Missa do 33º dom. comum. Palavra de Deus: Malaquias 3,19-20a; 2Tessalonicensses 3,7-12; Lucas 21,5-19.
Estamos caminhando para o final do ano
litúrgico, o qual será encerrado no próximo domingo, com a festa de Cristo, Rei
do Universo. Por isso, as leituras de hoje, sobretudo o Evangelho, são leituras
“escatológicas”. Escaton é uma palavra
grega que significa “o fim”. Trata-se do evento final do plano divino para a
criação e toda a humanidade.
No Antigo Testamento, os profetas
anunciavam o “Dia do Senhor”, um dia de ira, onde Deus viria para fazer justiça
aos justos e destruir os injustos. Uma vez que Jesus afirmou que “o Pai a
ninguém julga, mas confiou ao Filho todo julgamento” (Jo 5,22), o Novo
Testamento passou a anunciar o “Dia do Senhor” como “Dia do Senhor Jesus”, dia
da Parusia, da segunda vinda de Cristo, o qual virá como Juiz (julgar significa
separar). Ele separará a humanidade, recolhendo os justos como trigo no celeiro
de Deus e esmagando os injustos como uvas, “no grande lagar do furor da ira de
Deus” (cf. Ap 14,14-20). A cor da uva – vermelho – significa que todos aqueles
que derramam sangue sobre a terra (violência, destruição, morte), terão o seu
sangue derramado, isto é, serão condenados.
O profeta Malaquias nos fala do “Dia do
Senhor” como um fogo que destruirá as pessoas injustas e más como palha. Ao
mesmo tempo, esse fogo do julgamento de Deus se tornará “sol da justiça” para
os que perseveraram no bem. Já o salmista nos convidou a confiar que “O Senhor virá
julgar a terra inteira; com justiça julgará”. A impunidade e a injustiça que
pairam sobre a Terra não têm a última palavra.
No Evangelho, Jesus dialoga com pessoas
que estavam maravilhadas com a beleza e suntuosidade do Templo de Jerusalém.
Hoje também as pessoas se maravilham com muitas coisas: Inteligência
Artificial, celulares e computadores de última geração, carros elétricos, robôs
inteligentes etc. Mas, para quem quer que esteja encantado com a evolução da
ciência e da tecnologia, Jesus questiona e alerta: “Vocês admiram estas coisas?
Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,6).
Quantas vezes a vida já nos colocou
diante da realidade da destruição? Morte de crianças e de jovens por doença ou
acidente; acidentes fatais; catástrofes ambientais; o “pequeno apocalipse” de
Rio Bonito (Paraná), provocado por um tornado que destruiu 90% da cidade, e,
contudo, matou “apenas” sete pessoas; o câncer, que continua a espalhar a sua
destruição sobre cada vez mais pessoas, independente da idade e da condição
social, etc.
Ao nos tornar conscientes da futura
destruição de tudo aquilo que hoje temos como segurança e amparo na vida
presente, Jesus nos convida a não nos iludir: a Terra não é o Céu. Tudo o que vivemos
aqui é transitório, e nada ficará para sempre; nada, nem mesmo nós. Retornando
à imagem do Apocalipse, todos seremos ceifados desta Terra, e a questão é saber
se a ceifa nos encontrará como trigo (pessoas que não desistiram de caminhar na
justiça e na santidade) ou como uva (pessoas que se cansaram de perseverar no
bem e decidiram aproveitar deste mundo enquanto ele, que já está em processo de
destruição, serve aos nossos interesses egoístas).
Muitas coisas ruins já estão acontecendo,
e muitas outras coisas ainda virão. Quanto mais se aproxima a volta de Jesus,
mais o maligno grita de desespero, sabendo da sua destruição definitiva. Em
meio a tudo isso, Jesus nos faz um apelo: “Esta será a ocasião em que testemunharão
a sua fé” (Lc 21,13). Uma casa só testemunha o seu alicerce diante de uma forte
tempestade. Da mesma forma, a nossa fé é chamada a se erguer como absoluta confiança
no Pai que nos chamou à salvação em seu Filho Jesus Cristo, o qual nos advertiu:
“O céu e a terra passarão; minhas palavras, porém, não passarão” (Lc 21,33).
Eis o convite de Jesus para nós: “É
permanecendo firmes que vocês irão ganhar a vida!” (Lc 21,19). Toda e qualquer
destruição que já tenha nos visitado em nossa vida pessoal, ou que esteja
visitando a história da humanidade, não deve nos encher de pessimismo e falta
de sentido, mas despertar a firmeza da nossa fé e da nossa esperança, uma firmeza
que se traduz em não desistirmos de viver cada um dos nossos dias na santidade
e na justiça, esperando o momento da nossa colheita, não desistindo de fazer o
bem de que somos capazes e esperando firmemente no “sol da justiça”, que nos
garantiu: “Eis que venho muito em breve e retribuirei a cada um segundo as suas
obras (atitudes)” (Ap 22,12).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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