Missa de São Pedro e São Paulo apóstolos. Palavra de Deus: Atos dos |Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.
Em 2002 foi lançado o desenho Lilo & Stitch, cuja mensagem
principal é esta: “Ohana quer dizer
família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer”. Por
razões que desconheço, depois de 23 anos Stitch está altamente na moda, enriquecendo
o mercado de produtos para crianças. Aproveito dessa onda para refletir sobre o
sentido da nossa Igreja a partir dessa frase: “Ohana quer dizer
família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer”.
Por que Jesus quis instituir aquela que
ele chamou de “minha Igreja”? Porque ele quis formar uma família, como muito
bem entendeu o apóstolo Paulo: “Vocês já não são estrangeiros e imigrantes, mas
concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2,19). Da mesma forma
como Jesus “veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10), ele quis a
sua Igreja como uma família onde todos se sintam acolhidos e ninguém se sinta
rejeitado, abandonado ou esquecido, pois “não é da vontade de vosso Pai, que
está nos céus, que nenhum destes pequeninos se perca” (Mt 18,14), sabendo que
“pequeninos” são todos aqueles que ainda não têm uma fé profunda, nem
esclarecida.
Como muito bem entendeu o Papa
Francisco, Jesus instituiu a Igreja para ser “um hospital de campanha após a
batalha, cuidando das feridas de seus fiéis e saindo para encontrar os que
foram machucados, excluídos ou que se afastaram” (Papa Francisco, março de
2013). Vivemos em um mundo doente, um mundo que fere e adoece as pessoas
física, emocional e espiritualmente. Embora a Igreja esteja presente neste
mundo e também esteja, de alguma forma, adoecida, ela precisa se manter fiel à
sua missão de ser um médico para os que estão doentes, uma luz para os que
estão na escuridão da desorientação, uma rede que resgata do mar da vida os que
estão se afogando em situações de morte, uma casa para a qual cada filho
perdido sabe que pode voltar. Exatamente como seu Fundador, a Igreja não existe
para condenar o mundo, mas para salvá-lo. Portanto, o nosso lugar como Igreja é
junto das pessoas que mais estão necessitadas de salvação.
A festa dos apóstolos Pedro e Paulo se
apresenta como uma ocasião oportuna para recordarmos que a nossa Igreja nasceu da vontade do Pai, do sacrifício do Filho e da
ação do Espírito Santo. Isso fica muito claro quando o apóstolo Paulo se
despede dos presbíteros da cidade de Éfeso: “Estai atentos a vós mesmos e a
todo o rebanho: nele o Espírito Santo vos constituiu guardiães, para apascentar
a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si pelo sangue do seu próprio Filho”
(At 20,28). A nossa Igreja nasceu na cruz de Cristo, quando “ele morreu para
reunir todos os filhos de Deus dispersos” pela terra (cf. Jo 11,52). Portanto,
se Cristo morreu para reunir todos os filhos de Deus, nós não podemos alimentar
discursos e atitudes que causem separação, divisão ou dispersão na Igreja de
Deus.
Nossa fé, enquanto Igreja, encontra-se
altamente influenciada pelas redes sociais. É grande o número de cristãos que
se acomodaram em suas casas e decidiram não frequentar mais a sua igreja
paroquial. A fé deixou de ser comunitária para se tornar individualista. Essa
escolha revela a falta de vontade de viver com o outro, de conviver, de pertencer
a uma comunidade e de se responsabilizar por ela. Muitos ajudam financeiramente
pregadores virtuais, canais de evangelização, construções de igrejas Brasil
afora, mas não socorrem as necessidades da paróquia à qual pertencem. Além
disso, o gosto pessoal se tornou mais importante do que a escuta do Evangelho: elogia-se
o pregador virtual enquanto se critica o pregador real.
Alguns dados do Censo de 2022 provocaram
grande alegria em setores católicos, revelando a diminuição da perda de
católicos para igrejas evangélicas. Além disso, a forma como a mídia cobriu a
morte do Papa Francisco e a eleição do Papa Leão XIV passou a falsa impressão
do quanto a nossa Igreja Católica tem grande importância para o mundo. Não
podemos nos enganar quanto a isso: o destino da nossa Igreja é o destino do seu
Fundador. Quanto mais a nossa Igreja se tornar “importante” para o mundo, mais
significa que ela está se distanciando do Evangelho. Jesus deixou muito claro
que os verdadeiros profetas serão odiados e perseguidos (cf. Mt 5,11-12), e que
o mesmo mundo que o odiou, odiará os que são da sua Igreja (cf. Jo 15,18-19). Quem
deseja ser reconhecido pelo mundo ao abraçar um trabalho pastoral na Igreja não
entendeu nada a respeito do Evangelho.
Que o destino da Igreja é o mesmo do seu
Fundador está claro nos textos bíblicos de hoje: São Pedro e São Paulo estão
presos; ambos morrerão por causa do Evangelho; ambos sofreram muito, por causa
do anúncio do Evangelho; ambos nos ensinaram que ser cristão é combater o bom
combate, completar a corrida e manter vida sua fé. O primeiro combate a
combater é contra o nosso ego e os nossos pecados. O segundo combate é contra o
espírito do mal, que deseja destruir a Igreja de Cristo atacando-a a partir de
dentro, suscitando ódio do rebanho em relação aos seus próprios pastores
(CNBB). Além do bom combate, temos que completar o Caminho que começamos a
fazer, quando Cristo nos chamou. Apesar de todos os tropeços e de todas as
quedas, precisamos nos levantar todos os dias e retomar esse Caminho,
sustentados pela força do Espírito Santo. Enfim, devemos manter a nossa fé,
lembrando de que “não somos pessoas que abandonaram o Caminho para se perderem,
mas pessoas de fé, para a conservação da nossa vida” (citação livre de Hb
10,39).
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra
construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Jesus foi um construtor. Ele construiu
inúmeras pontes que religaram pessoas a Deus e pessoas entre si. Nossa Igreja é
chamada a fazer a mesma coisa. Sejamos cristãos construtores, e não cristãos
consumidores, em nossa própria Igreja. Não nos esqueçamos de que a
insignificância da nossa Igreja na vida de muitas pessoas é fruto da sua
ausência junto delas, uma ausência que começa por nós, católicos. Vale lembrar
que “a Igreja que vai impactar mundo não é a que você está indo, é a que você
está sendo!” (autor desconhecido). A ausência da nossa Igreja junto de inúmeras
pessoas do nosso tempo é a nossa ausência como Igreja junto delas. Que cada um
de nós assuma o seu lugar na Igreja como “pedra viva” (1Pd 2,5).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Nenhum comentário:
Postar um comentário