Missa da Ceia do Senhor. Palavra de Deus: Êxodo 12,1-8.11-14; 1Coríntios 11,23-26; João 13,1-15.
Ao ouvirmos nesta noite os
preparativos para a páscoa do Antigo Testamento, a pergunta que cada um de nós
precisa se fazer é: De qual situação de escravidão eu preciso que o Senhor me
liberte? De algum vício? De algum pecado? De alguma pessoa? Mais do que tudo,
do próprio espírito do mal?
O personagem central da páscoa dos
hebreus no Egito foi o cordeiro: cada família devia sacrificá-lo, passar seu
sangue na porta da casa e comer a sua carne assada ao fogo, com pães sem
fermento e ervas amargas. Aqui outra pergunta é necessária: que tipo de
espírito exterminador ameaça a minha família hoje? Doença? Drogas? Violência?
Separação? Traição? Brigas? Dívidas? Celular? Jogos de apostas?
Os pães sem fermento representam a
pressa em sair do Egito. Somos pessoas apressadas, mas no sentido de viver
correndo de um lado para outro, muitas vezes movidos pelas pressões externas e
não por convicções internas. Nós também somos rápidos em agir para defender a
nossa família ou os nossos valores espirituais? O pão sem fermento nos remete
para Jesus, homem sem maldade, sem orgulho, humilde (o fermento incha a massa).
A hóstia é pão sem fermento. Nós, que comungamos o Corpo de Cristo, somos
pessoas sem maldade e simples de coração? Enfim, as ervas amargas eram
necessárias para os hebreus não se esquecerem da vida amarga que tiveram no
Egito. Ninguém gosta de recordações amargas, mas elas são necessárias para não
voltarmos a nos tornar escravos de situações que nos fazem mal. Só remédios
amargos curam doenças graves. Estamos dispostos a tomá-los, em vista da nossa
cura e da nossa libertação?
Os textos da carta de São Paulo e do
Evangelho nos remetem para a páscoa do Novo Testamento. Nela o cordeiro não é
mais um animal que é sacrificado sem ter consciência da razão do próprio
sacrifício. Jesus é o Cordeiro de Deus que, livre e conscientemente, abraça o
sacrifício da cruz em favor da salvação da humanidade. Seu sangue será
derramado para perdoar nossos pecados e nos libertar definitivamente das mãos
do espírito do mal. Comer o Corpo e beber o Sangue do Senhor Jesus implica em
viver como Ele viveu: corpo doado e sangue derramado, isto é, não viver
unicamente em função de nós mesmos, mas fazer da nossa existência uma doação para
a salvação da humanidade. O próprio Jesus nos convida a imitá-lo: “Se eu, o
Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos
outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo
13,14-15).
A atitude de Jesus escandalizou os
próprios discípulos, pois lavar os pés das visitas durante uma refeição era um
serviço próprio de escravos. Na última Ceia, Jesus quer ser lembrado por seus
discípulos como aquele que serve. O escândalo de Pedro é o nosso escândalo,
justamente porque não pensamos como Deus, mas como os homens: não queremos
estar com os últimos, mas com os primeiros; não queremos nos sacrificar, mas
usufruir, aproveitar, desfrutar das coisas boas da vida. Só mais tarde Pedro
compreenderá a atitude de Jesus, quando estiver disposto a doar a sua vida pelo
bem das ovelhas e dos cordeiros do rebanho de Jesus, que é a Igreja (cf. Jo
21,15-17).
Na última Ceia alguém está comendo o
Corpo e bebendo o Sangue de Jesus, mas o faz com o diabo em seu coração: Judas.
O diabo é o divisor, o separador. Judas decidiu se separar de Jesus porque o queria forte e agressivo como um leão, e não fraco e manso como um
Cordeiro. Judas se encontra hoje em todo cristão que acredita na força do
dinheiro e das armas para resolver os problemas do mundo. As igrejas estão
cheias de Judas, de fiéis que não se identificam com o Cordeiro, mas com o
Leão, que exerce o domínio sobre todos e mata suas presas sem piedade.
Justamente por conhecer cada ser humano por dentro (cf. Jo 2,25), Jesus hoje
declara: “Nem todos estais limpos” (Jo 13,11). ‘Nem todos vocês querem se
configurar a mim’.
Nesta noite se inicia a nossa
Páscoa. Cada um de nós é convidado a sair do Egito, isto é, da sua situação de
escravidão, e a seguir os passos do Cordeiro de Deus, enfrentando o ódio do
mundo, expresso na Cruz, na certeza de que aquele que perseverar até o fim no
amor que nos torna “corpo doado e sangue derramado” será salvo. Se na hora da
cruz todos os discípulos abandonaram Jesus, permaneçamos com Ele como fez o
discípulo amado, mantendo no coração esta certeza: “Se com ele morremos, com
ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos” (2Tm 2,11).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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