Missa do 3º dom. Advento. Palavra de
Deus: Isaías 35,1-6a.10; Tiago 5,7-10; Mateus 11,2-11.
O Evangelho nos fala de João Batista
preso, por ter confrontado Herodes com o seu pecado de adultério. Na prisão,
João faz uma pergunta sobre Jesus que revela a sua decepção: “És tu, aquele que
há de vir, ou devemos esperar um outro?” (Mt 11,3). “És tu, aquele que há de
vir, ou devemos esperar um outro?” (Mt 11,3). Eu estou na igreja/religião
certa, ou devo procurar outra? Sempre que Deus não responde imediatamente à
nossa oração, nós nos decepcionamos com Ele.
João esperava que Jesus fosse radical como ele, mas, em lugar de colocar
o machado na raiz da árvore, Jesus colocou o adubo da misericórdia, na
esperança de que cada pessoa se converta e seja salva.
Jesus reponde à pergunta de João: “Os
cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os
surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5),
cumprindo a profecia de Isaías que ouvimos na primeira leitura (cf. Is
35,5-6a). E Jesus acrescenta algo na resposta para falar a todo aquele que, ao
longos dos tempos, aderir a ele pela fé: “Feliz aquele que não se escandaliza
por causa de mim!” (Mt 11,6). No sentido bíblico, “escândalo” significa aquilo
que leva uma pessoa a perder a fé. E João Batista estava perdendo a fé em Jesus
não por estar preso, mas por Jesus não corresponder às suas expectativas.
“Feliz aquele que não se escandaliza
por causa de mim!” (Mt 11,6). Ao longo da vida, nós nos escandalizamos com
Deus, por Ele não fazer por nós o que esperávamos que fizesse; pelo fato de que
os Seus caminhos não são os nossos (cf. Is 55,8); pelo fato de, exatamente
como Jesus, nós termos a nítida sensação de que Ele nos abandonou no momento em
que mais precisávamos (cf. Mt 27,46). Um fé que não sobrevive às inúmeras
decepções com Deus – não por Ele ser indiferente a nós, mas porque nossas
expectativas não têm o poder de colocá-Lo a nosso serviço –, conhecerá o seu
fim rapidamente.
Justamente porque a nossa fé precisa
suportar o mistério de Deus, Isaías nos faz esse convite: “Fortalecei as mãos
enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados” (Is 35,3). O apóstolo Tiago, por
sua vez, nos aconselha: “Ficai firmes até à vinda do Senhor. Vede o agricultor:
ele espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono ou
da primavera” (Tg 5,7). A chuva que esperávamos tanto veio agora, e compensou o
trabalho e a espera de cada agricultor. Como toda espera é sofrida, São Tiago
nos ensina: “Tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas” (Tg 5,10).
Sofrimento e firmeza precisam caminhar juntos. Se o sofrimento aumenta, a
firmeza deve aumentar também.
Aqui entra o modelo de firmeza que
Jesus nos propõe: João Batista. Mesmo tendo decepções em seu coração, ele não
era “um caniço agitado pelo vento” – uma pessoa volúvel, que não tem raiz e
que, por isso mesmo, vive como folha seca empurrada pelo vento da constante
desorientação do nosso mundo. João também não era “um homem vestido com roupas
finas, morando num palácio” – uma pessoa vaidosa e, por isso mesmo, vazia,
fútil, escrava do consumismo, que sonha com palácios e rejeita a simplicidade
de uma modesta casa. Em outras palavras, João Batista nos ensina a cultivar a
nossa essência, numa sociedade escrava da aparência; a sermos livres, numa
época em que a tecnologia nos torna escravos das suas constantes novidades.
Se nós quisermos sair da prisão da nossa
decepção para com Deus, devemos recordar um importante ensinamento que orientou
o ministério do Papa Francisco: “A realidade é maior que a ideia”. O mistério
de Deus se revela muito mais na vida real do que nos livros de teologia. Cada
decepção que temos com Deus é um convite a nos abrirmos à realidade à nossa
volta e entendermos melhor o que Deus está nos mostrando e nos dizendo,
devolvendo sentido à nossa fé, à nossa esperança e, principalmente, à nossa
vida.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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