quinta-feira, 6 de maio de 2021

A FALTA DE AMOR É A MAIOR DE TODAS AS MISÉRIAS DO NOSSO TEMPO

 Missa do 6. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,25-26.34-35.44-48; 1João 4,7-10; João 15,9-17.

 

A maneira como vivenciamos a nossa religião nos humaniza ou nos desumaniza? A imagem que temos de Deus dentro de nós nos leva a amar ou a odiar pessoas? Essas perguntas podem parecer estranhas, mas são necessárias, uma vez que, em nome de Deus e da religião, homens odiaram e mataram pessoas no passado, e ainda hoje há muitas pessoas “religiosas” que constroem muros que as mantenham separadas daqueles que não professam a mesma fé que elas professam e não creem no mesmo Deus ou da mesma forma como elas creem.

Como entender que pessoas que dizem crer em Deus e em seu Filho Jesus Cristo usem suas redes sociais para fazerem discursos de ódio contra quem não é cristão, contra homossexuais, contra todos aqueles que elas consideram pecadores, perdidos, maus exemplos? O motivo já foi respondido pelo apóstolo João: “Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,8). Quem usa da religião ou da Sagrada Escritura para fazer “guerra santa” contra outros seres humanos não chegou a conhecer a Deus. Quem abusa do nome de Deus para discriminar e condenar pessoas tem dentro de si uma ideia deformada de Deus. Quem não ama o ser humano, sobretudo aquele que é diferente de si, não conhece Deus, porque “Deus é amor”.

A melhor descrição de Deus como amor foi feita por Jesus em Mateus 5,45: “ele faz nascer o sol igualmente sobre bons e maus e cair a chuva sobre justos e injustos”. Como o apóstolo Pedro acabou de afirmar, “Deus não faz distinção entre as pessoas” (At 10,34). Deus é amor incondicional: não exige condições para nos amar; não exige que, primeiro a pessoa se converta, para só então amá-la. Porque é Pai amoroso, Deus não tem homens a destruir e a eliminar da face da terra, mas filhos a amar, e nesse amor, resgatá-los, curá-los, redimi-los, transformá-los.  

“Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,8). Um cristão que odeia não conhece a Deus. Ele pode até saber algumas coisas a respeito de Deus e de seu Filho Jesus, por meio da Sagrada Escritura, mas não crê nem em Deus, nem em seu Filho, pois há uma diferença entre “saber algumas coisas a respeito” e “crer”: quem crê, vive segundo Aquele no qual crê. Quem crê no Deus que é amor, procura amar os seres humanos como Deus os ama.

“Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo” (1Jo 4,9). Deus é Jesus. O Deus amor está visível e concretamente palpável em Jesus Cristo, o qual “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). E Jesus nos deu um único mandamento: “amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12). Por ser sacramento do amor do Pai por todo ser humano, Jesus amou a todos, sem distinção, mas amou especialmente aqueles que não eram amados: os pobres, os pecadores, as mulheres, os doentes, os possuídos pelo demônio, todos aqueles que a religião da sua época não amava porque os considerava malditos e odiados por Deus.

Especialmente em nosso País, o veneno do ódio extrapolou o campo da política e penetrou nas igrejas, nos ambientes de trabalho, nas famílias e nas ruas. Esse veneno está nos adoecendo e nos desumanizando cada vez mais. E quanto mais nos desumanizamos, mais nos afastamos de Deus, pois ele se humanizou na pessoa de seu Filho Jesus para expressar o seu amor por todo ser humano, especialmente por aquele que não é amado, por aquele que é ignorado pelo mercado, pela política e por alguns cristãos dos tempos atuais. Por isso, é importante nos perguntar mais uma vez: A maneira como vivenciamos a nossa religião nos humaniza ou nos desumaniza? A imagem que temos de Deus dentro de nós nos leva a amar ou a odiar pessoas?

 “Permanecei no meu amor” (Jo 15,9). Permanecer no amor de Jesus é decidir amar numa época onde muitas pessoas desistem de amar. É deixar-se amar por Jesus; é permitir que o seu amor, que se feriu na cruz para nos salvar, toque em nossas feridas e nos ajude a voltar a amar. Permanecer no amor de Jesus também significa ser esse amor concreto para as pessoas que neste mundo não são amadas, não são consideradas. Santa Madre Teresa de Calcutá afirmava que “a falta de amor é a maior de todas as pobrezas”. Milhões de pessoas foram parar na miséria devido à pandemia (perda de emprego). Nesse contexto onde tantos estão expostos à fome, precisamos ser a presença concreta do amor de Jesus por essas pessoas, doando-lhes não só alimento, mas, sobretudo, nosso amor de discípulos d’Aquele que é sacramento vivo do Deus que é amor.

 

            ORAÇÃO: Senhor Jesus, a maldade e o egoísmo que existem no mundo esfriaram o amor em meu coração. Algumas vezes eu desisti de amar e me deixei contaminar com o veneno do ódio ou da indiferença para com algumas pessoas. Necessito voltar a experimentar o teu amor em meu coração! Preciso ser humanizado(a) novamente. Derrama o remédio do teu amor sobre as minhas feridas! Reacende em mim a chama do amor por todo ser humano, especialmente por aquele que é muito diferente de mim. Ensina-me a amar especialmente as pessoas que neste mundo não são amadas! Se é verdade que a falta de amor é a maior de todas as misérias do nosso tempo, que eu possa ajudar a combater essa miséria amando as pessoas que a vida colocar no meu caminho. Amém!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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