quinta-feira, 25 de julho de 2019

POR QUE EU PRECISO ORAR?


Missa do 17º. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 18,20-32; Colossenses 2,12-14; Lucas 11,1-13.

“Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a rezar’” (Lc 11,1). Dos quatro evangelistas, São Lucas é o que mais destaca o quanto a oração era essencial na vida de Jesus: no seu batismo (3,21), na escolha dos doze apóstolos (6,12), no questionamento a respeito de si mesmo (9,18), depois da profecia a respeito da sua morte de cruz (9,28), no retorno dos discípulos da missão (10,21ss.), ao ensinar o Pai nosso (11,1ss.), na sua agonia no monte das Oliveiras (22,41ss.), ao ser crucificado (23,34) e, finalmente, ao morrer (23,46). Além disso, Jesus fez questão da frisar a importância de que a nossa oração seja persistente (18,1-8) e humilde (18,9-14).
Mas, por que Jesus se colocava em oração com tanta frequência? Primeiro, por amor ao Pai. O Filho ama o Pai e relaciona-se com o Pai por meio da oração. Santa Teresa de Jesus afirmava que “orar é estar a sós muitas vezes com quem sabemos que nos ama”. A oração sempre pede que você se coloque sozinho(a) na presença de Deus. Além disso, orar é estar a sós “muitas vezes”, e não apenas “de vez em quando”, ou somente quando “dá tempo”, ou, ainda, somente “quando algo dói” em você. Por fim, orar significa você se colocar na presença d’Aquele que te ama incondicionalmente. É uma presença que você não vê e muitas vezes não sente; basta somente que você creia que Ele está presente, pois “aquele que se aproxima de Deus (por meio da oração) deve crer que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6).    
Diferente de Jesus, quando nós oramos o fazemos muito mais movidos por nossas necessidades do que por amor ao Pai. Em todo caso, aqui também se revela a importância da oração em nossa vida: o filho vive daquilo que recebe do Pai. Nós precisamos da oração tanto quanto precisamos de ar pra respirar e viver ou tanto quanto o barro necessita do Oleiro para tornar-se alguma coisa. Na verdade, existe um espaço dentro de nós que nada preenche: nem a comida, nem a bebida, nem o sexo, nem o dinheiro, nem qualquer coisa que possamos comprar ou consumir. Esse espaço é o lugar de Deus em nós. Orar é reconhecer que somente quando Deus ocupa o Seu espaço dentro de nós é que temos paz e sentimos uma alegria que nenhum acontecimento externo pode retirar de dentro de nós.
A oração de Jesus é a oração do Pai nosso. Nela não nos dirigimos a uma energia ou a um deus forte e poderoso, mas à pessoa do Pai. Assim como Jesus, nós vivemos do Pai, vivemos da Sua força, do Seu amor, da Sua graça e daquilo que Ele nos dá. Na oração, o filho busca a força do Pai para olhar a vida nos olhos: “Naquele dia em que gritei, vós me escutastes e aumentastes o vigor da minha alma” (Sl 138,3). Na oração, o filho busca a orientação do Pai para a sua vida: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração! Examina-me, e conhece minhas preocupações! Vê se não ando por um caminho de morte e conduze-me pelo caminho da Vida” (Sl 139,23-24).
Jesus nos ensina a pedir: “santificado seja o teu nome”. Nosso comportamento de verdadeiros filhos de Deus pode ajudar com que todas as pessoas que se sentem orfãs na face da terra reconheçam a Deus como Pai; possam chamá-lo de “Pai”, na certeza de que este Pai ama cada uma delas, olha por elas e quer orientá-las no caminho da vida. Além disso, pedimos: “Venha o teu Reino”. O “Reino” é o domínio do Pai sobre todos os Seus filhos, fazendo com que desapareça da face da terra toda injustiça, violência e maldade, e possam reinar a paz, a fraternidade e a alegria sobre toda a humanidade. O “Reino” não é um lugar, mas uma situação onde não haverá mais lágrimas, dor, morte ou luto.
“Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos” (Lc 11,3). Jesus nos ensina a pedir o “pão” de “cada dia” somente, e não o pão “da semana”, “do mês” ou “do ano”, porque aquele que ama quer se encontrar com o Amado a cada dia. Isto significa que a nossa oração ao Pai deve acontecer diariamente. Além disso, pedimos ao Pai o pão “de que precisamos”, e não o pão que vai satisfazer nossa ganância ou o nosso capricho. O verdadeiro pai não dá tudo o que o filho pede, mas unicamente o que ele “precisa” para crescer, amadurecer, ser bom e justo. Portanto, devemos ter maturidade espiritual suficiente para aceitar e confiar quando Deus diz “não” ou “ainda não” ao que Lhe pedimos.
Uma vez que somos pessoas que ofendem os outros e são igualmente ofendidas por alguém, Jesus nos fala da importância de pedir diariamente ao Pai o Seu perdão e de nos comprometer diante d’Ele a perdoar a quem nos ofendeu. Por fim, pedimos que o Pai “não nos deixe cair em tentação”. Ao longo da vida, sempre seremos tentados a abandonar a orientação do Pai e seguir a vida segundo a nossa cabeça, ou então, tentados a resolver as coisas do nosso modo, e não esperar pela justiça do Pai, ou ainda, tentados a desanimar e abandonar o ideal que o Pai nos chama a alcançar, que é a nossa configuração ao Seu Filho Jesus.
Ao encerrar a oração do Pai nosso Jesus tem a preocupação de frisar a importância de a nossa oração ser persistente. A leitura do Gênesis já nos falava da persistência de oração de Abraão (cf. Gn 18,27.29.30.31). Eis as palavras de Jesus, para a nossa vida de oração: “Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá” (Lc 11,9-10). Quem não persevera na oração nada receberá de Deus. Quem não procura por Deus jamais O encontrará. Quem não bate com insistência à porta do coração de Deus não entrará numa experiência profunda de encontro com Ele e com a Sua graça. Persistir ou insistir com Deus na oração tem a ver com fé. Uma fé que não suporta esperar, uma fé que não se dá ao trabalho de procurar, uma fé que não se humilha em bater até que a porta seja aberta, não é fé; é manha, capricho, birra, chantagem emocional...  
Enfim, o que pedir na oração? Qual é a “coisa” mais necessária para a nossa vida de filhos de Deus neste mundo? Segundo São Lucas, nada é mais importante para a nossa vida do que a presença do Espírito Santo junto a nós, dentro de nós. Eis, portanto, o essencial, o mais necessário a ser pedido ao Pai todos os dias: o Espírito Santo. “O Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,13). Quando o Espírito Santo está em nós, Ele se une ao nosso espírito humano para orar ao Pai e pedir por nós justamente aquilo que Deus quer nos dar (cf. Rm 8,26-27), em vista do Seu desígnio de nos salvar em Seu Filho Jesus Cristo; em vista de completar a obra que Ele começou em cada um de nós, como pede o salmista: “Completai em mim a obra começada; ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos!”. E se você quiser saber quando sua oração é “boa”, isto é, quando ela, de fato, atingiu o objetivo para a sua vida espiritual, lembre-se deste princípio inaciano: sua oração é boa quando você sai dela disposto(a) a fazer a vontade do Pai...

Pe. Paulo Cezar Mazzi  


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