sexta-feira, 25 de julho de 2014

A IMPORTÂNCIA DO DISCERNIMENTO

Missa do 17º. dom. comum. Palavra de Deus: 1Reis 3,5.7-12; Romanos 8,28-30; Mateus 13,44-52.

            Se perguntarmos às pessoas: “Quais são as ‘coisas’ mais importantes ou mais valiosas da sua vida?”, podemos receber várias respostas: ‘Minha saúde, meus filhos, minha esposa, meu marido, minha família, meu trabalho, minha fé, Deus’ etc.. Mas essas respostas podem ser somente teóricas, ditas “da boca para fora”, sendo que, no coração, o mais valioso para a pessoa pode ser o seu dinheiro, a sua beleza, a sua satisfação sexual, o seu carro, a sua moto, a sua projeção na sociedade etc..
            Existe uma pergunta que nos ajuda a perceber quais são os valores mais importantes da nossa vida, e a pergunta é: “O que enche o meu coração de alegria?”. A alegria indica onde está o nosso coração, o quê ou quem é o nosso tesouro, a nossa pérola preciosa. Jesus disse que o homem que encontrou o tesouro escondido no campo o manteve escondido e, “cheio de alegria” (Mt 13,44), ele foi, vendeu todos os seus bens para comprar aquele campo. “Cheio de alegria”... Quando foi a última vez que você se sentiu assim? O que deixa você alegre? É uma alegria que vem de dentro ou que depende das coisas de fora? É uma alegria duradoura ou passageira?  
            As parábolas do tesouro escondido e da pérola preciosa (cf. Mt 13,44.45) nos falam do valor do reino dos céus. Mas como pensar em “reino dos céus” numa época materialista como a nossa, onde o que vale é o momento presente, o que vale é “comer e beber, já que amanhã vamos morrer” (cf. 1Cor 15,32)? Você acredita na existência do “reino dos céus”? Essa expressão diz alguma coisa a você? Nas duas parábolas, os dois homens venderam “todos os seus bens” (cf. Mt 13,44.46) para adquirir aquilo que era um bem maior. Você é capaz de abrir mão de alguma coisa para estar com o seu coração mais perto do reino dos céus? Se você não tem consciência de que o reino dos céus significa a sua salvação, não será capaz de abrir mão de coisa alguma, muito menos de tudo, para entrar nele...
            Olhemos para o rei Salomão. Quando Deus lhe disse: “Pede o que desejas e eu te darei” (1Rs 3,5), Salomão não pediu longos anos de vida, nem riquezas, nem a morte de seus inimigos. Ele pediu “um coração compreensivo, capaz de... discernir entre o bem e o mal” (1Rs 3,9). E o texto bíblico diz que “esta oração de Salomão agradou ao Senhor” (1Rs 3,10). Nossas orações agradam a Deus? O que costumamos pedir ao Senhor em nossa oração? Hoje em dia, as orações mais comuns que sobem ao céu das diversas igrejas e religiões contemplam a saúde, o trabalho, a proteção contra os inimigos etc. Há alguém que se preocupe em pedir ao Senhor um coração justo, condição indispensável para entrar no reino dos céus?
            Salomão pediu ao Senhor um coração capaz de discernir, de separar o bem do mal, o que presta do que não presta. Este talvez seja o nosso pedido mais raro na oração: discernimento. A necessidade de discernimento apareceu na última parábola sobre o reino dos céus: “Uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo” (Mt 13,47). Depois, os homens se sentam, “recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam” (Mt 13,48). A rede pode significar tudo o que os nossos olhos veem, tudo o que os nossos ouvidos ouvem, tudo o que os nossos sentidos captam. Nós não podemos ser um esgoto que engole tudo o que é jogado nele. Precisamos usar o filtro do discernimento para separar, para ficar com aquilo que nos aproxima do reino dos céus, o que contribui para o nosso crescimento humano e espiritual, o que nos aproxima da verdade que nos liberta, e para jogar fora o que nos distancia de tudo aquilo que não contribui para a nossa salvação.
            Muito se tem falado sobre a “mudança de época” que estamos vivendo, onde parece haver uma rejeição a tudo o que é velho e uma aceitação cega a tudo o que é novo. Aqui também é preciso haver discernimento. Jesus diz que a pessoa que se abre ao reino dos céus aprende que há valores que não podem ser perdidos, como também valores que precisam ser resgatados em sua vida (coisas velhas). Da mesma forma, é preciso acolher a novidade do Espírito presente nessa mudança de época em que estamos vivendo, uma novidade que nos desafia a rever os nossos conceitos e a alargar o nosso horizonte de compreensão de Deus e do seu Reino, não nos esquecendo de que “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus” (Rm 8,28); tudo contribui para quem deseja ter um coração justo e ser um sinal vivo do reino dos céus no mundo dos homens... 

                                                                                                                            Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O RESULTADO DA COLHEITA DEPENDE DO QUÊ?

Missa do 16º. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 12,13.16-19; Romanos 8,26-27; Mateus 13,24-30.36-43.

            Nós gostaríamos de nos sentir somente fortes, mas às vezes temos que nos deparar com a nossa fraqueza. Nós gostaríamos de nos ver somente como vencedores, mas às vezes temos que admitir que também somos perdedores. Nós desejaríamos ser somente santos, mas temos que reconhecer que também somos pecadores. Nós desejaríamos ser habitados somente pela luz, mas temos que reconhecer que também somos habitados pela sombra, pela escuridão. No campo do nosso coração, nós esperávamos encontrar somente trigo, mas nele também existe joio, como o Evangelho acabou de nos mostrar.
            Numa sociedade narcisista como a nossa, onde vivemos preocupados com a nossa imagem, onde gastamos tempo e dinheiro, além de energia física e emocional, para que os outros nos vejam fortes, belos, felizes, vencedores etc., Jesus “puxa o nosso tapete” e nos faz cair na real: ‘Reconheça o joio que há em você. Não ignore a presença do mal que habita também o seu coração, e não só o coração dos outros. Aprenda a dialogar com a sua sombra, pois ela faz parte de você’.
            “Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?” (Mt 13,27). Esta é a pergunta que todo ser humano faz: de onde vem o mal? Se Deus existe e se Ele é bom, porque permite também a existência do mal? O filme “Malévola” trabalha questões semelhantes: O que faz com que uma pessoa boa se torna má? Existe possibilidade de uma pessoa má tornar-se boa? “Malévola” nos ensina que, por trás de toda pessoa má, existe sempre uma ferida, um amor que parecia verdadeiro, mas que se revelou como mentiroso, traidor.
   No campo do mundo em que vivemos, é nítido o aumento do joio e a diminuição do trigo. Sobretudo no Brasil, onde a impunidade fala mais alto do que a justiça, vamos nos convencendo de que “o crime compensa”: compensa ser joio, compensa ser desonesto(a) e corrupto(a). Além disso, a causa do aumento do joio também se encontra na desestruturação familiar. Muitas crianças, apesar de nascerem como boas sementes, aos poucos tornaram-se joio porque nunca fizeram a experiência de serem amadas de verdade. Elas crescem ferindo os outros porque estão repassando as feridas que sempre receberam dentro de casa.
  Contudo, aquilo que explica nem sempre justifica. Nós não somos o resultado do meio em que crescemos e nem do meio em que vivemos. Por trás da parábola do joio e do trigo está o mistério da liberdade humana. Dois filhos são criados pelos mesmos pais: um se torna dependente químico, o outro não. Duas crianças crescem no meio da violência de uma favela: uma se torna assassina, a outra não. As duas receberam os mesmos “estímulos”, vivenciaram a mesma pobreza, cresceram no mesmo ambiente, mas cada uma decidiu lidar de maneira diferente com aquilo que recebeu porque, como compreendeu Victor Frankl, nós não somos o resultado do que os outros fizeram conosco; nós somos o resultado do que decidimos fazer com aquilo que fizeram conosco.
  O joio e o trigo existem em todos os campos, assim como no coração de todo ser humano. A questão é: o que eu quero cultivar em mim? A tentação que temos é a de arrancar o joio de uma vez por todas (cf. Mt 13,28). Mas Jesus diz: “Não! (...) Deixai crescer um e outro até a colheita!” (Mt 13,30). Não se trata de eliminar da nossa vida a ferida, a doença, a dor, a sombra, a fraqueza, mas de entender o que elas estão querendo nos dizer. Não se trata de jogar pessoas fora da nossa vida só porque descobrimos que elas são falhas – quem de nós não o é? Não se trata de pensar em cometer suicídio, uma vez que não é correto nos identificar com a doença ou com o mal que está em nós. Nós somos mais do que eles.   
            Para quem não suporta reconhecer o joio que carrega dentro de si, talvez seja útil refletir nessas palavras de Oswaldo Montenegro: “Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você?” (Música A lista). Para quem não aceita reconhecer aquilo que Jung chama de “sombra” – tudo aquilo que rejeitamos em nós, e que, no entanto, faz parte de nós! – talvez seja bom pensar na fala de um homem que decidiu mudar de religião, justificando: “Na religião em que eu estava só me ensinavam a ser bom, mas eu preciso também dar vazão ao mal que existe em mim”. São palavras que chocam, mas que nos ajudam a reconhecer que trigo e joio habitam juntos o coração de todos nós.   
             Invoquemos o Espírito de Deus. Ele “vem em socorro da nossa fraqueza” (Rm 8,26). Somente Ele “penetra o íntimo dos corações” (Rm 8,27). Ele conhece o nosso joio e o nosso trigo. Ele pode nos ajudar a sermos mais tolerantes conosco mesmos e com as outras pessoas. Ele pode nos ensinar a trabalhar a favor do nosso amadurecimento, confiando que o joio nunca conseguirá sufocar o trigo, porque cada um de nós, cada ser humano, foi semeado no campo do mundo como uma boa semente de Deus!

                                                                                                                                                                             Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 10 de julho de 2014

CORAÇÃO ARADO OU IMPERMEABILIZADO?

Missa do 15º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 55,10-11; Romanos 8,18-23; Mateus 13,1-23.

            Você conhece algum “homem de palavra” ou alguma “mulher de palavra”? Você confia na palavra das pessoas? Você é uma pessoa de palavra, isto é, você sustenta aquilo que diz? Você vive de acordo com aquilo que fala aos outros? Essas perguntas servem apenas para constatar que existe hoje um grande descrédito em relação à palavra humana, um descrédito tal que nós já não nos interessamos em ouvir o que os outros têm a nos dizer, assim como também não nos preocupamos em sustentar o que dizemos.
            Se a palavra humana está em descrédito, Deus compara a verdade da sua Palavra com o efeito da chuva sobre a terra: ela irriga, fecunda a terra e faz germinar a semente. Desse modo, Deus afirma: “(...) a palavra que sair da minha boca... não voltará para mim vazia; antes, (...) produzirá os efeitos que pretendi ao enviá-la” (Is 55,11). Do mesmo modo, ao enviar o profeta Jeremias para anunciar a Palavra ao povo de Israel, Deus afirma: “(...) eu estou vigiando sobre a minha palavra para realizá-la” (Jr 1,12).
            Ao comparar a Palavra de Deus com a chuva (Isaías) ou com a semente (Jesus), a liturgia de hoje nos convida a recobrar a confiança naquilo que Deus nos fala: sua Palavra tem o poder de nos fazer passar da morte para a vida, de nos corrigir, nos converter, nos curar, nos transformar e nos salvar. Contudo, a Palavra de Deus não é mágica: assim como a semente só pode germinar se for acolhida pela terra, assim a Palavra precisa da nossa colaboração para produzir seus efeitos em nós, e colaboração significa: obedecer à Palavra, ajustar nossa vida, nosso comportamento de acordo com o que Deus nos fala. Estamos dispostos a fazer isso?
             Antes de a terra receber a semente, ela precisa ser arada. “Arar” significa, de uma certa forma, “machucar” a terra. Às vezes, nós estamos tão fechados à Palavra de Deus que é preciso que um arado passe sobre o terreno do nosso coração, para que possamos receber a semente que é a Palavra. É quando algo nos obriga a parar, a rever a nossa vida, a escutar o que Deus está há tempos tentando nos dizer, mas nunca paramos para ouvi-Lo. Santo Agostinho, São Francisco de Assis e Santo Inácio de Loyola só pararam para ouvir Deus quando ficaram doentes...
            O salmo que hoje meditamos afirma, a respeito de Deus: “transborda a fartura onde passais, brotam pastos no deserto” (Sl 65,12-13). Onde nós permitimos que a Palavra de Deus “passe”, isto é, toque, questione, nos confronte com a sua verdade, ali ocorre uma transformação. Mas essa transformação pode ser abortada por nós de duas maneiras: ou não queremos que a Palavra mexa em determinada área da nossa vida, do nosso comportamento, ou não temos paciência em esperar pelo processo de transformação, o qual comporta o tempo da gestação e as dores do parto...
            Jesus deixou claro que Deus semeia sua Palavra em todos os tipos de terreno, porque Ele “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Mas Ele respeita a liberdade do coração humano. Ele entra onde nós permitimos. A semente da sua Palavra respeita o tipo de terreno que há dentro de nós. Por isso, citando o profeta Isaías, Jesus disse: “o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade” (Mt 13,15). A expressão “coração insensível” também pode ser entendida como “coração impermeabilizado”. Quantos de nós, ouvindo a pregação da Palavra de Deus, nos “protegemos”, nos “defendemos” dela porque não queremos mudar nossas atitudes?
            “Eles ouviram de má vontade”. Nós não sabemos ouvir. Nossos ouvidos estão sempre ocupados (fones). Além disso, no momento em que Deus poderia nos falar na missa ou no culto, alguns estão distraídos com o seu celular, jogando ou trocando mensagens, sem se dar conta de que por trás disso está o maligno, roubando o que foi semeado em seu coração (cf. Mt 13,19). Nós nos tornamos superficiais: recebemos diariamente uma enxurrada de informações e não aprofundamos nada. Como não nos aprofundamos na Palavra de Deus, nossa fé varia de acordo com as circunstâncias: com a mesma intensidade com que nos alegramos ao ouvir a Palavra no domingo, nos entristecemos ao nos deparar com problemas ou dificuldades durante a semana, como se a nossa fé fosse “bipolar” (cf. Mt 13, 20-21). Por fim, nós temos uma vida cheia: estamos sempre ocupados em trabalhar, seja para sobreviver, seja para prosperar. Nossas prioridades são o nosso estômago, os nossos bens materiais e o nosso lazer. Não é prioridade nossa a escuta/meditação da Palavra de Deus (cf. Mt 13,22).
             Apesar de todos esses obstáculos, existe em cada um de nós um espaço de terra boa. Mais do que um lugar ou um espaço, a terra boa é uma atitude de vida, atitude que consiste em ouvir, acolher a Palavra, meditar sobre ela, deixar-se interpelar por ela, perguntar-se: O que Deus está me dizendo por meio dessa Palavra? O que essa Palavra me faz dizer a Deus? A Palavra não é um livro, um folheto, mas uma Pessoa que fala conosco. Confiemos na força que a Palavra de Deus tem de converter e curar cada um de nós, uma conversão e uma cura que se dão até onde permitimos que a Palavra penetre e permaneça em nós. Respeitemos o tempo de gestação da semente. Não avaliemos nosso dia a dia pelo que estamos conseguindo colher, mas, sobretudo, pelo que estamos semeando e permitindo que a graça de Deus semeie em nós. Abramos espaço na terra do nosso coração; acolhamos a semente da Palavra; reguemos o terreno com a nossa oração diária e confiemos, aguardando pelo germinar/frutificar da Palavra em nós. 

                                                                                                                                                                                  Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 4 de julho de 2014

DESCANSA EM MIM

Missa do 14º. dom. comum. Palavra de Deus: Zacarias 9,9-10; Romanos 8,9.11-13; Mateus 11,25-30.

 “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Quais são os nossos fardos? Existe o fardo de estar sozinho(a), mas também existe o fardo de se estar com alguém (relacionamento problemático, conflituoso). Existe o fardo do trabalho, o qual exige de nós sempre mais eficiência e resultado, mas existe também o fardo do desemprego. Existem os fardos dos conflitos que vivenciamos no contato com o mundo, mas existem também os fardos dos nossos conflitos interiores. O outro pode ser um fardo para mim, mas não posso me esquecer de que eu mesmo sou, de certa forma, o meu fardo. Daí o conselho do apóstolo Paulo: “Cada um examine sua própria conduta... Pois cada qual carregará o seu próprio fardo” (Gl 6,5).  
No Evangelho que acabamos de ouvir, Jesus não nos promete uma vida sem fardos, mas nos convida a revermos a raiz do nosso cansaço: o que é, de fato, que tem nos pesado, nos esgotado? Talvez nós estejamos carregando fardos desnecessários, criados ou alimentados por nós mesmos, como o fardo de um passado não aceito, de uma dor não digerida, de uma ofensa não perdoada; o fardo de sermos explorados pelos outros simplesmente porque não temos a coragem de lhes dizer “não”, nos esquecendo de que as pessoas nos tratam como nós permitimos ser tratados por elas. Então, lembre-se disso: existem fardos que você não precisa carregar.
Mas vamos analisar um outro tipo de fardo... Certa vez, alguém viu uma menina bem pobre carregando seu irmãozinho nas costas, e perguntou-lhe: “Ele não é pesado?” A menina respondeu: “Não! É meu irmão!” Quando falamos de fardos, a primeira ideia que nos vem à mente é nos livrarmos deles, jogá-los fora. Quando o relacionamento pesa, quando os pais idosos pesam, quando os filhos pesam, quando os valores como a integridade, a retidão, a fidelidade, o ideal de amar até o fim pesam, o mundo também nos pergunta: “Isto não está pesado? Você não gostaria de jogá-lo fora, de livrar-se desse fardo?” Se você consegue enxergar a pessoa além do “peso” que ela agora está sendo na sua vida, você também dirá: “Não! É meu marido! É minha esposa! São meus pais! São meus filhos! É a minha família! É o meu trabalho! São os meus valores!”
Por que Jesus tocou nessa questão do fardo com as pessoas que estavam à sua volta? Porque elas viviam oprimidas pela forma como os fariseus interpretavam a religião. O próprio Jesus já havia descrito os líderes religiosos da sua época como pessoas que “amarram pesados fardos e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um só dedo se dispõem a movê-los” (Mt 23,4). Jesus não veio nos propor uma religião light, soft, de “baixas calorias espirituais”, de um mínimo ou de nenhum compromisso com Deus e com a Igreja. Ele mesmo disse: “Tomai sobre vós o meu jugo, (...) pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30). Há um jugo a ser carregado, há um fardo a ser suportado: o jugo ou o fardo da vivência do Evangelho em nosso dia a dia, de viver segundo o espírito (vontade de Deus) e não segundo a carne (nosso egoísmo), cf. Rm 8,9.13.
Muitos estão cansados: cansados fisicamente (trabalho), psicologicamente (relacionamentos) e também espiritualmente (na fé e na esperança). Mas de novo precisamos nos lembrar de que por trás de uma pessoa cansada, sobrecarregada, há alguém folgado. É preocupante o comportamento da geração moderna: não aceita nenhum fardo. Tudo lhes pesa, menos ficar horas a fio na internet. Quebram emocionalmente diante de qualquer coisa que lhes represente um peso, um problema, uma dificuldade. São crianças, adolescentes e jovens que exigem tudo dos outros e não estão dispostos a dar nada de si. Fica a pergunta: eles nasceram assim, ou foram criados assim?  
“Cada um examine sua própria conduta... Pois cada qual carregará o seu próprio fardo” (Gl 6,5). Se você se sente cansado(a), esgotado(a) ou mesmo explorado(a) pelos outros, analise se esse fardo não é consequência de você não saber / não ter a coragem dizer “não”, de colocar limites, de não permitir ser sugado(a) / esgotado(a) / explorado(a) pelos outros. Jesus disse: “(...) aprendei de mim, que sou manso e humildade de coração, e vós encontrareis descanso” (Mt 11,29). A mansidão e a humildade de Jesus nos convidam a pararmos de cair na armadilha da mania de grandeza, a reconhecer que nós não somos o centro do mundo, a termos consciência das nossas capacidades, mas também dos nossos limites.
Reze sua vida diante do Evangelho de hoje com a música “Descansa em Mim” (Walmir Alencar):  

http://www.vagalume.com.br/walmir-alencar/descansa-em-mim.html

                                                                                                                                                                             Pe. Paulo Cezar Mazzi