Missa do 29º dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 17,8-13; 2Timóteo 3,14 – 4,2; Lucas 18,1-8.
“Rezar sempre, e nunca desistir” (Lc
18,1). Muitos desistiram de rezar. Muitas mãos não se levantam mais e muitos
joelhos não se dobram mais para a oração, apesar do apelo da carta aos Hebreus:
“Reerguei as mãos cansadas e fortalecei os joelhos vacilantes” (Hb 12,12). A
desistência em rezar tem como causa principal a aparente indiferença de Deus
para com as nossas orações. Ele nos ouve? Se nos ouve, por que não nos atende? Se
Jesus afirmou, em Lucas 11,11-12, que o Pai nunca nos daria algo inútil (uma pedra
em lugar de um pão) ou mau (uma serpente em lugar de um ovo), por que Ele deixou
morrer aquele(a) pelo(a) qual suplicamos cura? A única resposta possível para
essas perguntas é nos recordar dessa verdade: “Meus pensamentos não são os
pensamentos de vocês, nem os meus caminhos são os caminhos de vocês, diz o
Senhor” (Is 55,8).
Quando rezamos, nossos olhos se fixam no
que está acontecendo agora, mas Deus enxerga o que ainda virá. Além disso, a
grande maioria dos nossos pedidos se concentra na vida aqui e agora, nesta vida
terrena, mas o propósito de Deus para nós é a verdadeira vida, a Vida Eterna.
Toda vez que Ele diz “não” ao nosso pedido, ou “ainda não”, devemos confiar que
Ele sabe perfeitamente o que está fazendo. “Rezar sempre, e nunca desistir” (Lc
18,1) vai na direção contrária do imediatismo do nosso tempo. Nós não sabemos
mais esperar. No entanto, “os olhos do Senhor estão voltados sobre aqueles que
esperam em seu amor” (Sl 33,18); “O Senhor ama aqueles que o respeitam, aqueles
que esperam em seu amor” (Sl 147,11).
O que fazer enquanto esperamos pela
intervenção de Deus? Rezar, e rezar com insistência, como a viúva do Evangelho
fez, ao suplicar ao juiz que lhe fizesse justiça: “Esta viúva já me está
aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!” (Lc
18,5). Rezar com insistência é “aborrecer” Deus, é “cansá-Lo”, até que Ele atenda
ao nosso pedido. Jesus nos manda ouvir aquele juiz da parábola: “Escutem o que
diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e
noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?” (Lc 18,7).
Diz o salmista: “Os que esperam em ti
não ficam decepcionados; ficam decepcionados os que por um nada negam a sua fé”
(Sl 25,3). São palavras que nos encorajam a nunca deixar de esperar no Senhor e
por sua intervenção em nossa vida. No entanto, temos que admitir que a razão da
nossa desistência em rezar vem da nossa decepção com Deus. Nós esperávamos
cura, mas Ele permitiu a morte; nós esperávamos sucesso, mas Ele nos fez provar
o fracasso; nós esperávamos subir ao mais alto dos céus, mas Ele nos fez descer
ao mais profundo do abismo. Aqui é preciso recordar mais uma vez: a verdadeira
oração não consiste em submeter Deus à nossa vontade, mas em nos abrir
confiantemente ao Seu plano de amor e salvação para conosco.
Rezar é lutar com Deus. Se o texto do
êxodo nos mostra que nossas lutas neste mundo só podem ser vencidas pela força
da oração (Moisés de braços erguidos), cada um de nós precisa ter consciência
que a oração é uma luta, antes de mais nada, conosco mesmos: precisamos lutar
conosco mesmos para rezar; lutar contra a nossa decepção, a nossa falta de fé e
de esperança; lutar contra a nossa preguiça; lutar contra o nosso ego, que não
aceita se submeter à vontade de Deus. Quando rezamos profundamente, percebemos
que o inimigo a ser derrotado não está fora (Amalec), mas dentro de nós.
Que a oração seja também uma luta com
Deus fica claro em Gênesis 32,23-33. Durante uma noite inteira, Jacó ficou
sozinho e lutou com alguém que personificava Deus. Jacó prevaleceu na luta, de
modo que disse ao seu oponente: “Eu não deixarei você enquanto não me abençoar”
(Gn 32,27). Essa é a postura que Jesus quer que tenhamos perante o Pai, em
nossa oração: não deixar de rezar, até que Ele nos abençoe; agarrar o Pai e não
soltar d’Ele, até que nos dê o que sabe ser o mais necessário para a luta que
estamos enfrentando.
Peçamos o auxílio do Espírito Santo.
Só Ele pode vir em auxílio da fraqueza da nossa oração e interceder ao Pai (cf.
Rm 8,26), segundo aquilo que o Pai deseja nos dar, em vista do nosso bem e da
nossa salvação.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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