Missa do 18º dom. comum. Palavra de Deus: Eclesiastes 1,2.2,21-23; Colossenses 3,1-5.9-11; Lucas 12,13-21.
Inúmeras famílias estão sendo
arruinadas por causa das “Bets” (apostas) eletrônicas. Há diversos casos de
suicídio, porque a pessoa viciou no jogo e foi se afundando cada vez mais em
dívidas; há casais que se divorciaram, porque o marido viciou no Jogo do Tigrinho
e se endividou; há também casos trágicos, como o de uma professora de Belo
Horizonte (MG) que recentemente foi morta pelo próprio filho, o qual estava
endividado. Enquanto famílias estão sendo destruídas pelo vício em jogos de
aposta on line, os donos das casas de
aposta estão ficando cada vez mais milionários, pois os jogos de azar são
programados para que a casa de aposta sempre ganhe. Há diversos vídeos no You Tube
nos conscientizando a respeito disso. Deixo aqui apenas dois exemplos: https://www.youtube.com/live/T5Tsy_Ln4n4
(A Banca sempre ganha) e https://www.youtube.com/watch?v=kNUUwEXLVCM
(A BET nunca perde).
Num país de profunda desigualdade social como
o nosso, onde os salários de políticos e juízes são astronômicos, enquanto a
grande maioria dos trabalhadores brasileiros tem que sobreviver com salários em
torno de R$ 2 mil reais ou de R$ 3 mil reais, é mais do que compreensível que a
promessa enganadora de ganhar dinheiro com apostas on line seduza fortemente as pessoas. Além disso, a propaganda de
consumo leva as pessoas a perderem a noção entre o essencial e o supérfluo, de
modo que muitas dívidas são contraídas não porque a pessoa busca suprir suas
necessidades básicas, mas porque se sente um “nada”, uma fracassada, quando se
compara com outras pessoas que, nas suas redes sociais, ostentam o seu poder de
consumo.
Diante da grande ilusão de que o
dinheiro é a solução de todos os nossos problemas, Jesus nos faz esse alerta: “Atenção!
Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha
muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc
12,15). Jesus é muito claro: “todo tipo de ganância”. A ganância não está
presente só no coração dos ricos, mas também no coração dos pobres. Ela sempre
foi e sempre será uma tentação na vida de qualquer pessoa. É ela quem corrompe governantes,
políticos, juízes, advogados, policiais, empresários, médicos, etc. É ela que
implanta em nós um vírus perigoso, chamado cobiça. Segundo o apóstolo Paulo, a
cobiça “é idolatria” (Cl 3,5), ou seja, ela nos faz dar prioridade aos bens
materiais em detrimento dos bens espirituais; ela tira Deus do centro da nossa
fé e coloca o dinheiro no lugar d’Ele. A consequência disso é a perda de
sentido de vida. Já está comprovado que o índice de suicídio é muito mais alto
nos países ricos do que nos países pobres. Quando Deus deixa de ser o centro do
coração humano, o vazio existencial se torna tão grande que dinheiro algum
consegue preenchê-lo.
Na parábola que Jesus nos conta fica
muito claro que a ganância e a cobiça fecham a pessoa em si mesma e a tornam
indiferente às necessidades dos outros seres humanos. O homem da parábola não
enxerga ninguém, além de si mesmo: “Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!” (Lc
12,18-19). Portanto, o que condena uma pessoa perante Deus não é a quantidade
de dinheiro que ela possui, mas o seu fechamento em si mesma e a sua
indiferença para com os outros que têm menos do que ela, principalmente quando
a sua riqueza é consequência dos baixos (e injustos) salários que ela paga aos
seus funcionários.
Para aqueles que investem o melhor
de suas energias na busca de se tornarem ricos e, ilusoriamente, garantirem um
futuro tranquilo para si e para os seus, Jesus tem algo simples e direto a
dizer: “Vocês são loucos!” (cf. Lc 12,20). ‘Vocês abriram mão da liberdade interior
para se tornarem escravos do consumismo. Vocês se sentem seguros acumulando
dinheiro e não se dão conta de que a vida de vocês terminará muito antes do que
imaginam, e vocês mesmos não desfrutarão do que acumularam. Vocês não se dão
conta de que vazio não se preenche com vazio. Ostentar riqueza é vaidade, e
vaidade significa vazio. Investir o dinheiro de vocês apenas em função dos seus
prazeres mundanos, sem se preocuparem com a desigualdade social, os impedirá de
entrarem no Reino de meu Pai, pois o destino de quem deu prioridade em buscar as coisas da terra ao invés das
coisas do alto é ser enterrado, e não
ser levado ao céu (cf. Lc 16,22)’.
Hoje, portanto, cada um de nós
precisa se perguntar: como eu lido com a minha vida financeira? O quanto de liberdade
interior ainda me resta, diante dos apelos da propaganda de consumo? Quanto
tempo eu perco e quanto mal eu faço a mim mesmo(a) vendo postagens nas redes
sociais de pessoas vazias ostentando o próprio vazio? Quanto do meu ganho
mensal eu “invisto” em ajudar alguma entidade beneficente ou uma pessoa/família
necessitada? Eu também estou entre aqueles que se encontram adoecidos pelo
vício dos jogos de aposta on line? Eu
aprovo que meu time de futebol seja patrocinado por alguma BET, cuja ganância
está destruindo inúmeras famílias no Brasil?
Que o Senhor, nosso Deus, tenha
misericórdia de nós e nos arranque das mãos de todo e qualquer tipo de
ganância. A Ele pedimos, junto com o salmista: “Ensinai-nos a contar os nossos
dias, e dai ao nosso coração sabedoria! Que a bondade do Senhor e nosso Deus
repouse sobre nós e nos conduza! Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho” (Sl
90,12.17).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi