sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

SER UM EVANGELHO VIVO

Missa da Epifania do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.
 
            Nos dias em que Jesus nasceu, uma estrela serviu de sinal para guiar os magos do Oriente até onde Ele se encontrava. Este fato nos leva a perguntar: no mundo atual existem sinais que apontam para Deus? A estrela provocou os magos de tal maneira que eles saíram de si mesmos, se desacomodaram, colocando-se a caminho e sendo atraídos pela estrela, até encontrarem o menino Jesus. Hoje, existe algo que provoque as pessoas, de forma a atraí-las para Deus? Certa vez, o Papa Francisco disse que nossa Igreja deve conquistar as pessoas por atração. Isto significa que elas devem sentir-se atraídas pela luz da nossa alegria e da nossa esperança em Cristo. Nós temos essa luz conosco? Nosso rosto expressa alegria e esperança? Nós somos uma Igreja que atrai as pessoas para Deus? Como fica essa questão de atração numa época em que a maioria das pessoas só é atraída se houver promessas de satisfação dos seus caprichos pessoais?
            Quando falamos de “sinal”, há um detalhe importante a ser considerado: o sinal, para ser sinal, precisa ser também contraste. A luz da estrela só foi perceptível e só atraiu os magos porque contrastava com a escuridão da noite. Isso significa que nós, cristãos, só nos tornamos um sinal que atrai as pessoas para Jesus na medida em que contrastamos com o mundo. Contrastar com o mundo não significa ser moralista, nem se achar melhor do que os outros, mas estar no mundo sem perder a sua identificação com o Evangelho. Porém, é cada vez mais perceptível que nós, cristãos do século XXI, temos nos tornado sempre mais “mundanos”, seja porque também nós queremos usufruir daquilo que o mundo oferece, seja porque a luz do Evangelho tem sido cada vez mais combatida, criticada, desprezada e ridicularizada pelas pessoas que convivem conosco, o que nos leva a diminuir a sua intensidade para que ela se torne imperceptível e não mais nos traga “incômodos”.   
            Pense um pouco nisso: você contrasta com as pessoas com quem convive, no que diz respeito à sua maneira de entender o casamento, a família, a educação dos filhos, na maneira de lidar com sua sexualidade, de se envolver com a política, com as questões sociais, de modo a colaborar para que a sociedade e o mundo se tornem mais justos? Você suporta a crítica, a perseguição e o desprezo por parte dos outros – até mesmo da família, dos “amigos”, da própria comunidade de fé – quando você, por fidelidade ao Evangelho, contrasta com o mundanismo que se tornou parte da identidade deles? Num mundo marcado por tanta escuridão, você continua cuidando da sua luz, mesmo que sinta que essa tarefa é, às vezes, dolorosamente solitária? 
            “Levanta-te, resplandece... As nações caminharão à tua luz” (Is 60,1.3). Santa Madre Teresa de Calcutá gostava de dizer às pessoas: “Talvez você seja o único evangelho que seu irmão lê”. Neste mundo mergulhado numa profunda escuridão chamada “desorientação existencial”, talvez você seja o único ponto de luz para aquela pessoa com que você convive. Por isso, é preciso que você cuide e valorize a pequena luz que há em você: a luz da fé, da bondade, da humildade, da retidão de comportamento, da fidelidade, do serviço em favor da justiça, aquela luz que, de alguma forma, faz com que a pessoa que convive com você sinta o desejo de se voltar para Deus. Lembre-se: “Tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades de Judá” (Mt 2,6), o que significa que a sua luz, ainda que aparentemente pequena, é necessária para ajudar a reconduzir pessoas para Deus.
Muitos hoje desistiram de buscar a Deus, porque o caminho da fé é muitas vezes árduo, exige perseverança, discernimento, um caminho feito não apenas de respostas, mas de muitas perguntas. A busca dos magos do Oriente por Jesus foi uma busca sofrida. Nada estava totalmente claro para eles. Tiveram que fazer perguntas; tiveram que se deparar com a falsidade e a maldade de Herodes; tiveram que lidar com a indiferença de tantos habitantes de Jerusalém. Mas eles não desistiram: caminharam no meio da noite, até encontrarem Jesus. Temos essa determinação em nossa procura por Deus? Temos determinação em continuar a ser um sinal que conduz as pessoas para Deus?
Se quisermos experimentar a alegria que os magos experimentaram, precisamos aceitar conviver com perguntas, sem exigir logo respostas; precisamos nos desacomodar e nos dispor a caminhar ao encontro de Deus, sabendo que nas noites escuras da nossa fé Ele sempre providenciará uma estrela para nos guiar, até que possamos estar diante de seu Filho, reconhecendo-O como nosso Salvador, como Aquele que o nosso coração sempre buscou.
Por fim, o Evangelho de hoje nos lembra que Jesus nasceu como “dom” de Deus, como o grande “presente” que o Pai enviou à humanidade. Diante deste “presente”, os magos abriram seus cofres e ofereceram a Jesus seus presentes: ouro, incenso e mirra. Essa atitude dos magos lembra uma frase veiculada nos anos 80: “A pessoa que eu sou é um presente da vida para mim. A pessoa que eu posso me tornar é um presente meu para a vida” (autoria desconhecida). Que você ofereça a Deus e à humanidade o seu melhor, sabendo que o ouro significa o que você tem de mais precioso; o incenso, o que você tem de mais sagrado; a mirra, o que você tem de mais humano, sua dor mais intensa, sua ferida mais profunda.

  Pe. Paulo Cezar Mazzi


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