quinta-feira, 5 de outubro de 2017

UNS SE PERMITEM SER CUIDADOS POR DEUS; OUTROS SE PERMITEM SER PISOTEADOS PELO MALIGNO

Missa do 27º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 5,1-7; Filipenses 4,6-9; Mateus 21,33-43.

Tanto o texto do profeta Isaías quanto o do Evangelho que acabamos de ouvir comparam o ser humano a uma vinha, ou seja, uma plantação de uva. Desde o momento da concepção, essa “plantação” foi cuidada, adubada, regada, protegida por Deus. Tudo foi pensado e preparado pelo Criador para que o ser humano fosse fecundo e desenvolvesse toda a sua capacidade de se tornar uma pessoa correta, justa, bondosa, solidária e pacífica. Mas, eis a surpresa: o ser humano – sobretudo o homem atual – decidiu romper com Deus, não admitindo depender d’Ele, não aceitando mais ser cuidado, cultivado, muito menos podado nos seus desejos egoístas e corrigido por Deus na sua Palavra. E o que Deus decidiu fazer? Ele decidiu respeitar a liberdade de cada pessoa: “Então eu os entreguei à teimosia do seu coração. Que sigam seus próprios caprichos!” (Sl 81,13).
Olhemos para essa grande vinha de Deus, que é a humanidade.  O que vemos nela? Pessoas “pisoteadas” pelo mal, vidas arruinadas pelas drogas (incluindo o cigarro e a bebida alcoólica), famílias desestruturadas, seja pela fragilidade do vínculo conjugal, seja pela exposição constante às injustiças sociais como a violência, a pobreza, as dívidas, o desemprego ou o subemprego... Além disso, algumas pessoas se tornaram vinhas pisoteadas por “animais selvagens”, seja por causa do individualismo dos cristãos dos tempos atuais, seja por causa das autoridades que desviam os recursos públicos para suas contas particulares, não “sobrando” dinheiro para investir na saúde, na educação e na segurança da vinha.
Mas existe ainda uma situação particular: pessoas que, como já foi lembrado acima, expulsaram de suas próprias vinhas o Agricultor (Deus), por não aceitarem ser cuidadas, podadas, cultivadas pela Palavra de Deus. Deus poderia curá-las, mas elas dizem: “Nós não estamos doentes!”. Deus poderia libertá-las dos seus enganos, mas elas dizem: “Nós temos nossa própria verdade!”. Deus poderia protegê-las dos animais selvagens, mas elas decidiram adotar esses animais como seus “bichos de estimação”. São pessoas que dizem acreditar em Deus, mas não admitem ser corrigidas ou orientadas pela sua Palavra. E com isso, elas se tornaram vinhas infestadas pelo mato, pelas pragas e pelas doenças (comportamentos doentios).
Como está sua vinha? Como está a vinha que você é? Existe cerca em volta dela? Você se deixa cuidar por Deus? Você faz da obediência à palavra de Deus a sua proteção contra a inversão de valores que atualmente devasta a vida de inúmeras pessoas? Você se permite ser podado por Deus nos seus desejos egoístas? Você aceita quando a palavra de Deus lhe diz ‘não’, um ‘não’ que atinge em cheio a maneira como você lida com a sua afetividade, a sua sexualidade, a forma como você lida com o dinheiro e a forma como você trata as pessoas no dia a dia? Você ainda teme e procura se proteger contra os animais selvagens, isto é, os contra-valores do mundo atual, ou você já os adotou como seus bichos de estimação? Você se incomoda ao ver tantos ramos da sua vinha enfraquecidos, com quase nenhum fruto ou com frutos doentes, estragados? Você reconhece a sua parcela de responsabilidade na devastação da sua vinha, ou simplesmente tem acusado Deus de ter abandonado a vinha que você é?
Eis a oração do salmista: “Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a! (...) Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, e sobre nós iluminai a vossa face! Se voltardes para nós, seremos salvos!” (Sl 80,8.20). A devastação de grande parte da natureza, a devastação de inúmeras famílias, a devastação da vida em sociedade, a devastação sempre mais crescente da consciência das novas gerações hoje não é fruto da indiferença de Deus para com a humanidade, mas fruto da obstinação do ser humano em não aceitar ser cuidado por Deus, a obstinação em não admitir que nenhuma igreja ou nenhuma religião lhe diga o que é certo e o que é errado, a obstinação em seguir cegamente os seus próprios caprichos. Essa obstinação tem feito estragos muito grandes na vida pessoal e social do ser humano, e o caminho é um só: conversão. Nós precisamos nos voltar para Deus e suplicar que Ele se volte para nós e nos dê a salvação. Nós precisamos suplicar que Deus não nos abandone a nós mesmos e à desorientação da nossa consciência e do nosso coração, tornados cegos pelo nosso egoísmo.    
Mesmo constatando a devastação dessa imensa vinha que é a humanidade, o aposto Paulo afirma que não podemos nos deixar contaminar pela tristeza, pelo abatimento ou pelo desânimo. Se há muitas coisas que nesse momento nos preocupam e angustiam, devemos apresentá-las a Deus em oração. Ele é o Pai de cada ser humano, mesmo daquele que não crê; Ele é o Agricultor de toda vinha, até mesmo daquela que Lhe rejeitou e O expulsou, não admitindo mais ser cuidada por Ele. Hoje nós clamamos ao Pai e Agricultor que derrame o seu Espírito sobre todo ser humano, sobre essa imensa vinha que é a humanidade, pois só o Espírito Santo pode convencer o mundo a respeito do pecado (cf. Jo 16,8), ou seja, pode convencer cada pessoa a se dar conta do caminho de autodestruição que está trilhando e desejar ter novamente sua cerca reerguida, seu mato podado, sua praga exterminada, sua doença curada e sua fecundidade restabelecida.
Por fim, nos orienta ainda o apóstolo, que procuremos pautar a nossa vida pelos valores como verdade, justiça, honra, bondade, lealdade, coerência. Desse modo, não precisaremos ouvir o que os sacerdotes do tempo de Jesus tiveram que ouvir: “o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (Mt 21,43). Entreguemos ao nosso Pai e Agricultor o jardim da nossa consciência e do nosso coração:
           Eu sou um jardim (Adriana)

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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