Deus não faz distinção entre as pessoas” (At 10,34). Deus é amor incondicional: não exige condições para nos amar; não exige que, primeiro a pessoa se converta, para só então amá-la. Porque é Pai amoroso, Deus não tem homens a destruir e a eliminar da face da terra, mas filhos a amar, e nesse amor, resgatá-los, curá-los, redimi-los, transformá-los.  

“Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,8). Um cristão que odeia não conhece a Deus. Ele pode até saber algumas coisas a respeito de Deus e de seu Filho Jesus, por meio da Sagrada Escritura, mas não crê nem em Deus, nem em seu Filho, pois há uma diferença entre “saber algumas coisas a respeito” e “crer”: quem crê, vive segundo Aquele no qual crê. Quem crê no Deus que é amor, procura amar os seres humanos como Deus os ama.

“Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo” (1Jo 4,9). Deus é Jesus. O Deus amor está visível e concretamente palpável em Jesus Cristo, o qual “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). E Jesus nos deu um único mandamento: “amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12). Por ser sacramento do amor do Pai por todo ser humano, Jesus amou a todos, sem distinção, mas amou especialmente aqueles que não eram amados: os pobres, os pecadores, as mulheres, os doentes, os possuídos pelo demônio, todos aqueles que a religião da sua época não amava porque os considerava malditos e odiados por Deus.

Especialmente em nosso País, o veneno do ódio extrapolou o campo da política e penetrou nas igrejas, nos ambientes de trabalho, nas famílias e nas ruas. Esse veneno está nos adoecendo e nos desumanizando cada vez mais. E quanto mais nos desumanizamos, mais nos afastamos de Deus, pois ele se humanizou na pessoa de seu Filho Jesus para expressar o seu amor por todo ser humano, especialmente por aquele que não é amado, por aquele que é ignorado pelo mercado, pela política e por alguns cristãos dos tempos atuais. Por isso, é importante nos perguntar mais uma vez: A maneira como vivenciamos a nossa religião nos humaniza ou nos desumaniza? A imagem que temos de Deus dentro de nós nos leva a amar ou a odiar pessoas?

 “Permanecei no meu amor” (Jo 15,9). Permanecer no amor de Jesus é decidir amar numa época onde muitas pessoas desistem de amar. É deixar-se amar por Jesus; é permitir que o seu amor, que se feriu na cruz para nos salvar, toque em nossas feridas e nos ajude a voltar a amar. Permanecer no amor de Jesus também significa ser esse amor concreto para as pessoas que neste mundo não são amadas, não são consideradas. Santa Madre Teresa de Calcutá afirmava que “a falta de amor é a maior de todas as pobrezas”. Milhões de pessoas foram parar na miséria devido à pandemia (perda de emprego). Nesse contexto onde tantos estão expostos à fome, precisamos ser a presença concreta do amor de Jesus por essas pessoas, doando-lhes não só alimento, mas, sobretudo, nosso amor de discípulos d’Aquele que é sacramento vivo do Deus que é amor.

 

            ORAÇÃO: Senhor Jesus, a maldade e o egoísmo que existem no mundo esfriaram o amor em meu coração. Algumas vezes eu desisti de amar e me deixei contaminar com o veneno do ódio ou da indiferença para com algumas pessoas. Necessito voltar a experimentar o teu amor em meu coração! Preciso ser humanizado(a) novamente. Derrama o remédio do teu amor sobre as minhas feridas! Reacende em mim a chama do amor por todo ser humano, especialmente por aquele que é muito diferente de mim. Ensina-me a amar especialmente as pessoas que neste mundo não são amadas! Se é verdade que a falta de amor é a maior de todas as misérias do nosso tempo, que eu possa ajudar a combater essa miséria amando as pessoas que a vida colocar no meu caminho. Amém!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

sábado, 1 de maio de 2021

A CONEXÃO FUNDAMENTAL

 Missa do 5. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 9,26-31; 1João 3,18-24; João 15,1-8.

 

No mundo de hoje, a conexão tornou-se fundamental. Cada vez mais estamos sendo obrigados a nos conectar para comprar, para vender, para resolver problemas, para nos comunicar. Estar conectado deixou de ser algo ligado à diversão, ao entretenimento, para se tornar uma forma de sobrevivência.

Jesus nos fala da importância da nossa conexão com ele. Dessa conexão depende a nossa fecundidade: “Permaneçam em mim e eu permanecerei em vocês. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vocês não poderão dar fruto, se não permanecerem em mim” (Jo 15,4). Pensemos nos ramos da nossa vida: existe o ramo do nosso corpo (físico), o ramo da nossa alma (psíquico, emocional) e o ramo do nosso espírito (vida espiritual). Além disso, temos também o ramo da vida de estudo ou profissional, o ramo da vida afetiva e sexual, o ramo da vida familiar, comunitária e social etc. Todos esses ramos estão produzindo frutos? Nós nos sentimos pessoas fecundas? Por acaso, alguns desses ramos estão murchando e secando?

É possível que em alguma área da nossa vida não nos sintamos fecundos. Quando isso acontece, precisamos lembrar que a nossa fecundidade não depende das circunstâncias externas. É muito comum as pessoas responsabilizarem os outros, as condições sociais ou a vida (Deus? O destino?) pela própria falta de fecundidade. No entanto, Jesus nos torna conscientes de que a causa da nossa falta de fecundidade está ligada à questão do cultivo ou, se quisermos, à conexão. Todas as pessoas querem se sentir fecundas; todos querem colher frutos nos ramos da sua vida, mas nem todos se dispõem ao cultivo de si mesmos e ao cultivo da sua relação com Deus, cujo Espírito é fecundidade.

Cultivar-se, conectar-se, é responsabilidade de cada um. Quando Jesus afirma que ele é a videira (o tronco da parreira de uva), está dizendo que nele está a seiva de Deus, que é o Espírito Santo. O Senhor ressuscitado é fonte de fecundidade para quem quer que se aproxime dele e se conecte a ele. A questão é saber se estamos cultivando nossa relação com o Ressuscitado. Jesus sempre cultivou um relacionamento profundo com o Pai. Apesar de ser constantemente procurado pelas pessoas e quase não ter tempo nem para comer (cf. Mc 6,31), Jesus jamais deixou de se conectar diariamente com o Pai. Isso sempre fez dele uma pessoa fecunda. Como é que nós queremos ser fecundos sem cultivar nosso relacionamento com Jesus? Como podemos produzir frutos se descuidamos da nossa conexão com o espiritual?  

A conexão com o espiritual se dá, antes de mais nada, por meio da oração, e a oração não nasce espontaneamente dentro de nós, mas é fruto de uma convicção: “sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Além da oração, nós nos conectamos com Jesus por meio da sua palavra (Evangelho) e por meio da Eucaristia. Por fim, não podemos nos esquecer de que nós nos conectamos com Jesus por meio das pessoas necessitadas, daquelas que sofrem e que precisam se nós (cf. Mt 25,37-40). Se a pandemia afastou inúmeras pessoas das nossas celebrações, fica a pergunta: elas estão cultivando em casa algum tipo de relacionamento com Jesus? Elas estão cuidando da sua conexão com o espiritual?   

Diante da consciência de que a nossa fecundidade como pessoas depende da nossa relação com Jesus, precisamos tomar cuidado com uma visão utilitarista da fé ou da religião: eu me conecto com Jesus não por amor a ele, mas pelo interesse que tenho em produzir frutos; eu busco a Deus na oração não porque quero estar na presença dele, mas porque tenho interesse em que Ele me faça prosperar e ser uma pessoa bem sucedida na vida. Jesus quer que o nosso foco não esteja no fruto, mas no relacionamento, na conexão, no cultivo da nossa relação com ele. O cultivo da nossa vida espiritual vale por si mesmo, independente do fruto que venha ou não a produzir. A conexão espiritual busca a Deus por Ele mesmo; a conexão mundana busca a Deus por aquilo que Ele pode oferecer à pessoa. Dizendo de outra forma, a conexão espiritual permite que Deus disponha da minha vida segundo a Sua vontade; a conexão mundana faz com que eu tente usar Deus para atingir meus objetivos pessoais.   

Uma última palavra. A questão da fecundidade nos faz lembrar de dois extremos: as pessoas parasitas e as pessoas esgotadas. Muitos vivem como parasitas: exigem dos outros o tempo todo, sugam os outros (que, obviamente, se deixam sugar por eles) e só enxergam a vida pela lente dos seus direitos, nunca das suas obrigações. Por terem preguiça em cultivar, vivem do que os outros lhes dão. No outro extremo, encontram-se as pessoas esgotadas. Elas descuidam do cultivo do descanso, do respeito para com seus próprios limites; consideram-se importantes pela quantidade de frutos que produzem e não por aquilo que são como pessoas. O esgotamento as adoece, mas elas não mudam suas atitudes porque recebem a falsa compensação de serem reconhecidas como “fecundas”, ainda que tal fecundidade lhes custe a saúde física, emocional e mesmo espiritual. Fujamos desses extremos.     

 

Oração: Deus Pai, tu és o Agricultor deste imenso campo que é o mundo. Visita esta plantação que somos nós. Poda-nos onde precisamos ser podados, para que tenhamos mais vitalidade e possamos produzir frutos melhores. Toca em nossos ramos e devolve-lhes fecundidade. Conecta-nos espiritualmente com teu Filho Jesus, pois somente unidos a ele é que podemos produzir frutos. Que a seiva do Espírito Santo percorra todas as áreas da nossa vida e todo o nosso ser, curando-nos, revitalizando-nos, de modo que os nossos frutos sejam abundantes e glorifiquem o teu Nome. Por Jesus, teu Filho, amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi