Missa do 3º.
dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 8,23b–9,3; 1Coríntios 1,10-13.17; Mateus
4,12-23.
Passou
o tempo das festas – Natal e Ano Novo. A grande maioria dos trabalhadores que
estavam de férias já retornou ao trabalho, e aqueles que puderam viajar já
estão de volta. Aos poucos a vida vai retomando o seu curso e vamos mergulhando
de novo no mar da rotina do nosso cotidiano. Mas eis que Jesus se coloca junto
ao mar da nossa vida! Ele está junto a nós porque escolheu iniciar seu caminho
de salvação não na capital (Jerusalém), mas numa periferia chamada “Galileia
dos pagãos” (Mt 4,15), um lugar insignificante, sem importância política, nem
religiosa, uma região habitada por pessoas consideradas ignorantes, perdidas.
Jesus
convida cada um de nós a visitar a sua periferia existencial, aquela área da
nossa vida que consideramos insignificante, mas que precisa ser acolhida e
cuidada por nós. Ao mesmo tempo, Ele nos convida a levarmos a Sua luz aonde ela
ainda não chegou. Para isso, cada um de nós precisa “sair da própria comodidade
e ter a coragem de alcançar as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG
20). É por meio de cada um de nós que a Igreja poderá “estar sempre onde fazem
mais falta a luz e a vida do Ressuscitado” (EG 30), nos lembra o Papa
Francisco.
Se
a liturgia da semana passada nos tornou conscientes de que a nossa existência
neste mundo não é fruto do acaso, mas de uma escolha e de um chamado por parte
de Deus, o Evangelho de hoje confirma esta verdade ao nos colocar diante das
palavras de Jesus: “Sigam-me e eu farei de vocês pescadores de homens” (Mt
4,19). Este chamado espera de nós uma RESPOSTA, resposta que deve ser dada não
somente num determinado momento, mas que pede para ser ATUALIZADA a cada dia da
nossa vida. Assim como os aplicativos do nosso celular exigem atualização para
que funcionem bem, assim a resposta que damos ao chamado de Deus necessita ser
atualizada, para que a escolha que fizemos ontem preencha de sentido a nossa
vida hoje.
Mas aqui nos deparamos com uma
questão importante: uma das características da geração moderna é a dificuldade
em fazer escolhas que sejam definitivas. Seja no campo profissional, afetivo ou
mesmo da fé, as pessoas hoje mudam suas escolhas quase que com a mesma
facilidade com que trocam de roupa. Muitos fatores colaboram para essa troca: o
desgaste, a rotina, a decepção – causada muitas vezes por uma expectativa
exagerada ou irreal daquilo que a pessoa escolheu – o surgimento de algo
aparentemente melhor, mais vantajoso, mais lucrativo, mais sedutor, algo que
prometa resultados mais rápidos e ofereça uma satisfação maior para a pessoa.
Embora a geração de hoje ache normal
“ROER A CORDA” sempre que o preço das escolhas feitas se mostre exigente e
muitas pessoas não queiram dar-se ao trabalho de atualizar suas escolhas, isto
é, atualizar a resposta que deram ao chamado de Deus, cada um de nós é
convidado por Jesus a segui-lo de maneira madura, apoiando-nos na escolha que
Ele fez de nós e na fecundidade que nos concedeu de produzirmos frutos, sabendo
que esses frutos permanecerão na medida em que nossas escolhas se ENRAIZAREM no
chão do definitivo e não mais patinarem sobre o terreno do provisório.
Jesus
nos chama a ajudá-lo na missão de “pescar pessoas”, isto é, salvá-las. Nesse
imenso mar da vida conhecemos inúmeros jovens mergulhados nas bebidas e nas
drogas, homens e mulheres mergulhando cada vez mais no adultério, famílias se
afogando na desestruturação, pessoas mergulhadas em dívidas devido ao
consumismo, gente se afogando no vício dos jogos, pessoas mergulhadas no
sofrimento e na dor, bairros ou cidades mergulhadas na violência, países
mergulhados em guerra civil, inúmeras pessoas se afogando na pornografia
enquanto navegam na internet etc.
Antes de lançarmos as redes, contudo,
o apóstolo Paulo nos convida a tomar consciência de que redes rompidas não
servem para pescar. Portanto, devemos superar as divisões que existem entre
nós. “Será que Cristo está dividido?” (1Cor 1,13), pergunta o apóstolo. O
centro da nossa fé deve ser o Evangelho, e não a pessoa do pregador do
Evangelho. Além disso, ao procurarmos viver como portadores da mensagem do
Evangelho aos outros, devemos confiar muito mais na força própria da cruz de
Cristo do que na sabedoria das nossas palavras. A cruz de Cristo tem sua força
própria! Isso significa que “não poderemos jamais tornar os ensinamentos da
Igreja uma realidade facilmente compreensível e felizmente apreciada por todos;
a fé conserva sempre um aspecto de cruz”, nos lembra o Papa Francisco (EG 42).
Hoje é o momento de atualizarmos a
nossa resposta ao chamado que recebemos de Jesus. “Um dia escutei teu chamado, divino recado batendo no coração. Deixei
deste mundo as promessas e fui, bem depressa, no rumo da Tua mão! Tu és a razão
da jornada, Tu és minha estrada, meu Guia, meu Fim. No grito que vem do Teu
povo Te escuto de novo chamando por mim! Embora tão fraco e pequeno caminho sereno,
com a força que vem de Ti. A cada momento que passa revivo esta graça de ser
Teu sinal aqui! Tu és a razão da jornada...”.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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