quinta-feira, 28 de outubro de 2021

UMA GOTA DE AMOR VALE MAIS DO QUE UMA TONELADA DE SACRIFÍCIOS

 Missa do 31. dom. comum. Palavra de Deus: Deuteronômio 6,2-6; Hebreus 7,23-28; Marcos 12,28b-34.

 

    Como identificar uma pessoa que acredita em Deus? O que distingue uma pessoa que crê em Deus de outra que não crê? A resposta não está na roupa que ela usa, nem nas palavras que ela diz, nem na fé que ela professa com a boca, nem mesmo na frequência com que ela vai à igreja ou ao local de culto e de oração. A resposta está nas atitudes da pessoa. Se essas atitudes expressam amor, ela crê verdadeiramente em Deus. Portanto, toda pessoa que afirma crer em Deus, mas não ama, está enganando a si mesma. Toda pessoa que, em nome de Deus e da sua religião, discrimina, odeia ou deseja a morte de alguém, não chegou a conhecer a Deus: “Aquele que não ama não conheceu a Deus, porque Deus é Amor” (1Jo 4,8).

    Se Deus é Amor, o nosso relacionamento com Ele só é verdadeiro quando pautado pelo amor. Muito antigamente, o povo de Israel se relacionava com Deus pautado no oferecimento de sacrifícios de animais. Mas o próprio Deus afirmou: “É amor que eu quero e não sacrifícios” (Os 6,6). O próprio Jesus retomou essa verdade ao se dirigir aos fariseus, que se consideravam homens religiosos exemplares: “Vão e aprendam o que significa: ‘Misericórdia quero, e não sacrifício’” (Mt 9,13). Misericórdia – um coração capaz de ser afetado pela miséria do outro – é o amor colocado em prática. O que Jesus está dizendo é que uma gota de amor vale mais do que uma tonelada de sacrifícios.

    Como é o nosso relacionamento com Deus? É um relacionamento movido pelo amor ou pelo medo? Por muito tempo, o relacionamento das pessoas com Deus funcionou na base do medo: medo do castigo, medo de que as coisas não dessem certo, medo de perder a proteção e o cuidado de Deus. Hoje, esse medo foi substituído pela indiferença. É cada vez maior o número de pessoas que seguem pela vida indiferentes a Deus, sobretudo porque O sentem indiferente a elas, ao que acontece na vida delas. Quem vai se interessar – pior ainda, quem vai amar – um Deus que permite o sofrimento e a morte na vida de Seus filhos? Para muitas pessoas, antes de se pensar em amar a Deus, é preciso digerir a raiva que têm d’Ele, raiva que desemboca na indiferença para com Ele.

    Em nome da verdade, precisamos reconhecer também que tanto a Igreja quanto nós, cristãos, temos uma parcela de responsabilidade no distanciamento que as pessoas do nosso tempo vão tomando de Deus. Nossas atitudes testemunham que Deus é amor e que Ele ama indistintamente as pessoas – todas as pessoas? Nossas atitudes ajudam as pessoas a desejarem conhecer o Pai que “faz nascer o sol sobre bons e maus e derrama a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,48), ou seja, o Deus que ama incondicionalmente todo ser humano?

    Deus não procura por pessoas que O sirvam como um escravo serve ao seu senhor; Ele procura por filhos que se deixem amar por Ele: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6,5). Assim como nós ocupamos o centro do Seu coração, Ele deseja ocupar o centro do nosso. Assim como Ele nos ama gratuita e incondicionalmente, Ele deseja nos libertar de um relacionamento “comercial”, pautado na necessidade, para um relacionamento orientado pelo amor que nos faz buscar a Deus por quem Ele é e não por algo que Ele possa nos dar. Dessa forma, nós poderíamos rezar como o salmista: “Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força, minha rocha, meu refúgio e Salvador!” (Sl 17,2-3).

    Após fazermos essa passagem da necessidade de Deus para o amor a Ele, somos convidados por Jesus a trazer de volta para a nossa relação com o Pai a pessoa do nosso irmão: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo!” (Mc 12,31), uma vez que amar a Deus “de todo o coração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é melhor do que todos os holocaustos e sacrifícios” (Mc 12,33). Para a Sagrada Escritura, não é possível amar a Deus sem interessar-se pelo ser humano. O amor a Deus é inseparável do amor ao próximo. “Quem não ama seu irmão que vê, não pode amar a Deus que não vê... Quem ama a Deus, ame também o seu irmão” (1Jo 4,20s). Portanto, toda religião só é verdadeira quando torna o ser humano melhor, mais humano, no sentido de levá-lo a amar o seu semelhante.

    A religião cristã é a religião da cruz, feita de dois traços: um vertical, e outro horizontal. O esforço que nos é pedido em amar a Deus é o mesmo que nos é pedido em amar o próximo, sabendo que amar não é um sentimento, mas uma atitude: “Tudo o que vocês quiserem que os outros lhes façam, tomem a iniciativa de fazê-lo a eles, pois nisso consiste toda a Sagrada Escritura” (citação livre de Mt 7,12). Tomar a iniciativa de tratar as pessoas como gostaríamos que elas nos tratassem – esta é a chave, a maneira de colocarmos em prática o amor para com o próximo.

     Oração: Pai de amor, minha busca por Ti ainda não é movida unicamente por amor, mas pela necessidade que tenho de Ti. Quero aprender a Te buscar não por algo que Tu possas me conceder, mas unicamente por quem Tu és, o Pai que me ama, o Pai que ama incondicionalmente todo ser humano. Que as minhas atitudes ajudem as pessoas a não serem indiferentes ao Teu amor. Retira do meu coração toda raiva, mágoa ou ressentimento, para que eu ame verdadeiramente todo ser humano. Ensina-me a tomar a iniciativa de tratar cada pessoa como eu desejaria ser tratado(a) por ela, pois assim estarei vivendo segundo o Teu amor para comigo. Em nome de Jesus, no amor do Espírito Santo. Amém.

     Pe. Paulo Cezar Mazzi

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