Missa
da Santa Mãe de Deus, Maria. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas
2,16-21.
“O
meu passado, Senhor, à Tua Misericórdia. O meu presente, ao Teu amor. O meu
futuro, à Tua Providência” (São Padre Pio). A passagem de ano nos recorda que a
nossa existência terrena é feita de passado, presente e futuro, e esta oração
de São Padre Pio nos convida a entregar nosso passado, que não mais pode ser
mudado, à Misericórdia de Deus; o nosso presente, com a sua possibilidade de
escolhas e seus desafios, ao Amor de Deus; e o nosso futuro, com suas
preocupações e incertezas, à Providência de Deus.
Na verdade,
na história de vida de cada um de nós há um passado
que precisa ser aceito, um presente que precisa ser acolhido e um futuro que precisa ser confiado.
Ao entrarmos no Ano Novo, é importante fazer um trabalho interior de
reconciliação com o nosso passado, acolher o presente como a preciosa
oportunidade que a vida nos dá, seja para confirmar o que vínhamos fazendo bem,
seja para corrigir onde estávamos errando, e, enfim, confiar o nosso futuro às
mãos do Pai que conhece as nossas reais necessidades e quer estender o Seu
cuidado sobre nós.
Todos nós acolhemos o Novo Ano com
um desejo de paz: paz nas famílias, nas escolas, nos locais de trabalho; paz
nas ruas, nas estradas, no trânsito; paz entre os países, as religiões, os
povos. Ao mesmo tempo, porém, em que desejamos a paz, precisamos lembrar que
ela depende da justiça: “O fruto da justiça será a paz” (Is 32,17). Ela deve
ser promovida por meio de nossas atitudes diárias: “Felizes os que promovem a
paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Ela só pode ser
experimentada na medida em que voltamos o nosso coração para Deus (cf. Sl 85,9)
e para os irmãos.
Na sua mensagem para o Dia Mundial
da Paz, o Papa Francisco nos convida a tomar cuidado com o mal da indiferença:
indiferença para com o próprio Deus, para com os outros e para com o nosso
planeta, a nossa “casa comum”. Como diz a música “Sal da Terra” (Beto Guedes), “Anda! Quero te dizer nenhum segredo. Falo
desse chão da nossa casa; vem, que tá na hora de arrumar... Vamos precisar de
todo mundo pra banir do mundo a opressão. Para construir a vida nova, vamos
precisar de muito amor... Vamos precisar de todo mundo: um mais um é sempre
mais que dois. Pra melhor juntar as nossas forças, é só repartir melhor o pão”.
Neste Ano da Misericórdia, Francisco
nos faz três apelos: que não estimulemos a violência entre as pessoas; que
perdoemos as dívidas (inclusive financeiras); por fim, que cooperemos uns com
os outros. Onde a indiferença tem criado um abismo entre as pessoas, que nós
possamos construir a ponte da misericórdia, para reaproximar as pessoas umas
das outras. Como disse Martin Luther
King,
“Temos de aprender a viver todos como
irmãos ou morreremos todos como loucos”.
Não sabemos o que a vida nos
reservará ao longo do Novo Ano, nem quais desafios teremos, nem mesmo quais
problemas enfrentaremos. No entanto, uma atitude é importante: aprender com
Maria a guardar
e meditar os acontecimentos no coração (cf. Lc 2,19). É ali, na escuta de Deus
em nosso coração, que podemos compreender que em cada acontecimento que nos
atinge há um “para que”, uma finalidade. É na presença de Deus que nos damos
conta de que podemos ir além da mera reação diante daquilo que nos acontece;
podemos tomar atitudes, uma vez que nós nem sempre somos responsáveis por
aquilo que nos acontece, mas somos sempre responsáveis pela forma como lidamos
com isso. O nosso coração, portanto, é o lugar certo para que tomemos a decisão
mais conveniente, a fim de que determinado acontecimento se torne para nós
ocasião de crescimento, de amadurecimento e de santificação.
Que
a voz do Espírito Santo – “Abá – ó Pai!” (Gl 4,6) – nos dê a certeza de que não
somos e nem estamos órfãos neste mundo, não somos filhos do acaso, mas temos um
Pai que cuida de cada mínimo detalhe da nossa existência. Que Maria nos ensine
a viver na perfeita obediência à voz do Pai, e que nos tornemos, como ela,
portadores da misericórdia do Pai para as pessoas que cruzarem o nosso caminho
ao longo deste novo ano.
Pe. Paulo Cezar Mazzi