quinta-feira, 29 de junho de 2023

A AUSÊNCIA DA IGREJA NAS DIVERSAS SITUAÇÕES É A SUA AUSÊNCIA COMO CRISTÃO CATÓLICO JUNTO ÀS PESSOAS

Missa de São Pedro e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.

 

“Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Essas palavras fundamentam a afirmação de que Jesus Cristo é o fundador da Igreja Católica Apostólica Romana. No entanto, a maioria das pessoas hoje em dia não vai a uma igreja por considerá-la fundada por Jesus, e sim porque lá se sente bem. O que leva uma pessoa a escolher frequentar uma igreja ou religião não é a verdade do seu fundador, mas o seu bem-estar pessoal. Em outras palavras, mais importante do que seguir a Verdade é sentir emoção, “ser tocado” (supostamente por Deus) durante o culto, o ritual ou a celebração. A emoção tornou-se hoje mais importante do que a inteligência (ou consciência).

A celebração de São Pedro e São Paulo, considerados duas colunas mestras da nossa Igreja, não deveria nos manter numa zona de conforto – a existência da nossa Igreja está garantida pelo seu Fundador, Jesus Cristo –, mas nos fazer questionar: Por que a nossa Igreja torna-se cada vez mais irrelevante para as pessoas do nosso tempo, principalmente os jovens, para cuja maioria ela, a Igreja, não significa absolutamente nada? Sem negar a força da secularização, a perda do sentido do sagrado e as inúmeras formas atrativas de distração, um fator explica, em grande parte, a insignificância da nossa Igreja para o mundo atual: a falta de testemunho – nossas atitudes cotidianas muitas vezes contradizem o Evangelho no qual dizemos crer, mesmo porque, viver segundo o Evangelho é uma exigência (a “porta estreita”, o “caminho apertado” – Mt 7,14) que vai na contramão da nossa busca por bem-estar.

Em nossa profissão de fé, dizemos: “Creio na Santa Igreja Católica”. Santa??? Nossa Igreja nunca foi e nunca será santa por suas próprias atitudes. A santidade dela não provém de si mesma, mas do seu Fundador, seu Esposo: “Cristo amou a Igreja e se entregou (se sacrificou) por ela (na cruz), a fim de purificá-la com o banho da água (batismo) e santificá-la pela Palavra (cf. Jo 15,3), para apresentar a si mesmo a Igreja... santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27). Qualquer que seja o pecado que nós, “pessoas de Igreja”, cometamos, ele não é maior do que o sacrifício redentor do Esposo da nossa Igreja, “o Santo de Deus” (Jo 6,69).

            Seria a Igreja uma mera instituição humana, que manipula o nome de Deus para – cada vez mais a muito custo – manter algum tipo de “domínio” sobre a consciência das pessoas? Consideremos essas palavras do apóstolo Paulo, ao despedir-se dos presbíteros da Igreja na cidade de Éfeso: “Estejam atentos a vocês mesmos e a todo o rebanho: nele o Espírito Santo os constituiu guardiães, para apascentar a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si pelo sangue do seu próprio Filho” (At 20,28). A nossa Igreja pertence a Deus. Cada um de nós, que somos essa Igreja hoje, custa para Deus nada menos do que o sangue do seu Filho único! Além disso, o Espírito Santo governa a Igreja por meio de líderes religiosos que têm a função de cuidar das ovelhas do rebanho de Deus. Portanto, a nossa Igreja nasceu na vontade do Pai, do sacrifício do Filho e da ação do Espírito Santo.

            Como Jesus vê a Igreja? Como um lugar onde é impossível não haver escândalo (cf. Mt 18,7). Onde quer que exista o ser humano, lá haverá a possibilidade do pecado, da falha, da infidelidade, do erro, lembrando que, para Jesus, escândalo é toda atitude nossa que leve uma pessoa a perder a fé. Quem procura por uma igreja ou religião onde não haja escândalo, desistirá de ambas. Jesus deseja que a Igreja seja uma comunidade sensível a quem se afasta dela: “Não é da vontade do Pai de vocês, que está no céu, que um desses pequeninos (pessoas de fé imatura) se perca” (Mt 18,14). Jesus não quer sua Igreja como lugar de disputa pelo poder: “Entre vocês não deverá ser assim” (Mt 20,26). Jesus quer sua Igreja como lugar onde um irmão corrija o outro irmão: “Se o seu irmão pecar, vá corrigi-lo a sós” (Mt 18,15). No entanto, a grande chaga das nossas comunidades é a fofoca, a crítica, o falar mal do outro, ao invés de corrigi-lo pessoalmente. Se o esforço (que tipo de “esforço”?) que fazemos por mudar os outros fosse direcionado para mudar a nós mesmos, haveria menos joio em nossa Igreja e mais trigo (cf. Mt 13,24-30.36-43). A esse propósito, o Papa Francisco nos dá um conselho: Cuide do trigo e não perca a paz por causa do joio (EG 24).

            “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Jesus foi um construtor. Ele construiu inúmeras pontes que religaram pessoas a Deus e pessoas entre si. Nossa Igreja é chamada a fazer a mesma coisa. No entanto, nenhuma ponte pode ser construída quando faltam construtores. Este Ano Vocacional nos recorda que a nossa Igreja vive uma escassez de mão de obra. A grande maioria dos católicos que ainda frequentam nossas celebrações – 8% da população – se comportam como consumidores, não como construtores: consomem a Palavra, consomem sacramentos, consomem bênçãos, mas não têm tempo, nem disposição, nem interesse em se tornarem construtores da Igreja. Isso faz com que nossa Igreja não consiga se fazer presente em muitos ambientes como presídios, asilos, pessoas idosas que sofrem de solidão, casais em dificuldade conjugal, famílias desestruturadas, jovens desempregados, crianças desorientadas e sem referência religiosa alguma, empresas, empresários, empregados, pessoas enlutadas ou enfermas etc.

A insignificância da nossa Igreja é fruto da sua ausência na vida cotidiana das pessoas, ausência causada, em grande parte, pela falta de comprometimento da maioria de nós, católicos, com o serviço do Evangelho. Nós somos rápidos em criticar nossa própria Igreja, mas muito lentos em fazermos uma boa e necessária autocrítica, ignorando propositalmente essa verdade: “A Igreja que vai impactar mundo não é a que você está indo, é a que você está sendo!” (autor desconhecido). Dizendo de outra forma, a ausência da nossa Igreja junto de inúmeras pessoas do nosso tempo é a sua ausência como Igreja junto delas.  

“A Igreja Católica precisa mudar!”. Quantas vezes você ouviu ou afirmou isso? O que você tem feito para que essa mudança aconteça? Ghandi dizia: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. Portanto, seja a mudança que você quer ver na Igreja! Assuma o seu lugar dentro dela como “pedra viva” (1Pd 2,5). Afinal de contas, não é a sua saliva – suas críticas, fofocas, exigências ou reclamações – que constrói a Igreja, mas as suas atitudes; concretamente, a doação do seu trabalho voluntário e a fidelidade ao seu dízimo. Seja Igreja, e não apenas frequente-a!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi


quinta-feira, 22 de junho de 2023

VALE À PENA SOFRER POR CAUSA DE DEUS?

 Missa do 12. dom. comum. Palavra de Deus: Jeremias 20,10-13; Romanos 5,12-15; Mateus 10,26-33.

 

            Ser uma pessoa de Deus é vantajoso ou prejudicial, aos olhos humanos? Procurar viver segundo a vontade de Deus nos traz críticas ou elogios? Quando tomamos a decisão de seguir Jesus e de viver segundo seu Evangelho, as portas se abrem ou se fecham para nós? O caminho se torna espaçoso e coberto de flores, ou estreito e cheio de espinhos? A resposta está no comentário do Missal Dominical: “Comprometer-se a viver no caminho de Deus significa encontrar no próprio caminho dificuldades sempre novas e cada vez maiores. Num mundo dominado pelo egoísmo e pela busca do próprio interesse, quem prega o amor, a pobreza e o perdão será inevitavelmente perseguido” (pp.723-724).

            Na sua travessia pelo mundo, todo ser humano sofre algum tipo de dor. Ninguém atravessa a vida sem lidar com algum sofrimento. O problema é que, para o cristão, para quem escolhe caminhar com Deus, as dores e os sofrimentos serão maiores. Por qual motivo? Por causa da inversão de valores do nosso mundo, o qual considera bom e vantajoso aquilo que é mal aos olhos de Deus, ao mesmo tempo em que despreza e rejeita aquilo que é bom aos Seus olhos.

            Consideremos o desabafo do salmista: “Por vossa causa é que sofri tantos insultos” (Sl 69,8). A mesma experiência fez o profeta Jeremias: sofrer fortes ataques por falar o que Deus lhe mandou falar. Quando o sofrimento é consequência de algo errado que fizemos, o mesmo deveria ser aceito com naturalidade e realismo. O problema é quando sofremos exatamente porque queremos viver segundo a verdade e a justiça: “A perseguição atinge os justos precisamente porque justos” (Missal Dominical, p.723). Em outras palavras, se você quiser viver segundo a vontade de Deus, prepare-se para sofrer críticas, rejeição, ataques até mesmo violentos, por parte de pessoas que se sentirão incomodadas com o seu comportamento.

            Toda pessoa que sofre por querer ser de Deus corre o risco de abandonar o seu caminho de fé. Para evitar esse abandono, duas palavras vêm nos convidar à perseverança: “O Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos” (Jr 20,11); “Nosso Deus atende à prece dos seus pobres, e não despreza o clamor de seus cativos” (Sl 69,34). Deus não nos joga numa arena em meio aos leões e fica assistindo à nossa tentativa sofrida de sobrevivência. Ele se coloca junto a nós, fortalecendo-nos por meio do Espírito Santo, para que possamos resistir aos ataques que sofremos e prosseguir fiéis em nossa missão.

            Ninguém mais do que Jesus experimentou sobre si o ódio do mundo. Ele mesmo nos deixou conscientes disso: “Se o mundo odeia vocês, saibam que, primeiro, odiou a mim... Se eles me perseguiram, também perseguirão a vocês” (Jo 16,18.20). Quando Jesus fala do “mundo”, não se refere aqui à humanidade, mas às pessoas que se recusam a crer no Evangelho. O mesmo sistema político e religioso que se opôs a Jesus se oporá a todo cristão que, em nome do Evangelho, questionar as injustiças que causam sofrimento a uma grande parcela da humanidade. Exemplo concreto: as críticas que o Papa Francisco recebe de setores conservadores da Igreja e da grande mídia, ao se colocar na defesa dos pobres e do meio ambiente, e ao propor uma economia mais humana, justa e solidária ao mundo.

            Jesus nos propõe três atitudes, no confronto com aqueles que poderão vir a nos agredir e nos causar sofrimento por causa do Evangelho: a certeza de que a verdade prevalecerá sobre a mentira – “Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido” (Mt 10,26); a consciência de que é melhor sofrer fazendo o bem do que fazendo o mal – “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno!” (Mt 10,28); a confiança de que nada de mal nos acontecerá sem o consentimento do Pai: “Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais” (Mt 10,29-31).

            A Palavra nos tornou conscientes de que caminhar com Deus nos trará mais críticas do que elogios, mais sofrimento do que alegria, mais desprezo do que consideração por parte do mundo pagão em que vivemos. Agora, cada um precisa se posicionar: ou suportar o desprezo das pessoas e viver unicamente do apoio d’Aquele que também sofreu o ódio do mundo, ou abandonar o seguimento de Jesus em troca do ser amado e aceito pelos “cristãos paganizados” do nosso tempo. Cada um precisa se perguntar: vale à pena apostar minha vida nas promessas de um Deus que, mesmo sendo Pai, consentirá às vezes que eu sofra, precisamente por causa da minha fé n’Ele? Minha fé na vida eterna é maior do que o meu instinto de sobrevivência, ou eu também sou adepto da teoria de que “é melhor ser um covarde vivo do que um herói morto”?

 

            Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

quinta-feira, 15 de junho de 2023

DEUS NOS ENVIA PARA QUE NENHUM SER HUMANO SE SINTA SÓ

 Missa do 11º dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 19,2-6a; Romanos 5,6-11; Mateus 9,36 – 10,8.

 

“Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). O que você vê à sua volta? Você ainda consegue enxergar as pessoas nas ruas ou no local onde você mora, estuda, trabalha ou frequenta, no seu dia a dia, ou o individualismo fechou você em si mesmo, tornando-o indiferente às pessoas à sua volta? A indiferença tornou-se uma defesa nossa: ela nos impede de nos compadecer das pessoas à nossa volta. Compadecer-se significa sofrer com a pessoa que está sofrendo. Na medida em que sou indiferente ao que se passa com o outro, não preciso me comprometer em ajudá-lo; posso continuar girando apenas em torno dos meus interesses.

Jesus enxergou as multidões do seu tempo como “ovelhas que não têm pastor”. Quem são as pessoas próximas a nós que não têm ninguém por elas? Um dos exemplos mais concretos são os idosos. Nossas cidades estão cheias de pessoas idosas morando sozinhas, sendo que muitas delas não são visitadas por ninguém. Pior do que envelhecer, é sentir-se ignorado pelos outros. Pior do que a dor do corpo que envelhece é a dor da solidão: ninguém com quem a pessoa possa conversar. No fundo, nós evitamos o contato com os idosos porque não queremos ver o que nos aguarda; queremos nos manter distantes da verdade de que um dia seremos velhos e deveremos enfrentar a dureza da solidão.

A compaixão de Jesus pelas multidões o fez tomar duas atitudes. Primeiro, ele nos incentivou a pedir ao Pai que envie mais trabalhadores, mais pessoas que se tornem cuidadoras de ovelhas sem pastor. A grande carência de vocações sacerdotais e religiosas em nossa Igreja também é fruto da falta da nossa oração por essas vocações. A segunda atitude de Jesus foi escolher doze discípulos do meio daqueles que o seguiam e enviá-los em missão. Hoje, Jesus olha para nós e procura por aqueles que queiram ajudá-lo na missão de salvar as ovelhas perdidas do nosso tempo.

“Um dia escutei teu chamado, divino recado batendo no coração. Deixei deste mundo as promessas e fui bem depressa no rumo da tua mão. Tu és a razão da jornada. Tu és minha estrada, meu guia, meu fim. No grito que vem do teu povo te escuto de novo, chamando por mim!” (Tu és a razão da jornada).

Ao enviar os Doze em missão, a recomendação principal de Jesus foi esta: “Dirijam-se às ovelhas perdidas!”. Para nos dirigir às ovelhas perdidas, temos que sair e ir aonde elas se encontram. Jesus nunca ficou esperando que as pessoas fossem até ele, mas sempre tomou a iniciativa de ir até as pessoas. A insistência do Papa Francisco em sermos uma “Igreja em saída” se tornou, para alguns católicos, algo repetitivo e irritante. No entanto, é exatamente isso que Jesus nos pede no Evangelho: sair e nos dirigir aonde se encontram os perdidos. Nós conseguiremos atingir a todos? Obviamente que não. Por isso, é bom lembrar as palavras de Santa Teresa de Calcutá: “O que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor”.

Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios” (Mt 10,8). A sua presença, as suas palavras, os seus ouvidos abertos para escutar podem curar aqueles que adoeceram por não se sentirem amados, por serem ignorados ou descartados como “coisa” que não presta para mais nada. O seu interesse, a sua visita, o seu conselho ou a sua oração podem fazer a pessoa que está morta por dentro desejar voltar a viver. A mesma coisa vale para os leprosos do nosso tempo, isto é, as pessoas que estão apodrecendo em algum pecado, em algum vício... Enfim, isso vale também para as pessoas que estão atormentada pelo mal: assim como a luz espanta os morcegos, você é discípulo daquele que, como o sol, veio visitar e iluminar os que estão sentados na escuridão e na sombra da morte (cf. Lc 1,78-79).

Embora tão fraco e pequeno, caminho sereno com a força que vem de Ti. A cada momento que passa revivo esta graça de ser teu sinal aqui. Tu és a razão da jornada. Tu és minha estrada, meu guia, meu fim. No grito que vem do teu povo te escuto de novo, chamando por mim!” (Tu és a razão da jornada).

            Nós somos parte do povo de Deus, povo que Ele designou como “reino de sacerdotes” (Ex 19,6). A função do sacerdote é ser uma ponte entre o céu e a terra, entre Deus e todo ser humano que se separou – ou se sente separado, distante – de Deus, devido ao abismo do pecado pessoal e/ou social. Viva o seu sacerdócio, no seu dia a dia! Onde quer que você se encontre, seja uma ponte que ligue as pessoas a Deus. Anuncie às pessoas que elas não são pecadoras condenadas por Deus, mas filhos que foram justificados, reconciliados com o Pai por meio do Filho Jesus. Ajude com que cada ser humano deixe de vagar pela vida como uma ovelha que não tem pastor, mas sinta-se como ovelha que pertence ao rebanho do Senhor, cuja bondade e amor são para sempre (cf. Sl 99). 

Pe. Paulo Cezar Mazzi  



sexta-feira, 9 de junho de 2023

NENHUMA VOCAÇÃO VIVE DE ENCANTO E DE PAIXÃO, MAS UNICAMENTE DA DECISÃO DE AMAR ATÉ O FIM

 Missa do 10º dom. comum. Palavra de Deus: Oseias 6,3-6; Romanos 4,18-25; Mateus 9,9-13.

 

            Estamos no Ano Vocacional. Há uma séria crise de vocações masculinas e femininas em nossa Igreja no mundo todo, mas essa crise não se refere somente à vida consagrada. Também a vocação ao matrimônio está em crise, e essa crise é perceptível não somente pelo número cada vez mais reduzido de pessoas que se casam na Igreja, mas também pelo fracasso em amar até o fim – os casais que se divorciam são de longe mais numerosos do que os casais que permanecem juntos a vida toda. Por fim, a grande maioria das pessoas busca, em nome da sobrevivência financeira, não ser fiel à própria vocação, mas ter um trabalho que lhe garanta o pão sobre a mesa. Neste sentido, vocação e profissão quase sempre não coincidem: a pessoa trabalha não naquilo para o qual nasceu, mas naquilo que no momento é sua única oportunidade de manutenção financeira.

            O Ano Vocacional é uma oportunidade de nos lembrar de que “Eu sou uma missão nessa terra, por isso estou nesse mundo” (Papa Francisco, EG, 273). Nossa existência e o lugar que ocupamos no mundo atualmente se devem a uma vocação, a um chamado: Deus nos chamou a ocupar o nosso lugar na história da salvação, para o bem da humanidade. Se as pessoas que têm o privilégio de escolher um curso, uma faculdade, uma profissão, visam quase sempre o sucesso financeiro, a vocação nos ensina a sermos fiéis ao chamado que recebemos, pois somente nessa fidelidade seremos felizes, ou seja, nos sentiremos realizados.

            As leituras bíblicas de hoje nos colocam diante da vocação de dois homens: Abraão e Mateus. Abraão foi chamado por Deus a iniciar a formação do seu povo quando estava perto da morte – ele tinha quase cem anos (cf. Rm 4,19)! Mateus foi chamado por Jesus a ser discípulo e apóstolo quando ele trabalhava como cobrador de impostos, uma profissão odiada pelos judeus, pois os cobradores de impostos estavam a serviço do Império Romano, que oprimia e explorava os judeus na época de Jesus.

A vocação desses dois homens vira do avesso os nossos esquemas de sucesso, de visibilidade, de obtenção de resultados. Enquanto as empresas apostam na beleza e na força física, na inteligência e na influência, na oratória e na força do convencimento para venderem o seu produto, Deus aposta no velho, no fraco, no sujo, no pecador – numa palavra, naquilo que o mundo despreza –, para fazer acontecer o seu Reino entre nós. Por que esse modo tão estranho de Deus agir? Para que fique claro que a obra é d’Ele e não nossa.

            Abraão e Mateus simbolizam nossa imperfeição, nossas feridas ainda não curadas, nossas falhas ainda não corrigidas, nossos defeitos não removidos; em resumo, a fragilidade que nós não conseguimos remover de nós mesmos e do nosso meio enquanto Igreja. Deus escolheu e chamou cada um de nós não porque somos vasos perfeitos, mas trincados, e é através desses trincos que a água da sua graça escorre, vaza, caindo na terra árida que precisa receber essa água. A vocação que recebemos de Deus não nos foi dada porque somos fortes, inteligentes, capazes, santos, mas exatamente pelo contrário, porque somos fracos, sem uma compreensão clara a respeito do mistério de Deus, incapazes de muitas coisas e pecadores.

            Para celebrar o chamado que recebeu de Jesus, Mateus fez uma refeição em sua casa para seus amigos, pecadores como ele. Isso gerou uma reação negativa nos fariseus – homens religiosos que se consideravam impecáveis em sua conduta: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?” (Mt 9,11), ao que Jesus respondeu: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes... eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9,12.13). Para nós, que acabamos de celebrar a Festa do Corpo e Sangue de Cristo, vale recordar as palavras do Papa Francisco, as quais vêm de encontro com a resposta de Jesus aos fariseus: “A Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos”. A salvação que Jesus trouxe ao mundo não é para quem se acha merecedor da mesma, mas para quem tem consciência de que necessita dela.

            Todo vocacionado não é simplesmente alguém chamado a trabalhar pelo Reino de Deus, pelo anúncio do Evangelho, mas alguém chamado a viver um relacionamento íntimo com o Pai e o Filho, por meio do Espírito Santo. Foi por isso que Jesus deixou claro aos fariseus: “Vocês precisam aprender o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’” (Mt 9,13), citação de Oseias 6,6 (primeira leitura da missa de hoje). Na época de Jesus, o relacionamento religioso do povo com Deus era pautado pelo sacrifício de animais. Mas, tanto o profeta Oseias quanto Jesus buscaram conscientizar as pessoas que Deus não está interessado em sacrifícios externos, em oferendas materiais, mas em encontrar pessoas que estejam abertas e dispostas a fazer um caminho com Ele pautado no amor, no conhecimento íntimo que envolve o próprio coração.

            Estamos no clima da celebração do dia dos namorados. Providencialmente, a Palavra de Deus nos coloca diante de uma crítica importante: “O amor de vocês é como nuvem pela manhã, como orvalho que cedo se desfaz” (Os 6,4). Enquanto os namorados manifestam estar apaixonados e a maioria tem vida sexual ativa, muitos casais manifestam esfriamento, apatia, desencanto, chegando ao ponto de abandonarem a vida sexual. A centralidade do namoro na vida sexual atrapalha o diálogo, o conhecimento mútuo e a capacidade da renúncia, a qual será exigida na vida conjugal, quando diversos fatores interferirem na vida sexual do casal. Só quem se casa percebe, com o tempo, que a relação sexual não é o eixo principal do casamento, mas consequência do diálogo, do companheirismo, do afeto e do compromisso que o casal abraçou de cuidar um do outro até o fim.  

“O amor de vocês é como nuvem pela manhã, como orvalho que cedo se desfaz” (Os 6,4). Muitas pessoas que se consagraram a Deus ou que se casaram o fizeram por encanto, mas o encanto passa. Durante a nossa existência, sempre passaremos por momentos de desencanto, seja conosco mesmos, seja com as pessoas, seja com Deus, seja com a vida e a missão que abraçamos. O verdadeiro amor sobrevive ao desencanto, porque ele não é encanto, nem paixão. O verdadeiro amor é compromisso. Como afirmou o Papa Francisco: “Não é possível prometer que teremos os mesmos sentimentos durante a vida inteira; mas podemos ter um projeto comum estável, comprometer-nos a amar-nos e a viver unidos até que a morte nos separe, e viver sempre uma rica intimidade. O amor que nos prometemos supera toda a emoção, sentimento ou estado de ânimo, embora possa incluí-los. É um querer-se bem mais profundo, com uma decisão do coração que envolve toda a existência” (AL,163). Só esse amor é capaz de sustentar a nossa fidelidade à vocação que recebemos.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quarta-feira, 7 de junho de 2023

SÓ DEVE COMUNGAR QUEM SE ESFORÇA EM RESTABELECER A COMUNHÃO

 Missa do Corpo e Sangue do Senhor. Palavra de Deus: Deuteronômio 8,2-3.14b-16a; 1Coríntios 10,16-17; João 6,51-58.

 

O pão é o símbolo da nossa insuficiência como criaturas. Nenhuma criatura vive sem se alimentar. Nenhuma criatura é autossuficiente. Na Bíblia, o pão se tornou símbolo da nossa dependência de Deus, pois o filho vive do pão que o pai lhe dá. Essa dependência está expressa em salmos como esses: “Se o Senhor não constrói a nossa casa, em vão trabalham seus construtores” (Sl 127,1); “Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam, o no tempo certo vós lhes dais o alimento...” (Sl 145,15); “Os olhos do Senhor estão sobre aqueles que esperam em seu amor, para da morte libertar as suas vidas e no tempo da fome fazê-los viver” (Sl 33,18-19).

Antes de entrar na Terra Prometida, lugar onde Israel teria fartura, o mesmo foi convidado por Moisés a não se esquecer da fome que passou no deserto: “Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu, esses quarenta anos, no deserto... Ele te humilhou, fazendo-te passar fome e alimentando-te com o maná que nem tu nem teus pais conhecíeis, para te mostrar que nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor” (Dt 8,2.3). Em qual momento da vida nós buscamos Deus: na fartura ou na fome? Na alegria ou na dor? Nós temos a tendência a apagar da nossa memória os momentos difíceis da vida. No entanto, são eles que nos recordam coisas que não deveríamos esquecer. Na fartura, na riqueza, no sucesso, Deus é rapidamente posto de lado, e nós nos enchemos de orgulho por aquilo que a nossa mão conquistou; nos esquecemos de que foi a mão do Pai que nos sustentou; nos esquecemos de que nenhuma situação é definitiva e que a nossa “Terra Prometida” pode se tornar um “deserto”, devido ao nosso orgulho, à nossa arrogância, à nossa prepotência.

Voltemos à simbologia do pão. Nós temos pão? Ótimo, mas nem só de pão vive o homem! Nós temos dinheiro, bens materiais, um corpo sedutor etc.? Mas nada disso nos garante que a nossa vida tenha um sentido. “Cada vez mais as pessoas têm condições materiais para viver, mas elas não têm um sentido para viver!” (parafraseando Victor Frankl). Casas caras, carros caros, geladeiras repletas, estômagos saciados... No entanto, a alma está vazia, porque não há afeto, nem comunicação, nem comunhão. Determinadas casas estão cheias de bens materiais, mas habitadas por uma solidão insuportável...

A partir de Jesus Cristo, o pão se tornou uma Pessoa! Ele é o Pão vivo descido do céu. Por quem razão? Porque há em nós uma fome, uma sede, uma busca, uma necessidade que se chama vida eterna, e somente Jesus pode saciá-la. Semelhante ao que pedido da Samaritana, nós hoje pedimos a Jesus: “Senhor, dá-me desse pão!” (parafraseando Jo 4,15), ao que Jesus responderia: “Vá buscar o seu marido e volte aqui!” (Jo 4,16). Em outras palavras, Jesus quer que reconheçamos as mentiras da nossa vida que estão nos afastando da sua Verdade. Nada pode preencher o nosso vazio enquanto não formos verdadeiros conosco mesmos e com a nossa consciência. Nada pode apaziguar o nosso coração enquanto ele não se encontrar com o Deus da Verdade. Neste sentido, o apóstolo Paulo nos recorda: “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos a festa não com o velho fermento, mas com pães sem fermento, na sinceridade e na verdade” (citação livre de 1Cor 5,7). Qual fermento precisa ser banido da sua casa, da sua vida? A Eucaristia, pão sem fermento, nos convida a cuidar do essencial e não nos perder atrás do supérfluo.

O apóstolo Paulo afirma que a Eucaristia é “comunhão”: “(...) o pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? Porque há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16-17). Quem pode comungar? Quem se esforça em criar comunhão. Existem casais casados na Igreja, mas que vivem sem comunhão, assim como existem casais não casados na Igreja que vivem numa profunda comunhão. Quem pode comungar? Nossa mão se estende para receber a comunhão. Ela também se estende para a pessoa da qual estamos distantes? Nossa língua e nossa boca recebem o Corpo de Cristo. Da nossa boca sai alguma palavra de perdão, de diálogo, de reconciliação, uma palavra que ajuda a quebrar o silêncio que está matando dia a dia o relacionamento? A comunhão alimenta a vida; o isolamento, a morte. Neste sentido, quando nos aproximamos da “Comunhão”, Deus nos faz a mesma pergunta que fez a Caim: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). Onde está o seu marido/a sua esposa? Onde está o seu pai/o seu filho? Onde está a sua nora/a sua sogra? Onde está a pessoa da sua família em relação a quem você não faz esforço em retomar a comunhão?

 

“Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,53-54). Estamos vivendo o Ano Vocacional. Quantos não têm acesso à Eucaristia, por falta de padres? Faltam padres, muitos, sobretudo na região Norte e Nordeste do nosso País, mas falta também a coragem de se criar um ministério ordenado para homens casados em nossa Igreja. O fato de 70% das comunidades católicas no Brasil não terem a Eucaristia dominical semanal, por falta de padres, precisa fazer a nossa Igreja repensar o modelo de presbítero que ela exige, obrigatoriamente celibatário.  

Nesse dia, rezemos especialmente pelos desempregados. Não esqueçamos da Campanha da Fraternidade desse ano, que nos recordou da nossa responsabilidade cristã perante a fome. O mesmo Jesus que se fez pão descido do céu sempre foi sensível à fome das pessoas e ordenou aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 1 de junho de 2023

A ÁGUA DO OCEANO NÃO CABE EM NENHUM RECIPIENTE

 Missa da Santíssima Trindade. Palavra de Deus: Êxodo 34,4b-6.8-9; 2Coríntios 13,11-13; João 3,16-18.

 

            Imagine que você esteja numa praia, diante do mar. Se você encher uma xícara, um copo ou um balde com a água do mar, eles ficarão cheios, mas, ainda assim, haverá muito mais água no mar do que dentro da xícara, do copo ou do balde. A imensidão de água que existe no mar ou no oceano simboliza Deus. A xícara, o copo ou o balde simbolizam a nossa capacidade de compreender Deus. Tudo o que podemos pensar, falar e experimentar a respeito de Deus é infinitamente menos do que aquilo que Ele realmente é. Em outras palavras, Deus transcende a nossa capacidade de entendê-Lo, de falar a respeito d’Ele e de experimentá-Lo.

            Como nós, seres humanos, não tínhamos como “subir” até Deus para conhecê-Lo, Ele “desceu” até nós, e essa descida se deu de três maneiras: primeiro, pela Palavra (Ele se revelou a nós na Sagrada Escritura – Antigo Testamento); segundo, pelo Filho Jesus (a Palavra que se fez pessoa humana e veio morar entre nós – cf. Jo 1,14 – Novo Testamento); terceiro, pelo Espírito Santo (presença do Pai e do Filho dentro de nós). A razão principal pela qual Deus se revelou a nós como Pai (Criador), como Filho (Redentor) e como Espírito Santo (Amor do Pai e do Filho em nós) é esta: Ele deseja estabelecer conosco um relacionamento.     

            No Antigo Testamento, o relacionamento dos homens com Deus era pautado pelo medo: “Moisés curvou-se até o chão e, prostrado por terra, disse: ‘Senhor, se é verdade que gozo de teu favor, peço-te, caminha conosco; embora este seja um povo de cabeça dura, perdoa nossas culpas e nossos pecados e acolhe-nos como propriedade tua’” (Ex 34,8-9). Por muitos séculos, não somente no Antigo Testamento, mas também na pregação da Igreja, prevaleceu a imagem de um Deus ameaçador, castigador, o que fez com que as pessoas que acreditavam em Deus procurassem caminhar segundo a vontade d’Ele não pela convicção de que eram amadas, mas, sim, ameaçadas por Ele.

            Como Deus não é uma criação nossa, não é fruto da nossa imaginação, foi preciso que Ele mesmo tomasse a iniciativa de Se revelar a nós de uma maneira mais clara e profunda. Para isso, Ele enviou o seu Filho: “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está no seio do Pai, este o deu a conhecer” (Jo 1,18). Deus é Jesus. Em outras palavras, toda e qualquer ideia, imagem ou entendimento que eu possa ter a respeito de Deus Pai, preciso confrontar com aquilo que Jesus nos revelou a respeito da Pessoa do Pai.

            Ao nos revelar o Pai, Jesus deseja nos introduzir no mesmo relacionamento que ele, Filho, tem com o Pai. O Pai é o Deus que ama a humanidade a ponto de entregar a ela o que Ele tem de mais precioso: seu Filho único (cf. Jo 3,16). O Pai não deseja que nenhum ser humano se perca (cf. Mt 18,14). Por isso, enviou seu Filho para procurar e salvar todo ser humano que está perdido ou em risco de se perder (cf. Lc 19,10). O Pai é amor que tudo desculpa, tudo acredita, tudo espera e tudo suporta (cf. 1Cor 13,7). O Pai não tem pessoas a destruir e a eliminar da face da terra, mas filhos a resgatar e salvar. O Pai concede o seu sol e derrama a sua chuva sobre todos, indistintamente, porque é amor gratuito: Ele não nos ama porque merecemos ser amados, mas porque precisamos do seu amor para sermos curados e voltarmos a viver (cf. Mt 5,45).

Por que a maioria dos seres humanos não se deixa amar e cuidar pelo Pai? Porque Ele nos criou livres. O escravo não tem liberdade de sair de perto do seu senhor, mas o filho tem a liberdade de sair e de se afastar da casa do Pai quando quiser, ainda que isso o coloque num caminho de autodestruição (cf. Lc 15,11-24). O Pai nos concedeu duas coisas sagradas: liberdade e responsabilidade. Sua Palavra é seu amor oferecido como orientação para o nosso caminho de vida. Nós temos liberdade de acolher ou rejeitar a Palavra de Deus. Toda escolha que fazemos tem consequências, o que significa que temos responsabilidade sobre o rumo que escolhemos dar à nossa vida. O Pai não interfere nas nossas escolhas, porque respeita a nossa liberdade, mas apela à nossa consciência, para revermos as nossas atitudes.   

Como o Pai fala à nossa consciência? Através do Espírito Santo. Ele é o “Espírito da Verdade” (Jo 14,17; 15,26; 16,13). Interessa ao Espírito Santo (Espírito do Pai e do Filho em nós) falar não o que gostaríamos de ouvir, mas o que precisamos ouvir, assim como Ele procura nos conduzir não para onde queremos, mas para onde devemos ir, em nome da coerência com a verdade da nossa vocação de filhos de Deus. Porque o Pai e o Filho nos querem adultos em nossa fé, e não infantis, o Espírito Santo não nos poupa de confrontos, mas nos encoraja a enfrentar aquilo que nos cabe enfrentar em vista do nosso amadurecimento, do nosso crescimento e da nossa santificação.  

Eis como o apóstolo Paulo saúda a Igreja que está em Corinto: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13). Cada cristão é convidado a estabelecer um relacionamento com a Pessoa do Pai, com a Pessoa do Filho e com a Pessoa do Espírito Santo. Em relação ao Pai, nos deixando amar e cuidar por Ele; em relação ao Filho, seguindo seus passos (Evangelho) e vivendo na intimidade com o Pai e na obediência à sua vontade, como o Filho sempre fez; em relação ao Espírito Santo, aceitando a orientação da sua voz em nossa consciência e nos deixando conduzir por Ele no caminho da vida de cada dia.

Resumindo, a palavra-chave para nos aproximarmos do mistério da Santíssima Trindade é uma só: relacionamento. O Deus único e verdadeiro não Se revelou na Sagrada Escritura na Pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo para ser entendido, ou seja, para caber dentro da nossa compreensão mental, mas para vivermos dentro de um relacionamento com as três Pessoas da Santíssima Trindade, um relacionamento pautado não no medo, mas unicamente no amor.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi