Missa do 2º dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 49,3.5-6; 1Coríntios 1,1-3; João 1,29-34.
Se
nós perguntarmos para as pessoas a respeito do que elas mais desejam na vida,
não será difícil saber a resposta: elas desejam ser felizes. Para o mundo em
que vivemos, a única coisa que importa é ser feliz. O problema é que a
felicidade não é algo que deve ser buscado diretamente, como um fim em si
mesmo. Ela só pode surgir em nós como consequência de quem sabe que tem um
propósito para viver e é fiel a esse propósito. Portanto, a questão principal
da vida não é ser feliz, mas ter um sentido para viver.
Mas,
como encontrar o sentido da vida? Escutando as perguntas que ela nos faz.
Diante de cada situação, a vida está nos pedindo algo, nos perguntando como
queremos nos posicionar, como desejamos lidar com aquilo que está nos
acontecendo. Além disso, ninguém pode dar a você o sentido da sua própria vida;
é você quem deve descobri-lo, a partir da sua vocação, da sua missão, da razão
de ser da sua existência. Essa é a questão principal: compreender que a nossa
existência tem um porquê, um para quê, uma razão de ser, uma finalidade.
Para
nós, que temos fé em Deus, a nossa existência não é algo acidental, nem mesmo
fruto do acaso, mas fruto de um chamado, de uma escolha: “ele que me preparou desde o nascimento para ser
seu Servo” (Is 49,5). “Tu és o meu Servo, Israel... Eu te
farei luz das nações, para que minha salvação chegue
até aos confins da terra” (Is 49,3.6). Deus nos chamou à vida para abraçarmos
uma missão em favor do bem e da salvação de outras pessoas. Nós não existimos
em função de nós mesmos. Como costuma dizer o Papa Francisco: “Eu sou uma missão nesta terra, e para isso
estou neste mundo” (EG, n.273). Quanto
mais somos fiéis à missão que somos, mais a nossa existência ganha sentido;
quanto mais nos afastamos dessa missão, mais vazios e infelizes nos sentimos.
Por desconhecerem a missão que são e não
ouvirem as perguntas da vida, muitas pessoas tentam preencher o próprio vazio
através do consumismo, da constante busca pelo prazer (sexo), da
competitividade no campo profissional, da autoafirmação da própria imagem
(redes sociais) etc., mas nada disso funciona, porque o único objetivo delas é
serem felizes fechadas em seu próprio individualismo, sem se importarem com o
que acontece à sua volta e sem abraçarem a tarefa que a vida está lhes pedindo.
A razão de ser da existência do Servo de Deus
era fazer o povo de Israel voltar-se para o seu Deus, assim como a razão de ser
da existência do apóstolo Paulo era anunciar a pessoa de Jesus Cristo como
Salvador de todo ser humano: “Paulo, chamado a ser
apóstolo de Jesus Cristo,
por vontade de Deus” (1Cor 1,1). A razão de ser da existência
de cada um de nós está nisso: “por vontade de Deus”. A maioria das pessoas
passa pelo mundo sem ser percebida, muito menos valorizada, mas nós sabemos que
existimos por vontade de Deus, chamados por Ele a abraçar uma missão
específica. Essa consciência também está presente no Salmo de hoje: “Sacrifício e oblação não quisestes, mas abristes,
Senhor, meus ouvidos...
E então eu vos disse: ‘Eis que venho! (...) Com
prazer faço a vossa vontade” (Sl 40,8.9).
Ao
iniciarmos o que liturgicamente se chama de “tempo comum”, o Evangelho nos
coloca diante da pessoa de Jesus Cristo, assim designado por João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”
(Jo 1,29). Jesus vem ao mundo consciente da sua missão de ser o Cordeiro de
Deus. Essa imagem só pode ser compreendida quando olhamos para a páscoa do Antigo
Testamento, ocasião em que o povo hebreu sacrificou cordeiros e passou seu
sangue nas portas das suas casas, para que a praga exterminadora que feriu o
Egito poupasse suas famílias (cf. Ex 12,1-14). A grande diferença entre Jesus e
os cordeiros pascais está exatamente no sangue: enquanto os cordeiros eram
sacrificados sem saberem a razão do próprio sacrifício, Jesus livre e
conscientemente se deixa sacrificar na cruz, derramando o seu sangue para o
perdão dos pecados (cf. Hb 9,15-28).
Jesus entendeu a sua existência como vida doada,
como entrega e sacrifício, para o bem da humanidade. Por isso, diversas vezes
ele dizia: “Foi para isso que eu vim”, ou “Eu devo”, ou ainda “Eu vim para
fazer a vontade daquele que me enviou”. Por isso, hoje devemos revisar a nossa
identidade de discípulos do Cordeiro de Deus. Nós não somos seguidores de uma
pessoa cujo objetivo principal era ser feliz de maneira egoísta, mas de uma
pessoa cujo sentido de vida foi doar-se, sacrificar-se, passar pelo mundo
fazendo o bem, amando até o fim, isto é, sendo fiel até o fim à missão que o
Pai lhe confiou.
A pergunta que fica é esta: quem precisa do
sacrifício do Cordeiro de Deus? Somente aquelas pessoas que têm consciência de
que necessitam ser salvas; aquelas que sabem que não podem salvar-se por sua
própria força: “Um
rei não vence pela força do exército, nem o guerreiro escapará por
seu vigor... Ninguém se salvará por sua força” (Sl 33,16). O nosso
relacionamento com Jesus é, portanto, absolutamente necessário para a nossa
libertação e nossa salvação. Ele mesmo afirmou isso: “Quem comete o pecado, é
escravo. Ora, o escravo não permanece sempre na casa, mas o filho aí permanece
para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, vós sereis, realmente, livres” (Jo
8,34-36).
O
pecado é como que uma “tendência natural” em nós, levando em conta que o nosso
ego sempre busca aquilo que é vantajoso para si mesmo. Em outras palavras, o
nosso ego não se importa com aquilo que é importante em si (valor), mas somente
com aquilo que é importante para ele (egoísmo). Só a graça de Cristo nos faz
transcender essa tendência e nos abrir a uma vida liberta, buscando não aquilo
que é importante apenas para nós, mas aquilo que é importante em si mesmo, especialmente
aquilo que contribui para o bem comum, para o bem da humanidade.
Não
nos esqueçamos: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono,
e ao Cordeiro!” (Ap 7,10). Retomemos com alegria e esperança o nosso seguimento
de discípulos do Cordeiro de Deus. Somente nele temos libertação e salvação! Somente
abraçando a missão que Ele nos confia é que a nossa vida tem sentido!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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