sexta-feira, 18 de abril de 2025

A DESCRENÇA DOS DISCÍPULOS NA RESSURREIÇÃO DE JESUS É IMPORTANTE PARA A NOSSA FÉ

 Vigília Pascal. Palavra de Deus: Gênesis 1,26-31; Êxodo 14,15 – 15,1; Isaías 54,5-14; Romanos 6,3-11; Lucas 24,1-12.

              

Onde está o Deus do êxodo, o Deus que libertou Israel dos egípcios? Acabamos de ouvir: “O Senhor livrou Israel da mão dos egípcios, e Israel viu os egípcios mortos nas praias do mar, e a mão poderosa do Senhor agir contra eles” (Ex 14,30-31). Onde está a poderosa mão do Senhor? Não somos somente nós que nos perguntamos por que nem sempre vemos Deus agir na história humana como agiu antigamente. Há muitos séculos antes de Cristo vir ao mundo, o salmista já perguntava: “Será que Deus vai rejeitar-nos para sempre? E nunca mais nos há de dar o seu favor? Por acaso, seu amor foi esgotado? Será que Deus se esqueceu de ter piedade? Eu confesso que é esta a minha dor: ‘A mão de Deus não é a mesma: está mudada!’” (Sl 76,8-11).

Esta é também a nossa dor: a mão de Deus parece não agir mais! No entanto, o profeta Isaías afirma: “Não, a mão do Senhor não é muito curta para salvar, nem seu ouvido tão duro que não possa ouvir. Antes, foram as vossas maldades que criaram um abismo entre vós e vosso Deus. Por causa dos vossos pecados ele escondeu de vós o seu rosto, para não vos ouvir” (Is 59,1-2). A Campanha da Fraternidade nos lembrou de que “Deus viu tudo quanto havia feito, e eis que tudo era muito bom” (Gn 1,31). As secas severas e as chuvas excessivas e destrutivas não são produzidas pela mão de Deus, como se Ele tivesse resolvido destruir o que criou, mas consequências do aquecimento global, “fabricado” pela mão humana. A nós foi confiado o cuidado com a criação, mas a ganância pelo dinheiro nos faz olhar para a natureza como fonte inesgotável de lucro. 

Se nós, às vezes, perguntamos como o salmista: “Por acaso, seu amor foi esgotado?”, eis a resposta do nosso Deus: “Podem os montes recuar e as colinas abalar-se, mas minha misericórdia não se apartará de ti, nada fará mudar a aliança de minha paz, diz o teu misericordioso Senhor” (Is 54,10). Nossa época passa por mudanças intensas e rápidas, as quais nos deixam inseguros e desorientados. No entanto, uma única certeza deve nos manter firmes em nossa fé: o amor de Deus por nós não mudará! Mesmo que tenhamos que vivenciar as angústias do tempo presente, fazemos nossas as palavras do salmista: “Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes! Vós tirastes minha alma dos abismos e me salvastes, quando estava já morrendo! Vossa bondade permanece a vida inteira; se à tarde vem o pranto visitar-nos, de manhã vem saudar-nos a alegria” (citação livre do Sl 30,2.4.6).

Esta imagem do pranto que se converte em alegria aparece no Evangelho desta noite. Enquanto os discípulos estão mergulhados na tristeza pela sua morte de cruz, “as mulheres foram ao túmulo de Jesus, levando os perfumes que haviam preparado” (Lc 24,2). Esses perfumes são um contraste com o mau cheiro da morte. Se há muita coisa cheirando mau nas pessoas, como egoísmo, individualismo, maldade, intolerância, agressividade, infidelidade, precisamos espalhar o perfume da bondade, da paciência, da tolerância, do respeito, da honestidade, da fé, da esperança da caridade, do serviço voluntário, do cuidado com o meio ambiente etc.

São Lucas nos apresenta os primeiros sinais da ressurreição de Jesus: 1) A grande pedra que fechava o túmulo foi removida, o que indica que o Pai ressuscitou o Filho através do Espírito Santo. 2) Enquanto as mulheres ficam chocadas ao entrarem no túmulo e vê-lo vazio, aparecem dois homens, vestidos com roupas brilhantes. São dois porque são necessárias duas testemunhas para comprovar que um fato é verdadeiro (cf. Dt 19,15). Além disso, suas roupas brilhantes nos recordam o momento da transfiguração de Jesus (cf. Lc 9,29), o qual foi uma “antecipação” da sua ressurreição.

Eis, então, o grande anúncio desta noite de Páscoa: “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24,5-6). Jesus é descrito como “aquele que está vivo”, está no tempo presente, no hoje da nossa história. Por que Ele não está entre os mortos? Porque o próprio Jesus disse que o nosso Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, pois, para Ele, todos vivem! (cf. Lc 20,38). Onde você procura por seu filho, sua mãe, seu irmão, que faleceu? No túmulo? “Ele não está aqui!”. A pessoa que faleceu não está no túmulo (nosso passado), mas na ressurreição (nosso futuro)! A morte de Jesus esvaziou todos os túmulos, de modo que cada um de nós pode proclamar com o salmista: “Não morrerei, mas ao contrário, viverei para cantar as grandes obras do Senhor!” (Sl 118,17).

A narrativa do anúncio da ressurreição de Jesus termina com a descrença dos apóstolos! Ao ouvirem as mulheres, eles consideram que elas tiveram um delírio. O não acreditar dos apóstolos é importante para a nossa fé! A ressurreição de Jesus não foi inventada pelos apóstolos. Pelo contrário, eles resistiram muito em crer nela! Só o próprio Ressuscitado poderá abrir os olhos deles para essa verdade, como veremos nos próximos domingos do tempo pascal.  

Enfim, o apóstolo Paulo nos recorda, nesta noite pascal, que cada um de nós está associado tanto à morte quanto à ressurreição de Jesus, através do batismo: “Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova. Pois, se fomos de certo modo identificados a Jesus Cristo por uma morte semelhante à sua, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição” (Rm 6,4-5). A nossa vida de pessoas destinadas à ressurreição exige de nós a atitude diária de decidir morrer para o pecado e escolher viver para Deus: “considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo” (Rm 6,11). Com essa consciência, entremos agora na liturgia batismal. 

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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