Missa do 1º dom. do advento. Palavra de Deus: Jeremias 33,14-16; 1Tessalonicenses 3,12 – 4,2; Lucas 21,25-28.34-36.
Três tempos marcam a nossa vida: o
passado, a respeito do qual nada mais podemos fazer, a não ser aprender,
aceitar e nos reconciliar; o presente, a respeito do qual somos chamados a
abraçar a tarefa que a vida está nos pedindo; o futuro, a respeito do qual nada
sabemos, apenas que somos chamados a confiar, pois “o futuro a Deus pertence”
(ditado popular), e esse mesmo Deus nos garante na sua Palavra: “Farei cumprir
a promessa de bens futuros... Farei brotar de Davi a semente da justiça, que
fará valer a lei e a justiça na terra” (Jr 33,14.15). Que Deus sempre cumpre
Suas promessas está afirmado por Josué, ao introduzir o povo de Israel na Terra
Prometida: “Reconheçam que, de todas as promessas que o Senhor Deus fez em
favor de vocês, nenhuma ficou sem cumprimento: tudo se realizou em favor de
vocês e nenhuma delas falhou” (citação livre de Js 24,14).
Em relação aos três tempos que marcam a
nossa história pessoal e social, nós só temos acesso imediato ao tempo
presente. Ele é, de fato, um “presente”, uma oportunidade, um dom da vida, para
fazermos escolhas e tomarmos decisões que, de duas, uma: ou farão dele uma mera
repetição do passado, ou o abrirão a uma transformação que será testemunhada
por nós no futuro. É aqui que entra o sentido do tempo do advento. Advento:
esperar por Aquele que vem. Toda celebração eucarística é uma afirmação da
nossa esperança na volta de Cristo: “Todas as vezes, pois, que comeis desse pão
e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor
11,26).
“Até que ele venha” – eis a certeza que
fundamenta a nossa esperança e sustenta a nossa fé. Nosso presente não está
fechado nos problemas que enfrentamos, nas dores que sofremos e nas angústias
que suportamos, mas aberto Àquele que vem para salvar os que por ele esperam: “Ele
aparecerá uma segunda vez, (...) àquele que o esperam para lhes dar a salvação”
(Hb 9,28). Quem desconhece essa verdade tem o seu presente tomado pela
ansiedade, pelo medo e pela angústia. Se a ansiedade é o sentimento mais comum
no mundo atual é porque falta à maioria das pessoas a confiança quanto ao
futuro: esperar pelo nosso Salvador.
O problema é que o nosso presente está
marcado por muita coisa negativa que corrói a nossa esperança: o aumento assustador
de doenças, a contínua destruição do meio ambiente e as consequentes catástrofes
climáticas, a intensidade do aquecimento global, a piora do ser humano como
pessoa, a desintegração das famílias, a perda crescente de fé etc. No entanto,
esse é o tempo em que fomos chamados a viver e a testemunhar a nossa fé. Por
isso, Jesus nos convoca a uma atitude firme: “Quando estas coisas começarem a
acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”
(Lc 21,28).
Preste atenção à sua postura corporal e
à das pessoas à sua volta: nós estamos em pé ou prostrados, derrubados, caídos?
Caminhamos de cabeça erguida ou “derrubada”, inclinada para baixo, voltada para
o chão? A cena mais comum são as pessoas com a cabeça inclinada, olhando para o
celular. Essa postura diz muito! Somos uma geração puxada para baixo,
encurvada, que se prostra facilmente diante de cada acontecimento ruim, cuja
cabeça parece pesar sabe-se lá quantos quilos, e por isso vive caída para a frente,
olhando apenas para baixo. É a atitude de quem vive o seu presente fechado em
si mesmo, não aberto ao futuro, desprovido de qualquer tipo de esperança.
Hoje Jesus diz a cada um de nós: “Levante
a cabeça!”. A vida não é somente aquilo que estamos vivendo no momento presente.
Não temos que negar ou ignorar que estamos de certa forma presos ao medo, à
angústia, à dor, à ansiedade, a situações de injustiça etc. Mas devemos erguer
a cabeça porque “a nossa libertação está próxima”! Essa libertação se chama, na
Sagrada Escritura, de “Dia do Senhor”, Dia em que Deus intervirá na história
humana definitivamente, enviando seu Filho como Juiz para separar o bem do mal,
para recolher o trigo (homens justos) no celeiro de Deus e para esmagar as uvas
(homens injustos) com os seus pés (cf. Ap 14,14-20); o Dia em que o Senhor Jesus
“exterminará todos os que exterminam a terra” (cf. Ap 11,18).
Ora, não se espera pelo “Dia do Senhor”
de braços cruzados, com apatia e acomodação; muito menos com uma postura
irresponsável perante a própria existência, no estilo “deixa a vida me levar”.
Por isso, Jesus nos alerta: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem
insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida” (Lc
21,34). Esse estilo de vida pagão está cada vez mais presente na vida dos
cristãos do mundo atual. Basta considerar como a maioria das pessoas vive seu domingo,
seu fim de semana ou um feriado santo. O coração insensível é símbolo de uma
consciência anestesiada, distraída – a indústria do entretenimento trabalha
incansavelmente para nos manter distraídos e alienados (fora da realidade); é
uma consciência que se tornou incapaz de ouvir a voz do Senhor dentro de si mesma.
O contrário de um cristão que vive como
pagão, com a consciência distraída, desfocada, ocupada com “urgências” e
distante do essencial, é o cristão que mantem-se firme na sua vida de oração: “Ficai
atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que
deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36).
Jesus entende a oração não como blindagem, mas como fonte de força para não
tombarmos diante dos revezes da vida. A verdade é que, enquanto caminhamos ao
encontro do Senhor que vem, todos nós temos momentos de tropeço e de queda. O
importante é nos levantar dessas quedas e retomar diariamente o caminho, e só a
oração nos dá força para isso. Sem uma vida disciplinada de oração, nossa
espera pelo Senhor se esfarela, dissipa-se, evapora. Jesus foi muito claro: “Orai
a todo momento”, e não só quando a situação fica difícil ou quando nos sentimos
ameaçados. Orar a todo momento é manter a consciência voltada para Deus e
pedir, como o salmista: “Mostrai-me,
ó Senhor, vossos caminhos, e fazei-me conhecer a vossa estrada! Vossa verdade
me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação!” (Sl 25,4-5). Tenha um abençoado e fecundo início de
Advento!
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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