sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O VINHO NOVO SERÁ SURPREENDENTEMENTE MELHOR DO QUE O ANTIGO!

Missa do 2º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 62,1-5; 1Coríntios 12,4-11; João 2,1-11.

“Houve um casamento em Caná da Galileia” (Jo 2,1), e neste casamento Jesus manifestou aos discípulos “a sua glória, e seus discípulos creram nele” (Jo 2,11). Para entendermos o significado deste primeiro sinal que Jesus realiza para testemunhar que Ele é o Messias, o Salvador prometido ao mundo, precisamos retomar a leitura do profeta Isaías.
Num momento de grande desolação, quando a cidade de Jerusalém se sentia abandonada, não amada por Deus, ela ouviu d’Ele: “(...) por amor de Jerusalém não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a justiça e não se acender nela, como uma tocha, a salvação... Não mais te chamarão ‘Abandonada’, e tua terra não mais será chamada ‘Deserta’; teu nome será ‘Minha Predileta’ e tua terra será a ‘Bem-Casada’, pois o Senhor agradou-se de ti e tua terra será desposada... Como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria de teu Deus” (Is 62,1.4.5).
Todo ser humano carrega em si o desejo de ser amado. No entanto, é cada vez maior o número de pessoas em nosso mundo que se sentem não-amadas nem pelos homens, nem por Deus. O sentimento de solidão é cada vez mais frequente, além do fato de que nem toda pessoa casada se sente feliz, da mesma forma como nem toda pessoa não casada se sente infeliz. No caminho da busca por amor há muitos desencontros, feridas, decepção e até mesmo descrédito em relação ao próprio amor. Contudo, desde os primeiros profetas, a imagem do casamento sempre foi utilizada como símbolo da união do ser humano com Deus, símbolo não só do amor de Deus por todo ser humano, mas também da Sua dedicação incansável em fazer com que a vida de cada ser humano seja abraçada pela justiça e pela salvação.
Não por acaso, Jesus realiza o seu primeiro sinal como Salvador numa festa de casamento. “Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3), disse Maria a Jesus. O vinho não é apenas vinho: o vinho é amor e alegria, fé e esperança, força e sentido de vida. O vinho é a alegria da salvação de Deus, prometida a toda a humanidade; o vinho é a resposta de Deus à alma do ser humano, que tem sede de sentido de alegria verdadeira. A falta de vinho nas bodas de Caná remete para a falta de Deus no coração de inúmeras pessoas hoje, a falta de alegria e paz em muitas famílias, a falta de saúde e proteção para inúmeras crianças e adolescentes, a falta de respeito para com a vida humana, a falta de fé e de esperança em nosso próprio coração...
Diante da intercessão de Maria, Jesus responde: “Mulher, (...) minha hora ainda não chegou” (Jo 2,4). Quase todas as vezes que a palavra “hora” aparece no Evangelho de João, se refere à hora da cruz, à hora em que o mundo reconhecerá Jesus como Salvador, como Aquele que nos amou até o fim, como o Esposo da Igreja e Esposo da alma de todo ser humano. A hora da cruz é a hora em que Jesus “entregará o Espírito” e o derramará como vinho novo nas talhas do coração humano. Em Caná ainda não era a “hora” de Jesus derramar o Espírito, mas Maria pediu uma antecipação dessa hora, e Jesus a atendeu.
Essas foram as palavras Maria aos servos da festa daquele casamento: “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5). A atitude de Maria nos questiona: nós viemos ao mundo para servir ou para sermos servidos? Nós nos deixamos afetar pela realidade que nos cerca, pelo que acontece à nossa volta? Não precisamos fazer muito esforço para lamentar a falta de vinho novo em nossa vida, mas quantos de nós nos dispomos a ter uma atitude proativa e encher nossas talhas de água? Sem dúvida que o vinho novo jamais poderá ser produzido por nós, mas seu surgimento certamente depende da nossa colaboração: como os servos daquele casamento, nós devemos obedecer à orientação de Jesus e encher nossas talhas de água (cf. Jo 2,7-8).   
“O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho... Chamou então o noivo e lhe disse: ‘(...) tu guardaste o vinho melhor até agora!’” (Jo 2,10-11). Nas bodas de Caná, o vinho melhor chegou no final, quando não se esperava mais nada, a não ser o fim da festa. Muitos de nós estamos convencidos de que a vida é assim mesmo: tudo começa bem e acaba mal; tudo se desgasta com o tempo; tudo vai aos poucos perdendo o sentido. É assim com os nossos relacionamentos, com os nossos sonhos e projetos, com a nossa vida profissional e até mesmo com a nossa fé, com a nossa própria vocação. O encanto inicial não resiste ao desgaste da rotina e, cedo ou tarde, se converterá em desencanto.
No entanto, há algo surpreendente no Evangelho de hoje! O melhor veio depois! A alegria depois da crise foi infinitamente melhor e mais significativa do que a alegria antes da crise. E é assim porque o vinho novo é símbolo do Espírito Santo, cuja graça tudo transforma e tudo renova. Quanto a nós, sempre poderemos experimentar a alegria do vinho novo na medida em que fizermos tudo o que Jesus nos disser, enchendo nossas talhas de água na certeza de que o milagre da transformação é e sempre será um trabalho conjunto entre a graça de Deus e as nossas atitudes.

Oração: Senhor Jesus, és o Esposo não somente da Igreja, mas da alma humana, alma que tem sede de sentido, de alegria e de salvação. Olha para a falta de vinho que existe no coração da humanidade, em nossas famílias e comunidades, e em tua própria Igreja. São inúmeras as pessoas que se sentem abandonadas e não-amadas. Derrama sobre o coração de cada uma delas o dom do teu Espírito, pois somente Ele pode nos fazer experimentar verdadeiramente o amor de Deus e a alegria da Sua salvação.
Seguindo o conselho de Tua Mãe, Maria Santíssima, a exemplo dos servos daquele casamento, queremos aprender a fazer tudo o que o Senhor nos disser. Nos comprometemos a encher nossas talhas de água, a fazer a nossa parte para que, onde o vinho antigo acabou, onde quer que exista ausência de alegria e de esperança, de justiça e de fraternidade, nós possamos colaborar para o surgimento do vinho novo, da transformação que o próprio Deus quer para o bem e a salvação de cada ser humano.
Enfim, Senhor, que nenhuma crise, nenhum desencontro, nenhuma ferida ou dificuldade nos faça perder a esperança de que o vinho novo sempre surgirá e sua alegria será abundantemente superior a tudo aquilo que até hoje experimentamos, pois o Teu Espírito continua a renovar a face de terra e nós cremos no Seu poder de reavivar a nossa Igreja, curar nossas feridas e transformar nossas tristezas em verdadeira e profunda alegria. Amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi 

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