tag:blogger.com,1999:blog-45864758297246463242024-03-27T06:23:22.813-07:00Padre PauloPadre Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/05896197520916759037noreply@blogger.comBlogger746125tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-47044895787852805452024-03-27T06:22:00.000-07:002024-03-27T06:22:36.504-07:00"ELE VIU E ACREDITOU". O QUE EU VEJO À MINHA VOLTA ME FAZ ACREDITAR NA RESSURREIÇÃO?<p> <span style="font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica;">Missa
do domingo de Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34a.37-42; Colossenses
3,1-4; João 20,1-9.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> Maria Madalena “viu que a pedra
tinha sido retirada do túmulo” (Jo 20,1). O discípulo amado “viu as faixas de
linho no chão, mas não entrou” (Jo 20,5). Pedro “viu as faixas de linho
deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus enrolado num
lugar à parte” (Jo 20,6-7). O discípulo amado “viu e acreditou” (Jo 20,8).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> O que você vê hoje em dia? Como você
se vê? O que nós vemos no dia a dia nos faz acreditar na ressurreição, nos faz
acreditar que a vida é capaz de vencer a morte? O que vemos à nossa volta, no
mundo ou em nós mesmos nos faz acreditar na ressurreição? O Evangelho do dia de
Páscoa termina dizendo que os discípulos “ainda não tinham compreendido a
Escritura” (Jo 20,9), que afirma a ressurreição de Jesus. Nós já a
compreendemos? <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">A
atitude dos discípulos naquele domingo era de desencanto. Nenhum deles esperava
pela ressurreição. Todos tinham abandonado Jesus, no momento da cruz.
Sentiam-se com medo dos judeus e culpados por terem deixado Jesus sozinho, na hora
da cruz. Maria Madalena, livre da culpa e com mais coragem que os discípulos,
vai ao túmulo de Jesus. Mas, quando encontra o túmulo vazio, também não pensa na
ressurreição; pensa, sim, que o corpo de Jesus foi roubado. Assim como os
discípulos, nós só cremos naquilo que conseguimos entender. Mesmo que a vida
nos dê sinais de ressurreição, nossos olhos e nossos pensamentos estão focados
ainda na imagem daquilo que morre a cada dia em nós e no mundo. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">A
ideia de que o corpo de Jesus havia sido roubado do túmulo só foi desfeita
quando o próprio Jesus ressuscitado se manifestou a eles (cf. At 10,40-41). E
Jesus mandou que os discípulos, testemunhas da sua ressurreição, anunciassem a
nós que nele temos o perdão dos nossos pecados e, portanto, a nossa própria
ressurreição (cf. At 10,42-43). Por isso, o movimento da nossa vida não é mais
descer até o túmulo, mas subir até onde está Cristo ressuscitado: esforçar-nos por
alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, aspirar às coisas celestes, pois
nossa vida (ressuscitada) está escondida (não pode ser vista aos olhos do
mundo) com Cristo, em Deus (cf. Cl 3,1-4). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">Ao
celebramos o domingo de Páscoa, somos convidados pelo apóstolo Paulo a viver
como pessoas ressuscitadas. Viver como ressuscitado significa procurar “as
coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1). Na
prática, isso significa que, diante de cada escolha, de cada decisão, eu devo
me perguntar: a minha escolha, a minha decisão, vai me levar para o alto, para
Deus, ou para baixo, me enterrando numa situação de morte?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">“Ele
viu e acreditou” (Jo 20,8). Aquilo que você vê te faz acreditar na vitória da
vida sobre a morte? O discípulo amado não viu Jesus. Viu o túmulo vazio e
intuiu no seu coração que aquilo era um sinal de que existe algo além da morte.
Talvez, a nossa maior dificuldade em acreditar na ressurreição seja o fato de
que continuamos a ver a vida ser vencida pela morte. Mas, o que é ressurreição?
Ressurreição não é não morrer. Nós só podemos experimentar a alegria da
ressurreição depois de experimentarmos a dor da morte! A fé na ressurreição não
anula a morte, mas nos desafia a olhar para além dela. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">“Ele
viu e acreditou” (Jo 20,8). O que impede uma pessoa de crer na ressurreição é a
maneira como ela vê sua própria vida. Crer na Ressurreição não significa não
ter que passar pela morte, mas saber que Jesus é aquele que esteve morto, porém
está vivo para sempre e tem consigo as chaves da morte: ela não pode mais nos
manter trancados em nossos túmulos (cf. Ap 1,17-18)!<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">Hoje,
domingo de Páscoa, é uma boa ocasião para perguntar: Você está verdadeiramente
disposto a fazer a sua páscoa? Páscoa significa passagem. Você só faz a
passagem de uma situação de pecado para a vida de santidade quando se convence
de que, vivendo no pecado, você só encontrará a morte, nunca a vida. Todos querem
passar da morte para a vida, mas nem todos estão dispostos a entrar pela porta
estreita que conduz à verdadeira vida (cf. Mt 7,13-14). Além disso, a primeira
carta de João diz: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos
os irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1Jo 3,14). A maneira como você
trata as pessoas que estão mais próximas de você revela se você já ressuscitou
ou se ainda continua permanecendo na morte. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></span></p>
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><span style="font-family: helvetica;">Pe. Paulo Cezar Mazzi</span></span>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-42346363457544830302024-03-27T05:33:00.000-07:002024-03-27T05:33:51.608-07:00PÁSCOA: DOM DE DEUS E TAMBÉM ESFORÇO NOSSO<p> <span style="font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: verdana;">Vigília
Pascal. Palavra de Deus: Gênesis 1,26 – 2,2; Êxodo 14,15 – 15,1; Isaías 55,1-11;
Romanos 6,3-11; Marcos 16,1-7.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Esta
noite se chama “Vigília Pascal”. Vigília lembra a atitude de quem está
acordado, esperando pelo amanhecer. Nós esperamos pela luz do amanhecer, que é
o Senhor Jesus ressuscitado, chamado no Apocalipse de “Estrela da manhã” (2,28).
A noite escura é símbolo da nossa fé: nós não vemos a Deus, mas cremos na sua
existência e no seu amor por nós. A fé é isso: o que nos faz caminhar, o que
nos mantêm de pé não é o que vemos, mas o que cremos. Mesmo nas nossas noites
escuras, e sobretudo nelas, nossa fé precisa se mover, pois, como diz a
Escritura, “nós caminhamos pela fé, não pela visão clara” (2Cor 5,7). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Na
noite em que foi liberto do Egito, Israel não conseguia enxergar claramente o
que estava acontecendo. Ele só conseguiu atravessar o mar Vermelho porque era
noite e, ao invés de ser amedrontado pelo mar, foi encorajado pela coluna de
fogo, pela nuvem luminosa que o guiava, retirando-o do Egito e conduzindo-o
para a Terra Prometida. Isso significa que só faz Páscoa, só faz a passagem da
morte para a vida, quem aceita caminhar na noite escura da fé. A Páscoa exige
que você caminhe também quando é noite; que você confie e se deixe guiar por
Aquele que vê o caminho que você não consegue ver, pois Ele vê do alto e vê
além!<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">A
travessia do mar Vermelho nos recorda que todo processo de libertação enfrenta
resistência. A Páscoa, a passagem que desejamos fazer, sempre enfrenta
obstáculos. Mas o Senhor nos faz atravessar os obstáculos e prosseguir em nossa
caminhada de libertação. A obra da salvação é d’Ele e não nossa. É Ele quem faz
sair, faz entrar, faz caminhar e faz passar. Só existe Páscoa (passagem) porque
o Senhor abre uma passagem onde ela não existe, e nos faz passar ali, assim
como também só existe passagem porque nós decidimos confiar no Senhor e passar.
Só existe Páscoa para quem abre mão do controle da sua própria vida e se deixa
guiar e controlar por Alguém maior, Alguém que vê do alto. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">O
profeta Isaías nos recorda que a salvação é dom, graça, e não mérito: "Ó
vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro,
apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite,
sem nenhuma paga” (Is 55,1). Para ser salva, uma pessoa precisa apenas ter
fome; ter sede; ter consciência da necessidade de ser salva. Porém, ninguém é
salvo sem a sua colaboração. É preciso mover-se na direção do Senhor,
afastando-se do pecado: “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o,
enquanto ele está perto. Abandone o ímpio seu caminho, e o homem injusto, suas
maquinações” (Is 55,6-7). É preciso ajustar a nossa conduta de acordo com a
vontade de Deus, pois Ele diz: “Meus pensamentos não são como os vossos
pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos” (Is 55,9). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Em
cada Vigília Pascal acontece a renovação das promessas do nosso Batismo. Batismo
significa mergulho. A água do Batismo nos mergulhou na morte de Cristo para que
com Ele possamos ressurgir para uma vida nova. Renovar as promessas do nosso
batismo significa<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>atualizar a nossa
identificação com Jesus Cristo por uma morte semelhante à sua, para que sejamos
identificados com Ele por uma ressurreição semelhante à sua (cf. Rm 6,5).
Assim, viver como uma pessoa batizada significa fazer um exercício diário de
nos considerar mortos para o pecado, mas vivos para Deus.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">A
narrativa da Paixão (ontem) terminou com a menção da grande quantidade de
perfume que Nicodemos comprou para ungir o corpo de Jesus. Naquele momento,
refletíamos que, diante do mau cheiro da morte, precisamos espalhar o perfume
da nossa fé na ressurreição, o perfume da nossa esperança de vida eterna, o
perfume da nossa confiança de que toda situação de cruz se converterá em uma
vida transformada, ressuscitada. Eis porque o Evangelho desta Vigília se inicia
fazendo uma nova referência ao perfume que algumas mulheres levam, enquanto
caminham na direção do túmulo de Jesus.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Se
a imagem do túmulo nos recorda que somos mortais, há um sinal que diz que a
morte não é mais um ponto final na vida humana (a grande pedra que impedia o
acesso ao corpo de Jesus foi retirada!). Aquela pedra não foi retirada por
alguém de fora, mas por Alguém de dentro do túmulo, Alguém que todos pensavam
que estava morto para sempre! A pedra que nos mantinha a todos fechados em
nossos túmulos, aprisionados para sempre na morte, foi retirada! Dentro do
túmulo não há mais uma vida que terminou na morte, um sonho de que desfez para
sempre, uma luz que se apagou definitivamente. Dentro do túmulo há um jovem –
imagem da vida que se renova – dizendo que Jesus de Nazaré, que foi
crucificado, ressuscitou! Portanto, esta noite de Páscoa nos convida a retirar
a pedra do túmulo do nosso desânimo, do nosso abatimento, túmulo que representa
tantas atitudes nossas por meio das quais nos enterramos vivos, morremos antes
da hora, abandonamos os nossos valores, pensando que ficar dentro de um túmulo
seja melhor do que sair e enfrentar a vida e correr o risco de sermos
machucados. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">“Vós
procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou. Não está aqui.
Vede o lugar onde o puseram. Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá
à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis, como ele mesmo tinha dito” (Mc 16,6-7).
O Evangelho da Vigília Pascal poderia nos colocar em contato com Jesus
Ressuscitado (o que será feito nos dois próximos domingos), mas ele nos coloca,
primeiro, diante de um túmulo vazio, túmulo que nos lembra que crer na
ressurreição não significa crer que não vamos morrer, ou que vamos ser poupados
de sofrimento, mas significa crer que vamos vencer a morte e o sofrimento.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-28132142798421417792024-03-26T07:07:00.000-07:002024-03-26T07:11:03.084-07:00POSICIONAR-SE DIANTE DO SOFRIMENTO<p><span style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Paixão
de nosso Senhor Jesus Cristo. Palavra de Deus: Isaías 52,13 – 53,12; Hebreus 4,14-16;
5,7-9; João 18,1 – 19,42.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Aquilo
que mais faz as pessoas se afastarem da fé em Deus é a experiência do
sofrimento. Nós inventamos uma forma de ver a vida onde Deus e o sofrimento são
inconciliáveis: onde está Deus não pode estar o sofrimento; onde está o
sofrimento não pode estar Deus. Um exclui o outro. Logo, para muitos, a ferida
do sofrimento que atinge cada vez mais pessoas no mundo é a “prova” de que, ou
Deus não existe, ou, se existe, não se preocupa com o mundo. Quem afirma isso
se esquece de que “o discurso de Deus é a própria vida, a vida que é uma
correção constante, e por vezes dolorosa, dos nossos desejos e ilusões” (Tomás
Halík, A noite do confessor, p.106). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Embora
tenhamos a tendência a nos desviar do sofrimento, o profeta Isaías nos coloca
frente a frente com o Servo Sofredor, “um homem tão desfigurado pelo sofrimento
que não parecia ter aspecto humano” (Is 52,14). De fato, ele “não tinha beleza
nem aparência que nos agradasse” (Is 53,2). Quando nos deixamos levar por uma
sociedade que valoriza a estética, a aparência, e despreza aquilo que não tem
beleza, acabamos por não conseguir enxergar Deus no rosto de alguém coberto de
dores e cheio de sofrimentos. Com que olhos você se vê quando está sofrendo?
Você vê apenas a casca, ou é capaz de enxergar mais profundamente as
transformações que estão acontecendo em você com a experiência da dor?<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">“Ele
cresceu diante do Senhor, como raiz em terra seca” (Is 53,2). É possível crescer
na dor, na aridez, na experiência do sofrimento! Para nós, ele era “alguém
castigado por Deus” (Is 53,4) ou pelo destino; mas “ele foi ferido por nossos
pecados, esmagado por nossos crimes” (Is 53,5). Antes de jogarmos nas costas de
Deus a responsabilidade pelo sofrimento que existe no mundo, é importante nos
perguntar qual é a nossa parcela de responsabilidade em criar ou alimentar
situações de sofrimento à nossa volta. Nossos pecados, nossos pequenos crimes
causam sofrimento nas pessoas e no ambiente ao nosso redor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O
maior desafio no sofrimento é readquirir a confiança <st1:personname productid="em Deus. Ao" w:st="on">em Deus. Ao</st1:personname> invés de
abandonar a fé, somos chamados a nos abandonar nas mãos de Deus: “Em vossas
mãos entrego o meu espírito, porque vós me salvareis, ó Deus fiel. Como um vaso
espedaçado, a vós eu me confio, e afirmo que só vós sois o meu Deus. Eu entrego
em vossas mãos o meu destino” (cf. Sl 31,6.15). Quem consegue dar esse passo,
comunica aos outros, com a sua maneira de lidar com o sofrimento, uma mensagem:
“Tende coragem, todos vós que ao Senhor vos confiais!” (Sl 31,25). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Meditando
sobre o sofrimento de Jesus, a carta aos Hebreus nos lembra que ele não está
mais na cruz, mas no céu, como aquele que intercede por nós. Por isso
“permaneçamos firmes na fé que professamos” (Hb 4,14), pois Jesus é capaz de se
compadecer de nossas fraquezas, uma vez que foi provado em tudo como nós. Nada
que nos acontece é estranho a Jesus. Nenhuma dor, nenhum sofrimento, nenhum
absurdo pelo qual você passa é estranho ou desconhecido para ele. “Aproximemo-nos
então com toda a confiança do trono da graça” (Hb 4,16), que é a sua Cruz, e
oremos por toda a humanidade, sabendo que Jesus “provou a morte em favor de
todos os homens” (Hb 2,9).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A
maneira como Jesus lidou com seu sofrimento de cruz tem muito a nos ensinar. “Então
Jesus disse a Pedro: ‘Guarda a tua espada na bainha. Não vou beber o cálice que
o Pai me deu?’” (Jo 18,11). Beber o cálice é compreender que a dor deve doer. A
dor da renúncia para nos manter fiéis à missão que Deus nos confiou deve doer.
A dor da fidelidade, do não nos conformar com esse mundo, do fazer em tudo a
vontade de Deus deve doer. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">“Eu
nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que
é da verdade escuta a minha voz" (Jo 18,37). Jesus não veio ao mundo nos
oferecer uma vida de ilusão e fantasia, mas o confronto com a verdade que,
embora doa, é necessária para a nossa cura e a nossa salvação. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">“Tu
não terias autoridade alguma sobre mim, se ela não te fosse dada do alto. Quem
me entregou a ti, portanto, tem culpa maior” (Jo 19,11). Quando nos confiamos a
Deus, não precisamos temer as pessoas. Nada nos atingirá, sem o consentimento
do Pai. Além disso, toda autoridade precisa saber que prestará contas a Deus. Exercer
o poder sobre os outros é uma grande responsabilidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">“Ele
tomou o vinagre e disse: ‘Tudo está consumado’. E, inclinando a cabeça,
entregou o espírito” (Jo 19,30). Cumpri minha missão. “Conclui a obra que me encarregaste
de realizar” (Jo 17,4). “Não perdi nenhum daqueles que tu me deste” (Jo 17,12).
Como concluiremos a nossa vida?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">“Olharão
para aquele que transpassaram” (Jo 19,37). Nesta tarde, em que Jesus foi
elevado da terra para atrair tudo a si (cf. Jo 12,32), para reunir todos os
filhos de Deus dispersos (cf. Jo 11,52), nós nos colocamos aos pés da sua cruz,
diante do trono da graça, permanecendo firmes em nossa fé e rezando por toda a
humanidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">“Então José veio tirar o corpo de Jesus. Chegou
também Nicodemos...
Levou uns trinta quilos de perfume feito de mirra e aloés. Então tomaram o corpo de
Jesus
e envolveram-no, com os aromas, em faixas de linho, como os judeus costumam sepultar” (Jo 19,38.39.40). Como Nicodemos,
queremos espalhar perfume da vida onde existe o mau cheiro da morte; o perfume
da esperança onde há o mau cheiro do desespero; o perfume da consolação onde há
o mau cheiro da desolação; o perfume da solidariedade onde há o mau cheiro da
indiferença; o perfume da palavra de conforto onde há o mau cheiro do
abatimento; o perfume da reconciliação onde há o mau cheiro da inimizade...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi </span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-10678038104340928822024-03-26T05:18:00.000-07:002024-03-26T05:18:02.743-07:00CEIAS QUE TRANSFORMAM <p> <span style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Missa
da Ceia do Senhor. Palavra de Deus: Êxodo 12,1-8.11-14; 1Coríntios 11,23-26; João
13,1-15.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Estamos
aqui para celebrar a última ceia de Jesus, na qual ele se entregou aos
discípulos num pedaço de pão e num pouco de vinho, antes de entregar o seu
Corpo e derramar o seu Sangue na cruz pela salvação da humanidade. Vamos
relembrar algumas imagens de ceia que aparecem no Evangelho para tentar
compreender o significado de estarmos aqui hoje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Numa ceia para a qual Jesus não foi
convidado decidiu-se a morte de João Batista (Mt 14,3-12). Existem ceias onde
se come e se bebe muito, mas onde o coração se alimenta de ideias e sentimentos
de morte. São ceias onde a alegria provocada pela bebida e pelas músicas não
consegue criar um clima de fraternidade verdadeira entre as pessoas. Existem
ceias que não transformam, mas deformam as pessoas. Mas os evangelhos nos falam
de diversas ceias onde Jesus esteve presente e onde houve uma transformação na
vida de quem delas participou. Na ceia onde Jesus estava presente uma mulher
foi perdoada (cf. Lc 7,36-50 – “Teus pecados estão perdoados”), um homem foi
convertido (cf. Lc 19,1-10 – “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que
estava perdido”), os pecadores foram acolhidos e os doentes foram curados (cf.
Mt 9,10-13 – “Quem precisa de médico é quem está doente. Eu não vim chamar os
justos, mas os pecadores”). Nessas ceias houve uma transformação porque as
pessoas que ali estavam não se alimentaram somente de pão, mas das palavras de
Jesus, cuja verdade nos liberta. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A última Ceia de Jesus com seus
discípulos aconteceu “antes da festa da Páscoa” (Jo 13,1). Já havia uma páscoa,
celebrada todos os anos pelos judeus, conforme nos relatou a leitura do livro
do Êxodo. Nessa páscoa, um cordeiro deveria ser sacrificado ao cair da tarde.
Seu sangue marcaria as portas das casas. Sua carne seria comida com pães sem
fermento (lembrança da pressa em fugir do Egito) e ervas amargas (lembrança da
escravidão vivida ali). Ao fazer memória dessa páscoa do Antigo Testamento
podemos nos perguntar: Que praga exterminadora ameaça nossa família hoje? Qual
sinal marca a nossa casa como uma casa cristã? O que é sacrificado pelo bem da
família? Em muitas casas, vivemos uma inversão de valores: filhos são
sacrificados em nome da felicidade dos pais; pais são sacrificados em nome da
felicidade dos filhos. Um outro aspecto: os pães sem fermento são a imagem de
Jesus, homem não inchado de orgulho; assim somos chamados a ser também (cf. 1Cor
5,7). As ervas amargas, por sua vez, nos recordam o amargo da correção, da
frustração, da renúncia, atitudes necessárias para a formação do caráter dos
filhos e para a nossa própria santificação. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Voltemos
ao Evangelho da última Ceia. Jesus tinha consciência de que chegara o momento
de passar deste mundo para o Pai. Ele decidiu amar seus discípulos até o fim. Quando
chegar o momento de passar deste mundo para o Pai nós estaremos amando? Amar é
servir, cuidando daquilo que nos foi confiado. Jesus quis que seus discípulos se
lembrassem dele não como alguém que veio para ser servido, mas como alguém que
veio para servir. Quando a nossa comunhão com Jesus é verdadeira, nós nos dispomos
a servir: “Deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13,14). Nisto seremos
reconhecidos como seus discípulos: pela decisão de amar até o fim, até o ponto
de nos inclinar sobre aqueles que necessitam da nossa ajuda.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Cada
Eucaristia que celebramos é uma atualização da última Ceia: “Fazei isto em
memória de mim” (1Cor 11,24.25). Cada Eucaristia alcança o nosso passado (Jesus
morreu por nós), o nosso presente (Ele está no meio de nós) e o nosso futuro
(Ele virá para nos introduzir no banquete do Reino de Deus): “Todas as vezes
que comemos deste pão e bebemos deste cálice, estamos proclamando a morte do
Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26). Cada Eucaristia nos recorda o convite
de Jesus: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouve a minha voz e abre a
porta, eu entro, faço a ceia com ele e ele comigo” (Ap 3,21). Nesta noite começa
a nossa páscoa. Abramos a porta para Jesus e deixemos com que ele nos conduza
para fora da escravidão do pecado pessoal e social, e nos faça passar da morte
para a vida. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-48995836233740155842024-03-21T06:01:00.000-07:002024-03-21T06:03:39.604-07:00NENHUMA FÉ SERÁ POUPADA DE SENTIR-SE ABANDONADA POR DEUS<p> <span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Missa
do domingo de ramos. Palavra de Deus: Isaías 50,4-7; Filipenses 2,6-11; Marcos 15,1-39.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-size: 12pt;">Jesus
“passou pelo mundo fazendo o bem” (At 10,38). Por que, então, ele teve que ser
eliminado? Porque quem faz o bem questiona quem faz o mal. A presença da pessoa
que faz o bem é como uma luz que incomoda quem se habituou a viver na
escuridão, fazendo o mal. Mas quem Jesus incomodou: os líderes políticos ou os
líderes religiosos do seu tempo? Os líderes religiosos, conforme acabamos de
ouvir no Evangelho: Pilatos “</span><span style="font-size: 12pt;">bem sabia que os sumos
sacerdotes</span><span style="font-size: 12pt;">
</span><span style="font-size: 12pt;">haviam entregado Jesus por inveja</span><span style="font-size: 12pt;">” (Mc 15,10).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Essa
atitude dos líderes religiosos da época de Jesus precisa fazer vir para fora os
sentimentos que estão escondidos no mais profundo de nós mesmos: inveja, raiva,
ódio, desejo de vingança, desejo de eliminar o outro. Não é porque somos
cristãos que não sentimos coisas que são contrárias ao Evangelho. Nós não somos
somente filhos de Deus, mas também filhos da nossa época, uma época onde as emoções
são mais ouvidas do que a razão (a consciência); uma época de crescente intolerância
e de incapacidade de conviver com o diferente; uma época onde, ao mesmo tempo
em que cresce a sensibilidade para com a defesa dos animais, cresce a
indiferença para com a defesa da vida humana, especialmente dos que vivem pelas
ruas. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">O
que dizer então da inversão de valores? O Evangelho nos pergunta com quem nos
identificamos: com Jesus ou com Barrabás? Somos discípulos d’Aquele que oferece
sua vida para que outros tenham vida, ou daquele que não se importa com a vida
alheia? A multidão preferiu Barrabás, um assassino. Quais são as músicas
preferidas hoje? Quais são os artistas, os filmes, as novelas, os livros e os
vídeos de maior sucesso atualmente? A inversão de valores do mundo atual ataca
diretamente toda pessoa que defenda valores como família, honestidade,
fidelidade, justiça etc. Pilatos cedeu à “preferência popular”. E nós,
cristãos? Nós nos movemos na vida pressionados pela “preferência” das pessoas à
nossa volta, ou nos movemos pela nossa consciência? <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">O
mal é visível e palpável no mundo em que vivemos. Sendo verdadeiro Servo de
Deus, Jesus não fechou o seu ouvido, nem virou o seu rosto quando foi
confrontado pelo mal – a violência dos homens (cf. Is 50,4-7). Pelo contrário,
ele abriu seus ouvidos para ouvir o que o Pai tinha a dizer ao ser humano que
sofre. No meio de tantas pessoas desoladas, Jesus nos convida a manter nossos
ouvidos abertos ao Pai, para que Ele coloque em nossa boca palavras de conforto
para as pessoas que estão abatidas à nossa volta. Uma pessoa que serve a Deus
não pode ficar calada diante do sofrimento do seu semelhante. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Na
hora em que Jesus estava para ser crucificado, “deram-lhe vinho misturado com
mirra, mas ele não o tomou” (Mc 15,23). Essa bebida servia como anestésico,
para que a pessoa que fosse crucificada não sentisse toda a intensidade da dor
da crucificação. Jesus rejeita esse anestésico; quer sofrer conscientemente.
Como nós nos portamos diante da nossa ou da dor dos outros? Usamos de meios
para manter nossa consciência anestesiada? Todos nós somos influenciados por um
mundo que não aceita a dor e que oferece uma porção de subterfúgios para não
senti-la. As drogas que o digam! Jesus nos desafia a encarar a vida nos olhos e
a não fugir daquilo que nos cabe enfrentar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">“Vivemos
em uma sociedade da positividade. A dor é a negatividade pura e simplesmente. O
treino de resiliência como treino de resistência espiritual tem de formar, a
partir do ser humano, um sujeito de desempenho permanentemente feliz, o mais
insensível à dor possível. A sociedade paliativa coincide com a sociedade do
desempenho. A dor é vista como um sinal de fraqueza. A passividade do sofrer
não tem lugar na sociedade ativa dominada pelo poder. Nada deve provocar dor. Esquece-se
que a dor purifica” (Byung-Chul Han, Sociedade paliativa – a dor hoje). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">A
crucificação foi a violência suprema sofrida por Jesus. Não se trata somente da
dor física da crucificação, mas da dor “moral”, a dor de ser declarado perante
o mundo um homem “condenado”, condenado pelos homens e condenado pelo próprio
Deus! Se Jesus aceitou a violência da condenação à morte foi para livrar todo
ser humano de sentir-se condenado e de ser condenado (cf. Rm 8,1). Por isso,
hoje Jesus pede a nós, seus discípulos, para sermos uma presença libertadora
junto a toda pessoa crucificada por inúmeras formas de violência neste mundo. É
missão de todo discípulo de Jesus levar “palavras de conforto à pessoa abatida”
(Is 50,4); ser uma presença de conforto junto a toda pessoa atingida por algum
tipo de cruz, especialmente para que ela não se sinta abandonada por Deus
naquela situação. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">O
silêncio que Jesus manteve durante o seu julgamento e a sua crucificação foi
rompido com uma oração: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc
15,34). Como é possível que aquele que a vida toda confiou no Pai morra
sentindo-se abandonado por Ele? Certamente, nunca o Pai esteve tão junto do seu
Filho como neste momento de cruz, mas Jesus expressa no seu grito a verdade
mais profunda que nos habita: na hora mais intensa da dor, nós não sentimos
Deus. Ele está ali, nos sustentando nos Seus braços, mas, naquele momento, nós
nos sentimos completamente sozinhos, literalmente abandonados! <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">“Meu
Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34). Quantas pessoas que
morreram de câncer ou de outras doenças fizeram essa pergunta na hora da morte?
Quantas famílias, esposas, maridos, filhos, pais, fizeram essa mesma pergunta,
ao perderam alguém que eles amavam? Essa pergunta não pode ser ignorada, porque
ela nos habita: para cada ser humano que crê, sempre chegará o momento de
questionar Deus. A fé nunca será blindada contra a dúvida, contra o sentimento
de abandono por parte de Deus. Então, o melhor que temos a fazer é nos jogar
nos braços do Pai dizendo o quanto estamos nos sentindo sozinhos, abandonados,
esquecidos, ignorados por Ele! <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Se
muitas pessoas se escandalizam com o questionamento que o Filho faz ao Pai na
hora da morte, um homem não se escandaliza; pelo contrário, se abre à fé, ao
ver como Jesus morre: “Quando o oficial do exército, que estava bem em frente
dele, viu como Jesus havia expirado, disse: 'Na verdade, este homem era Filho
de Deus!’” (Mc 15,39). A maneira como lidamos com a nossa cruz, com a dor que
atravessa o nosso caminho, com o sofrimento que atinge pessoas à nossa volta,
pode levar outros à fé. Quem dera as pessoas, ao nos virem sofrer e até mesmo
morrer, dissessem a nosso respeito: “Verdadeiramente, essa pessoa era uma filha
de Deus!”. A experiência de cruz não se dá em nossa vida para destruir a nossa
fé, mas para comprová-la! O Pai permite que a cruz atravesse o nosso caminho
não para nos fazer desistir de sermos discípulos de seu Filho, mas para nos
confirmar como tais. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Diante
desse Pai, “Jesus deu um forte grito e expirou” (Mc 15,37). No grito de Jesus
está o grito de cada ser humano por vida, por paz, por justiça, por
misericórdia, por perdão... Expirando, Jesus entrega seu hálito de vida (seu
espírito) a Deus. Expirar lembra término. Chegará o momento em que iremos
expirar, como Jesus. Que o nosso expirar seja vivido segundo as palavras do
apóstolo Paulo: “sei em quem depositei a minha fé” (2Tm 2,12). Sei nas mãos de
quem eu entrego o meu espírito: nas mãos do Pai que conta cada um dos meus
passos errantes e recolhe no seu odre cada uma das minhas lágrimas (cf. Sl
56,9), para enxugá-las e recompensá-las (cf. Is 25,8; Ap 7,17). Quer eu esteja
vivo, quer eu morra, continuarei pertencendo ao Senhor Jesus (cf. Rm 14,7-8)!<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;"> Pe. Paulo
Cezar Mazzi</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-35880464690520115082024-03-14T07:17:00.000-07:002024-03-15T13:03:32.352-07:00QUEM NÃO ACEITA "MORRER" NÃO VIVE DE VERDADE<p> <span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Missa
do 5º dom. Quaresma. Palavra de Deus: Jeremias 31,31-34; Hebreus 5,7-9; João
12,20-33.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O
que faz a vida valer a pena? Dinheiro? Sexo? Poder? Fama? Sucesso? Bens
materiais? Segundo Jesus, o que faz a vida valer a pena é dedicá-la a uma causa;
é gastar a vida para deixar o mundo melhor depois de termos passado por ele. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Enquanto
nós entendemos que viver significa preservar-se, poupar-se, Jesus nos faz esse
alerta: “Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua
vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna” (Jo 12,26). Em outras
palavras, enquanto nós entendemos a vida como desfrutar o máximo possível das
coisas deste mundo, já que a nossa existência terrena é muito breve, Jesus nos
fala de uma outra vida, uma vida plena, que não é atingida pela morte, uma vida
verdadeira, mas que só pode ser alcançada quando não nos importamos em
“perder”, em gastar, em dedicar a nossa existência terrena a uma causa maior,
que não é o nosso bem-estar pessoal, e sim a salvação da humanidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Para
nos ajudar a compreender o sentido da vida, a razão de ser da nossa existência,
Jesus se utiliza da imagem de um grão de trigo: se ele quiser ser poupado,
guardado, preservado de ser enterrado, permanecerá apenas um grão de trigo. Mas
se ele aceitar ser enterrado e passar pelo processo de “morrer”, produzirá
muito fruto. O que é esse “morrer”? É dedicar a nossa existência a algo que a
própria vida nos chamou a fazer; é deixar vir para fora aquela fecundidade que
está guardada dentro de nós e que nos foi dada por Deus não em função de nós
mesmos, mas em função do bem da Igreja, das pessoas, da sociedade humana. O que
Jesus está nos dizendo é que, quanto mais nos fechamos em nós mesmos, mais
infelizes e vazios nos sentimos. Pelo contrário, quanto mais nos doamos às
pessoas ou a uma causa que precisa de nós, mais nos sentimos felizes e
realizados. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Doar-se,
dedicar-se a uma causa, gastar a vida para tornar a humanidade melhor é um
processo doloroso. Jesus também experimentou repulsa diante da dor e da morte:
“Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora!’? Mas foi
precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!” (Jo
12,27-28). Jesus nos encoraja a reconhecer nossos sentimentos e a dialogar com
eles. Apesar de todo ser humano mentalmente saudável desejar viver e não
morrer, sempre em nossa vida chegará a hora da angústia, a hora de submeter o
nosso instinto de sobrevivência à missão ou à causa que abraçamos, a hora de
fazermos não a nossa vontade, mas a vontade do Pai, que é doar aquele momento
da nossa vida para gerar vida em outras pessoas ou em situações que não nos
dizem respeito diretamente, mas que dizem respeito ao bem da humanidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">“Foi
precisamente para esta hora que eu vim” (Jo 12,27). Na vida de cada um de nós
existe a hora da cruz, a hora do sacrifício, da renúncia, para nos mantermos
fiéis à missão que somos, à tarefa que a vida nos confiou. Por fugir dessa hora,
por não aceitá-la em sua história de vida, muitas pessoas abandonaram o
casamento, a família, os filhos, os pais, a Igreja, o serviço que haviam
abraçado em prol de um mundo melhor. Por não admitirem sofrer, muitas pessoas
decidiram tornar-se indiferentes a tudo e a todos, fechando-se em si mesmas e
tornando-se grãos de trigo guardados numa gaveta. Elas até podem se sentir
“preservadas” da dor de não ter que morrer para gerar vida no mundo ao seu
redor, mas já estão mortas por dentro, porque decidiram sabotar a própria
fecundidade e esvaziar o sentido da sua própria existência. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Jesus
nos propõe viver, e viver em plenitude, mas essa experiência só se dá quando não
fugimos da nossa hora de cruz, de sacrifício, de doação, de renúncia; numa
palavra, de obediência à vontade do Pai. “Mesmo sendo Filho, aprendeu o que
significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu” (Hb 5,8). Ninguém de
nós aprende a obedecer a Deus sem dor, sem sofrimento, não porque Deus deseje
nos ver sofrer, mas porque o nosso ego não aceita se submeter à vontade de
Deus. De uma coisa devemos ter certeza: nós só seremos felizes e nos sentiremos
realizados fazendo a vontade de Deus, isto é, sendo fiéis à tarefa que Ele nos
confiou ao nos chamar à existência, mas viver segundo essa vontade nos custará
muitas vezes lágrimas, muitas lágrimas, exatamente como aconteceu com Jesus.
Contudo são essas mesmas lágrimas que, caindo no solo onde nosso grão de trigo
foi enterrado e aceitou morrer, fará germinar a vida fomos chamados a gerar a
partir da nossa “morte”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">De
novo a pergunta: O que faz a vida valer a pena? A vida vale a pena não pelo
tanto que você vive, mas pelo tanto que você aceitar morrer para gerar vida à
sua volta. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-47068222998307476102024-03-07T14:08:00.000-08:002024-03-07T14:08:07.336-08:00AMAR SIGNIFICA SACRIFICAR-SE POR AQUILO QUE SE AMA<p> <span style="font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica;">Missa
do 4º dom. Quaresma. Palavra de Deus: Crônicas 36,14-16.19-23; Efésios 2,4-10;
João 3,14-21.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: helvetica;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">Nós
já percorremos três semanas do nosso caminho quaresmal. Agora que estamos
iniciando a quarta semana, já é possível ver algo despontando no horizonte:
alguém foi levantado numa cruz! A explicação dessa imagem nos é dada pelo
próprio Jesus: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto,
assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que
nele crerem tenham a vida eterna” (Jo 3,14-15). Da mesma forma como o povo de
Israel, picado por serpentes venenosas no deserto, encontrou cura e salvação ao
olhar para a imagem de uma serpente de bronze, fabricada por Moisés por ordem
de Deus (cf. Nm 21,8-9), assim Jesus se tornará na cruz uma imagem da salvação
de Deus para a humanidade, mas essa salvação depende da fé: “É necessário que o
Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida
eterna” (Jo 3,14-15). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">A
fé que nos salva não está na imagem do Crucificado, e sim no que ela significa,
e o próprio Jesus explica: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho
unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”
(Jo 3,16). A primeira verdade na qual somos chamados a crer é esta: Deus ama a
humanidade, e a prova desse amor está explícita na cruz de seu Filho. Porém,
muitos perguntam que amor é esse que parece ter abandonado a humanidade a si
mesma; que amor é esse que permite o câncer e tantas outras doenças, as
catástrofes, as guerras, a violência, a desintegração das famílias, a
desorientação da humanidade etc. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">A
imagem do Crucificado coloca em crise a nossa ideia a respeito do amor. Para
nós, quem ama faz de tudo para que o amado não sofra. No entanto, Deus vê as
coisas de outra maneira. Quem ama educa e corrige o amado (cf. Hb 12,5-13).
Quem ama permite situações difíceis na vida do amado, para que ele cresça,
amadureça e se torne forte perante os desafios da vida. No Antigo Testamento,
Deus amou Israel, e, no entanto, permitiu que seu povo fosse exilado na
Babilônia por vários anos (cf. 2Cr 36,19-20). Estando naquela situação de
sofrimento, Israel se sentiu abandonado e esquecido por Deus, mas o próprio
Deus lhe garantiu: “Se de ti, Jerusalém, algum dia eu me esquecer, que resseque
a minha mão! Que se cole a minha língua e se prenda ao céu da boca, se de
ti não me lembrar! Se não for Jerusalém minha grande alegria!” (Sl 137,5-6). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">A
humanidade tem feito inúmeras experiências de exílio, não porque Deus assim o
queira, mas justamente por ter virado as costas para Deus. O mundo moderno
empurrou Deus para fora; consequentemente, ele se sente tomado por um grande
vazio, traduzido em insegurança, medo, apatia, desencanto, orfandade etc. Assim
como a experiência do exílio foi uma correção para o povo de Israel, assim Deus
permite exílios para corrigir o ser humano, na esperança de que ele reveja as
suas atitudes, pare de ferir a si mesmo e ao seu semelhante, e decida voltar a
se deixar amar e cuidar por Deus. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">Embora
o pessimismo tenha tomado conta do coração de muitas pessoas, Jesus nos lembra
de uma outra grande verdade: “Deus não enviou o seu Filho ao mundo para
condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17). Todo
pregador que distorce a Palavra de Deus para incutir medo e ameaçar pessoas não
entendeu o Evangelho. Justamente porque ama a humanidade, Deus “deseja que
todos os homens sejam salvos” (1Tm 2,4). É nossa missão nos colocar junto de
pessoas que desistiram não somente de Deus, mas também de si mesmas, e anunciar
que não há fim de linha nem estrada sem saída para ninguém. “Não existe mais
condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8,1). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">Se
é verdade que Jesus veio ao mundo para salvar, não para condenar, existe a
possibilidade de condenação por parte da pessoa que escolhe as trevas e não a
luz: “A luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque
suas ações eram más” (Jo 3,19). O que Jesus está nos dizendo é que escolher a
luz implica em renunciar às trevas, e muitas pessoas, apesar de desejarem a luz
– ser salvas –, não estão dispostas a pagar o preço de renunciar às trevas,
porque estas lhes dão algum tipo de ganho ou de compensação. Em outras
palavras, quem faz o mal não o faz por ser mal, mas por querer ganhar algo com
o mal que faz. Só quem aceita perder esse ganho, abrir mão dessa compensação
que tem como custo o mal provocado a si mesmo, aos outros, à humanidade,
consegue sustentar a sua escolha pela luz.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">Jesus
entende que escolher a luz significa agir conforme a verdade: “Quem age
conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são
realizadas em Deus” (Jo 3,21). Em outras palavras, ninguém é salvo por saber ou
conhecer a verdade, mas por decidir viver segundo ela. A verdade é o Evangelho
(“Palavra da verdade”, cf. Ef 1,13). Quando agimos conforme a verdade, sentimos
paz e temos saúde física, emocional e alegria espiritual. Quando agimos em
desacordo com a verdade, perdemos nossa paz, começamos a adoecer e a tristeza
passa a morar em nosso espírito. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">Três
perguntas podem nos ajudar a rezar a nossa vida diante da Palavra de Deus,
neste quarto domingo da Quaresma: 1) Eu creio no amor de Deus pela humanidade,
manifestado visivelmente na cruz de seu Filho Jesus? 2) Qual sentimento é mais
frequente em meu interior: o de condenação ou o de salvação? 3) Eu me esforço
para viver segundo a verdade do Evangelho no meu dia a dia?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: helvetica;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: helvetica;"> </span></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-44092298436526000092024-02-29T05:20:00.000-08:002024-02-29T05:25:43.066-08:00SEU CORPO É UM TEMPLO HABITADO POR DEUS OU OCUPADO POR DEMÔNIOS?<p> <span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Missa do 3º. Dom. Quaresma. Palavra de Deus: Êxodo
20,1-3.7-17; 1Coríntios 1,22-25; João 2,13-25. </span><span style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><o:p><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Geralmente,
a imagem que os Evangelhos nos dão de Jesus é a de um homem sereno, pacífico,
manso e humilde. Mas a cena do Evangelho de hoje nos apresenta um Jesus enérgico,
“agressivo”, que, ao ver o Templo, a casa do seu Pai, ser corrompido em casa de
comércio, faz um chicote de cordas e expulsa todos do Templo. Essa atitude
enérgica de Jesus tem uma justificativa: a religião jamais pode estar a serviço
do enriquecimento dos seus dirigentes, sobretudo quando esse enriquecimento é
fruto da exploração da miséria dos que buscam na religião o socorro de Deus. Além
disso, a religião também não pode ser distorcida em autoajuda, em motivação empresarial,
de modo que Deus seja instrumentalizado e colocado a serviço da ambição ou dos
sonhos de enriquecimento dos “fiéis” que a frequentam. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">“Tirai isso daqui! Não
façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2,16). Quantos de nós
temos uma relação “comercial” com Deus? Temos sonhos, projetos, desejos, e
achamos que Deus é o encarregado de realizá-los. Consciente ou
inconscientemente, muitas pessoas estão nas igrejas não para servirem a Deus,
mas para se servirem d’Ele, em vista dos seus desejos egoístas. Essa maneira
comercial de viver a fé foi chamada por Rodrigo Bibo, autor do livro “O Deus
que destrói sonhos”, de “teologia da Xuxa”, uma vez que a mesma costumava
cantar uma música cuja letra dizia: “Tudo o que eu quiser, o cara lá de cima
vai me dar” (Lua de Cristal). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A verdade é que, num primeiro momento, ninguém
procura Deus gratuitamente, mas sempre movido por uma necessidade. Normalmente
é a dor, e não o amor, que move as pessoas a irem a um templo e a orarem a
Deus. Mas Jesus deseja nos conduzir a um nível mais profundo de fé, onde aquilo
que nos move na direção de Deus não seja uma necessidade, mas simplesmente o
amor, como um filho que procura o pai não porque precisa de algo, mas porque
ama o pai e quer ficar na presença dele. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Ao ser questionado sobre seu “ataque” ao sistema
corrompido do judaísmo do seu tempo, Jesus fez uma revelação surpreendente, que
não foi compreendida de imediato: “Jesus estava falando do Templo do seu corpo”
(Jo 2,21). Existem incontáveis templos na face da terra, mas somente Jesus é o
verdadeiro Templo, porque somente por meio d’Ele podemos ter acesso ao Pai (cf.
Ef 2,18). Numa época em que a descrença e a indiferença religiosa crescem mais
do que a procura por Deus nas diversas religiões, todos precisamos ser “chicoteados”
por essas palavras do apóstolo Paulo: “Os judeus pedem sinais milagrosos... Nós,
porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para
os judeus... Esse Cristo é poder de Deus” (1Cor 1,22.23.24). O Corpo
crucificado de Jesus, presente nos crucificados do nosso tempo, é o lugar do
encontro com o verdadeiro Deus.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Se Jesus entendeu o seu Corpo como Templo de Deus,
nós também devemos recobrar a consciência de que o Espírito de Deus habita em
nós, o que significa que também o nosso corpo é templo de Deus (cf. 1Cor 3,16-17;
6,19). Desse modo, as palavras de Jesus – “Tirai isso daqui!” – também devem
ser entendidas em relação ao nosso corpo. Justamente porque vivemos numa
sociedade erotizada, que reduz o afeto ao prazer e à satisfação dos nossos desejos
instintivos, o corpo é hoje um templo profanado por inúmeros comerciantes. A
pornografia é uma das cinco indústrias mundiais que mais ganha dinheiro. Segundo
a neurociência, o seu poder de viciar é mais forte que o da cocaína. Temos
também a indústria do tráfico de órgãos: pessoas pobres são sequestradas e têm
seus órgãos retirados para a venda no mercado clandestino, “salvando” a vida
dos ricos que podem pagar por órgãos traficados. A série “Coração marcado”
denuncia isso claramente. Temos ainda o problema da pedofilia e da prostituição
infantil, conhecidas, toleradas e praticadas por “gente grande” em muitas partes
do nosso País: políticos, juízes, médicos etc. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">“Tirai isso daqui!”. Esta ordem de Jesus precisa
questionar a presunçosa autonomia dos que afirmam: “meu corpo, minhas regras”.
Como alguém sabiamente disse: “Seu corpo tem suas regras? A vida tem seus
direitos!”. Um embrião ou um feto não é um órgão que pertence ao corpo da
mulher e que ela pode decidir extirpar dele, se assim o desejar. Além disso,
devemos considerar o fenômeno atual das tatuagens. Buscando modelos ou ídolos –
destaque para os jogadores de futebol –, as novas gerações mergulham de cabeça
na onda de tatuar-se. Ignorando totalmente o próprio corpo como templo de Deus,
tatuam-se de maneira cada vez mais extravagante, nunca se dando ao trabalho de
perguntar a Deus na sua consciência o que Ele acha daquela tatuagem (Elas
conhecem os dez mandamentos???). São “templos pichados” com toda espécie de imagens,
frases (inclusive bíblicas!) ou símbolos – um comportamento próprio de uma
geração paganizada. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Muito mais do que diante do chicote de Jesus, o Evangelho
de hoje quer nos colocar diante dessa verdade: Jesus “conhecia o homem por
dentro” (Jo 2,25). Diante de uma geração como a nossa, excessivamente
preocupada com o corpo, mas desleixada quanto à consciência, Jesus nos vê no
profundo de nós mesmos; Ele sabe o que se esconde dentro de nós e que ninguém
vê. Ele conhece cada pensamento, sentimento e desejo que se escondem nas
regiões mais profundas e obscuras de nós mesmos. Ele conhece o lixo que se
acumula dentro de nós há muito tempo. Ele enxerga não somente as nossas tatuagens,
mas principalmente os motivos que nos levaram a fazê-las. Deixemos com que Ele
nos diga o que deve ser tirado do nosso corpo, da nossa alma e do nosso
espírito, para que o templo que somos seja reconstruído e volte a ser o lugar
da habitação de Deus e não dos demônios que permitimos que passassem a morar
dentro de nós. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Pe. Paulo Cezar Mazzi</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-86076910182997016412024-02-22T05:13:00.000-08:002024-02-22T05:13:36.921-08:00SEM SACRIFÍCIO LIVRE E CONSCIENTE NÃO HÁ TRANSFIGURAÇÃO<p> <span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Missa
do 2º dom. Quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 22,1-2.9a.10-13.15-18; Romanos
8,31b-34; Marcos 9,2-10.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Os
textos bíblicos de hoje nos colocam sobre dois montes: o monte Moriá e o monte
Tabor. Sobre esses dois montes estão dois filhos e dois pais: Isaac, o filho
único de Abraão, e Jesus, o Filho único do Pai. A diferença é que Isaac é
poupado do sacrifício, enquanto que Jesus abraça livre e conscientemente a
missão de sacrificar-se para salvar todo ser humano. Entre o (quase) sacrifício
de Isaac e o sacrifício de Jesus, o apóstolo Paulo nos coloca uma pergunta: “Deus
que não poupou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós, como não nos
daria tudo junto com ele?” (Rm 8,32). Jesus está prefigurado em Isaac: enquanto
Deus Pai poupa o filho único de Abraão do sacrifício, não poupa, mas permite
que seu Filho único seja entregue “por todos nós”, do sacrifício da cruz. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">A
primeira palavra que precisa falar ao nosso coração, na liturgia de hoje, é
SACRIFÍCIO. Pelo quê eu me sacrifico no dia a dia da minha vida? Pela minha sobrevivência?
Pelo bem-estar da família e dos filhos? Movido(a) pela competição e pelo
consumismo? Até onde estou disposto a me sacrificar pela restauração do meu
casamento, para me manter fiel ao chamado que Deus me fez, ou para manter a
minha consciência reta diante de Deus, em vista da minha salvação? O meu
sacrifício é imposto a partir de fora (como o de Isaac), ou abraçado livre e
conscientemente por mim (como o de Jesus)? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Deus
não permitiu o sacrifício de Isaac para que Abraão – e cada um de nós –
compreendesse que Ele não se alimenta do sangue de crianças inocentes, como se
fosse um ídolo pagão. No entanto, Ele pediu o sacrifício de Isaac para colocar
à prova Abraão e cada um de nós, através de uma pergunta: “Você continuaria a
crer em mim e a caminhar comigo se Eu permitisse que perdesse aquilo que você
mais ama nesta vida?”. Por trás do pedido que Deus fez a Abraão, de sacrificar
Isaac, seu filho único, está uma verdade difícil de compreendermos e
aceitarmos: Deus não é somente Aquele que dá, mas também Aquele que tira. Não
nos esqueçamos das palavras de Jó: “O Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja
o nome do Senhor” (Jó 1,20). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">“O
mistério do mal e do sofrimento tem conduzido pessoas para Deus, mas também as
afastado d’Ele. Que sentido tem um Deus que não sabe o que fazer do sofrimento,
ou, se o sabe, não nos quer ajudar? Mas se nós Lhe viramos as costas, será que
isso ajuda a nos livrar do sofrimento, ou será que, pelo contrário, nos privará
da força para confrontarmos e fazermos frente ao mal e ao sofrimento?” (Tomás
Halík, <i>A noite do confessor</i>). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">O
Evangelho de hoje nos revela que, durante a Quaresma, Jesus quer que subamos
com Ele a uma montanha, lugar da comunhão com Deus, lugar onde nos afastamos da
compulsão do mundo consumista e da correria de uma vida desenfreada, para ouvirmos
o Pai, para recuperarmos a consciência de que nós somos uma missão nesta terra
e é só na fidelidade a essa missão que a nossa vida tem sentido. Jesus quis que
Pedro, Tiago e João vissem a sua transfiguração, antes de o verem desfigurado
na cruz. Da mesma forma, Jesus quer nos ajudar a enfrentar as situações de
desfiguração, sabendo que elas não são o rosto definitivo nem nosso, nem da
humanidade, nem do nosso mundo: “Os sofrimentos da desfiguração do tempo
presente não se comparam com a alegria da transfiguração que se revelará em nós
e em toda a criação” (citação livre de Rm 8,18). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">As
duas outras palavras que precisam falar ao nosso coração são: DESFIGURAÇÃO e
TRANSFIGURAÇÃO. Aquilo que se desfigura em minha vida ou à minha volta é algo
necessário, como parte de um processo de transformação, ou consequência de
atitudes injustas e erradas da minha parte ou da parte de outras pessoas? A
desfiguração da amizade social, provocada pelo individualismo e pela
indiferença para com o outro, também é produzida por mim, na minha relação com
as pessoas no dia a dia? Eu também alimento e ajudo a propagar a desfiguração
do Papa Francisco e da CNBB, criticados e atacados por grupos católicos de
extrema direita nas redes sociais? Minha presença na Igreja (paróquia,
comunidade) tem ajudado a transfigurá-la? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Enquanto
olhavam para Jesus transfigurado, Pedro, Tiago e João foram encobertos por uma
nuvem e escutaram a voz do Pai: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele
diz!” (Mc 9,7). O momento mais difícil de escutar Deus é quando estamos enfrentando
uma situação de desfiguração. No entanto, é o momento mais necessário. Aliás,
sempre que estamos desfigurados, precisamos fazer nossas as palavras do
salmista: “Guardei a minha fé, mesmo dizendo: ‘É demais o sofrimento em minha
vida!’” (Sl 116,10). Por maior que seja o sofrimento que estamos enfrentando e
que está nos desfigurando, precisamos guardar a nossa fé, no sentido de
mantê-la viva, tendo a mesma certeza do apóstolo Paulo: o mesmo Deus, que
sustentou o seu Filho na desfiguração da cruz, em nosso favor, também nos
sustentará. Além disso, devemos confiar que nenhuma desfiguração pode destruir
essa verdade: Jesus Cristo morreu, ressuscitou e está à direita do Pai,
intercedendo por nós! (cf. Rm 8,34). É graças à sua intercessão que a nossa
desfiguração se converterá em transfiguração! <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Enfim,
tenhamos consciência de que TRANSFIGURAÇÃO e SACRIFÍCIO estão interligados. O sacrifício
mais custoso é a nossa obediência a Deus, buscando conformar a nossa vida à Sua
vontade. Sempre que nos sacrificamos nesse sentido, a nossa vida se
transfigura, como consequência de quem está em paz porque sabe que está fazendo
exatamente aquilo que foi chamado a fazer; está sendo fiel à sua missão de
ajudar a transfiguração o pequeno espaço em que se encontra, como Jesus sempre
fez. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-41386078710320140122024-02-15T05:36:00.000-08:002024-02-15T05:36:38.103-08:00"SENTIR TODO SER HUMANO COMO UM IRMÃO" (FT, n.287)<p> <span style="font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: verdana;">Missa
do 1º dom. Quaresma. Palavra de Deus: Gênesis 9,8-15; 1 Pedro 3,18-22;
Marcos 1,12-15.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“O Espírito impeliu Jesus para o
deserto. E ele ficou no deserto durante quarenta dias” (Mc 1,12-13). Hoje, o
Espírito Santo impele, empurra, joga cada um de nós numa situação de deserto,
porque somente nela podemos ouvir Deus falar ao nosso coração (cf. Os 2,16). O deserto
é necessário para que possamos nos afastar de tudo aquilo que tem nos afastado
de Deus e dos irmãos. Ele é também uma experiência de correção, de educação, de
conversão, de rever qual é a meta da nossa vida. Na Quaresma devemos buscar
esse deserto através da nossa decisão de fazer silêncio, de olhar para dentro e
de nos confrontar conosco mesmos e com o mal que nos habita. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Jesus “ficou no deserto durante
quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás” (Mc 1,13). As tentações nos
ensinam que não é possível tornar-nos a pessoa que fomos chamados a ser sem
lutar. Ninguém se torna senhor de si mesmo enquanto não lutar com os demônios
que habitam o seu interior e que tentam mandar na sua vida. O confronto com as
tentações nos lembra que "as mudanças que contam na nossa vida não
acontecem de um dia para o outro ou de forma espontânea. Acontecem no meio de
um paciente combate interior" (Cardeal José Tolentino Mendonça). Se
quisermos sair da Quaresma curados, libertos, transformados, precisamos
enfrentar o combate interior contra a nossa preguiça, o nosso comodismo, o
nosso vício e os nossos maus hábitos. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>As armas que Jesus usou durante sua
vida para vencer o seu combate interior são as mesmas que podemos usar: a
oração, nascida da consciência de que não somos autossuficientes e não podemos
vencer o maligno por nós mesmos; a sinceridade diante dos próprios sentimentos,
nascida da consciência de que não somos anjos; a paciência conosco mesmos,
nascida da consciência de que só sofre quedas quem se dispõe a caminhar; o
jejum, nascido da consciência de que podemos administrar nossos instintos e não
sermos administrados por eles; a perseverança e a determinação, nascidas da
consciência de que “Deus é fiel: ele não permitirá que sejamos tentados acima
das nossas forças, mas, junto com a tentação, nos dará os meios de sairmos
delas e a força para as suportar” (1Cor 10,13).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Toda
experiência de deserto é uma experiência de purificação da nossa fé, de
correção da imagem de Deus que temos dentro de nós. Na época de Noé, Deus era
interpretado como Aquele que resolveu exterminar, por meio do dilúvio, a vida
do ser humano e dos animais da face da terra, por causa da maldade do próprio
ser humano (cf. Gn 6,5-7). Quando a experiência do dilúvio terminou, Noé e sua
família puderam ter uma imagem mais clara de Deus, como Aquele que fez aliança
com a terra e com toda vida que há nela, uma aliança que será lembrada toda vez
que surgir um arco-íris (cf. Gn 9,13-15). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Deus
não está interessado em fazer guerra aos homens. É por isso que, no lugar do
arco de guerra, Ele colocou no céu o arco-íris. Nós não estávamos na arca com
Noé, mas vivenciamos a salvação do dilúvio por meio do nosso batismo, conforme afirmou
o apóstolo Pedro: “À arca corresponde o batismo, que hoje é a vossa salvação”
(1Pd 3,21). A água do batismo foi derramada sobre a nossa cabeça não para
limpar o nosso corpo da sujeira, para pedir a Deus uma boa consciência, uma
consciência como a de Jesus, voltada para o Pai, que aceita ser conduzida pelo
Espírito Santo e que não se deixa enganar pelas mentiras do tentador.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Batizadas
ou não, muitas pessoas navegam na Internet praticamente todos os dias. Quantas
delas se afogam ou se pervertem nessas águas? Neste sentido, o Papa Francisco
alertou na Encíclica Fratelli Tutti: “Não podemos aceitar um mundo digital
projetado para explorar as nossas fraquezas e tirar fora o pior das pessoas” (FT,
n.204). Talvez, um saudável jejum de redes sociais nos ajudaria a terminar o
período da Quaresma melhores, mais humanizados e mais fraternos, mais filhos do
arco-íris do que filhos dos arcos de guerra, convencidos de que “toda a guerra
deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da
humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal” (Papa
Francisco, FT, n.261).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Uma
última palavra. Durante a sua experiência de deserto, Jesus “vivia entre os
animais selvagens, e os anjos o serviam” (Mc 1,13). Todos nós temos instintos
selvagens e impulsos angelicais. Devemos evitar a tentação de eliminar um e
ficar com o outro. Ambos fazem parte da nossa humanidade. Ambos precisam ser
integrados em nosso caminho de conversão e de santificação. A harmonia daquilo
que é selvagem com aquilo que é angelical aponta para um mundo reconciliado,
para o ser humano pacificado, para a humanidade redimida pelo Ungido do Senhor
(cf. Is 11,6.9). Permitamos que o Pai forme em nós os sentimentos do Filho (cf.
Fl 2,6), de modo que possamos “sentir todo ser humano como um irmão” (Papa
Francisco, FT, n.287). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-66424419145797917832024-02-14T03:27:00.000-08:002024-02-14T05:22:56.971-08:00QUARESMA: MOMENTO FAVORÁVEL PARA UMA MUDANÇA PROFUNDA EM NÓS<p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"> </span><span style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Missa
da quarta-feira de Cinzas. Palavra de Deus: Joel 2,12-18; 2Coríntios 5,20 –
6,2; Mateus 6,1-6.16-18</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Para
compreendermos a importância do tempo da quaresma, podemos nos lembrar do apelo
de Jonas à cidade de Nínive: “Dentro de quarenta dias, Nínive será destruída”
(Jn 3,4). A primeira pergunta que podemos nos fazer é esta: Há algo que está
sendo destruído (ou correndo o risco de sê-lo) em minha vida ou à minha volta? A
força que provoca a destruição em nossa vida se chama pecado, e pecado
significa “fazer o que é mal aos olhos de Deus” (cf. Sl 51,6). A destruição ou
a ameaça dela em nossa vida pode ser barrada, pode ser revertida em
reconstrução. Para que isso aconteça, precisamos mudar de atitude, e tal
mudança se chama “conversão”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Quem
nos faz esse apelo de mudança, de conversão, é o próprio Deus: “Voltai para mim
com todo o vosso coração” (Jl 2,12), isto é, com sinceridade e em profundidade.
Poderíamos lembrar também dessas palavras: “Voltai-vos para mim e sereis
salvos, homens todos dos confins de toda a terra” (Is 45,22). O filho só pode
ter vida junto do Pai. Não há vida, felicidade, paz ou alegria quando nos
afastamos de Deus. E da mesma forma que o nosso afastamento de Deus levou tempo
para acontecer, a volta para Ele se dá num tempo simbólico de quarenta dias. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Quarenta
dias é um tempo espiritual, chamado pelo apóstolo Paulo de “momento favorável”
e “dia da salvação” (2Cor 6,2). É o tempo espiritual onde uma ferida pode ser tratada
e curada, onde uma ponte pode ser construída sobre o abismo do distanciamento e
da separação, onde pode ocorrer em nós a mudança do coração de pedra
(desumanizado) em coração de carne (humanizado). Mais do que tudo, é o tempo de
“deixar-se reconciliar com Deus” (cf. 2Cor 5,20). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Jesus
também viveu sua quaresma. Antes de iniciar a sua missão, ele ficou no deserto
quarenta dias, como veremos no Evangelho de domingo: “O Espírito impeliu Jesus
para o deserto. E ele esteve no deserto quarenta dias” (Mc 1,12-13). Por que o
deserto? Porque é só numa situação de deserto que conseguimos voltar a ouvir e
obedecer à voz de Deus em nossa consciência: “Eu a conduzirei ao deserto e lá
lhe falarei ao coração” (Os 2,16). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">O
Espírito Santo convida-nos diariamente à conversão, porque ela não é um fato
que acontece uma vez para sempre. Ninguém caminha na vida sem tropeçar, cair ou
se desviar de Deus. Retomar o caminho é uma necessidade constante. Rever nossos
valores, nossas prioridades, é necessário para evitar ou interromper um
processo de destruição de nós mesmos, dos nossos relacionamentos, dos nossos
sonhos e da vida que o Pai deseja para cada um de nós, seus filhos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">No
início desse período de quarenta dias de esforço por mudar aquilo que em nós
está provocando destruição e morte, Jesus nos convida a rever três áreas da
nossa vida: a área da nossa convivência com as pessoas. Neste sentido, a esmola
não é simplesmente dar qualquer coisa a quem necessita, só para tranquilizar a
nossa consciência. Trata-se de recuperar a nossa sensibilidade social,
lembrando o alerta do Papa Francisco: “Surgem novas formas de egoísmo e de
perda do sentido social” (FT 11). Outra área da nossa vida é o relacionamento
com Deus: vida de oração. Nenhuma mudança em nossa vida é possível sem a ação
da graça de Deus em nós. O barro não pode tornar-se coisa alguma se não se
colocar nas mãos do Oleiro. Disciplinar-se na oração diária é uma importante
penitência para esse tempo de quaresma. Por fim, uma terceira área é a maneira
como lidamos com os nossos desejos, afetos e instintos. Nesse sentido, o jejum
é um freio de mão que puxamos para interromper um comportamento desenfreado que
está nos arruinando. Jejuar significa recuperar a nossa liberdade perante tudo
aquilo que nos afeta, fortalecendo a consciência de que podemos não ser
responsáveis pelo que sentimos, mas somos responsáveis pelo consentir que
determinado sentimento nos leve a pecar, prejudicando a nós mesmos ou ao
próximo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">A Campanha
da Fraternidade, realizada em toda Quaresma, nos ensina que o pecado tem sempre
uma dimensão pessoal e outra social. O tema da CF deste ano é: “Vós sois todos
irmãos e irmãs” (Mt 23,8). O mal que penetra no mundo tem suas raízes na quebra
das relações fraternas. O Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti, nos
lembra de que o nosso mundo atual “privilegia os interesses individuais e
debilita a dimensão comunitária da existência” (FT 12). Somos chamados a “cuidar
da fragilidade; cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do
nosso povo” (FT 115). “Precisamos fazer crescer a consciência de que, hoje, ou
nos salvamos todos ou não se salva ninguém” (FT 137). Que a vivência da
Quaresma deste ano nos leve a “sentir todo ser humano como um irmão” (FT 287).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">As
cinzas que vamos receber sobre a nossa cabeça nos recordam o que o Senhor Deus
disse a Adão, após o pecado: “Você é pó e ao pó voltará” (Gn 3,19). A quaresma
quer nos ajudar a recuperar a consciência de que todo pecado nos leva para a
morte (cf. Rm 6,23). Ter consciência da nossa morte pode nos ajudar a rever os
nossos valores e a viver a nossa vida de outra maneira. Quem tem consciência da
própria morte não vive perdido em meio a coisas urgentes e acidentais, mas
mantém o foco naquilo que é essencial, e o essencial é a nossa salvação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-45102895342648133862024-02-08T05:04:00.000-08:002024-02-08T09:31:13.841-08:00A LEPRA MODERNA: A PERDA DA SENSIBILIDADE SOCIAL<p><span style="font-family: verdana;"> <span style="font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Missa do 6º dom. comum. Palavra de Deus: 2Reis
5,9-14; 1Coríntios 10,31 – 11,1; Marcos 1,40-45.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Na
época bíblica, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, a doença mais temida
e mais repulsiva era a lepra. “A lepra é uma doença infecciosa causada pela
bactéria <i>Mycobacterium leprae</i>, que leva ao aparecimento de manchas
esbranquiçadas na pele e alteração dos nervos periféricos, o que diminui a
sensibilidade à dor, toque e calor” (<a href="https://www.tuasaude.com/lepra/">https://www.tuasaude.com/lepra/</a>).
Muito interessante essa definição! A consequência da lepra é a diminuição da
sensibilidade quanto à dor, ao toque e ao calor. “Diminuição da sensibilidade”
é o retrato da nossa época, na qual há uma preocupação exagerada com a
estética, com a aparência, com o cuidado com a pele, enquanto se ignora a
importância da ética, da formação da consciência e do caráter, da sensibilidade
para com o outro. Eis aqui um primeiro alerta da liturgia de hoje: Quantos de
nós são saudáveis fisicamente, mas não têm “sensibilidade social”*, isto é, não
se preocupam com quem sofre à sua volta? <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Olhemos
para a cura do leproso Naamã. Tendo sabido que no país de Israel havia um “homem
de Deus” chamado Eliseu, Naamã viajou da Síria para Israel, na expectativa de
ser curado da sua lepra. O problema é que Naamã havia criado uma expectativa
para a sua cura: “Eu pensava que ele sairia para me receber e que, de pé,
invocaria o nome do Senhor, seu Deus, e que tocaria com sua mão o lugar da
lepra e me curaria” (2Rs 5,11). Como o profeta Eliseu ordenou a Naamã: “Vai,
lava-te sete vezes no Jordão, e tua carne será curada e ficarás limpo” (2Rs
5,10), Naamã “ficou irritado” e foi embora, achando humilhante ter que
mergulhar sete vezes em um rio cujas águas não eram famosas como as águas de
dois rios do seu país de origem. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">A
arrogância de Naamã serve de alerta para nós. Enquanto não descemos do pedestal
em que nos colocamos e não nos humilhamos, no sentido de sermos humildes (húmus
significa terra), colocando os pés no chão e admitindo que somos simples
mortais, independente da posição que ocupamos no mundo, não há chance de cura.
A cura começa quando colocamos os pés no chão, quando nos despimos das máscaras
e das armaduras que costumamos usar para nos mostrarmos como pessoas fortes e
vencedoras, quando, na verdade, somos apenas um “cadáver”, isto é, “carne dada
aos vermes”, carne que, por sua definição bíblica, significa: algo passível de
apodrecimento.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Naamã,
num primeiro momento, não aceitou o fato de que a cura da sua lepra
dependia de um processo longo e demorado: mergulhar sete vezes nas águas
humildes do rio Jordão. Eis aqui um segundo questionamento para nós: Estamos
dispostos a passar por um processo longo e demorado de descontaminação daquilo
que infectou nosso corpo, nossa alma ou nosso espírito, e que não pode ser
removido de forma imediata? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-size: 12pt;">Antes
de passarmos para a cura do leproso no Evangelho, consideremos essas palavras
do salmo de hoje: “</span><span style="font-size: 12pt;">Eu confessei, afinal, meu pecado, e minha falta vos
fiz conhecer.</span><span style="font-size: 12pt;">
</span><span style="font-size: 12pt;">Disse: ‘Eu irei confessar meu pecado!’ E
perdoastes, Senhor, minha falta” (Sl 32,5). Por que um salmo que fala da
confissão de pecados no meio de dois relatos de cura de leprosos? Porque, na
mentalidade bíblica, a lepra era sinal do pecado e da sua gravidade – aquilo que
faz apodrecer o ser humano. Sendo assim, a cura da lepra aponta para a
libertação do pecado, algo que só Jesus pode fazer (cf. Jo 8,33-36). O problema
é: o que é pecado hoje? <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">De uma época onde “tudo era pecado”, passamos para
uma outra época onde “nada é pecado”. No campo da Igreja, a mudança foi outra:
de uma época onde se acentuavam os pecados sociais – não se preocupar com as
injustiças e com o sofrimento do próximo – passamos para uma acentuação sobre
os pecados individuais – sobretudo de cunho moral, quando, na verdade, tanto os
pecados pessoais quanto os sociais são uma realidade que pede conversão. Se atualmente
os pregadores moralistas fazem muito sucesso entre os “cristãos” das novas
gerações, cuja consciência gira em torno do umbigo dos pecados de cunho
moral/sexual, não nos esqueçamos de que Jesus nunca deixou de alertar para os
pecados de cunho social. Portanto, a lepra do moralismo é um sério problema
dentro da nossa Igreja atualmente, cuja maioria maciça de “cristãos” raramente
ou nunca se questiona sobre a sua falta de sensibilidade para com as injustiças
que ferem inúmeras pessoas e as mantém afastadas, isoladas, do mundo do
consumo. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-size: 12pt;">Enfim, olhemos para a cura do leproso no Evangelho.
Desobedecendo à lei religiosa que proibia o leproso de se aproximar de qualquer
pessoa (cf. Lv 13,46), esse homem “chegou perto de Jesus,</span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt;">e de joelhos pediu:</span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt;">‘Se queres tens o poder de
curar-me’” (Mc 1,40). A cura só começa a nascer em nós quando temos duas
atitudes: a primeira é romper com o nosso isolamento, com o vitimismo; a
segunda é declarar a nossa confiança absoluta em Jesus: “Tens o poder de
curar-me”. Toda pessoa enferma precisa ter essa confiança, sabendo que o Pai
concedeu ao Filho “o poder sobre toda a carne” (Jo 17,2). Jesus tem poder sobre
tudo aquilo que em nós é passível de adoecimento, de apodrecimento e de morte. No
entanto, esse poder não pode ser manipulado pela nossa urgência ou pelo nosso
desespero: “Se queres”. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana;"><span style="font-size: 12pt;">Muitas pessoas abandonaram a sua fé seja na
existência de Deus, seja no seu poder de cura, porque se esqueceram de que Ele
é soberano na sua vontade: Deus pode não querer curar, não porque Ele não ama a
pessoa que está doente, mas porque, muito mais do que o seu bem físico, o que
Ele visa é a sua salvação. Em breve ou muito tempo ainda, nós nos tornaremos
cadáveres – nosso corpo morrerá e apodrecerá. Todo ser humano um dia será
atingido pela lepra da morte, tenha ele fé ou não. A diferença é que nós,
cristãos, temos uma fé que olha para além dessa vida temporária e cheia de
ilusão, e se abre para a vida eterna, para a glorificação do nosso corpo (cf.
Fl 3,20-21), operada por aquele que, “cheio de compaixão,</span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt;">estendeu a mão, tocou nele, e disse:</span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt;">‘Eu quero: fica
curado!’” (Mc 1,41). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Através da nossa fé no Evangelho e na Eucaristia,
nós nos encontramos hoje diante do Senhor Jesus que, compadecido daquele homem
até as entranhas, não apenas falou com ele, mas estendeu a mão e o tocou; tocou
num homem de quem todos os demais procuravam se manter distantes. Hoje nós,
discípulos de Jesus, somos chamados a estender a nossa mão para alcançar pessoas
que, quem sabe, a nossa própria religião excluiu ou de quem ainda acha
necessário se manter distante...<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">*No
capítulo “As sombras de um mundo fechado”, da Fratelli Tutti, o Papa Francisco
denuncia: “Reacendem-se conflitos que se consideravam superados. Surgem novas
formas de egoísmo e de perda do sentido social” (FT 11).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-81888715812964312062024-02-01T04:38:00.000-08:002024-02-01T04:44:12.152-08:00O QUE A MINHA DOENÇA ESTÁ TENTANDO ME DIZER? <p> <span style="font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica;">Missa do
5º dom. comum. Palavra de Deus: Jó 7,1-4.6-7; 1Coríntios 9,16-19.22-23; Marcos
1,29-39.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> “Luta, decepção, sofrimento, sem
esperança”. Essas palavras estão presentes no desabafo de um homem enfermo,
muito conhecido no mundo bíblico: Jó. Seu livro foi escrito para desmontar uma
tese errada: toda doença ou sofrimento é fruto do pecado e, portanto, castigo
de Deus. Essa distorção da imagem de Deus foi corrigida pelo próprio Jó, ao
afirmar que, antes de passar pelo sofrimento que passou, ele só tinha ouvido
falar de Deus, mas depois da sua dura experiência de dor, Jó conheceu a Deus de
maneira mais profunda (cf. Jó 42,5). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> “Luta, decepção, sofrimento, sem
esperança”: tudo isso está contido na experiência da doença. Quando adoecemos,
lutamos não só pela vida, mas para manter a nossa fé. Na doença, frequentemente
nos decepcionamos com Deus: não esperávamos que Ele fosse permitir aquele
sofrimento em nossa vida. Uma vez doentes, sofremos não só por causa dos
efeitos da doença em nosso corpo ou em nossa alma, mas sofremos também para manter
a nossa confiança em Deus. Por fim, pior do que a doença em si mesma é nos
tornarmos uma pessoa sem esperança. Deixar de esperar em Deus é nos fechar a
toda possibilidade de cura ou de libertação do nosso sofrimento. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> A doença não é uma possiblidade em
nossa vida, mas uma certeza: cedo ou tarde, de uma forma ou de outra, ela nos
alcançará, devido à nossa natureza mortal. Além disso, como afirmou o Papa
Francisco, “não podemos pretender ser saudáveis vivendo num mundo doente”. A
principal fonte de adoecimento vem dos alimentos que ingerimos, cultivados na
base de agrotóxicos – alguns cancerígenos – e de hormônios. Outra fonte de adoecimento
é o estresse, a correria da vida, o sedentarismo (falta de exercícios físicos),
o descuido com a alma (silêncio, meditação, oração) e, mais do que tudo, o
vício das telas. Como sabiamente afirmou Renato Russo, “nos deram espelhos e
vimos um mundo doente” (Índios, 1986). Através do espelho da tela do celular,
do computador, da televisão, diariamente vemos um mundo doente e nos tornamos tão
doentes quanto ele.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> Justamente porque o lugar do médico
é junto das pessoas enfermas, Jesus sempre se deixou afetar pelo sofrimento das
pessoas doentes. Através dele, descobrimos que o nosso Deus não é o “Deus dos
justos”, como pensavam os líderes religiosos do judaísmo, mas o “Deus dos que
sofrem”. O judaísmo entendia a doença como castigo de Deus. “A exclusão do
templo, lugar santo onde Deus habita, lembra de maneira implacável aos enfermos
aquilo que eles já perceberam no fundo de sua enfermidade: Deus não os ama
como ama os outros” (Pe. José Pagola, Jesus – aproximação histórica, p.195). Ao
se colocar junto dos doentes, Jesus afirma que “Deus é, antes de mais nada, o
Deus dos que sofrem o desamparo e a exclusão” (Pe. José Pagola, Jesus –
aproximação histórica, p.196). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> Por ter uma vida de oração disciplinada
e procurar em tudo fazer a vontade do Pai, Jesus se tornou uma fonte de cura
para as pessoas enfermas: “Dele saía uma força que curava a todos” (Lc 6,19).
Essa força tem um nome: Espírito Santo. Mas as curas que Jesus realizava não aconteciam
sem a participação ativa dos doentes; elas só aconteciam mediante a fé. Antes
da cura, Jesus sempre procurava suscitar no enfermo sua confiança em Deus. “Jesus
não cura para despertar a fé, mas pede fé para que seja possível a cura” (Pe.
José Pagola, Jesus – aproximação histórica, p.205). A cada pessoa enferma Jesus
pede fé na bondade de Deus, o Deus que “conforta os corações despedaçados,
enfaixa suas feridas e as cura” (Sl 147,3).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> “Olhar, dialogar, tocar”. As curas
que Jesus realizou normalmente tinham essas três atitudes: olhar, enxergar a
pessoa enferma, não ignorá-la, deixar-se afetar pelo sofrimento dela. Depois,
dialogar, ouvir a pessoa – falar cura –, mas também questionar o enfermo – sua forma
de viver e de lidar com as situações podem causar adoecimento a si próprio. Por
fim, tocar na pessoa doente. Nossas palavras e nossas mãos podem ser portadoras
de cura: “A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a
Jesus. E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a
febre desapareceu” (Mc 1,30-31). Quantas pessoas estão enfermas em suas casas e
ninguém da família se dispõe a ouvi-la, a falar com ela, a tocar nela e a ajudá-la
a se levantar?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">“Jesus
curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios” (Mc 1,34).
Na época de Jesus, todas as doenças psíquicas eram entendidas como possessão
demoníaca. Hoje as doenças psíquicas estão crescendo cada vez mais, atingindo
inclusive crianças, adolescentes e jovens. Muitas delas são fruto da ausência de
pai e de mãe na vida do filho – ausência de diálogo, de afeto e de limite. O
uso excessivo de celular, o vício nas redes sociais ou nos jogos eletrônicos e
o ficar o tempo todo no quarto, diante do computador, sem conviver e dialogar
com pessoas reais, tudo isso é um terreno propício para o adoecimento mental. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">“De
madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar
deserto” (Mc 1,35). Ninguém é uma fonte inesgotável de cuidado para com os
outros, nem mesmo Jesus. Ninguém deve se deixar sugar e esgotar pelas
constantes solicitações dos outros. Ninguém pode ser curado se não se colocar
na diariamente na presença do Médico dos médicos: o Pai. A cura acontece pelo
tocar, e cabe a cada um de nós disciplinar-se na vida de oração, para dar ao
Pai o tempo que Ele necessita para nos tocar e nos curar. Além disso, não se
trata de entender a oração como uma mera recarga de bateria para continuarmos a
viver a vida de uma maneira doentia. A oração é o momento em que o barulho que
nos adoece silencia, e nós temos a coragem encarar a nossa verdade, rever as
nossas prioridades e nos conscientizar para o quê devemos dizer “não” e para o
quê devemos dizer “sim”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;">Enfim,
não nos esqueçamos de que doença tem nome. Só é possível tratar uma doença
quando se sabe que doença é. Muitas famílias estão enfermas por doenças como
falta de organização na vida financeira, falta de limites para os filhos, sobrecarga
de um e folga dos demais, alimentação industrializada, falta de coragem em
falar o que se sente – quem não explode, implode –, falta de silêncio, limpeza
e organização da própria casa, a substituição do diálogo por “cada um diante da
sua tela” etc. <b> <o:p></o:p></b></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></span></b></p>
<span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><span style="font-family: helvetica;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi</span></span>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-54525625130743360872024-01-25T05:28:00.000-08:002024-01-25T05:28:29.164-08:00O MAL PRECISA DA NOSSA PERMISSÃO PARA AGIR EM NÓS<p><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"> <span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Missa do
4º dom. comum. Deuteronômio 18,15-20; 1Coríntios 7,32-35; Marcos 1,21-28</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Muitos duvidam da existência de
Deus, mas ninguém duvida da existência do mal. Enquanto Deus não é evidente, o
mal é; nós o vemos agir concretamente no mundo, através da guerra, da
violência, do ódio nas redes sociais, da desestruturação das famílias, da
desigualdade social, do egoísmo, do individualismo e da ganância sem limites, da
escravidão dos vícios, do suicídio etc. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Jesus chama o mal pelo nome: diabo, homicida
(assassino), mentiroso e pai da mentira (cf. Jo 8,44). Qualquer pessoa,
qualquer empresa, qualquer economia, qualquer política e qualquer religião que ataquem
a vida e promovam a morte estão a serviço do mal. Hoje, o mal chega com muito
mais facilidade até as pessoas por meio das redes sociais, as quais disseminam
mentiras, desinformação e discursos de ódio. Como se isso não bastasse, existe
um espaço oculto na Internet chamado “Deep web”, nome que significa “Internet
profunda”. Os internautas que navegam ali são criminosos, assassinos, traficantes
de drogas, de armas e de pessoas, pedófilos, participantes de seitas satânicas
e grupos que pregam atividades imorais e violência explícita contra os seres
humanos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O fato é que existe hoje cada vez
mais um fascínio doentio pelo mal. Alguns chegam a afirmar que “Deus demora; o
mal responde rápido”. Muitas pessoas aderem ao mal porque querem respostas
rápidas para os seus problemas ou para os seus desejos, e a forma preferida com
que o mal seduz as pessoas é a promessa do enriquecimento. Não é à toa que a
Escritura diz: “A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, por cujo desejo
desenfreado alguns se afastaram da fé, e se afligem a si mesmos com muitos
tormentos” (1Tm 6,10). O desejo desenfreado pelo enriquecimento destrói não só
casamentos, mas distancia os pais dos filhos e faz com que alguns deles se
percam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A forma como o mal mostra a sua face
escancarada para nós, no mundo de hoje, foi prevista por Jesus: “A maldade
crescerá a tal ponto que o amor se esfriará no coração de muitas pessoas. Mas
aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24,12). Apesar da sua
força destrutiva – lembremos que ele é homicida! –, o mal não entra em nossa vida
sem a nossa permissão. Ele precisa do nosso consentimento para agir, para
adentrar em nós e começar o seu processo de sedução, mentira, enganação e
ilusão. Ele só precisa que lhe abramos a porta e o deixemos entrar; o resto ele
faz sozinho. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Existe uma forma de detectarmos a
presença do mal em nós: o contato com a palavra de Jesus. Foi ouvindo essa
palavra que “um homem possuído por um espírito mau” (Mc 1,23), reagiu ao que Jesus
estava dizendo e gritou: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos
destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus” (Mc 1,24). O espírito mau usa
o plural – “nos destruir” – porque ele representa o mundo demoníaco, com
Satanás e seus anjos. De fato, Jesus veio destruir o mal; ele veio nos tirar do
domínio de Satanás e nos devolver aos cuidados de Deus. Mas é preciso que cada
pessoa decida romper com o mal; decida fechar a porta que ela mesma abriu para
o mal entrar em sua vida. Numa palavra, é preciso que a pessoa renuncie aos
ganhos secundários que o mal lhe oferece, enquanto destrói a sua alma. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Quando Jesus ordenou: “Cala-te e sai
dele!”, “o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e
saiu” (Mc 1,25-26). Depois que o mal se instala em nossa vida, ele resiste a sair.
É a chamada “crise de abstinência”. Nós precisamos suportar o vazio deixado
pela perda das falsas compensações que o mal nos dava; precisamos lutar com
firmeza e perseverança na direção de Deus, lembrando dessas palavras: “Resistam
ao diabo e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus e ele se aproximará de
vocês” (Tg 4,7-8). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Uma última palavra. O mal raramente se
apresenta sob a sua real aparência; ele sempre se propõe a nós como algo bom, vantajoso,
prazeroso, confortador, compensador. Quanto menos tolerância temos à
frustração, ao sofrimento, à espera pela intervenção de Deus em nossa vida, mais
caímos nas armadilhas do maligno. E para aqueles que são adeptos da teoria: “Deus
demora; o mal responde rápido”, lembrem-se de que Deus dá gratuitamente,
enquanto o mal cobra, e cobra caro, cada coisa que nos dá. Seu preço é um só: a
corrupção da nossa alma, a perda da nossa salvação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"> Pe. Paulo Cezar Mazzi </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-28586978009203535522024-01-18T12:27:00.000-08:002024-01-19T16:18:53.694-08:00PARE DE RETARDAR SUA MUDANÇA!<p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span> </span><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Missa do 3º dom. comum. Palavra de Deus: Jonas
3,1-5.10; 1Coríntios 7,29-31; Marcos 1,14-20.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> O
que você faria se recebesse um diagnóstico médico de que tem somente dois meses
de vida? Normalmente, quando as pessoas se dão conta de que têm pouco tempo de
vida, decidem fazer mudanças que nunca tiveram coragem de fazer: decidem
perdoar ou pedir perdão, decidem admitir verdades que nunca admitiram, decidem
se abrir para Deus, decidem falar o que nunca tiveram coragem de falar, decidem
romper com uma situação de pecado que sempre as acompanhou durante toda a
vida...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> Ao
longo da nossa existência, vamos tomando consciência de que precisamos mudar,
precisamos nos corrigir, precisamos abandonar certos hábitos que fazem mal a
nós mesmos, à nossa família, ao mundo em que vivemos. No entanto, a maioria
protela a mudança, seja porque não quer perder os ganhos secundários que as
atitudes erradas lhe proporcionam, seja porque mudar dá trabalho; exige
firmeza, perseverança, renúncia, luta consigo mesmo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> Só
um choque de realidade é capaz de nos tirar da nossa fantasia; só a evidência
da destruição pode nos fazer mudar as atitudes que estão nos destruindo; só a
consciência da morte pode nos fazer repensar a maneira como vivemos nossa vida
até hoje; só a certeza de que o tempo que temos aqui é muito mais curto do que
imaginamos pode nos fazer rever nossos valores e nossas atitudes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> Nínive,
capital da poderosa Assíria, fazia e acontecia; achava-se imune a qualquer
calamidade, a qualquer risco de destruição. Mas ela foi derrubada da sua ilusão
de onipotência ao ouvir a pregação de Jonas: “Ainda quarenta dias, e Nínive
será destruída” (Jn 3,4). Jonas deixou os ninivitas conscientes de que, se não
mudassem suas atitudes, seriam destruídos pelo mal que causavam com o seu
estilo de vida egoísta e individualista. Os ninivitas aceitaram fazer um
doloroso processo de mudança e salvaram a si mesmos e à cidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> Muitas
coisas ruins têm acontecido. No entanto, mesmo com o mundo “desabando” à nossa
volta, nós seguimos na correria da nossa vida com a ilusória pretensão de achar
que o mal que atinge os outros nunca nos atingirá. Esquecemos do alerta de
Jesus: “Se vocês não se converterem, morrerão todos do mesmo modo” (Lc 13,3). Todos
nós sabemos que algo precisa mudar no mundo, nas pessoas, nas empresas, nas
famílias, nas igrejas, mas quem de nós está disposto a mudar? Mudar dá trabalho
e exige esforço, constância, paciência, perseverança, e a nossa geração não tem
tolerância com processos. Os ninivitas tiveram um tempo de quarenta dias para
mudar suas atitudes, e souberam aproveitar esse tempo. Nós, muitas vezes, não
tomamos a decisão de mudar porque achamos que vamos ter tempo para isso depois,
e nos esquecemos de que “o tempo está abreviado” (1Cor 7,29). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> O
que o apóstolo Paulo quer dizer com “tempo abreviado”? O mesmo que Jesus: “O
tempo já se completou
e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15). A história humana não está nas mãos do acaso, nem das pessoas que pensam
determinar os rumos da humanidade. Deus é o Senhor do tempo e da história.
Quando Jesus afirma que o Reino de Deus está próximo está se referindo à
intervenção final que Deus fará na história humana, intervenção que consiste em
exercer um julgamento, separando o justo do injusto e pondo fim ao mal.
Portanto, essa intervenção significa condenação para os injustos e salvação
definitiva para os justos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> “O
tempo está abreviado” (1Cor 7,29). Nós não temos o tempo que pensamos ter para
somente depois fazermos as mudanças que sabemos serem necessárias em nossa
vida. Daí o apelo de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,15). Não
há ninguém que não precise mudar em algum aspecto da sua vida. Essa mudança
deve ser guiada pelo Evangelho. Ele é “força de Deus para a salvação de todo
aquele que crê” (Rm 1,16). Se “a figura deste mundo passa” (1Cor 7,31), o
Evangelho é Palavra eterna e também palavra de Vida eterna. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> Três questões: 1) O que está
correndo o risco de ser destruído em minha vida por falta de uma decisão firme
da minha parta de mudar? 2) O que eu tenho feito do meu tempo? 3) Diante da certeza
de que Deus intervirá na história, como Ele me encontrará: como uma pessoa
justa a ser levada para o seu Reino ou como uma pessoa injusta a ser condenada
à destruição? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></p>
<p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi</span></span></p><p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></span></span></p><p><br /></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-42196471609858250802024-01-11T05:10:00.000-08:002024-01-11T05:17:23.675-08:00TORNE-SE QUEM VOCÊ FOI CHAMADO(A) A SER!<p> <span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Missa do 2º dom. comum. Palavra de Deus: 1Samuel 3,3b-10.19;
1Coríntios 6,13c-15a.17-20; João 1,35-42.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os textos bíblicos
que hoje ouvimos nos colocam diante da vocação do profeta Samuel e dos três
primeiros discípulos de Jesus: André, João e Pedro. A vocação desses homens nos
lembra que a nossa existência é fruto de uma escolha, de um chamado da parte de
Deus: “Desde o ventre materno o Senhor me chamou, desde o ventre de minha mãe
pronunciou o meu nome” (Is 49,1). A razão de ser da nossa existência não é uma
escolha humana, mas divina; não é fruto do acaso, mas de uma vontade: Deus nos
desejou, nos quis, nos chamou à vida em vista de uma tarefa, de uma missão, de
uma vocação, e devemos estar cientes de que “a nossa vocação nunca é em função
de nós mesmos. Deus não nos chama para nos promover ou nos privilegiar, mas
para nos enviar para junto de situações que precisam ser mudadas” (José Lisboa
M. Oliveira).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“Samuel, Samuel!” (1Sm 3,4). Samuel
era adolescente quando foi chamado por Deus e foi chamado num contexto de
degradação da religião: “Os filhos de Eli (sacerdote) eram vagabundos” (1Sm
2,12) e “se deitavam com as mulheres que permaneciam à entrada da Tenda da
Reunião” (1Sm 2,23). Séculos mais tarde, um outro jovem ouviria o Crucificado
lhe chamar para uma difícil missão: “Francisco, reconstrói minha Igreja, que
está em ruínas!”. Hoje Deus chama você para reconstruir a unidade da Igreja,
cujo Pontífice (ponte e ponto de unidade) é sistematicamente agredido e desacreditado
nas redes sociais por grupos “católicos” conservadores; você é chamado a
reconstruir famílias, a fortalecer escolas, a desenvolver a boa Política e a
justa Justiça; a defender o meio ambiente; a proteger crianças abusadas dentro
de casa; enfim, a revitalizar sua Paróquia, envelhecida e necessitava de “sangue
novo nas suas veias” (Pe. Zezinho). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Samuel teve dificuldade em entender
que era o Senhor Deus quem o chamava, e não o sacerdote Eli (cf. 1Sm 3,5.6). Deus
não fala diretamente aos nossos ouvidos, mas através da realidade na qual
estamos inseridos. Ele nos fala, sobretudo, através da dor de pessoas e de
situações que precisam ser mudadas! Mas, como ouvir o chamado do Senhor quando
estamos voltados unicamente para nós mesmos, ignorando a realidade à nossa
volta, buscando apenas os nossos interesses financeiros ou afetivos, vivendo
uma espiritualidade que nos mantém distantes do mundo, enquanto Deus “grita” a
nós do meio desse mesmo mundo: “Essas pessoas precisam ser salvas!”?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Samuel foi orientado a responder ao
chamado de Deus com essas palavras: “Senhor, fala,
que teu servo escuta!” (1Sm 3,9). Qual tem sido a nossa resposta ao chamado
diário que Deus nos faz, por meio da realidade na qual estamos inseridos?
Estamos tendo coragem de ouvir o Senhor, ou temos mantido nossos ouvidos e
nossa consciência ocupados, cheios de barulho, atordoados por inúmeras
desinformações, distanciados da realidade pela indústria da distração, tudo
para não ouvirmos a voz de Deus no mais profundo de nós mesmos? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A dois discípulos de João Batista
que começaram a segui-lo, Jesus perguntou: “O que vocês
estão procurando?” (Jo 1,38). O que você está procurando quando passa horas jogando,
apostando ou vendo postagens nas redes sociais? O que você está procurando
quando maratona séries, assiste a filmes, vê pornografia na Internet ou assiste
aos vídeos do seu <i>influencer</i> preferido? O que você está procurando
quando ingere bebida alcoólica e/ou drogas; quando faz uma nova tatuagem,
quando se sacrifica para ter um corpo “sarado”? O que você está buscando quando
faz sua oração em casa, lê a Bíblia, ouve músicas católicas ou vai à missa? O
que você está buscando quando faz o que faz no seu dia a dia? Você está
buscando ser fiel à vocação, ao chamado que recebeu de Deus, ou a se distanciar
o quanto possível disso? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“O que vocês estão procurando?” (Jo 1,38). Quando temos a coragem de
parar a correria do dia a dia e a nos colocar diante dessa pergunta de Jesus, a
nossa vida tem uma chance de recuperar o seu sentido e nós podemos sair das
mãos (expectativas ou cobranças) dos outros e tomarmos as rédeas da nossa
existência, orientando-a para aquilo que fomos chamados a fazer; mais do que
isso, para aquilo que fomos chamados a ser. “Torne-se o que você é”, disse
Píndaro, filósofo grego do séc. V aC. Essa verdade pode ser traduzida também em:
“Torne-se o que você foi chamado a ser”. Somente quando sintonizamos o nosso
coração com o coração de Deus; somente quando respondemos positivamente ao
chamado que recebemos; somente quando somos fiéis à vocação que recebemos é que
nos realizamos como pessoas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Uma última palavra: toda e qualquer
vocação será vivida a partir da corporeidade da pessoa. Cinco vezes o apóstolo
Paulo usou a palavra “corpo” no breve texto que ouvimos hoje. Dois extremos
precisam ser evitados, quando consideramos o nosso corpo: o primeiro vem das
pregações moralistas, para as quais tudo o que se refere ao corpo é pecaminoso e
demoníaco. O outro extremo é a constante erotização do corpo, produzida pela
indústria de consumo. Muitos de nós precisam reconciliar-se com o próprio corpo
– aceitar-se como se é. Muitos precisam ouvir o próprio corpo – ele é uma caixa
de ressonância da nossa alma (vida emocional). Muitos precisam rever sua
espiritualidade, pois o Deus em quem nós cremos “se fez carne” (Jo 1,14): toda
espiritualidade que nega ou despreza o corpo é doentia. Da mesma forma como descobrimos
a nossa vocação em contato com a realidade na qual estamos inseridos, nós a
vivemos a partir da nossa carne, do nosso corpo, o qual deve se tornar “carne”
de Deus, toque de Deus, presença concreta de Deus, “afeto” de Deus para as pessoas que fomos chamados a servir. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Pe. Paulo Cezar Mazzi</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-89351463546786350872024-01-05T04:37:00.000-08:002024-01-05T04:40:33.185-08:00NOSSA VIDA DEVE "FALAR" DE DEUS COMO UMA ESTRELA "FALA" DE LUZ NO CÉU ESCURO DA NOITE<p> <span style="font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: verdana;">Missa
da Epifania (manifestação) do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios
3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Na
vida de muitas pessoas tem acontecido o que alguns teólogos chamam de “eclipse
de Deus”. Devido a uma doença, uma perda, um grande sofrimento; devido ao vazio
existencial ou à perda de sentido de vida; devido ao excesso de materialismo, a
luz de Deus (a presença de Deus) tem se apagado dentro dessas pessoas. Elas já
não veem mais – nem muito menos conseguem sentir – a manifestação de Deus em
suas vidas. Além disso, não podemos deixar de mencionar que o “eclipse de Deus”
também é produzido pelo contratestemunho de cristãos que não vivem segundo o
Evangelho...<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">A
boa notícia é que, mesmo que muitos estejam experimentando em sua vida um certo
“eclipse de Deus”, no coração de toda pessoa, até mesmo daquela que pensa não
crer em Deus, existe uma busca por Deus, pela Verdade, uma busca por sentido: “É
tua face, Senhor, que eu procuro, não me escondas a tua face” (Sl 27,9). Todo
ser humano busca a Deus. Em alguns, essa busca é consciente; em outros,
inconsciente. Quando a pessoa não sabe interpretar o clamor por Deus em seu
coração, acaba dando respostas erradas, como as drogas, o consumismo, o
ativismo, as relações sexuais sem compromisso etc. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Muitos
hoje desistiram de buscar a Deus, porque constataram que o caminho da fé é
árduo, exige perseverança, pois é um caminho feito não apenas de respostas, mas
de muitas perguntas. Outro problema é o comodismo espiritual: pessoas que
dirigem os olhos para as Escrituras, mas não dirigem os pés para caminharem ao
encontro do Senhor; conhecem a verdade, mas não querem se aproximar dela. Contudo,
o encontro dos magos com Jesus nos mostra que a nossa busca por Deus nunca será
inútil: “Aquele que se aproxima de Deus deve crer que ele existe e que
recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). Nas noites escuras da nossa fé, Deus
sempre providenciará uma estrela para nos guiar, até que possamos estar diante
de seu Filho, reconhecendo-O como nosso Salvador, como Aquele que o nosso
coração sempre buscou.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">A
luz da estrela que guiou os magos até Jesus nos provoca a vivermos de tal modo
que a nossa existência fale de Deus para as pessoas que estão à nossa volta,
lembrando que eu não posso conduzir alguém para Deus se eu mesmo não vivo em
Deus. Nossa maior tragédia enquanto cristãos, é quando nossas atitudes ocultam
Deus, afastando as pessoas da Igreja. Devemos “falar” de Deus para as pessoas
com a nossa vida, apesar das nossas fraquezas. Além disso, nossa tarefa como
luz, como manifestação de Deus para as pessoas do nosso tempo, sempre será
vivida em contraste com as trevas. De fato, a luz só é percebida no contraste
com a escuridão. Isso significa que o cristão deve diferenciar-se do mundo, no
sentido de não viver como uma pessoa “mundana”. Isso também significa que a luz
da nossa vivência cristã deve se manifestar justamente no meio da escuridão do
mundo. Quando os cristãos se distanciam do mundo e se resguardam dentro das
igrejas, estão fazendo o oposto do que a estrela fez, impedindo as pessoas de
serem provocadas e buscar Deus em seu caminho de vida. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Ainda
sobre isso, é importante considerar que muitas pessoas do nosso tempo reagem à
luz como se fossem morcegos. Habituadas à escuridão do individualismo, da
indiferença para com as injustiças à sua volta, essas pessoas não estão abertas
à luz, ao menos não num primeiro momento. Por isso, o cristão não pode
pretender ser um holofote que agride com sua luz os olhos das outras pessoas,
impondo-lhes a “verdade” da sua ortodoxia, da sua “rigidez” religiosa. A luz
deve dialogar com quem está habituado a viver na escuridão, convidando a pessoa
a fazer um caminho, a abrir-se a um processo de aproximação gradual da luz, da
verdade, até que ela compreenda que o benefício de viver na luz é muito mais saudável e libertador do que os ganhos secundários das trevas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Assim como fizeram os magos diante
de Jesus, hoje nossos joelhos se dobram diante do Pai, agradecendo-O pelo
nascimento de seu Filho, manifestação do seu amor pelo ser humano e do seu
desejo de salvá-lo. Agradecemos cada estrela que o Pai faz brilhar no céu
escuro da humanidade, provocando cada ser humano a sair da escuridão em que se
encontra e a fazer um caminho de libertação, deixando-se iluminar, conduzir e
curar por Aquele que é o Caminho, a resposta à pergunta mais profunda que o ser
humano tem de felicidade, de paz e de sentido para a sua vida. Diante do ouro,
do incenso e da mirra que os magos ofereceram a Jesus, pedimos que o Pai nos
ensine a enxergar em cada ser humano o ouro da sua dignidade e da sua
unicidade, o incenso do sagrado que carrega em si como filho amado de Deus e a
mirra da sua fragilidade, espaço por meio do qual a força do Pai se manifesta
como amor que redime, como bálsamo que alivia a dor e como convite ao
amadurecimento e à superação dos seus erros. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Pe.
Paulo Cezar Mazzi </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-45146859007096895862023-12-29T04:59:00.000-08:002023-12-29T04:59:57.024-08:00DECIDIR VIVER COMO FILHO, NÃO COMO ESCRAVO <p><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Missa Maria, Mãe de Deus. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><o:p></o:p></span></p><p><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"> </span><span style="font-family: helvetica; font-size: large;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ao
celebrarmos Maria, Mãe de Deus Filho, queremos fazer a experiência do salmista:
“Fiz calar e repousar meus desejos, como criança desmamada no colo de sua mãe”
(Sl 131,2). Nossos desejos são atiçados o tempo todo não só pelo consumismo,
mas também pelo excesso de informações e de estímulos das redes sociais. A
correria da vida, somada ao excesso de palavras, mensagens, imagens e vídeos
que recebemos todos os dias, nos cansam mentalmente e nos atrapalham diante da necessária
tarefa de “discernir tudo e ficar somente com o que é bom” (cf. 1Ts 5,21). Para
não nos perdemos diante de tantas solicitações, devemos nos colocar no colo de
nossa Mãe e aprender com ela a ter uma postura sábia diante da vida: guardar todos
os fatos
que marcam a nossa história pessoal e social e meditar
sobre eles em nosso coração (cf. Lc 2,19). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
coração, na Bíblia, não é somente o lugar onde moram os nossos afetos, mas o
lugar onde refletimos e tomamos as decisões que definem a direção que desejamos
dar à nossa vida. Aqui vale a pena recuperar a verdade de que “o homem não é
produto das circunstâncias; o homem é produto das suas decisões” (Victor
Frankl). Normalmente, nós temos pouco ou nenhum controle sobre as
circunstâncias que afetam a nossa vida, mas temos liberdade e responsabilidade
na forma de nos posicionar diante dessas circunstâncias. Tudo aquilo que nos
aconteceu e ainda não pudemos compreender, guardamos no coração e meditamos, na
certeza de que, aos poucos, Deus nos revelará a razão de ser de cada
acontecimento. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Quando
calamos e sossegamos nossos desejos, conseguimos ouvir dentro de nós um clamor:
“Abbá, Papai”. Esse clamor não significa chamar para perto de nós o Pai que
está distante, mas se trata de uma profissão de fé: ninguém de nós está sozinho
nesse mundo; temos o Espírito Santo conosco, e ele comprova que nós somos
filhos de Deus e que Ele, o Pai, está conosco. Diante de cada acontecimento que
se dá em nossa história de vida, nós dizemos: “Abbá, Papai!”, confiando que
tudo aquilo que o nosso Papai permite que nos aconteça tem um propósito de
salvação para a nossa vida: “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28),
tudo, até mesmo as adversidades e contrariedades. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ter
a consciência de que somos filhos nos liberta da necessidade de nos tornarmos
escravos de coisas, de pessoas ou de situações doentias ou destrutivas,
unicamente porque estamos buscando reconhecimento e aprovação: “Assim já não és
mais escravo, mas filho” (Gl 4,7). Em nome da própria liberdade, muitas pessoas
se tornam escravas de vícios, de padrões de comportamento (moda), sendo que a
grande escravidão moderna é a busca de reconhecimento nas redes sociais.
Diferente do escravo, o filho não vive atormentado pela busca de
reconhecimento, porque sabe que é amado incondicionalmente pelo Pai. Sua
liberdade nunca é usada para afastar-se do Pai, mas para fazer a Sua vontade,
porque ele sabe que o que o Pai quer é verdadeiramente o seu bem e a sua
salvação. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Assim
como Jesus foi circuncidado no oitavo dia de vida, recebendo a marca de pertença
e de consagração a Deus, assim nós somos chamados a cuidar da nossa pertença e
da nossa consagração. A verdadeira circuncisão não consiste em marcar um órgão
do corpo, mas em manter a consciência e o coração voltados para Deus, segundo o
princípio de Santo Inácio de Loyola: “aproximar-me das coisas e das pessoas
tanto quanto elas me aproximam de Deus; afastar-me das coisas e das pessoas
tanto quanto elas me afastam de Deus”. Portanto, trata-se de cortar hábitos e
atitudes que enfraquecem a nossa pertença e atentam contra a nossa consagração
a Deus. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
filho vive da bênção do Pai. A bênção que hoje pedimos a Deus não deve ser
movida por interesses mundanos: prosperidade, sucesso, bem-estar egoísta. Essa
bênção também não significa superproteção – o privilégio de passar pela vida
sem sofrer. Diferente do pai terreno que busca poupar o filho de todo tipo de
dor, nosso Papai não nos poupará de situações difíceis sempre que elas foram
necessárias para o nosso crescimento, a nossa conversão e a nossa santificação.
Deus nos quer fortes e capazes de olhar a vida nos olhos. Sempre que Ele permitir
que a cruz atravesse o nosso caminho, será para que possamos dizer como o
apóstolo Paulo: “Sei em quem coloquei a minha fé” (2Tm 1,12). Sei em quem eu me
apoio para não tombar diante dos ventos contrários e prosseguir o meu caminho
até alcançar a meta para a qual fui chamado. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ao
iniciarmos um novo ano, procuremos substituir saudações do tipo “Feliz Ano
Novo!”, ou “Saúde e Paz!”, pela seguinte bênção: “O Senhor te abençoe e te
guarde!”; ou: “O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti!”, ou ainda: “O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!”. Neste dia mundial da paz, não nos esqueçamos de que a paz
deve ser promovida, construída, e não apenas desejada: “Felizes os que promovem
a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Que cada um de nós tome
a decisão diária de ser “um instrumento da paz” do nosso Deus no seio de uma
humanidade tão necessitada de paz. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Pe. Paulo Cezar Mazzi </span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-73136366890131776922023-12-28T05:17:00.000-08:002023-12-28T05:22:02.956-08:00FAMÍLIA: DE UM CAMPO DE BATALHA PARA UM HOSPITAL QUE CUIDA DAS FERIDAS<p> <span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Missa da Sagrada Família de Nazaré. Palavra de
Deus: Eclesiástico 3,3-7.14-17a; Colossenses 3,12-13.18-21; Lucas
2,22-40</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nenhum
lugar é mais sagrado do que a casa, a família. Ali deveria ser lugar de afeto, aconchego,
refúgio, proteção, lugar onde nos sentimos bem. Mas, para muitos, a família
sempre foi ou se tornou, ao longo do tempo, lugar de conflito, uma espécie de
campo de batalha onde uns agridem os outros; lugar onde crianças são abusadas,
mulheres são agredidas; lugar do qual alguns homens procuram se manter
distantes – de preferência, nos bares, com os amigos –, muitas vezes para não
serem cobrados por suas esposas quanto à educação dos filhos ou ao serviço da
casa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
saúde emocional da família depende da colaboração de cada pessoa que mora na
casa. Quando cada um faz sua parte, existe equilíbrio, harmonia, e ninguém se
sobrecarrega. Quando cada um se omite das suas responsabilidades, alguém se
sobrecarrega, o que leva a pessoa ao adoecimento, e a doença dessa pessoa
atinge os demais da casa, da mesma forma como quando um membro do corpo está
doente faz o corpo todo sentir o mal estar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Um
dos maiores problemas da família é o dinheiro: a falta dele gera constantes
brigas e discussões; a busca excessiva por ele distancia o casal um do outro e
os pais dos filhos. Outro problema é o consumismo: “o que é demais nunca é o
bastante”. 76% das famílias brasileiras estão endividadas. Aqui não se trata
apenas de baixos salários, mas também da falta de administração da economia
doméstica. Compra-se o que não se precisa; gasta-se além do que pode. Um
terceiro problema é a inversão de valores: o filho tem (quase) tudo o que quer,
menos um pai ou uma mãe que lhe ensine o que significa limite, educação, caráter,
decência, honestidade, compaixão, responsabilidade, humanidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“Uma
espada te transpassará a alma” (Lc 2,35), disse Simeão a Maria. Não existe
família sem dor, porque não existe vida sem dor. Pais que fazem de tudo para
evitar que o filho sofra a dor de uma frustração tornam o filho incapaz de
lidar com a vida e fazem dele um suicida em potencial. A espada corta, e o
corte lembra a poda. Família é lugar de corte e de poda. Crianças não podadas
são crianças sem limites. Não respeitam ninguém, não aceitam ouvir “não” e se
tornam pessoas das quais todos queremos distância. Aqui uma pergunta se faz
necessária: onde o filho dorme? O filho deve dormir no quarto dele e não dos
pais. É gravíssimo quando a mulher “usa” o filho para distanciar-se sexualmente
do marido. Nesse caso, cabe ao pai impor-se e “dar um corte” no filho,
fazendo-o dormir no seu quarto, e não na cama com a mãe. Isso ajuda no
fortalecimento da masculinidade do filho. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ainda
a respeito desse assunto, embora os filhos pequenos exijam naturalmente muito
dos pais, o casal não pode descuidar da saúde emocional e sexual do casamento. É
necessário que periodicamente os filhos fiquem com os avós ou algum parente de
confiança, para que o casal possa ter seu espaço e seu momento de diálogo, de
revisão do funcionamento da casa e de manutenção da qualidade de vida afetiva e
sexual. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Por
fim, como anda a espiritualidade da família? “Maria e José levaram Jesus a
Jerusalém,
a fim de apresentá-lo ao Senhor” (Lc 2,22).<b> </b>Essa
apresentação se inspira na atitude Ana, mãe do profeta Samuel: “Eu orava por
este menino, e o Senhor atendeu à minha súplica. Da minha parte eu o dedico ao
Senhor por todos os dias que viver, assim o dedico ao Senhor” (1Sm 1,27-28). A
maioria das famílias não procura mais a Igreja para batizar seus filhos e um
dos motivos é que muitas delas são “irregulares”, e nossa Igreja ainda não se
faz próxima dessas famílias. Por isso, é cada vez mais comum que crianças
cresçam sem espiritualidade, com pouquíssima ou nenhuma referência de fé dentro
de casa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
apresentação, a dedicação ou a consagração de Samuel (AT) e do menino Jesus
(NT) a Deus deixam uma pergunta: o filho pertence a quem? Ele não pertence aos
pais, mas a Deus. Ele não nasceu para realizar o sonho dos pais, mas para
descobrir a sua própria vocação, que é fazer da sua existência, que é única,
uma palavra única que Deus deseja comunicar à humanidade. O papel dos pais não
é criar o filho para si mesmos, mas para a vida; prepará-lo para abraçar a vida
com os seus desafios e para prestar um serviço à humanidade. Pais que têm como
objetivo tornar seu filho “um sucesso” se esquecem de que o primeiro preço que
o sucesso cobra é que a pessoa jogue sua consciência e seu caráter no lixo.
Neste sentido, faria muito bem aos pais que vivem postando fotos e vídeos de
seus pequenos nas redes sociais se lembrarem da parábola da carroça vazia: quanto
mais vazia uma pessoa é, mais barulho ela faz, para chamar a atenção dos outros sobre si. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Um
último ponto que ainda precisa ser repensado em nossa vida de família: “Meu
filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe
causes desgosto enquanto ele vive. Mesmo que ele
esteja perdendo a lucidez, procura ser compreensivo
para com ele” (Eclo 3,14-15). Como lidamos com os idosos da nossa família?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Pe. Paulo Cezar Mazzi</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-42103273276817631802023-12-24T10:48:00.000-08:002023-12-24T11:11:31.705-08:00O NATAL É UMA PALAVRA DO CÉU À TERRA (cf. Jo 1,14). <p><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"> <span style="text-align: justify;">Missa
de Natal. Palavra de Deus: Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14; João
1,1-18.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O contexto em que Jesus nasceu foi
este: César Augusto, imperador de Roma, </span><span style="font-family: helvetica; font-size: large;">ordenou um recenseamento, o que obrigou José
a ir com Maria, já no final da gravidez, a Belém. Não havia lugar para eles na
hospedaria e Maria teve que dar à luz a Jesus numa estrebaria. O contexto em
que nasceu Ezequias, filho do rei Acaz (sec. VIII aC), foi este: “botas de
tropas de assalto, trajes manchados de sangue” (Is 9,4) – guerra. Exatamente
quando a violência cobre o país com a sombra escura da morte, ouve-se o
anúncio: “Nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros
a marca da realeza; o nome que lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus
forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da Paz” (Is 9,5).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O contexto em que hoje celebramos o
Natal é este: guerra na Ucrânia, na Palestina e em tantas outras partes do
mundo que a mídia não divulga; mudanças climáticas que castigam o Sul com
excesso de chuva, o Norte com uma seca histórica nunca vista, e nós, aqui no
Sudeste, com ondas insuportáveis de calor e falta de chuva. O contexto em que
algumas famílias terão que vivenciar o Natal hoje é de tristeza: alguém não
estará na ceia ou no almoço de Natal, porque morreu de acidente, se suicidou ou
foi levado deste mundo por uma doença muito grave. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Essa é a realidade: o nascimento de
Jesus não eliminou o mal do mundo, nem cancelou a dor, o sofrimento e a morte
da nossa vida, mesmo porque o menino que nasceu o filho que nos foi dado, se
tornará um “homem sujeito à dor, familiarizado com o sofrimento” (Is 53,3). Seu
nome é “Deus conosco”, conosco em nossa dor, em nosso sofrimento, em nossa
morte. Ao nascer, Jesus participou da nossa mesma condição mortal, para
“libertar os que passaram a vida toda em estado de servidão, pelo temor da
morte. Pois ele não veio ocupar-se com anjos, mas sim com a descendência de
Abraão” (Hb 2,15-16).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O nascimento de Jesus se deu numa
estrebaria, onde os animais costumavam dormir e se alimentar, porque “não havia
lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Isso nos leva a reconhecer que, embora
hoje a maioria das pessoas celebre o Natal, ainda não há lugar para Deus nascer
na vida delas, porque seus corações estão voltados para o Palácio e não para a
manjedoura, para o Imperador e não para um menino, para a grandiosidade e não
para a simplicidade. A graça do Natal pode passar despercebida na vida da
maioria das pessoas, porque muitas delas estão perdidas no ativismo, na
correria, no consumismo, na superficialidade, no vazio, distanciando seu
coração de Belém. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">“Nasceu
para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). Nasceu aquele que “veio
procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Nasceu aquele a quem o Pai
concedeu o poder sobre todo ser humano (cf. Jo 17,2). Por isso, nós celebramos
o Natal na alegre certeza de que, ao nascer, Jesus é a “graça de Deus (que) se
manifestou trazendo a salvação para todas as pessoas” (Tt 2,11). Ninguém está
perdido para sempre. Ninguém está condenado para sempre. “Fiel é esta
palavra(...): Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu
sou o primeiro” (1Tm 1,15). O Natal de Jesus aconteceu em favor da salvação de
cada ser humano, sobretudo daquele que mais necessita ser salvo, qualquer que
seja a situação. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“Eu vos anuncio uma grande alegria”
(Lc 2,10). “Alegrai-vos e exultai ao mesmo tempo, ó ruínas de Jerusalém, o
Senhor consolou seu povo e resgatou Jerusalém” (Is 52,9). O anúncio do Natal
precisa chegar às nossas ruínas. Quantas situações foram ou estão arruinadas em
nossa vida ou na vida de pessoas que nós amamos? Nós não celebramos o Natal
porque não temos ruínas em nossa vida, mas porque olhamos para as nossas ruínas
como lugares de reconstrução, como situações perante as quais podemos ter
atitudes diferentes, atitudes que transformem a lamentação pelo que perdemos em
alegre esperança de que algo novo pode e deve ser construído ali.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">O
Natal é uma Palavra do céu à terra: “A Palavra se fez carne (pessoa humana) e
veio habitar no meio de nós” (Jo 1,14). A existência de Jesus foi uma palavra
de conforto a toda pessoa abatida; uma palavra de salvação a toda pessoa
perdida; uma palavra de vida a toda pessoa que se sentia morta por dentro. Nós
somos discípulos daquele que é “a Palavra que se fez carne”. Quanto mais o
Natal perde o sentido para muitas pessoas, mais a nossa vida de discípulos
precisa “dizer” o Evangelho – Palavra de Salvação – a todo ser humano que
espera por essa Palavra. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Nesta
noite de Natal, somos convidados a silenciar a nossa alma para acolher “a Palavra
(que) se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Deus tem uma palavra a dizer
a cada ser humano: uma palavra de cura para o doente, de direção para o que se
sente perdido, de libertação para o que se sente preso, de força para o
enfraquecido, de consolo para o que está triste, e essa Palavra é seu próprio
Filho feito homem (cf. Hb 1,1-2), pessoa humana, que conhece o chão da nossa
história, nossas misérias, nossas lutas e nossas esperanças. E aqui se revela a
nossa tarefa como cristãos: fazer ecoar em nossas atitudes o “Verbo de Deus”,
colocando-nos junto das pessoas abatidas para levar-lhes uma palavra de
conforto da parte de Deus, o Consolador de todo ser humano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #3a3a3a;"><o:p><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Pe. Paulo Cezar Mazzi</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-243666001734662392023-12-21T04:08:00.000-08:002023-12-21T04:08:52.159-08:00DEUS ESCOLHEU HABITAR EM NOSSA INSIGNIFICÂNCIA E DESAMPARO<p> <span style="font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: verdana;">Missa do 4º dom. advento. Palavra de Deus: 2Samuel 7,1-5.8b-12.14a.16;
Romanos 16,25-27; Lucas 1,26-38.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Onde Deus habita? Onde Ele escolheu habitar? A resposta
se encontra no livro do profeta Isaías: “Eu, o Senhor, habito em lugar alto e
santo, mas estou junto com o humilhado e desamparado, a fim de animar os
espíritos desamparados, a fim de animar os corações humilhados” (57,15). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">O rei Davi, sustentado por Deus, derrotou todos os
seus inimigos e construiu um palácio majestoso em Jerusalém. Instalado no seu
palácio, pensou em construir um Templo para Deus habitar, uma vez que a Arca da
Aliança, símbolo da presença de Deus no meio de Israel, “habitava” numa tenda,
símbolo não só de provisoriedade, mas também do Deus peregrino, que caminha com
seu povo. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">A ideia de Davi parecia boa, tanto que até o profeta
Natã assinou embaixo! Mas Deus tinha outros planos: não era Davi que construiria
uma casa (Templo) para Deus habitar, e sim o próprio Deus faria uma casa para
Davi: “(...) o Senhor te anuncia que te fará uma casa... Tua casa e teu reino serão
estáveis para sempre diante de mim” (2Sm 7,11.16). A “casa” era o juramento de
que nunca faltaria no trono de Israel um descendente de Davi.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Quando Salomão, o filho de Davi, construiu o Templo
de Jerusalém, Deus acolheu aquela construção enchendo-a com a nuvem da Sua
presença, a ponto de Salomão se encher de orgulho e afirmar: “O Senhor decidiu
habitar a Nuvem escura. Sim, eu construí para ti uma morada, uma casa em que habitas
para sempre” (1Rs 8,12-13). Mas Salomão estava enganado. O Templo que ele
construiu não era eterno. Destruído em 587 aC, pela Babilônia, e reconstruído
mais tarde por Esdras e Neemias, o Templo de Jerusalém foi destruído pelo
Império Romano no ano 70 dC, restando dele, até hoje, apenas uma parte da sua muralha
externa, chamada de “muro das lamentações”. Curiosamente, no lugar do Templo
foi construída a principal mesquita dos muçulmanos. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">O que tudo isso tem a nos dizer? Nenhuma casa ou
templo que possamos construir para Deus habitar é garantia de que Ele estará
ali “para sempre”. Como afirmou Estêvão, “o Altíssimo não habita em obras de
mãos humanas” (At 7,48). Nenhuma igreja ou religião pode se presumir “possuidora”
de Deus. Deus é absolutamente livre e não cabe dentro de nenhum templo, nenhuma
igreja, nenhuma ideia, nenhum conceito e nenhum sentimento ou emoção que
possamos ter ou experimentar a respeito d’Ele. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Onde Deus habita? Onde Ele escolheu habitar? Ele escolheu
habitar no seio de uma virgem, moradora da insignificante Nazaré. “De Nazaré
pode sair algo de bom?” (Jo 1,45), perguntou Natanael. Por que Deus, ao desejar
se fazer pessoa humana em seu Filho Jesus Cristo, não escolheu o seio de uma
rainha, de uma mulher da corte, de uma habitante da capital de Israel,
Jerusalém? Por que se fazer pessoa humana no seio de uma simples “Maria”,
habitante de uma desprezada e até mesmo odiada Nazaré? Exatamente porque Ele escolheu
fazer sua morada entre os insignificantes e entre os desamparados deste mundo. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">A liturgia de hoje nos convida a reler a nossa
história de vida. Nós acolhemos a nossa “insignificância” e o nosso “desamparo”
perante o mundo? Talvez, o “Templo” que um dia construímos a Deus, na esperança
de que Ele nunca nos abandonasse, na pretensão de que Ele ficasse conosco para
sempre, tenha sido destruído. Não só isso; talvez a casa que Deus prometeu “ser
estável para sempre” em nossa vida foi ou esteja sendo destruída. O que hoje é “estável
para sempre”? Nada, absolutamente nada. Nossa fé não vive de estabilidade; ela
vive de uma convicção: “Para onde ir longe do teu Espírito? Para onde fugir, longe
da tua presença? Se subo aos céus, tu lá estás; se desço ao abismo, ali também te
encontro” (Sl 139,7-8). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Deus está conosco como Presença escondida, quer
estejamos “para cima”, quer estejamos “para baixo”; quer a nossa casa esteja
estável, quer ela esteja instável; quer ela ainda esteja em pé, quer ela tenha
sido destruída. Da mesma forma como uma nuvem cobria a Tenda da Habitação no
deserto (cf. Ex 40,36-38), assim o Espírito Santo cobriu Maria com sua sombra
(cf. Lc 1,35), a fim de torná-la grávida de Jesus. Portanto, nós hoje
suplicamos que essa mesma sombra do Espírito de Deus nos cubra e nos engravide
de fé, de esperança, de alegria, de coragem, de perseverança, de suportação, de
fidelidade, de confiança, de modo que possamos dizer a Deus o que Maria disse: “Faça-se
em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Nesta véspera de Natal oferecemos a Deus a nossa
insignificância, a nossa instabilidade, a nossa casa, a nossa Nazaré, o nosso
seio, a nossa humilhação, o nosso desamparo, e pedimos que Ele venha habitar em
nós; que Ele venha reconstruir a nossa casa; que Ele venha nos ajudar a
suportar a instabilidade deste mundo, fixando nossos corações onde se encontra
a estabilidade do Seu Reino eterno. Que o Deus que escolheu estar junto com os
humilhados e desamparados nos coloque também junto deles, onde podemos
experimentar a “carne” de seu Filho Jesus, a verdade do seu Natal. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: verdana;">Pe. Paulo Cezar Mazzi </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-89474235477505947542023-12-14T04:31:00.000-08:002023-12-14T04:31:06.288-08:00ONDE ESTÁ A ALEGRIA?<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Missa do 3º dom. advento. Palavra de Deus: Isaías
61,1-2a.10-11; 1Tessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> “Irmãos, estai sempre alegres!” (1Ts 5,16). O terceiro domingo do Advento é
chamado “domingo da alegria”, devido à proximidade da celebração do Natal. De
fato, na noite de Natal ouviremos o Anjo do Senhor dizer: “Eu vos anuncio uma
grande alegria... Nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,10-11).
<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> Existem
dois tipos de alegria: aquela que vem de fora e aquela que nasce a partir de
dentro. A alegria que vem de fora depende totalmente das circunstâncias
externas: que eu esteja bem na minha saúde, na vida financeira/profissional e
na vida afetiva. A alegria que vem de dentro não depende do fato de que tudo à
nossa volta esteja correndo segundo planejamos; ela nasce de uma convicção: eu
fui desejado e sou amado por Deus, e estou neste mundo para cumprir uma missão.
Minha alegria é que a minha existência leve as pessoas que eu amo a se
encontrarem com Deus, fonte de perene alegria, exatamente como João Batista: “Ele
veio como testemunha,
para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele” (Jo 1,7).<b> </b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> O
mundo em que vivemos sequestrou a nossa alegria e a condicionou à nossa
capacidade de consumo: eu só sinto alegria quando posso consumir. No entanto, a
alegria do consumo dura de uma a duas semanas, necessitando de novos consumos
para voltar a ser experimentada. Além disso, o excesso de preocupação, a
correria da vida, as cobranças do mercado e a falta de tempo para si mesmo tem
levado muitas pessoas a “provocarem” alegria em suas vidas de maneira
artificial: bebida alcoólica e drogas. Ambas são “alegrias depressivas”:
primeiro, “jogam” a pessoa para cima; depois, a “empurram” para baixo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> “Irmãos, estai sempre alegres!” (1Ts 5,16). Será mesmo possível estarmos “sempre”
alegres? Existem duas coisas que fazem parte da vida e que nós entendemos serem
inimigas da nossa alegria: a frustração e o tédio. O papel da frustração é nos
tirar da fantasia e nos trazer de volta à realidade: ninguém pode ser, nem ter
tudo. A frustração nos recorda que o mundo não gira em torno de nós e que um “não”
que a vida nos dá pode ser muito mais benéfico a nós do que um “sim”. Além
disso, só quem aprende a lidar com a frustração se torna uma pessoa adulta,
madura, no lidar com o mundo emocional. O tédio, por sua vez, tem sua importância:
é condição necessária para termos saúde mental. Sem o espaço do tédio, não
temos criatividade, nem produtividade naquilo que fazemos. Um estudo científico
sobre o tédio revelou que a maioria das pessoas prefere fazer qualquer coisa a
não fazer nada, mesmo que seja algo negativo. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> Onde
buscar alegria? “Exulto de alegria no
Senhor
e minh'alma regozija-se em meu Deus” (Is 61,10). A
alegria sempre surge quando você está vivendo segundo a vontade de Deus, o que,
na prática, significa fazer aquilo que você foi chamado a fazer; tornar-se a
pessoa que você foi chamado a se tornar. Ela se encontra na resposta a uma
pergunta: “Quem é você? O que você diz de si mesmo?” (cf. Jo 1,19.21.22). Você
não é o centro do mundo, mas sua existência contém uma palavra única de Deus a
ser pronunciada em favor da humanidade. Além disso, a verdadeira alegria só
pode ser experimentada quando você sai de si e se dedica ao próximo ou a uma
causa: “Há mais alegria em dar do que em receber” (At 20,35). <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> Como
perder a alegria? Vendo as postagens dos outros nas redes sociais. Ninguém
posta fotos ou fatos a respeito de si quando não está bem. Os momentos de alegria,
muitas vezes artificiais e temporários, que as pessoas postam, falando de si
mesmas, têm o poder de nos fazer pensar e sentir que nós somos os únicos que
não estão alegres nesse mundo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Enfim, deixo aqui algumas frases sobre a alegria: “A alegria está na
luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita”
(Ghandi); “A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira” (Tolstói);
“O sábio não se senta para lamentar-se, mas se põe alegremente em sua tarefa de
consertar o dano feito” (William Shakespeare); “Não há satisfação maior do que
aquela que sentimos quando proporcionamos alegria aos outros” (Masaharu Taniguchi).
<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></p><p>
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Pe. Paulo Cezar Mazzi</span></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-87890591544381243822023-12-07T04:43:00.000-08:002023-12-07T04:43:30.535-08:00A TERRA, FERIDA PELA INJUSTIÇA, SERÁ CONSUMIDA, PARA DAR LUGAR A UMA TERRA ONDE HABITARÁ A JUSTIÇA<p><span style="font-size: large;"> <span style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;">Missa do 2º dom. do advento. Isaías 40,1-5.9-11;
2Pedro 3,8-14; Marcos 1,1-8.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>As
duas primeiras semanas do tempo do Advento se concentram na segunda vinda de
Cristo (Parusia), enquanto que as duas últimas semanas têm como foco a
celebração da primeira vinda (Natal). Por isso, nossa reflexão de hoje vai se
debruçar de modo especial na segunda leitura, cujo teor é a Parusia. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os
primeiros cristãos também esperavam pela segunda vinda de Cristo, e eles tinham
uma forte expectativa de que a Parusia aconteceria logo. Porém, os anos
passaram, aqueles que conviveram pessoalmente com Jesus morreram e a espera
pela Parusia foi substituída pela descrença quanto à volta de Jesus. É por isso
que o autor da segunda carta de Pedro se preocupa em nos recordar que o tempo
de Deus não é o nosso. Aquilo que nós costumamos interpretar como ilusão – não há
por quem nem pelo quê esperar – o autor bíblico chama de “paciência de Deus”,
pois Ele deseja que todos se convertam e sejam salvos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Assim
como os primeiros cristãos, nós também gostaríamos que Deus interviesse na
história humana para acabar de uma vez por todas com a injustiça e o mal. Isso
de fato acontecerá, mas do jeito e no tempo de Deus. Se nós não confiarmos na
sabedoria, na paciência, na misericórdia e na justiça de Deus, acabaremos por abandonar
nossa espera pela volta de Jesus, o que implicará em levarmos uma vida
inconsequente, buscando ser felizes aqui e agora, mesmo que essa felicidade
destrua a vida de pessoas à nossa volta e a vida do nosso planeta. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
grande maioria das pessoas ignora ou não crê na volta de Jesus. Exatamente por
isso, elas gastam suas energias naquilo que é transitório, aparente e ilusório,
descuidando daquilo que é definitivo, essencial e verdadeiro. São pessoas escravas
do consumismo e prisioneiras da inveja, preocupando-se excessivamente com a
aparência, enquanto descuidam do próprio caráter. São pessoas que “ignoram os
segredos de Deus, não esperam pelo prêmio da santidade, não creem na recompensa
das almas puras” (Sb 2,22). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Mas
aqui está o choque de realidade: “O dia do Senhor chegará como um ladrão,</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">e então os céus acabarão com barulho espantoso;</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão,</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">e a terra será consumida com tudo o que nela se fez” (2Pd 3,10). A
imagem do ladrão nos fala da surpresa: no exato momento em que uma pessoa pensa
estar no auge da sua carreira profissional, do seu enriquecimento, do seu
sucesso mundano, ela será “arrancada” desse mundo e será julgada não segundo os
bens que acumulou, mas segundo a maneira como tratou seu semelhante,
especialmente os que sofriam à sua volta. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“A
terra será consumida com tudo o que nela se fez”, e mesmo assim, a maioria
aposta o melhor de si naquilo que é terreno e passível de destruição: ficar
rico, fazer sucesso, garantir (financeiramente) um futuro tranquilo para si e
para os seus. Enquanto isso, a Terra queima, o planeta aquece, e esse fogo que
tudo consumirá não foi aceso por Deus, mas pelo próprio ser humano consumista e
ganancioso, que esgota os recursos do meio ambiente e que não se dispõe a mudar
seus hábitos, porque isso implica em ganhar menos, em aprender a viver com
menos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
autor bíblico nos pergunta: “Se desse modo tudo se vai desintegrar,</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">qual não deve ser o vosso empenho</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">numa vida santa
e piedosa, enquanto esperais com anseio a vinda do Dia de Deus?” (2Pd 3,11-12).
O “Dia de Deus” é o dia da justiça, o dia em que o mal cessará definitivamente,
o dia em que a morte será definitivamente eliminada, o dia em que as lágrimas
serão enxugadas, o dia em que o trigo será recolhido no celeiro (salvação dos
justos) e as uvas serão esmagadas no lagar do furor de Deus (condenação dos
maus, conforme Ap 14,14-20). <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O “Dia
de Deus” deve ser esperado, e não temido! “O que nós esperamos, de acordo com a
sua promessa,</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">
</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">são novos céus e uma nova terra,</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). A destruição do mundo injusto é
necessária e permitida por Deus para dar lugar a um mundo novo, “onde habitará
a justiça”. Enquanto esperamos por novos céus e uma nova terra, temos uma tarefa:
cuidar da nossa santificação – “Caríssimos, vivendo nesta esperança,</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">esforçai-vos para que ele vos encontre</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif;">numa
vida pura e sem mancha e em paz” (2Pd 3,14). Essa santificação pode ser
traduzida, na prática, no nivelar os vales, rebaixar os montes, endireitar o
que é torto e alisar as asperezas, de modo que o Senhor tenha acesso à nossa consciência
e ao nosso coração. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
caminho da vida de cada um de nós precisa ser limpo. Ninguém está totalmente pronto
para o encontro com o Senhor. A vida austera e simples de João Batista, que
veio preparar a primeira vinda de Cristo, questiona a inversão de valores em
que vivemos, os excessos que nos intoxicam: excesso de consumismo, de barulho,
de imagens, de informações, de exterioridade. É no deserto de nós mesmos que o
caminho precisa ser preparado; é na solidão do nosso interior que a estrada
precisa ser aberta, para que o Salvador se encontre conosco. O caminho deve ser
aberto em nossa própria carne, naquilo que mais dói em nós e nos custa mudar. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;"> Pe. Paulo
Cezar Mazzi </span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-22438744299192251662023-11-30T05:06:00.000-08:002023-11-30T05:06:35.932-08:00CONSTRUIR A PONTE DA ESPERANÇA SOBRE O ABISMO DAS NOSSAS INCERTEZAS<p> <span style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Missa do 1º dom. advento. Palavra de Deus: Isaías 63,16b-17.19b;64,2b-7;
1Coríntios 1,3-9; Marcos 13,33-37.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><o:p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nosso
tempo de advento, de espera por Aquele que vem, começa com uma súplica: “Ah! Se
rompesses o céu e descesses!” (Is 63,19). Depois da volta do exílio na
Babilônia (ano 538 aC), a profecia entrou numa profunda crise e Israel experimentou,
por cerca de 400 anos, um grande e doloroso silêncio de Deus, como se o céu
houvesse se fechado e Deus houvesse decidido não se comunicar mais com o seu
povo. Exatamente como Israel, nós também experimentamos muitas vezes o céu
fechado, como se Deus não apenas não falasse mais conosco, como também não se
interessasse por tudo aquilo que tem acontecido com a humanidade. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No
entanto, o tempo que iniciamos hoje é um tempo de gestação e, portanto, de
esperança: mais do que por um acontecimento, esperamos por uma Pessoa;
esperamos por Aquele que vem, Aquele que é justamente a Palavra que se fez
carne e veio habitar no meio de nós (cf. Jo 1,14 – texto do dia de Natal!);
esperamos por Aquele que, no momento do seu Batismo, viu o céu se abrir (cf. Mc
1,10), o que significa que, de agora em diante, tudo o que o Pai tem a dizer à
humanidade será feito unicamente por meio de seu Filho Jesus (cf. Hb 1,2). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Se
o tempo atual é fortemente marcado pela incerteza, o Advento está aí para nos
recordar a grande certeza que nos anima: o Senhor Jesus vem, e devemos esperar
por ele com a mesma atitude mencionada na oração de Isaías: “Nunca se ouviu
dizer nem chegou aos ouvidos de ninguém, jamais olhos viram que um Deus,
exceto tu, tenha feito tanto pelos que nele esperam” (Is 64,3). Deus faz pelos
que n’Ele e por Ele esperam! Contudo, essa espera não é passiva. O tempo
presente não é um tempo morto, estagnado, mas um tempo de gestação: enquanto
esperamos, trabalhamos; enquanto esperamos, vigiamos, cuidando da tarefa que nos
foi confiada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Eis,
portanto, a palavra-chave deste início de Advento: “Vigiem!” (cf. Mc 13,35.37).
“Minha alma espera pelo Senhor mais que os vigias pela aurora..., pois no
Senhor se encontra toda graça e redenção” (Sl 130,6.7). Esperamos pelo nosso Redentor
porque precisamos ser resgatados, precisamos ser redimidos do nosso próprio
pecado e do mal que existe no mundo. Esperamos pelo nosso Redentor suplicando
como o salmista: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">“Despertai vosso poder, ó nosso Deus e vinde logo
nos trazer a salvação! Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos
céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a!” (Sl 80,14-15). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
grande desafio da espera é o cansaço, o desânimo, o abandono da esperança,
porque o Senhor demora a vir. Nós não sabemos se ele virá “à tarde, à
meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer” (Mc 13,35). Sua vinda pode se dar, para
alguns, na infância; para outros, na adolescência ou na juventude; para outros
ainda, na idade adulta ou somente na idade avançada... Não nos cabe forçar ou antecipar
a vinda do Senhor; o que nos cabe é cuidar da tarefa que nos foi confiada: “(...)
deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a
cada um sua tarefa” (Mc 13,34). Eis o grande segredo! Se não queremos que a
nossa vida perca o sentido, devemos nos manter fiéis à missão que nos foi
confiada. Só essa fidelidade nos ajuda a suportar a demora pela vinda do Senhor
e a vencer a tentação de jogar tudo para o alto: “Nada proporciona melhor capacidade
de superação e resistência aos problemas e dificuldades em geral do que a
consciência de ter uma missão a cumprir na vida” (Victor Frankl). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Quando
olhamos para a estrada da nossa existência, temos a impressão de que ela vai
dar na direção de um abismo: a morte, a destruição, o fim de tudo, a falta de
sentido. Pois bem, o Advento é o tempo em que uma ponte começa a ser construída
(ou reconstruída!) sobre esse abismo. O nome dessa ponte é “Esperança”: como a
noiva espera pela vinda do seu noivo, nós esperamos pela vinda do nosso Deus e
Salvador, Jesus Cristo, sustentados por esta promessa: “Deus é fiel; por ele
fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso” (1Cor
1,9). Enquanto aguardamos “a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo” (cf. 1Cor
1,7), somos consolados e animados pelo Espírito Santo, pois é na sua força que
nos apoiamos, clamando: “Vem, Senhor Jesus!”. Como afirma o Apocalipse, “O
Espírito e a Esposa dizem: ‘Vem!’” (Ap 22,17). Jesus, por sua vez, responde: “Sim,
venho muito em breve!” (Ap 22,20). E nós, diante dessa promessa, respondemos
como Igreja: “Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,20). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Pe. Paulo Cezar Mazzi</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4586475829724646324.post-40525220743883690832023-11-23T04:06:00.000-08:002023-11-23T04:06:24.502-08:00NOSSO JULGAMENTO SERÁ SOBRE A VIVÊNCIA SOCIAL DA NOSSA FÉ<p> <span style="text-align: justify; text-indent: 49.65pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Missa de Cristo Rei – Palavra de Deus: Ezequiel
34,11-12.15-17; 1Coríntios 15,20-26.28; Mateus 25,31-46.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Duas
afirmações bíblicas nos ajudam a compreender o sentido da festa de hoje, na
qual celebramos Cristo, Rei do Universo. A primeira é de Deus, no Antigo
Testamento, ao afirmar: “Quanto a vós, minhas ovelhas, eu farei justiça entre
uma ovelha e outra” (Ez 34,17). A segunda é do próprio Cristo, no Novo
Testamento, ao afirmar: “Quando o Filho do Homem vier em sua glória, todos os
povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros” (Mt
25,31-32). “Fazer justiça” e “separar uns dos outros” significa “julgar”, e
quando Deus julga, restabelece a justiça na terra. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Muitas
pessoas desacreditaram da Justiça, e com razão, pois ela se encontra corrompida.
Enquanto muitas pessoas tiveram suas vidas prejudicadas pela injustiça e
algumas até morreram devido a alguma injustiça, nós conhecemos pessoas cujo
dinheiro as coloca acima da Justiça, mantendo-as ilusoriamente seguras na
impunidade. Contudo, Jesus nos garantiu que nada ficará impune: “Nada há de
encoberto que não venha a ser descoberto, nem de oculto que não venha a ser
revelado” (Mt 10,26). Ao final de sua vida, todo ser humano se confrontará com
a verdade, conforme está escrito: “Todos nós compareceremos perante o tribunal
de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante
sua vida terrena, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5,10). E ainda:
“Todos nós compareceremos perante o tribunal de Deus... Assim, cada um de nós
prestará contas a Deus de si próprio” (Rm 14,10.12).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
Festa de Cristo Rei nos recorda que a função principal do Rei é fazer justiça,
como nos mostra o Sl 71: “Dai ao Rei vossos poderes, Senhor Deus, vossa justiça
ao descendente da realeza! Com justiça ele governe o vosso povo, com
equidade ele julgue os vossos pobres. Das montanhas venha a paz a todo o
povo, e desça das colinas a justiça! Este Rei defenderá os que são pobres,
os filhos dos humildes salvará, e por terra abaterá os opressores!” (vv.1-4). Como
acabou de nos mostrar o Evangelho, Aquele que
hoje proclamamos Rei do Universo virá no fim dos tempos como Juiz de todo ser
humano, e nos julgará não segundo as aparências, mas segundo a verdade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Esperar pelo julgamento de Cristo significa
esperar pelo cumprimento da promessa que Deus fez por meio do profeta Ezequiel:
“Eu farei justiça entre uma ovelha e outra” (Ez 34,17). Durante sua vida
terrena, Jesus conheceu de perto o sofrimento e as injustiças humanas. Além
disso, Ele se identifica com os que sofrem e com os que são injustiçados. Por
isso, seu julgamento examinará concretamente a maneira como nos posicionamos
diante de quem sofre. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
separação, no julgamento final, entre os justos e os injustos, entre os
“benditos” e os “malditos”, deixa claro que só existem duas atitudes possíveis
diante das pessoas que sofrem ou passam por alguma necessidade: ou nós nos
compadecemos e ajudamos essas pessoas, ou nós nos desinteressamos pelo que se
passa com elas e as abandonamos. Não há neutralidade, e a nossa postura agora
diante delas vai refletir no momento do nosso encontro definitivo com Deus, sabendo
que o critério para entrar no Reino não será o que cada um de nós fez ou deixou
de fazer “para Deus”, mas o que um de nós fez ou deixou de fazer “para os
nossos semelhantes”, que cruzaram o nosso caminho e clamaram por nossa presença
solidária e compassiva.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>São
João da Cruz costumava dizer que “no entardecer da vida, seremos julgados a
respeito do amor”. Quando nossa vida terrena terminar, Jesus nos perguntará se nós
amamos, sabendo que amor é uma atitude: dar de comer, dar de beber, cuidar,
visitar, não abandonar, defender, fazer-se próximo de quem precisa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Diante das ovelhas feridas desse imenso rebanho
que é a humanidade, Deus assumiu um compromisso: “Vou cuidar de minhas ovelhas
e vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersadas num dia de
nuvens e escuridão. Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada,
enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente” (Ez 34,14.16). Prestemos
atenção aos verbos que traduzem a atitude de Deus para com a dor humana: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">procurar, reconduzir, enfaixar, fortalecer,
vigiar, fazer justiça</i>... Ontem, essas palavras se encarnaram na pessoa de
Jesus Cristo. Hoje, nós somos chamados a encarná-las em nossa vida de cristãos,
acolhendo este convite de Deus: “Preciso das tuas mãos para continuar a
abençoar; preciso dos teus lábios para continuar a falar; preciso do teu corpo
para continuar a sofrer; preciso do teu coração para continuar a amar; preciso
de ti para continuar a salvar” (Michael Quoist, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Oração do sacerdote numa tarde de domingo</i>).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="text-indent: 35.45pt;">ORAÇÃO: Senhor Jesus Cristo, hoje venho pedir
perdão por toda atitude minha de indiferença para com os necessitados. Quando o
Senhor permite que uma pessoa carente cruze o meu caminho, é porque há algo que
eu posso fazer por ela.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Hoje teu Evangelho me recorda que, no
entardecer da minha vida, eu serei julgado(a) a respeito do amor. O Senhor,
como justo Juiz, me perguntará se eu amei, se eu me deixei afetar pelo
sofrimento das outras pessoas, se eu dei minha colaboração para tornar esse
mundo mais justo e mais humano. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Quero abrir-me àqueles que estão à minha volta.
Quero abraçar contigo a missão de procurar a ovelha perdida, reconduzir a
extraviada, cuidar daquela que está ferida e defender aquela que está ameaçada
por algum tipo de maldade ou injustiça. Ajuda-me a não me fechar em mim
mesmo(a), mas a me fazer próximo(a) de toda pessoa que eu puder ajudar. Amém! <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><o:p> </o:p><span style="text-indent: 35.45pt;">Pe. Paulo Cezar Mazzi</span></span></p>Pe. Paulo Cezar Mazzihttp://www.blogger.com/profile/10118218286635901629noreply@blogger.com0