sábado, 29 de dezembro de 2012

EM TUDO O QUE ME ACONTECER, ENCONTRAREI O TEU AMOR


Missa de Ano Novo – Maria, mãe de Deus. Dia mundial da Paz e da Fraternidade universal. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21.

            Nós sempre iniciamos o ano com alguma expectativa. Suas expectativas se concretizaram, ao longo deste ano que termina? Que sentimento o(a) acompanha neste final de ano: Gratidão? Louvor? Frustração? Raiva? Considerando as palavras: “... já não és escravo, mas filho” (Gl 4,7), você viveu este ano como escravo(a) ou como filho(a)?
Seria bom que, antes de passarmos de um ano para outro, fizéssemos uma avaliação sobre como foi o ano que está terminando. Mas, como avaliar se ele foi bom? Muitos o avaliam a partir da sua conta bancária, do crescimento da sua empresa, da condição em que se encontra a sua vida afetiva etc.: se você termina o ano com mais dinheiro do que quando começou, ou com a pessoa amada ao seu lado, então o ano foi bom; caso contrário, você o avalia como ruim. Porém, como cristão, você tem outro critério para avaliar o ano que termina. Pergunte-se: eu terminei este ano mais aberto(a) ou mais fechado(a) à vontade de Deus?
Antes de virar a página, de trocar de calendário, olhe para a atitude de Maria: “Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19). Na música “É impossível”, se diz: “Em tudo que me acontece encontro o Teu amor. Já não se pode mais deixar de crer no Teu amor”. Olhando para os acontecimentos que se deram na sua vida ao longo deste ano que termina, em quais deles você consegue perceber o amor de Deus por você? “Em tudo que me acontece...” significa quando Deus também me disse “não”, ou “ainda não”...
 A atitude de Maria nos ajuda a refletir sobre tudo o que nos acontece e perceber ali o amor de Deus nos conduzindo. A atitude de Maria nos ajuda também a nos colocar diante do novo ano que nasce, e a nos dispor a vivê-lo ouvindo nosso próprio coração. Dentro dele, conforme São Paulo apóstolo nos recorda, está o Espírito de Jesus, que clama: “Abá – ó Pai!” (Gl 4,6), o clamor de quem é filho e sabe ser conduzido pelo Pai, o clamor de quem é herdeiro, portador de uma herança eterna, portador da bênção espiritual do Pai, mais preciosa do que toda a riqueza deste mundo.
Ao virar a página, ao mudar de calendário, pergunte-se: que sentimentos me acompanham no início deste ano? Estou iniciando o novo ano com fé, com confiança, ou com desânimo, com descrédito? O que fazer, para que o novo ano seja bom? Vestir-se de branco? Tomar sopa de lentilha? Comer caroçinhos de romã? O caminho que se abre à nossa frente é incerto. Não sabemos o que vamos enfrentar. Não sabemos o que nos acontecerá. Mas podemos iniciar este novo ano confiando-nos ao Senhor, como diz a Palavra: “Entrega teu caminho ao Senhor, confia nele e ele agirá” (Sl 37,5). 
Nesta noite de ano novo, pedimos a bênção de Deus para a nossa vida: “Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção, e sua face resplandeça sobre nós” (Sl 67,2). Todavia, se pedimos a bênção de Deus, devemos também nos dispor a conhecer o seu caminho, a andar de acordo com a sua vontade: “Que na terra se conheça o seu caminho e a sua salvação por entre os povos (Sl 67,3).
O evangelho nos lembra que estamos no oitavo dia do Natal, dia em que foi dado ao Filho nascido de Maria o nome de “Jesus”, que significa “Deus salva”. “Jesus” não é uma palavra mágica, mas o nome pelo qual podemos invocar a salvação de Deus sobre nós. Porém, o próprio Jesus disse: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Portanto, não se trata de invocar o nome de Jesus e tudo se revolve, mas de viver como ele e sua mãe viveram, procurando fazer em tudo a vontade do Pai. 
Neste dia em que invocamos a bênção de Deus sobre a humanidade, a bênção da paz e da fraternidade universal, podemos fazer um gesto: nos voltar uns para os outros, colocar a mão sobre a cabeça uns dos outros e pedir: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26). Se a pessoa não está presente, podemos pegar uma foto dela, colocar a mão sobre a foto e pedir a mesma bênção.
Enfim, iniciando este Ano da Fé, podemos dizer: “Em tudo o que me acontecer, encontrarei o Teu amor”; podemos viver cada dia deste novo ano tendo no coração esta certeza: “Somos amados por Deus desde antes de termos nascido e depois de termos morrido. Todas as circunstâncias entre nosso nascimento e nossa morte não negarão essa realidade” (Henri Nouwen). Assim, podemos declarar nossa fé no amor do Pai por nós e por toda a humanidade, cantando: 
Teu amor me cura, me abraça, meu Deus! Teu amor me cura, me abraça, meu Deus, meu tudo! 
Me modelando estás com Teu Espírito, como um barro nas mãos do oleiro, cuidando de mim, do meu coração. É impossível não me render à ação do Teu amor! 
Me acolhendo estás todo em Teus braços, como criança no colo materno. Confio em Ti, em Ti quero estar. Senhor, eu sei que o Teu amor sempre irá me acompanhar por onde eu for! 
Teu amor me cura (Nando Mendes) 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

DA PERDA PARA O REENCONTRO


Missa da Sagrada Família – Palavra de Deus: Eclesiástico 3,3-7.14-17a.; Colossenses 3,12-21; Lucas 2,41-52

            A febre não é uma doença; ela apenas indica que existe uma enfermidade no corpo da pessoa. Por isso, não basta apenas combater a febre; é preciso investigar e tratar a causa dela, a infecção que começa a se desenvolver no corpo da pessoa.
            Normalmente, é nas escolas que se constata a febre: a criança não vai bem nos estudos, tem crises de choro, é depressiva, come em excesso, em outros casos quase não se alimenta, agride os colegas com palavras e com atitudes etc. O comportamento “estranho” da criança na escola nos diz, muitas vezes, que a sua família está doente. Há uma ferida dentro de casa que não está sendo tratada. Há um conflito no seio da família que não está sendo enfrentado, ou está sendo enfrentado de forma errada.   
            O alto índice de criminalidade entre os jovens, o envolvimento cada vez mais precoce e cada vez mais profundo com a bebida e as drogas nas novas gerações nos faz constatar que algo não vai bem com a família: o vínculo conjugal está fragilizado ou se rompeu; o diálogo entre pais e filhos é sempre tenso, ou não existe; a ausência de um dos pais não foi assimilada pelos filhos; as ofensas verbais, e às vezes físicas também, se tornaram rotina etc.
            A celebração de hoje nos propõe a família de Nazaré como ponto de partida de reflexão sobre a nossa família. Os evangelhos nos revelam que Maria, José e o menino Jesus passaram por momentos muito difíceis. Um deles é retratado aqui: a perda e o reencontro do menino Jesus. Este fato, por si só, já nos mostra que a perda faz parte da vida de qualquer família, por mais que exista amor entre seus membros, por mais que a família tenha uma religião e cultive a sua fé. Mas o evangelho de hoje nos diz que, se não desistirmos de procurar aquele que perdemos, poderemos reencontrá-lo e reintegrá-lo em nossa família.
          A perda de Jesus não foi proposital: “... o menino ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem” (Lc 2,43). Existem perdas que são consequência da nossa intransigência, da nossa teimosia em não querer mudar nossas atitudes. Por isso, quando sofremos uma perda, é sempre bom nos perguntar: “Qual foi a minha parcela de responsabilidade nesta perda?”. Isso nos ajuda a sair do papel de vítima e a ter uma atitude positiva diante do problema.
Há perdas que são consequência do “não notar”, “não perceber o outro”, que está se afastando de nós a cada dia. Muitos filhos se perdem nas drogas ou na criminalidade sem que seus pais o notem, seja porque os pais estão ocupados demais consigo mesmos, com o seu trabalho, seja porque estão distraídos com as compensações afetivas que encontram como remendo para tapar o buraco de uma vida sexual frustrante no casamento. Da mesma forma como, hoje em dia, muitos filhos se perdem dos pais dentro de casa, na internet, muitos pais nem se dão conta de estarem perdendo seus filhos porque eles mesmos estão perdidos no labirinto da internet.
Ao se darem conta da perda, os pais de Jesus “voltaram para Jerusalém à sua procura” (Lc 2,45). A perda não tem que ser definitiva, mas pode se converter em reencontro, desde que não desistamos das pessoas, desde que os pais deixem de se acusarem mutuamente pelo que aconteceu e decidam trabalhar juntos para recuperar o filho que se perdeu ou que está se perdendo. Cada membro da família precisa voltar, refazer o caminho, perceber onde foi que a perda começou a se concretizar, e se propor a mudar: “Esposas, sede solícitas para com vossos maridos... Maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros com elas. Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais... Pais, não intimideis os vossos filhos...” (Cl 3,18-21).
“Três dias depois, o encontraram no templo” (Lc 2,46). O templo é sinônimo da presença de Deus. Poderíamos, então, dizer: ‘três dias depois, o encontraram em Deus’. Só em Deus nossas perdas podem se converter em reencontro. Só em Deus aquilo que morreu em nós pode ressuscitar. Ele é o Deus que, em seu Filho Jesus, veio procurar cada um de nós, “veio procurar e salvar aquele que estava perdido” (Lc 19,10). Daí a importância de os pais formarem em seus filhos a consciência da filiação divina, e não apenas da filiação humana. Além do mais, como disse Içami Tiba: “Pais que levam seus filhos à igreja dificilmente terão que visitá-los numa cadeia”.
            Crê na força do amor que tudo pode mudar! Ama a tua família. O amor vencerá! Como foi feliz a santa família de Nazaré, a tua também será se tiveres fé! Jesus, Maria e José minha família vossa é! Jesus, Maria e José minha família vossa é! Abençoai a minha casa! Cuidai bem dela pra mim. Vou amar minha família até o fim! (Banda Louvor e Glória, música Sagrada Família).
                                                                        Pe. Paulo Cezar Mazzi

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

UM FILHO NOS FOI DADO


Missa da Vigília de Natal. Palavra de Deus: Isaías 9,1-3.5-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14. 

Cada vez que celebramos o Natal, recordamos que o nosso Deus se fez homem, na pessoa de seu Filho Jesus. O divino se humanizou. Assim, nesta noite de Natal, convém perguntar: estamos mais humanizados hoje?  Cada vez que celebramos o Natal, recordamos que o nosso Deus, que habita em lugar alto e santo, se fez homem para se colocar junto com o humilhado e desamparado, “a fim de animar os espíritos desamparados, a fim de animar os corações humilhados” (Is 57,15). Foi por isso que o Filho de Deus não nasceu no Palácio do imperador César Augusto, mas numa estrebaria, sendo colocado numa manjedoura, para nos dizer que Deus sempre entra em nossa história pela porta dos fundos, a partir da nossa fraqueza e da nossa humilhação.
O Natal nos convida a sermos mais humanos. O Natal também nos convida a descer do lugar alto do nosso orgulho, da nossa autossuficiência, e nos colocar junto do humilhado e desamparado, além de acolher a nossa própria humilhação e desamparo como portas abertas para Deus entrar em nossa vida e se colocar junto a nós como Salvador.  
O nascimento de Jesus se deu numa estrebaria, onde os animais costumavam dormir e se alimentar, porque “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Isso nos leva a reconhecer que, embora hoje a maioria das pessoas celebre o Natal, ainda não há lugar para Deus nascer na vida delas, porque seus corações estão voltados para o Palácio e não para a manjedoura, para o Imperador e não para um menino, para a grandiosidade e não para a simplicidade. A graça do Natal pode passar despercebida na vida da maioria das pessoas, porque muitas delas estão perdidas no ativismo, na correria, no consumismo, na superficialidade, no vazio, distanciando seu coração de Belém.
Ao narrar o nascimento de Jesus, o evangelho nos fala de um recenseamento que obrigou Maria e José a se deslocarem de Nazaré para Belém. Recenseamento é sinônimo de dominação política. Hoje nós nos sentimos debaixo de uma espécie de mão invisível que nos domina, que nos joga de um lado para outro: a mão invisível do domínio econômico, da violência dos traficantes, da corrupção política que também alimenta a violência em nossa sociedade. Mas a Escritura diz que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio” (Rm 8,28). Tudo serve aos planos de Deus. Ele pode usar dos ventos contrários para nos conduzir ao porto. Desse modo, seu Filho nasce em Belém para se cumprir a profecia que ouvíamos ontem, na primeira leitura, e para que nós tenhamos fé na Palavra do Senhor, a qual afirma que a nossa vida está nas mãos de Deus, não nas mãos dos homens, muito menos de um destino cego.
Diante dessa Palavra nos colocamos hoje. Ela nos diz: “... o jugo que pesava sobre eles..., a vara do opressor, tu os despedaçaste... Todo calçado que pisa com violência o chão, toda veste manchada de sangue serão queimadas, serão devoradas pelo fogo. Porque para nós nasceu um menino, um filho nos foi dado” (Is 9,3-5). Cada vez que Jesus volta a nascer no coração das pessoas, os instrumentos de guerra são destruídos, as atitudes violentas se transformam e desaparecem os sinais de violência e de exploração. Por isso, o apóstolo Paulo diz que a graça de Deus, que se manifestou como salvação para todas as pessoas em seu Filho Jesus, nos convida a não mais viver com o coração fechado para Deus, a não mais nos deixar arrastar pelas paixões mundanas, mas a ter uma vida equilibrada, um comportamento justo e um coração obediente a Deus, enquanto aguardamos a manifestação definitiva de seu Filho Jesus, nosso Salvador. 
Em cada Natal, voltamos a ouvir estas palavras do Anjo: “Não tenhais medo!... Nasceu-vos hoje um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2,10-11). Em cada hoje da nossa vida Jesus quer voltar a nascer e se fazer sentir vivo como nosso Salvador. Este é o sinal da sua presença junto a nós: “um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura”. Acolhamos este sinal. Acolhamos a graça de Deus que veio trazer a salvação a todas as pessoas. Acolhamos o menino que nasceu para nós, o filho que nos foi dado, Aquele que vem destruir as armas de guerra, transformar nossas atitudes violentas e nos dar a sua paz.
Pe. Paulo Cezar Mazzi





quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Antes do nascimento, a espera; antes da espera, a fé


Missa do 4º. dom. do advento. Palavra de Deus: Miquéias 5,1-4a; Hebreus 10,5-10; Lucas 1,39-45.

Estamos às vésperas da celebração do Natal. Natal significa nascimento, e todo nascimento é feito de espera. Quantas coisas já foram abortadas em sua vida por você não saber esperar? O nascimento precisa da espera para se concretizar, e a espera é feita de confiança, é feita de fé, não de fé em nós mesmos, e sim de fé em Deus, na sua Palavra.
O evangelho que acabamos de ouvir nos mostra que antes de Jesus nascer de Maria, nasceu em Maria, conforme as palavras de Isabel: “Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!” (Lc 1,45). Antes que as bênçãos de Deus nasçam concretamente em sua vida, elas precisam, primeiro, nascer dentro de você pela fé, uma fé que sabe esperar no Senhor, até que a Palavra dele se cumpra em sua vida.
O profeta Miquéias nos lembra que a espera é sempre sofrida, porque enquanto esperamos somos tentados a nos sentir abandonados por Deus: “Deus deixará seu povo ao abandono até o tempo em que uma mãe der à luz” (Mq 5,2). Quem de nós já não fez na vida a experiência de ter sido abandonado por Deus? Ainda que essa experiência se repita muitas vezes, o profeta nos diz que esse abandono é temporário. Na verdade, ele é o tempo da gravidez, da gestação de algo que Deus quer gerar em nossa vida, mas que precisa de tempo, o tempo da espera, o tempo da fé.
Se temos dificuldade em crer nas promessas do Senhor, o evangelho nos coloca diante de Isabel, imagem do Antigo Testamento, símbolo de um povo que envelheceu e cujo ventre, cujas entranhas, cujo coração, se tornou estéril. Mas justamente ali Deus fez nascer a vida, porque para Ele nada é impossível (cf. Lc 1,37). Foi essa a experiência que Abraão também fez: “E foi sem vacilar na fé que considerou seu corpo já morto (velhice)... e o seio de Sara também morto (esterilidade). Ante a promessa de Deus, ele não se deixou abalar pela desconfiança, mas se fortaleceu na fé... convencido de que podia cumprir o que prometeu” (Rm 4,19-21).
 Se Isabel, idosa e estéril, está grávida é porque a fé não se apoia naquilo que nós podemos fazer, mas naquilo que Deus pode fazer em nós e por meio de nós. Se às vezes nos sentimos pequenos, insignificantes, fracos, lembremos do que o Senhor nos diz: “Basta-te a minha graça, pois é na (tua) fraqueza que a (minha) força manifesta todo o seu poder” (2Cor 12,9). Em nossa pequenez e em nossa fraqueza Deus encontra espaço para agir. Foi por isso que Ele escolheu a pequena e insignificante Belém como lugar de nascimento daquele que não recua diante do mal, que apascenta a humanidade com a força do Senhor e que vem nos trazer a paz e a salvação (cf. Mq 5,1.3-4).
O nascimento precisa da espera para se concretizar, e a espera é feita de fé: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45). Feliz é aquele que crê na Palavra do Senhor e espera na Sua promessa. Feliz é aquele que considera sua fraqueza à luz da fé e compreende que ela pode se tornar a porta de entrada para a graça transformadora de Deus em sua vida. Se, a exemplo de Maria, crermos naquilo que o Senhor nos diz e esperarmos pelo cumprimento das Suas promessas, permitiremos que uma nova vida comece a se formar e a nascer em nós.
Peçamos ao Senhor que nos ajude a viver o nosso tempo de espera nas Suas promessas não como tempo de abandono, mas como tempo de gestação daquilo que Ele quer gerar em nós pela fé. Ao nos deparar com a nossa pequenez e a nossa fraqueza, não nos deixemos abalar pela desconfiança, mas nos fortaleçamos na fé, convencidos de que Deus pode realizar em nós aquilo que prometeu. Desse modo, experimentemos a mesma alegria que Isabel e Maria experimentaram, reconhecendo em nossa vida a ação misericordiosa de Deus, que transforma a vida daqueles que nele creem e nele esperam.
 Pe. Paulo Cezar Mazzi 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A alegria pela busca e pela espera


Missa do 3º. dom. do advento. Palavra de Deus: Sofonias 3,14-18a; Filipenses 4,4-7; Lucas 3,10-18.

            “Alegra-te e exulta de todo o coração!” (Sf 3,14). Na medida em que nos aproximamos da celebração do Natal, a Palavra de Deus nos convida a nos alegrar: “Alegrai-vos sempre no Senhor!... O Senhor está próximo” (Fl 4,4). Você está alegre? Ultimamente você tem sentido alegria? É até possível que você tenha razões para não estar alegre, neste momento, mas quais razões você teria para recuperar a sua alegria?
            As razões que temos para não nos sentirmos alegres podem ser muitas: a doença, o desemprego, o conflito com determinada pessoa, a dificuldade financeira, a solidão, o fim do relacionamento etc. Contudo, a Escritura nos dá razões para recuperarmos a nossa alegria: “O Senhor está em teu meio...; não precisará mais ter medo de alguma desgraça. O Senhor teu Deus está a teu lado como valente libertador!” (Sf 3,16-17).
O motivo da nossa alegria não está no fato de termos uma vida sem problemas ou dificuldades, mas em termos em quem confiar, em quem depositar a nossa fé: no Senhor, nosso libertador. Se muitas são as coisas nos preocupam, ao invés de sermos consumidos pelo medo, pela inquietação e pela ansiedade, devemos apresentar as nossas necessidades a Deus por meio da oração. “Então, a paz de Deus, que supera todo entendimento”, que supera toda a nossa expectativa humana, guardará nosso coração e nosso pensamento em Cristo Jesus (cf. Fl 4,6-7).
Existe um convite à alegria, por parte de Deus, e existe também uma cobrança de alegria, por parte do mundo. O mundo exige que estejamos alegres 24 horas por dia. Desse modo, se a alegria não nascer espontaneamente dentro de nós, ela deverá vir para fora à força, à custa de bebida ou de droga. O importante é passar para os outros a imagem de que você está alegre. Assim também, a propaganda joga com a imagem da alegria: se você adquirir determinado produto, sentirá uma alegria intensa e, o que é melhor, imediata! Você compra o produto, e depois de uma semana a alegria por tê-lo adquirido volta a se apagar dentro de você, esperando ser acesa novamente na aquisição de um novo produto.
Deus não nos cobra alegria, não exige que estejamos alegres a todo momento, mas nos convida a nos voltarmos para Ele, fonte da nossa alegria. O próprio fato de procurarmos por Deus em nosso caminho de fé já deve ser motivo de alegria, como diz a Escritura: “Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor” (Sl 105,3). E, neste tempo de advento, poderíamos dizer: ‘Alegre-se o coração dos que esperam pelo Senhor’. A própria procura, a própria espera já é motivo de alegria. Como disse a raposa ao Pequeno Príncipe, “Se tu vens às quatro, desde as três começarei a ser feliz” (Exupery). Não sabemos a que horas o Senhor virá, mas basta a nossa espera diária por Ele para que o nosso coração se alegre. 
“Que devemos fazer?”, perguntaram tantas pessoas a João Batista, em vista de se prepararem para a chegada do Salvador. “Que devemos fazer?”, perguntamos nós hoje, para participarmos da alegria que vem de Deus. João nos dá algumas indicações: repartir, partilhar os bens, ao invés de só acumular; não apoiar a nossa alegria em coisas que podem ser tiradas de nós ou destruídas; passar do pensar apenas em si mesmo e ver o outro como inimigo/ameaça, para pensar também no outro e vê-lo como irmão; agir com misericórdia, no trato com as pessoas; não explorá-las; não usar do poder, do cargo, da autoridade para oprimir ou maltratar alguém; não se corromper etc.
Para ajudar as pessoas a se prepararem para a vinda de Jesus, João as batizava com água, mergulhando-as na sua própria verdade, na água do seu limite e da sua morte, na sua finitude humana, na esperança que viesse Aquele que João designava como o “mais forte do que eu” (Lc 3,16). Jesus veio para nos mergulhar no Espírito Santo, na vida que vem de Deus, e somente o Espírito Santo pode nos dar verdadeira alegria. O seu fogo que queima é a verdade que consome as nossas mentiras e nos liberta das nossas falsas alegrias.
Entreguemo-nos Àquele que é mais forte do que nós, e deixemos com que Ele separe o que em nós é trigo e palha (cf. Lc 3,17), e coloque em nosso coração a sua alegria em nós, para que a nossa alegria seja plena (cf. Jo 15,11). 
                              Pe. Paulo Cezar Mazzi 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

DESOBSTRUIR O ACESSO À SALVAÇÃO


Missa do 2º. dom. do advento. Palavra de Deus: Baruc 5,1-9; Filipenses 1,4-6.8-11; Lucas 3,1-6

                        Hoje estamos dando nosso segundo passo na direção d’Aquele que vem. Assim como João Batista preparou a humanidade para a primeira vinda de Jesus, assim a sua voz ecoa hoje em nós, convidando-nos a rever a estrada da nossa vida, pela qual Jesus deve passar e chegar até nós.
                        “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Lc 3,4). Talvez você já tenha feito a experiência, na sua oração, de ficar esperando “inutilmente” pelo Senhor. Você espera, espera, mas Ele não vem. Embora nós não possamos controlar Deus e determinar para Ele quando e como vir até nós, nós sempre podemos – e devemos – “preparar o caminho” para Ele vir, “endireitar a estrada” para Ele chegar até nós. Isso significa que devemos reconhecer nossas resistências em relação a Ele e à sua Palavra; significa ter a coragem de remover os obstáculos que nós mesmos colocamos entre nós e Deus; significa ainda lidar com o medo que temos de que Deus chegue muito perto ou nos peça para mexer em algo que não queremos mexer.
                        E então, como está o caminho, a estrada da sua vida, neste momento? “Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados” (Lc 3,5). No sentido pessoal, o vale pode representar sua falta de fé e de confiança em Deus, as quais fazem você cavar um buraco e se enfiar dentro dele. A montanha e a colina podem representar seu orgulho, sua mania de grandeza, sua autossuficiência, aquela atitude de viver o seu dia a dia como se Deus não existisse e só procurá-Lo quando você não consegue mais dar conta dos problemas que você mesmo criou. As passagens tortuosas e os caminhos acidentados são aquelas irregularidades com as quais já nos habituamos a conviver e que não mais questionam a nossa consciência, mas que nos afastam da verdade de Deus.
                        Mas o vale, a montanha e a colina, as passagens tortuosas e os caminhos acidentados têm também um sentido social: eles nos falam das desigualdades sociais que não mais nos escandalizam e com as quais talvez estejamos até colaborando para se perpetuarem. “Deus ordenou que se abaixassem todos os altos montes e as colinas eternas e se enchessem os vales para aplainar a terra, a fim de que Israel caminhe com segurança, sob a glória de Deus” (Br 5,7). A terra precisa ser aplainada, as desigualdades sociais precisam ser enfrentadas e superadas. Só assim poderemos caminhar com segurança, isto é, viver em paz uns com os outros.
                        “E todas as pessoas verão a salvação de Deus” (Lc 3,6). Quando endireitamos as nossas veredas pessoais, quando nos esforçamos para aterrar os vales e rebaixar os montes que nos distanciam daqueles com quem convivemos na família e no trabalho, quando colaboramos para consertar as passagens tortuosas e os caminhos acidentados das desigualdades sociais, a salvação de Deus começa a ser vista, começa a se tornar realidade em nossa vida e na vida das outras pessoas.  
Olhando para a nossa realidade pessoal e social, certamente podemos suplicar como o salmista: “Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como torrentes no deserto” (Sl 126,4). De fato, o salmo 65 afirma que quando Deus passa pelo deserto da nossa vida, ele se transforma em terra fértil (cf. Sl 65,12-13). A nós cabe remover os obstáculos para que Ele possa passar. A nós cabe também semear, mesmo que em meio ao sofrimento, à dor, às lágrimas, pois “os que lançam as sementes entre lágrimas ceifarão com alegria. Chorando de tristeza sairão espalhando suas sementes; cantando de alegria, voltarão, carregando os seus feixes” (Sl 126,5-6).
Lançar as sementes entre lágrimas significa não perder a fé mesmo em meio a uma grande dor; significa crer na Palavra que diz: “Saíram de ti, caminhando a pé, levados pelos inimigos. Deus os devolve a ti, conduzidos com honras, como príncipes reais” (Br 5,6); significa ter a certeza de que “aquele que começou em vós uma boa obra há de levá-la à perfeição até o dia de Cristo Jesus” (Fl 1,6). Assim como “a palavra de Deus foi dirigida a João, (...) no deserto” (Lc 3,2), hoje ela é dirigida a você, para que no deserto deste mundo, marcado pela aridez espiritual, por uma fé que seca e por uma esperança que murcha cada vez mais no coração das pessoas, você possa anunciar a Palavra que transforma o deserto numa terra fértil, um coração que perdeu o sentido da fé num coração que voltou a crer e a enxergar a salvação que vem de Deus, e somente d’Ele. 
                                  Pe. Paulo Cezar Mazzi