Missa de todos os Santos. Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12a
A palavra “santo” significa “separado”.
Jesus afirmou aos seus discípulos: “Minha escolha separou vocês do mundo” (Jo
15,19). O cristão é alguém “separado” do mundo, no sentido de estar no mundo,
mas não aceitar ser corrompido por ele: “Não se conformem com o mundo, mas
transformem-se, renovando a mente de vocês a fim de poderem discernir qual é a
vontade de Deus” (Rm 12,2). Jesus foi chamado por Pedro de “o Santo de Deus”
(Jo 6,69) exatamente porque buscou diariamente fazer a vontade do Pai: “Meu alimento
é fazer a vontade daquele que me enviou” (Jo 4,34).
Jesus é o nosso modelo de santidade.
Como ele, somos chamados a ser pessoas pobres em espírito (que se apoiam unicamente
em Deus); pessoas que se afligem com o sofrimento alheio; pessoas que mantém a
mansidão diante dos conflitos; que desejam a justiça e lutam por ela; que são misericordiosas
(compadecem-se com a miséria do outro); puras de coração; pessoas que não só
desejam a paz, mas buscam promovê-la no ambiente em que se encontram; pessoas
que suportam perseguições e sofrimentos por causa da justiça e por causa do
próprio Jesus (cf. Mt 5,3-11).
Tudo isso nos faz entender que o nosso
processo de santificação se dá na terra, não no céu. É na terra que os santos
são “marcados na fronte” (Ap 7,3), procurando fortalecer orientar a cada dia a sua
consciência de pertencimento a Deus. Segundo o livro do Apocalipse, os santos
que estão nos céus são pessoas que “vieram da grande tribulação” (Ap 7,14), e
se no céu trajam “vestes brancas” (Ap 7,9), símbolo da ressurreição e da
santidade, é porque na terra “lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do
Cordeiro” (Ap 7,14), envolvendo-se na mesma luta que Jesus se envolveu, contra
o pecado, a injustiça e a dor que tanto ferem a humanidade.
Na sua exortação apostólica sobre a
santidade, o Papa Francisco afirmou que “todos somos chamados a ser santos,
vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia,
onde cada um se encontra” (GE, n.14). É na rotina de cada dia, nas ocupações
diárias, que cada um de nós é chamado a santificar-se. Quando você defende uma
pessoa que está sendo injustiçada e sofre perseguição por causa disso, está
sendo uma pessoa santa. Quando não aceita suborno, quando prefere levar uma
vida mais simples, ganhando dinheiro de maneira honesta, ao invés de se
enriquecer corrompendo-se, você está sendo uma pessoa santa. Quando, a exemplo
de Jesus, você decide amar até o fim e não somente até que a beleza acabe, até que
a doença chegue, até que a situação financeira se complique, você está sendo
uma pessoa santa.
Um desafio para a nossa vida de
santidade é integrar o nosso corpo, a nossa sexualidade, na vivência da nossa
fé. Toda espiritualidade que despreza o corpo e demoniza a sexualidade é
doentia e está na contramão do mistério da Encarnação. Jesus teve um corpo como
o nosso e sentiu tudo o que nós sentimos: “ele mesmo foi provado em tudo como
nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15). É a partir do nosso corpo e na vivência
da nossa sexualidade que nós nos santificamos. Uma santidade “desencarnada” é
estranha à Sagrada Escritura e, sobretudo, estranha ao próprio Jesus, modelo
para a nossa santidade.
Enfim, o apóstolo João nos ensina que ser
uma pessoa santa significa ter paciência conosco mesmos, com os nossos limites
e as nossas imperfeições, pois a nossa santificação é um processo: “Caríssimos,
desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos!
Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o
veremos tal como ele é” (1Jo 3,2). O que nós somos como pessoa não é algo
definitivo; estamos em abertura, em processo, em transformação: a santificação
tem por objetivo nos tornar semelhantes a Jesus, até que sejamos puros como ele
é puro, até que sejamos como ele é: um verdadeiro sacramento do Deus Santo,
Santo, Santo (cf. Is 6,3).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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