terça-feira, 15 de abril de 2025

NÃO BASTA COMER O CORDEIRO; É PRECISO CONFIGURAR-SE A ELE!

 Missa da Ceia do Senhor. Palavra de Deus: Êxodo 12,1-8.11-14; 1Coríntios 11,23-26; João 13,1-15.

                         

            Ao ouvirmos nesta noite os preparativos para a páscoa do Antigo Testamento, a pergunta que cada um de nós precisa se fazer é: De qual situação de escravidão eu preciso que o Senhor me liberte? De algum vício? De algum pecado? De alguma pessoa? Mais do que tudo, do próprio espírito do mal?

            O personagem central da páscoa dos hebreus no Egito foi o cordeiro: cada família devia sacrificá-lo, passar seu sangue na porta da casa e comer a sua carne assada ao fogo, com pães sem fermento e ervas amargas. Aqui outra pergunta é necessária: que tipo de espírito exterminador ameaça a minha família hoje? Doença? Drogas? Violência? Separação? Traição? Brigas? Dívidas? Celular? Jogos de apostas?

            Os pães sem fermento representam a pressa em sair do Egito. Somos pessoas apressadas, mas no sentido de viver correndo de um lado para outro, muitas vezes movidos pelas pressões externas e não por convicções internas. Nós também somos rápidos em agir para defender a nossa família ou os nossos valores espirituais? O pão sem fermento nos remete para Jesus, homem sem maldade, sem orgulho, humilde (o fermento incha a massa). A hóstia é pão sem fermento. Nós, que comungamos o Corpo de Cristo, somos pessoas sem maldade e simples de coração? Enfim, as ervas amargas eram necessárias para os hebreus não se esquecerem da vida amarga que tiveram no Egito. Ninguém gosta de recordações amargas, mas elas são necessárias para não voltarmos a nos tornar escravos de situações que nos fazem mal. Só remédios amargos curam doenças graves. Estamos dispostos a tomá-los, em vista da nossa cura e da nossa libertação?

            Os textos da carta de São Paulo e do Evangelho nos remetem para a páscoa do Novo Testamento. Nela o cordeiro não é mais um animal que é sacrificado sem ter consciência da razão do próprio sacrifício. Jesus é o Cordeiro de Deus que, livre e conscientemente, abraça o sacrifício da cruz em favor da salvação da humanidade. Seu sangue será derramado para perdoar nossos pecados e nos libertar definitivamente das mãos do espírito do mal. Comer o Corpo e beber o Sangue do Senhor Jesus implica em viver como Ele viveu: corpo doado e sangue derramado, isto é, não viver unicamente em função de nós mesmos, mas fazer da nossa existência uma doação para a salvação da humanidade. O próprio Jesus nos convida a imitá-lo: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,14-15).

            A atitude de Jesus escandalizou os próprios discípulos, pois lavar os pés das visitas durante uma refeição era um serviço próprio de escravos. Na última Ceia, Jesus quer ser lembrado por seus discípulos como aquele que serve. O escândalo de Pedro é o nosso escândalo, justamente porque não pensamos como Deus, mas como os homens: não queremos estar com os últimos, mas com os primeiros; não queremos nos sacrificar, mas usufruir, aproveitar, desfrutar das coisas boas da vida. Só mais tarde Pedro compreenderá a atitude de Jesus, quando estiver disposto a doar a sua vida pelo bem das ovelhas e dos cordeiros do rebanho de Jesus, que é a Igreja (cf. Jo 21,15-17).

            Na última Ceia alguém está comendo o Corpo e bebendo o Sangue de Jesus, mas o faz com o diabo em seu coração: Judas. O diabo é o divisor, o separador. Judas decidiu se separar de Jesus porque o queria forte e agressivo como um leão, e não fraco e manso como um Cordeiro. Judas se encontra hoje em todo cristão que acredita na força do dinheiro e das armas para resolver os problemas do mundo. As igrejas estão cheias de Judas, de fiéis que não se identificam com o Cordeiro, mas com o Leão, que exerce o domínio sobre todos e mata suas presas sem piedade. Justamente por conhecer cada ser humano por dentro (cf. Jo 2,25), Jesus hoje declara: “Nem todos estais limpos” (Jo 13,11). ‘Nem todos vocês querem se configurar a mim’.

            Nesta noite se inicia a nossa Páscoa. Cada um de nós é convidado a sair do Egito, isto é, da sua situação de escravidão, e a seguir os passos do Cordeiro de Deus, enfrentando o ódio do mundo, expresso na Cruz, na certeza de que aquele que perseverar até o fim no amor que nos torna “corpo doado e sangue derramado” será salvo. Se na hora da cruz todos os discípulos abandonaram Jesus, permaneçamos com Ele como fez o discípulo amado, mantendo no coração esta certeza: “Se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos” (2Tm 2,11).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi 

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