sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

FAZER, MAS TAMBÉM PERMITIR QUE DEUS FAÇA EM VOCÊ

Missa do 3º. dom. do advento. Palavra de Deus: Sofonias, 3,14-18a.; Filipenses, 4,4-7; Lucas 3,10-18.

O terceiro domingo do advento é um convite à alegria: “Canta de alegria... Alegra-te e exulta de todo o coração!” (Sf 3,14). “Com alegria, bebereis no manancial da salvação... Exultai cantando alegres” (Is 12,3.6). “Alegrai-vos sempre no Senhor... Alegrai-vos” (Fl 4,4). Quando foi a última vez que você se sentiu alegre ou experimentou alegria? O que te dá alegria? O que tira a sua alegria? Do que depende a sua alegria?
No sentido humano ou mundano, a alegria só é experimentada quando não há dor, perda, fracasso, problema, sofrimento ou dificuldade. Além disso, nós nos acostumamos a pensar que a alegria depende do sucesso, da vitória, de se ter conseguido aquilo que se queria. Mas, no sentido cristão, de fé, a alegria depende de uma única coisa: de saber que o Senhor, nosso Deus, está no meio de nós como Aquele que nos salva.
Quando o profeta Sofonias convidou Jerusalém a se alegrar, disse claramente o motivo dessa alegria: “O Senhor, teu Deus, está no meio de ti” (Sf 3,17). Em toda celebração eucarística, por duas vezes o sacerdote diz: ‘O Senhor esteja convosco!’ e nós respondemos: ‘Ele está no meio de nós!’. Então, aqui cabe perguntar: nós cremos verdadeiramente que o Senhor, nosso Deus, está no meio de nós? Onde e de que maneira percebemos a Sua presença?   
A presença de Deus junto ao seu povo, à sua Igreja, a cada um de nós, muitas vezes não é perceptível, seja porque nós estamos ‘distraídos’, mergulhados na luta pela sobrevivência, seja porque Deus é Deus, soberanamente livre, e é Ele quem decide quando, como e se é conveniente ou não fazer-Se sentir por nós. Portanto, dizer que ‘o Senhor, nosso Deus, está no meio de nós’ é muito mais uma convicção de fé do que uma experiência sensível da nossa parte.   
Convidando Jerusalém a recobrar a fé na presença de Deus no meio dela, o profeta Sofonias fez este apelo: “Não temas (...), não te deixes levar pelo desânimo!” (Sf 3,16). Motivos para desanimar certamente não nos faltam, mas não devemos nos deixar arrastar e enterrar pelo desânimo. Precisamos reagir ao medo e ao desânimo, recordando as palavras do salmista: “Alegre-se o coração dos que procuram o Senhor!” (Sl 105,3). A nossa procura diária por Deus na oração, na Palavra, na Eucaristia e nos acontecimentos deve, por si só, despertar em nós o sentimento de alegria. E, ainda que tenhamos necessidades que nos preocupem, devemos apresentá-las a Deus na oração, para que a Sua paz tranquilize nosso coração e nossa mente (cf. Fl 4,6-7).  
 Diante da proximidade da vinda de Jesus, o povo perguntava a João Batista: “Que devemos fazer?” (Lc 3,10). Atualizando a resposta de João, a melhor forma de nos preparar para acolher Jesus é: socorrer os necessitados, ser justo, não abusar do poder sobre os outros e não se corromper. O que cada um de nós deve fazer é ‘deixar Deus fazer’; colocar-se como barro nas mãos d’Ele, o nosso Oleiro, e permitir que Ele faça em nós o que deseja fazer. O que também cada um de nós deve fazer é deixar de fazer o mal a si mesmo, aos outros e ao planeta; deixar de alimentar rancor e distanciamento em relação a alguém da nossa família; deixar de procurar a alegria onde ela não pode ser encontrada: em nosso pecado pessoal e na injustiça social.
Desde quando assumiu seu serviço em favor da Igreja na condição de Papa, Francisco tem nos alertado sobre o perigo de termos uma cara de funeral: falamos do Deus vivo, mas O sentimos morto dentro de nós. Essa cara de funeral é consequência da perda da alegria interior, da perda do sentido do ministério, da perda do contato com a fonte interior e com a simplicidade de vida.
Se quisermos reencontrar a alegria, precisamos deixar de buscá-la por si mesma. Ela brota espontaneamente dentro de nós sempre que readequamos a nossa vida ao querer de Deus. Ela não depende dos resultados que alcançamos com o nosso trabalho, mas da consciência tranquila e agradecida de termos feito o que era o nosso dever e a nossa possibilidade fazer pelo bem da humanidade, pelo bem das pessoas à nossa volta. Então, deixe Deus fazer; deixe Deus devolver-lhe a verdadeira alegria; deixe Deus manifestar a alegria d’Ele na vida dos outros por meio de você.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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