quinta-feira, 18 de novembro de 2021

ESTE REI DEFENDERÁ OS QUE SÃO POBRES, E A VIDA DOS HUMILDES SALVARÁ

 Missa de Cristo, rei do Universo. Palavra de Deus: Daniel 7,13-14; Apocalipse 1,5-8; João 18,33b-37.

 

A figura do rei é bastante estranha para nós. No mundo atual, há pouquíssimos reis. Mas, no mundo bíblico, ela é uma figura muito forte. O rei ideal é aquele que exerce o domínio sobre seu povo em função de protegê-lo, ampará-lo, defendê-lo, garantindo-lhe vida e paz. No entanto, muitos dos reis que já existiram na terra se corromperam e abusaram do seu poder, tornando-se até mesmo tiranos. Também no mundo bíblico nós temos o registro de muitos reis que governaram o povo de Israel, sendo que somente quatro “fizeram o que agrada aos olhos de Deus”. Todos os demais foram rejeitados por Deus. É por isso que, no livro dos Reis, a frase que mais se repete é: tal rei “fez o que é mau aos olhos de Deus”.

O Salmo 72 nos apresenta o rei ideal como sendo aquele que “libertará o indigente que suplica, e o pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena do indigente e do infeliz, e a vida dos humildes salvará. Há de livrá-los da violência e opressão, pois vale muito o sangue deles a seus olhos!” (vv.12-14). O rei ideal é aquele que cuida de quem não é cuidado por ninguém, que valoriza quem o mundo despreza, que se coloca ao lado dos que estão desprotegidos e desamparados. A figura desse rei encontrou em Jesus a sua plena realização.

Jesus é o Rei-Pastor que veio buscar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, curar a que está ferida e restaurar as forças da que está abatida (cf. Ez 34,16). No entanto, Ele não aceitou ser “eleito” rei pelas multidões que encontraram nele uma espécie de “provedor” das suas necessidades. Isso ficou claro após ele ter saciado a fome da grande multidão: “Jesus, sabendo que viriam buscá-lo para fazê-lo rei, refugiou-se de novo, sozinho, na montanha” (Jo 6,15). Jesus não veio nos manter numa atitude infantilizada perante a vida, de quem só espera receber, de quem é mantido na sua condição de dependência. Ele veio nos levantar, nos colocar em pé e nos tornar conscientes das nossas capacidades e responsabilidades.

Se a figura do rei nos lembra o domínio sobre um povo, Jesus é aquele que veio nos libertar do domínio do mal, do domínio da escravidão do nosso pecado, do domínio de toda situação injusta. Ele veio nos devolver a liberdade de exercermos o domínio sobre nós mesmos. Essa é a questão principal e mais difícil: ter domínio sobre si, sobre seus desejos, seus instintos e sua vontade. Jesus não nos quer dominados pelos vícios, pelo consumismo, pelas ideologias políticas, pela submissão ao dinheiro, pela Internet (redes sociais) e também pela religião.

Ao celebrarmos hoje Cristo, Rei do Universo, lembramos que “o Pai entregou ao Filho o poder sobre todo ser humano” (cf. Jo 17,2), o poder de redimir, salvar e dar a vida eterna a todo ser humano. Esse poder foi exercido a partir da cruz. A cruz foi o trono de Jesus. Sua coroa de espinhos indica que ele é o Rei ferido, o Rei que sente a dor de toda pessoa ferida na face da terra. Ele não é o Rei que derrama o sangue dos seus inimigos, mas o Rei que derrama o seu próprio Sangue para reconciliar tudo o que existe no Universo. De fato, Deus Pai quis “reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue de sua cruz” (Cl 1,20).

A questão principal é: como podemos sair do domínio do mal que tudo adoece, arruína e destrói, e passarmos para o domínio de Cristo, que tudo liberta, cura e restaura? Deixemos com que o próprio Jesus nos responda: “Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37). A única forma de permitirmos que Jesus reine sobre nós é nos confrontando com a Verdade. Para o mundo atual, não existe a Verdade, mas “verdades”: cada um tem a sua verdade; cada um tem a sua cabeça, a sua liberdade e a sua vontade; cada um faz o que quer. No entanto, a Verdade é uma Pessoa, a Verdade é Cristo. Seu Evangelho é a Palavra da Verdade. Somente esta Verdade nos liberta (cf. Jo 8,32).

Muitas pessoas adoecem e vivem submissas a algo ou a alguém que lhes faz mal porque não conhecem a verdade sobre si mesmas. Elas são como aquele elefante que cresceu amarrado a uma corda e não tem consciência de que ele tem força suficiente para arrebentar aquela corda e ser livre. Jesus é a Verdade que nos torna conscientes da força que nos habita. Quando usamos essa força, nos libertamos de muitas coisas que nos aprisionam e nos adoecem. O problema é que não são poucas as pessoas que preferem uma mentira que aprisiona do que a verdade que liberta. São pessoas que não querem responsabilizar-se pela própria vida, mas ter sempre alguém a quem culpar pela sua infelicidade, pelo seu fracasso.  

“Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37). Neste mundo cheio de mentiras, de máscaras, de aparências, de desinformação, de fake news, precisamos educar a nossa consciência para reconhecer a voz da Verdade em nós, voz que continuamente nos convida a sair do domínio daquilo que nos adoece e escraviza para vivermos sob o domínio daquele que é capaz de nos tornar verdadeiramente livres e capazes de autodomínio.

 

Oração: Senhor Jesus Cristo, reina sobre mim! Estende o teu domínio libertador e salvador sobre todo ser humano, especialmente sobre aquele que se encontram dominados pelo mal, pelo sofrimento, pelas injustiças e pelo pecado. Põe tua Verdade em nossos corações; liberta-nos de toda mentira, de todo autoengano. Que cada ser humano conheça a verdade a respeito de si mesmo e não se permita viver aprisionado na mentira que adoece, tira a paz e leva à autodestruição. Reina com tua Verdade e com tua Paz em nossas famílias, ambientes de trabalho, escolas e cidades. Podes reinar, Senhor Jesus! O teu poder teu povo sentirá. Que bom, Senhor, saber que estás presente aqui! Reina, Senhor, neste lugar!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi  

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