Vigília Pascal. Palavra de Deus: Gênesis 1,26-31; Êxodo 14,15 – 15,1; Isaías 54,5-14; Romanos 6,3-11; Lucas 24,1-12.
Onde está o Deus do êxodo, o Deus que
libertou Israel dos egípcios? Acabamos de ouvir: “O Senhor livrou Israel da mão
dos egípcios, e Israel viu os egípcios mortos nas praias do mar, e a mão
poderosa do Senhor agir contra eles” (Ex 14,30-31). Onde está a poderosa mão do
Senhor? Não somos somente nós que nos perguntamos por que nem sempre vemos Deus
agir na história humana como agiu antigamente. Há muitos séculos antes de
Cristo vir ao mundo, o salmista já perguntava: “Será que Deus vai rejeitar-nos
para sempre? E nunca mais nos há de dar o seu favor? Por acaso, seu amor
foi esgotado? Será que Deus se esqueceu de ter piedade? Eu confesso que é esta
a minha dor: ‘A mão de Deus não é a mesma: está mudada!’” (Sl 76,8-11).
Esta é também a nossa dor: a mão de Deus
parece não agir mais! No entanto, o profeta Isaías afirma: “Não, a mão do
Senhor não é muito curta para salvar, nem seu ouvido tão duro que não possa
ouvir. Antes, foram as vossas maldades que criaram um abismo entre vós e vosso
Deus. Por causa dos vossos pecados ele escondeu de vós o seu rosto, para não
vos ouvir” (Is 59,1-2). A Campanha da Fraternidade nos lembrou de que “Deus viu
tudo quanto havia feito, e eis que tudo era muito bom” (Gn 1,31). As secas
severas e as chuvas excessivas e destrutivas não são produzidas pela mão de
Deus, como se Ele tivesse resolvido destruir o que criou, mas consequências do
aquecimento global, “fabricado” pela mão humana. A nós foi confiado o cuidado
com a criação, mas a ganância pelo dinheiro nos faz olhar para a natureza como
fonte inesgotável de lucro.
Se nós, às vezes, perguntamos como o
salmista: “Por acaso, seu amor foi esgotado?”, eis a resposta do nosso Deus:
“Podem os montes recuar e as colinas abalar-se, mas minha misericórdia não se
apartará de ti, nada fará mudar a aliança de minha paz, diz o teu
misericordioso Senhor” (Is 54,10). Nossa época passa por mudanças intensas e
rápidas, as quais nos deixam inseguros e desorientados. No entanto, uma única
certeza deve nos manter firmes em nossa fé: o amor de Deus por nós não mudará!
Mesmo que tenhamos que vivenciar as angústias do tempo presente, fazemos nossas
as palavras do salmista: “Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes! Vós
tirastes minha alma dos abismos e me salvastes, quando estava já
morrendo! Vossa bondade permanece a vida inteira; se à tarde vem o pranto
visitar-nos, de manhã vem saudar-nos a alegria” (citação livre do Sl 30,2.4.6).
Esta imagem do pranto que se converte em
alegria aparece no Evangelho desta noite. Enquanto os discípulos estão
mergulhados na tristeza pela sua morte de cruz, “as mulheres foram ao túmulo de
Jesus, levando os perfumes que haviam preparado” (Lc 24,2). Esses perfumes são
um contraste com o mau cheiro da morte. Se há muita coisa cheirando mau nas
pessoas, como egoísmo, individualismo, maldade, intolerância, agressividade,
infidelidade, precisamos espalhar o perfume da bondade, da paciência, da
tolerância, do respeito, da honestidade, da fé, da esperança da caridade, do serviço
voluntário, do cuidado com o meio ambiente etc.
São Lucas nos apresenta os primeiros
sinais da ressurreição de Jesus: 1) A grande pedra que fechava o túmulo foi
removida, o que indica que o Pai ressuscitou o Filho através do Espírito Santo.
2) Enquanto as mulheres ficam chocadas ao entrarem no túmulo e vê-lo vazio,
aparecem dois homens, vestidos com roupas brilhantes. São dois porque são
necessárias duas testemunhas para comprovar que um fato é verdadeiro (cf. Dt 19,15).
Além disso, suas roupas brilhantes nos recordam o momento da transfiguração de
Jesus (cf. Lc 9,29), o qual foi uma “antecipação” da sua ressurreição.
Eis, então, o grande anúncio desta noite
de Páscoa: “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele
não está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24,5-6). Jesus é descrito como “aquele que
está vivo”, está no tempo presente, no hoje da nossa história. Por que Ele não
está entre os mortos? Porque o próprio Jesus disse que o nosso Deus não é Deus
de mortos, mas de vivos, pois, para Ele, todos vivem! (cf. Lc 20,38). Onde você
procura por seu filho, sua mãe, seu irmão, que faleceu? No túmulo? “Ele não
está aqui!”. A pessoa que faleceu não está no túmulo (nosso passado), mas na
ressurreição (nosso futuro)! A morte de Jesus esvaziou todos os túmulos, de
modo que cada um de nós pode proclamar com o salmista: “Não morrerei, mas ao
contrário, viverei para cantar as grandes obras do Senhor!” (Sl 118,17).
A narrativa do anúncio da ressurreição
de Jesus termina com a descrença dos apóstolos! Ao ouvirem as mulheres, eles
consideram que elas tiveram um delírio. O não acreditar dos apóstolos é
importante para a nossa fé! A ressurreição de Jesus não foi inventada pelos
apóstolos. Pelo contrário, eles resistiram muito em crer nela! Só o próprio
Ressuscitado poderá abrir os olhos deles para essa verdade, como veremos nos
próximos domingos do tempo pascal.
Enfim, o apóstolo Paulo nos recorda, nesta
noite pascal, que cada um de nós está associado tanto à morte quanto à
ressurreição de Jesus, através do batismo: “Pelo batismo na sua morte, fomos
sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do
Pai, assim também nós levemos uma vida nova. Pois, se fomos de certo modo
identificados a Jesus Cristo por uma morte semelhante à sua, seremos
semelhantes a ele também pela ressurreição” (Rm 6,4-5). A nossa vida de pessoas
destinadas à ressurreição exige de nós a atitude diária de decidir morrer para
o pecado e escolher viver para Deus: “considerai-vos mortos para o pecado e
vivos para Deus, em Jesus Cristo” (Rm 6,11). Com essa consciência, entremos
agora na liturgia batismal.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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