sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

ESSA TÃO SONHADA E DESEJADA FELICIDADE

Missa do 4º. dom. comum. Palavra de Deus: Sofonias 2,3; 3,12-13; 1Coríntios 1,26-31; Mateus 5,1-12a.

            Algumas pessoas se casam porque querem ser felizes. Outras se separam pelo mesmo motivo. Algumas pessoas decidem ter filhos porque desejam ser felizes. Outras decidem não tê-los pelo mesmo motivo. Para experimentar momentos de felicidade, muitas pessoas bebem e se drogam; outras, compram, consomem e procuram prosperar financeiramente, mas, no fim de tudo, essa tal felicidade parece sempre escapar por entre os dedos, e o lugar dela acaba sendo ocupado pelo vazio, pela angústia, pela tristeza, pela falta de sentido...
            Como dizia o grupo Titãs, na música “Comida”, nos anos 80, “a gente não quer só dinheiro; a gente quer dinheiro e felicidade. A gente não quer só dinheiro; a gente quer inteiro e não pela metade”. Este é o fato: nós queremos inteiro e não pela metade. Esta é a verdade: o ser humano não busca unicamente satisfazer suas necessidades básicas como alimento, abrigo, segurança, afeto... Na alma de cada um de nós há um anseio por felicidade, um anseio que se expressa em perguntas do tipo: Onde eu posso ser feliz? De que maneira minha vida pode encontrar sentido? Como eu posso me sentir uma pessoa realizada?
            O mundo em que vivemos nos oferece falsas respostas para a nossa pergunta a respeito da felicidade, procurando nos convencer de que nós só seremos felizes quando todos os nossos desejos forem satisfeitos. Mas, quantas vezes você já fez a experiência de ter alcançado algo que tanto desejava e, depois disso, perceber que não era bem isso que queria? Aquilo não te preencheu e você chegou à conclusão de que ainda falta algo, algo que não te pode ser dado pelo que você come, nem pelo que você veste, nem pelo que você compra, nem pelo que você goza, nem pelo que você constrói...
            Dizem que às vezes a vida nos vira do avesso só para nos mostrar que a felicidade vem de dentro para fora. Jesus, no Evangelho de hoje, está fazendo justamente isso: virando do avesso a nossa compreensão de felicidade. Segundo Jesus, a felicidade começa a nascer em nós quando nos tornamos “pobres em espírito” (v.3), isto é, pessoas cuja única segurança, única esperança e único apoio é Deus, pessoas que reconhecem sua própria fraqueza, miséria e imperfeição, e que sabem da absoluta necessidade que têm de serem salvas por Deus. Daí o conselho do profeta Sofonias: “Procure ser uma pessoa humilde e justa, e coloque sua esperança unicamente no Senhor” (citação livre de Sf 2,3).
            Jesus também vira do avesso a nossa compreensão de felicidade ao afirmar que felizes são os que choram (v.4), os que têm fome e sede de justiça (v.6), os que são perseguidos por se esforçarem em se comportar de maneira justa (v.10), segundo os valores do Evangelho (v.11): são pessoas que compreenderam que a felicidade não está em não experimentar nenhum tipo de DESOLAÇÃO ao longo da vida, mas em suportar certas desolações aguardando a verdadeira e única CONSOLAÇÃO que só pode vir do Deus da Verdade e não das mentiras do mundo.
            Por fim, para a nossa geração, cada vez mais convencida de que a nossa sobrevivência neste mundo depende de abandonarmos atitudes como ser humilde, misericordioso, puro de coração e pacífico, Jesus nos ensina que somente recuperando esses valores é que nós, particularmente, e a humanidade como um todo, reencontraremos o caminho para a felicidade. Portanto, cuidado com pessoas que, querendo consolar você, querendo ver você bem, dizem aquilo que você mais gostaria de ouvir: “Deus quer que você seja feliz”, mas a “felicidade” proposta supõe que você se feche no seu próprio egoísmo, que você faça os outros sofrerem com a sua decisão, que você abandone sua própria cruz e se afaste da verdade de Deus para a sua vida.     
            Numa sociedade de contra valores como a nossa, precisamos desconfiar das inúmeras propagandas e propostas de felicidade que nos são apresentadas. Ao invés de recebermos passivamente e sem reflexão tudo aquilo que os meios de comunicação despejam dentro de nós como se fôssemos uma espécie de “esgoto”, precisamos usar o FILTRO da nossa consciência, orientada pela Palavra de Deus, para separarmos o que presta do que não presta, o que realmente convém e o que não convém à nossa felicidade, tendo muito claro esta verdade: “Deus escolheu o que o mundo considera como fraco, para assim confundir o que é forte; Deus escolheu o que para o mundo é sem importância e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para assim mostrar a inutilidade do que é considerado importante” (1Cor 1,27-28).
            Por fim, lembre-se de que a sua felicidade não depende de você não ter nenhum problema ou de não experimentar nenhuma frustração, mas da forma como você lida com seu problema, com sua frustração; ela não depende de você não sentir nenhum tipo de dor ou de tristeza, mas de você procurar dialogar com tais sentimentos e entender por que eles estão ali e o que eles estão querendo te dizer; ela não depende da quantidade de “amigos” que você tem nas redes sociais e de quantas “curtidas” aquilo que você publica recebe, mas da pessoa que você é no convívio real com os outros e dos valores que norteiam a sua consciência. Mais do que procurar o tempo todo ser feliz, procure fazer alguém feliz, e você encontrará a felicidade que procura.


Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

ESCOLHAS ATUALIZADAS

Missa do 3º. dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 8,23b–9,3; 1Coríntios 1,10-13.17; Mateus 4,12-23.

Passou o tempo das festas – Natal e Ano Novo. A grande maioria dos trabalhadores que estavam de férias já retornou ao trabalho, e aqueles que puderam viajar já estão de volta. Aos poucos a vida vai retomando o seu curso e vamos mergulhando de novo no mar da rotina do nosso cotidiano. Mas eis que Jesus se coloca junto ao mar da nossa vida! Ele está junto a nós porque escolheu iniciar seu caminho de salvação não na capital (Jerusalém), mas numa periferia chamada “Galileia dos pagãos” (Mt 4,15), um lugar insignificante, sem importância política, nem religiosa, uma região habitada por pessoas consideradas ignorantes, perdidas.
Jesus convida cada um de nós a visitar a sua periferia existencial, aquela área da nossa vida que consideramos insignificante, mas que precisa ser acolhida e cuidada por nós. Ao mesmo tempo, Ele nos convida a levarmos a Sua luz aonde ela ainda não chegou. Para isso, cada um de nós precisa “sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG 20). É por meio de cada um de nós que a Igreja poderá “estar sempre onde fazem mais falta a luz e a vida do Ressuscitado” (EG 30), nos lembra o Papa Francisco.  
Se a liturgia da semana passada nos tornou conscientes de que a nossa existência neste mundo não é fruto do acaso, mas de uma escolha e de um chamado por parte de Deus, o Evangelho de hoje confirma esta verdade ao nos colocar diante das palavras de Jesus: “Sigam-me e eu farei de vocês pescadores de homens” (Mt 4,19). Este chamado espera de nós uma RESPOSTA, resposta que deve ser dada não somente num determinado momento, mas que pede para ser ATUALIZADA a cada dia da nossa vida. Assim como os aplicativos do nosso celular exigem atualização para que funcionem bem, assim a resposta que damos ao chamado de Deus necessita ser atualizada, para que a escolha que fizemos ontem preencha de sentido a nossa vida hoje.
            Mas aqui nos deparamos com uma questão importante: uma das características da geração moderna é a dificuldade em fazer escolhas que sejam definitivas. Seja no campo profissional, afetivo ou mesmo da fé, as pessoas hoje mudam suas escolhas quase que com a mesma facilidade com que trocam de roupa. Muitos fatores colaboram para essa troca: o desgaste, a rotina, a decepção – causada muitas vezes por uma expectativa exagerada ou irreal daquilo que a pessoa escolheu – o surgimento de algo aparentemente melhor, mais vantajoso, mais lucrativo, mais sedutor, algo que prometa resultados mais rápidos e ofereça uma satisfação maior para a pessoa.
            Embora a geração de hoje ache normal “ROER A CORDA” sempre que o preço das escolhas feitas se mostre exigente e muitas pessoas não queiram dar-se ao trabalho de atualizar suas escolhas, isto é, atualizar a resposta que deram ao chamado de Deus, cada um de nós é convidado por Jesus a segui-lo de maneira madura, apoiando-nos na escolha que Ele fez de nós e na fecundidade que nos concedeu de produzirmos frutos, sabendo que esses frutos permanecerão na medida em que nossas escolhas se ENRAIZAREM no chão do definitivo e não mais patinarem sobre o terreno do provisório.
Jesus nos chama a ajudá-lo na missão de “pescar pessoas”, isto é, salvá-las. Nesse imenso mar da vida conhecemos inúmeros jovens mergulhados nas bebidas e nas drogas, homens e mulheres mergulhando cada vez mais no adultério, famílias se afogando na desestruturação, pessoas mergulhadas em dívidas devido ao consumismo, gente se afogando no vício dos jogos, pessoas mergulhadas no sofrimento e na dor, bairros ou cidades mergulhadas na violência, países mergulhados em guerra civil, inúmeras pessoas se afogando na pornografia enquanto navegam na internet etc.
          Antes de lançarmos as redes, contudo, o apóstolo Paulo nos convida a tomar consciência de que redes rompidas não servem para pescar. Portanto, devemos superar as divisões que existem entre nós. “Será que Cristo está dividido?” (1Cor 1,13), pergunta o apóstolo. O centro da nossa fé deve ser o Evangelho, e não a pessoa do pregador do Evangelho. Além disso, ao procurarmos viver como portadores da mensagem do Evangelho aos outros, devemos confiar muito mais na força própria da cruz de Cristo do que na sabedoria das nossas palavras. A cruz de Cristo tem sua força própria! Isso significa que “não poderemos jamais tornar os ensinamentos da Igreja uma realidade facilmente compreensível e felizmente apreciada por todos; a fé conserva sempre um aspecto de cruz”, nos lembra o Papa Francisco (EG 42).
            Hoje é o momento de atualizarmos a nossa resposta ao chamado que recebemos de Jesus. “Um dia escutei teu chamado, divino recado batendo no coração. Deixei deste mundo as promessas e fui, bem depressa, no rumo da Tua mão! Tu és a razão da jornada, Tu és minha estrada, meu Guia, meu Fim. No grito que vem do Teu povo Te escuto de novo chamando por mim! Embora tão fraco e pequeno caminho sereno, com a força que vem de Ti. A cada momento que passa revivo esta graça de ser Teu sinal aqui! Tu és a razão da jornada...”.


Pe. Paulo Cezar Mazzi             

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

VOCÊ É UMA MISSÃO

Missa do 2º. dom. comum. Isaías 49,3.5-6; 1Coríntios 1,1-3; João 1,29-34.

            Por que você nasceu? Por que você existe? Segundo a Biologia, no momento da ejaculação 300 milhões de espermatozóides correm para fecundar o óvulo, mas somente um consegue, o que significa que você foi uma escolha da vida entre trezentos milhões de outras possibilidades. Então, por que a vida escolheu você e não outra pessoa? A resposta a essa pergunta nos é oferecida hoje pela Palavra de Deus: “Ele (o Senhor)... me preparou desde o ventre materno para ser seu servo” (Is 49,5). No princípio de tudo, no princípio da existência de cada um de nós não está o acidente, o acaso, a coincidência, mas o desejo de Deus, a escolha que Ele fez de cada um de nós. Ele nos escolheu para uma missão.
            Quando o Papa Francisco escreveu “A Alegria do Evangelho”, teve a felicidade de usar uma expressão maravilhosa: “Eu sou uma missão nesta terra e por isso estou neste mundo” (EG 273). Você nasceu não apenas porque tem uma missão; você é uma missão; sua existência neste mundo é única e vai deixar uma marca única de Deus para a humanidade. Deus escolheu você para ser um servo Seu. Perceba que a palavra “servo” se repetiu três vezes na primeira leitura. Para os tempos atuais, não é uma palavra simpática, mas vista de maneira negativa, depreciativa. No entanto, aos olhos de Deus ela se reveste de um importante significado: ser servo é ser escolhido e preparado para a missão de reconduzir as pessoas para a verdade, para a luz, para a libertação, para a salvação.      
            Fica fácil perceber que a palavra “servo” se encontra dentro da palavra “serviço”. Jesus é, por excelência, o “Servo” do Pai e quis que nós seguíssemos o seu exemplo, ao dizer: “Eu estou no meio de vocês como aquele que serve” (Lc 22,27). No entanto, no mundo atual, muitas pessoas desenvolveram a habilidade de perverter o “serviço” em “cargo” (poder). Desse modo, na nossa e em outras igrejas, muitos ambicionam cargos, mas poucos desejam servir. Essa ambição frequentemente se apresenta travestida de “amor à Igreja”, quando, na verdade, é amor ao próprio ego, amor a uma necessidade doentia de ocupar um cargo, de sentir-se superior, de servir-se dos outros para realizar o seu projeto pessoal de vida.     
            Por decepção com as pessoas ou com o mundo; por cansaço, por esgotamento ou por não ver “resultados” em sua missão, infelizmente muitos deixaram de servir; se tornaram pessoas até mesmo amargas, descrentes, desencantadas em relação à própria missão. Se você às vezes se sente assim, medite sobre essas palavras da Santa Madre Teresa de Calcutá: “O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra. Construa assim mesmo... O bem que você faz hoje, pode ser esquecido amanhã. Faça o bem assim mesmo. Dê ao mundo o melhor de você,
mas isso pode não ser o bastante. Dê o melhor de você assim mesmo. Veja você que, no final das contas, é tudo entre você e Deus. Nunca foi entre você e os outros”.
            Os textos bíblicos de hoje também nos colocam diante de outro servo de Deus: o apóstolo Paulo. Ele tinha a consciência de ser chamado a ser apóstolo pelo próprio Deus e não por uma ambição pessoal ou pela escolha dos homens. E ele nos disse uma coisa muito importante: nós, cristãos, fomos chamados pelo mesmo Deus a uma vida de santidade, santidade que significa pertencer a Deus e não ao mundo; santidade que significa procurar pautar a nossa vida pelo Evangelho e não pelo “todo mundo faz isso”.
            Por fim, o Evangelho nos coloca diante do testemunho de João Batista em relação a Jesus. Esse testemunho nos lembra que a nossa missão é ser, com todos os nossos limites e imperfeições, um sinal que aponta constantemente para Jesus Cristo, ajudando com que as pessoas do nosso tempo se encontrem com “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). O problema é que designar Jesus como “Cordeiro” não diz muito ao nosso mundo atual. Por isso, temos que recordar que, assim como o cordeiro pascal esteve presente no momento em que os hebreus foram libertos da escravidão do Egito (cf. Ex 12,1-28), assim Jesus é o Cordeiro que nos faz realizar a nova e definitiva Páscoa, a passagem da escravidão, onde deixamos de viver submetidos ao domínio do pecado, para uma vida que se deixa conduzir pelo Espírito de Deus, Espírito que sustentou Jesus em sua missão e que hoje sustenta a nós, discípulos Seus.  
            Se o pecado ainda se faz presente no coração de cada um de nós e nas estruturas da nossa sociedade, é porque a nossa luta contra ele segue como uma tarefa diária, como diz a carta aos Hebreus: “(...) deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que se agarra firmemente em nós e continuemos a correr, sem desanimar, a corrida marcada para nós. Conservemos os nossos olhos fixos em Jesus, pois é por meio dele que a nossa fé começa, e é ele quem a aperfeiçoa” (Hb 12,1-2). Renovemos a nossa adesão ao Espírito Santo, com O qual Jesus nos batizou. Retomemos a cada dia a consciência da missão viva que somos como pessoas e a fidelidade ao serviço que o Senhor nos chamou a realizar, para que a Sua salvação chegue aos confins da terra (cf. Is 49,6).

Para a sua oração pessoal: Coração adorador (Banda Dom)


Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

SER UM EVANGELHO VIVO

Missa da Epifania do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.
 
            Nos dias em que Jesus nasceu, uma estrela serviu de sinal para guiar os magos do Oriente até onde Ele se encontrava. Este fato nos leva a perguntar: no mundo atual existem sinais que apontam para Deus? A estrela provocou os magos de tal maneira que eles saíram de si mesmos, se desacomodaram, colocando-se a caminho e sendo atraídos pela estrela, até encontrarem o menino Jesus. Hoje, existe algo que provoque as pessoas, de forma a atraí-las para Deus? Certa vez, o Papa Francisco disse que nossa Igreja deve conquistar as pessoas por atração. Isto significa que elas devem sentir-se atraídas pela luz da nossa alegria e da nossa esperança em Cristo. Nós temos essa luz conosco? Nosso rosto expressa alegria e esperança? Nós somos uma Igreja que atrai as pessoas para Deus? Como fica essa questão de atração numa época em que a maioria das pessoas só é atraída se houver promessas de satisfação dos seus caprichos pessoais?
            Quando falamos de “sinal”, há um detalhe importante a ser considerado: o sinal, para ser sinal, precisa ser também contraste. A luz da estrela só foi perceptível e só atraiu os magos porque contrastava com a escuridão da noite. Isso significa que nós, cristãos, só nos tornamos um sinal que atrai as pessoas para Jesus na medida em que contrastamos com o mundo. Contrastar com o mundo não significa ser moralista, nem se achar melhor do que os outros, mas estar no mundo sem perder a sua identificação com o Evangelho. Porém, é cada vez mais perceptível que nós, cristãos do século XXI, temos nos tornado sempre mais “mundanos”, seja porque também nós queremos usufruir daquilo que o mundo oferece, seja porque a luz do Evangelho tem sido cada vez mais combatida, criticada, desprezada e ridicularizada pelas pessoas que convivem conosco, o que nos leva a diminuir a sua intensidade para que ela se torne imperceptível e não mais nos traga “incômodos”.   
            Pense um pouco nisso: você contrasta com as pessoas com quem convive, no que diz respeito à sua maneira de entender o casamento, a família, a educação dos filhos, na maneira de lidar com sua sexualidade, de se envolver com a política, com as questões sociais, de modo a colaborar para que a sociedade e o mundo se tornem mais justos? Você suporta a crítica, a perseguição e o desprezo por parte dos outros – até mesmo da família, dos “amigos”, da própria comunidade de fé – quando você, por fidelidade ao Evangelho, contrasta com o mundanismo que se tornou parte da identidade deles? Num mundo marcado por tanta escuridão, você continua cuidando da sua luz, mesmo que sinta que essa tarefa é, às vezes, dolorosamente solitária? 
            “Levanta-te, resplandece... As nações caminharão à tua luz” (Is 60,1.3). Santa Madre Teresa de Calcutá gostava de dizer às pessoas: “Talvez você seja o único evangelho que seu irmão lê”. Neste mundo mergulhado numa profunda escuridão chamada “desorientação existencial”, talvez você seja o único ponto de luz para aquela pessoa com que você convive. Por isso, é preciso que você cuide e valorize a pequena luz que há em você: a luz da fé, da bondade, da humildade, da retidão de comportamento, da fidelidade, do serviço em favor da justiça, aquela luz que, de alguma forma, faz com que a pessoa que convive com você sinta o desejo de se voltar para Deus. Lembre-se: “Tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades de Judá” (Mt 2,6), o que significa que a sua luz, ainda que aparentemente pequena, é necessária para ajudar a reconduzir pessoas para Deus.
Muitos hoje desistiram de buscar a Deus, porque o caminho da fé é muitas vezes árduo, exige perseverança, discernimento, um caminho feito não apenas de respostas, mas de muitas perguntas. A busca dos magos do Oriente por Jesus foi uma busca sofrida. Nada estava totalmente claro para eles. Tiveram que fazer perguntas; tiveram que se deparar com a falsidade e a maldade de Herodes; tiveram que lidar com a indiferença de tantos habitantes de Jerusalém. Mas eles não desistiram: caminharam no meio da noite, até encontrarem Jesus. Temos essa determinação em nossa procura por Deus? Temos determinação em continuar a ser um sinal que conduz as pessoas para Deus?
Se quisermos experimentar a alegria que os magos experimentaram, precisamos aceitar conviver com perguntas, sem exigir logo respostas; precisamos nos desacomodar e nos dispor a caminhar ao encontro de Deus, sabendo que nas noites escuras da nossa fé Ele sempre providenciará uma estrela para nos guiar, até que possamos estar diante de seu Filho, reconhecendo-O como nosso Salvador, como Aquele que o nosso coração sempre buscou.
Por fim, o Evangelho de hoje nos lembra que Jesus nasceu como “dom” de Deus, como o grande “presente” que o Pai enviou à humanidade. Diante deste “presente”, os magos abriram seus cofres e ofereceram a Jesus seus presentes: ouro, incenso e mirra. Essa atitude dos magos lembra uma frase veiculada nos anos 80: “A pessoa que eu sou é um presente da vida para mim. A pessoa que eu posso me tornar é um presente meu para a vida” (autoria desconhecida). Que você ofereça a Deus e à humanidade o seu melhor, sabendo que o ouro significa o que você tem de mais precioso; o incenso, o que você tem de mais sagrado; a mirra, o que você tem de mais humano, sua dor mais intensa, sua ferida mais profunda.

  Pe. Paulo Cezar Mazzi