quinta-feira, 30 de maio de 2013

BASTA UMA PALAVRA TUA E EU SEREI SALVO(A)

Missa do 9º. dom. comum. Palavra de Deus: 1Reis 8,41-43; Gálatas 1,1-2.6-10; Lucas 7,1-10.

Você é levado a sério pelos outros quando fala? Sua palavra tem autoridade? Você costuma sustentar aquilo que diz? Sua palavra é respeitada? Você vive de acordo com aquilo que fala aos outros? Pais que não sustentam aquilo que falam aos filhos perdem a autoridade diante dos mesmos. Líderes religiosos que pregam uma coisa e vivem outra perdem a credibilidade diante de seus fiéis. Personalidades do mundo político, jurídico e econômico que falaram uma coisa ontem e sustentam outra coisa hoje perdem o respeito do povo. O fato é que a palavra humana hoje tem perdido sua autoridade, sua credibilidade, sua força.
Mas aquilo que semanalmente nos traz aqui, aquilo que nos reúne, que nos congrega como Igreja, não é uma palavra humana e sim a Palavra de Deus, uma Palavra que tem autoridade, que é sustentada pelo próprio Deus que disse: “O que sai da minha boca é a verdade, uma palavra que não voltará atrás” (Is 45,23); “(...) tal ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não volta a mim sem efeito; sem ter... realizado o objetivo de sua missão” (Is 55,11).
Jesus não é apenas alguém portador da Palavra de Deus, mas ele é a própria Palavra. Porque todos os dias, por meio da oração, Jesus se colocava debaixo da autoridade do Pai, “ele falava como quem tem autoridade” (cf. Mt 7,29; Mc 1,27). Por causa disso, a sua Palavra tinha força suficiente para curar o doente, ressuscitar o morto, reanimar o abatido, reconduzir o extraviado, libertar o oprimido, trazer para a luz aquele que estava na escuridão...
Não somente ontem, mas também hoje, muitos já ouviram Jesus, muitos já receberam a sua Palavra, mas nem todos foram curados, ressuscitados, reanimados; nem todos se deixaram reconduzir, libertar, vir à luz. E por que não? Por falta de fé na força da Palavra de Jesus. O que o Evangelho de hoje está nos dizendo é que a Palavra de Jesus não é mágica, não age sozinha; ela precisa da nossa fé para se cumprir em nossa vida.
A fé que Jesus não encontrou no meio do povo de Israel, encontrou num oficial romano, um estrangeiro, que mandou seus amigos dizerem a Jesus: “Senhor, ... não sou digno de que entres em minha casa... nem de ir pessoalmente ao teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. Eu também estou debaixo de autoridade...” (Lc 7,6-8). Assim como este oficial romano, a Palavra de Deus basta para alimentar a sua fé, ou você fica exigindo que Ele se manifeste pessoalmente numa determinada situação da sua vida para modificá-la?
Com outras palavras, aquele homem disse a Jesus: ‘Eu creio no poder da tua Palavra. Sei que ela tem autoridade. Se a minha palavra humana é obedecida pelos meus soldados, muito mais a tua Palavra será obedecida, até mesmo por este mal que aflige o meu empregado’. Quantos rejeitam a Palavra de Jesus porque não é a Palavra que queriam ouvir, e vão atrás de uma outra palavra, de “um outro evangelho”, um evangelho falsificado para agradá-las (cf. Gl 1,6)? Da mesma forma como todo pregador que manipula a Palavra para agradar aos seus ouvintes deixa de ser um servo de Cristo (cf. Gl 1,10), assim aquele que rejeita a verdade da Palavra não pode ser por ela curado e salvo.
“Ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado” (Lc 7,7). Qual é o lugar da Palavra no seu dia a dia? Quando você faz a sua oração, deixa espaço para que Deus lhe fale por meio da Palavra? Você consulta a Palavra apenas para nela encontrar solução para os seus problemas, ou a consulta para encontrar nela a vontade de Deus para a sua vida? O salmista diz: “Eu espero, Senhor, eu espero com toda a minha alma, esperando tua palavra” (Sl 130,5). Você sabe esperar na Palavra (até que ela se cumpra), e sabe esperar pela Palavra (até que Deus a envie a você)? 
Neste Ano da Fé, peçamos ao Senhor que aumente a nossa fé no poder da sua Palavra. Que a nossa vida não aceite viver sob as ordens da palavra do mercado, da moda, dos amigos, dos ídolos do mundo moderno, dos meios de comunicação, mas se coloque docilmente sob aquilo que a Palavra nos ordena como caminho de salvação para nós e para a humanidade. Que a nossa alma encontre na Palavra de Jesus a direção; que a nossa doença encontre nela a cura; que a nossa escuridão encontre nela a luz; que o nosso conflito encontre nela a paz... 
                                              Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 24 de maio de 2013

POÇO VAZIO OU HABITADO POR UMA PRESENÇA?


Missa da Santíssima Trindade. Palavra de Deus: Provérbios 8,22-31; Romanos 5,1-5; João 16,12-15.

Observe os carros que passam nas ruas: você não consegue ver as pessoas que estão dentro deles devido à película protetora, colocada nos vidros não apenas para atenuar o calor, mas também para guardar a privacidade de quem está dentro dos carros. Observe os portões e os muros das casas, observe as entradas dos prédios e dos condomínios: você não consegue ver, nem saber se há alguém lá dentro. Cada vez mais o ser humano cria formas de se isolar, não apenas devido à violência, mas também motivado pelo individualismo. O fato é este: estamos cada vez mais nos isolando uns dos outros, cada vez mais sozinhos, porque achamos que sozinhos estamos melhor.
O nosso Deus não é e nunca foi sozinho. O livro dos Provérbios nos fala que, antes de Deus criar todas as coisas, havia “alguém” junto dele: “Desde a eternidade fui constituída, desde o princípio, antes das origens da terra... Eu estava ao seu lado como mestre-de-obras, eu era seu encanto, dia após dia, brincando todo o tempo em sua presença” (Pr 8,22.30). Observe essas palavras: “Eu estava ao seu lado”... “Eu era seu encanto”... “Eu brincava todo o tempo em sua presença”... São palavras que se referem a Jesus, por quem e em quem o Pai criou todas as coisas (cf. Jo 1,1-2; Cl 1,16).
O Pai nunca esteve sozinho. Com Ele sempre esteve, desde toda a eternidade, o Filho, e com o Pai e o Filho sempre esteve também o Espírito Santo (cf. Gn 1,1). Considere novamente essas palavras: “Eu estava ao seu lado”. Alguém está ao seu lado agora, ou você tem seguido na vida se fechando em seu isolamento? “Eu era seu encanto”. Por qual motivo nós, cada vez mais e com muita facilidade, perdemos o encanto de estar juntos com as pessoas? “Eu brincava todo o tempo em sua presença”. Você consegue imaginar Jesus brincando na presença do Pai? Sem dúvida, é possível brincar sozinho, mas brincar supõe a presença de alguém com quem brincamos. Há quanto tempo você não brinca? Há quanto tempo você não encontra uma pessoa para “brincar”, ou seja, para viver com ela momentos de gratuidade, onde não seja preciso produzir nem obter resultado?
O individualismo e a solidão do mundo atual nos adoecem e nos desumanizam. Eles nos transformam em poços profundos, escuros e vazios. São Francisco de Sales certa vez ficou sabendo que numa cidade próxima de onde ele se encontrava em missão existia um poço em que as pessoas diziam que havia alguém no fundo dele. Quando se jogava uma moeda e se gritava “olá!”, essa pessoa no fundo do poço respondia: “olá!”. São Francisco de Sales quis conhecer esse poço. Chegando lá, viu uma fila enorme de pessoas, que jogavam moedas, diziam “olá!’ e ouviam de volta um outro “olá!”. Observando aquilo,  São Francisco de Sales se deu conta de que, na verdade, a voz que vinha do fundo do poço era apenas o eco das pessoas que gritavam fora dele... Alguém se aproveitava da ingenuidade das pessoas e, durante a noite, recolhia as moedas que elas jogavam no poço.
Jesus disse que o Espírito da Verdade nos conduzirá à plena verdade (cf. Jo 16,13). Qual é a sua verdade? Você tem permitido que o individualismo te transforme num poço vazio? Dentro de você existe a voz de Deus ou apenas o eco do mundo? Alguém habita em você? Há uma Presença que mora dentro de você? Dentro de você habitam o Pai, o Filho e o Espírito Santo? Você permite se tornar habitação da Santíssima Trindade? Você tem vivido como uma pessoa portadora do Espírito da Verdade, ou apenas como um poço de mentira?
No mundo atual, as pessoas se isolam cada vez mais, deixam de cultivar relacionamentos presenciais, se refugiam na internet e passam a cultivar apenas relacionamentos virtuais. Nós também estamos cada vez mais inseridos nas redes sociais. Se nessas redes nós não nos comportarmos como poços vazios, portadores apenas do eco do mundo, mas como pessoas habitadas por Deus, certamente poderemos ajudar muitas outras pessoas a redescobrirem o encanto da convivência, a se darem conta de que há uma Presença dentro delas que espera ser reconhecida, a decidirem não mais viver como poços vazios, mas como habitação da Santíssima Trindade, alegrando-se por estarem na constante presença do Pai que está acima delas, do Filho que está junto delas e do Espírito Santo que está dentro delas (parafraseando o Pe. Adroaldo). 
                                         Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 16 de maio de 2013

SER MAIS RECEPTIVOS AO ESPÍRITO


Missa de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios 12,3b-7.12-13; João 20,19-23.

Há uma imagem bíblica que nos ajuda a entender a importância vital do Espírito Santo em nós, neste dia de Pentecostes. Ao narrar a criação do ser humano, o livro do Gênesis diz que “o Senhor Deus modelou o ser humano com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o ser humano se tornou um ser vivente” (Gn 2,7). A imagem da argila do solo nos diz que nós somos como barro nas mãos de Deus, o nosso Oleiro: Ele pode fazer de nós um vaso novo, sempre que nos confiamos às Suas mãos (cf. Jr 18,1-6). Mas o mais importante nesta imagem é a atitude do Oleiro de insuflar no barro que somos o hálito de vida, o seu Espírito, de modo que, se Deus retira de nós o seu Espírito, nos sentimos mortos; mas quando Ele nos envia o seu Espírito, voltamos a nos sentir vivos (cf. Sl 104,29-30).
Jesus sopra sobre os discípulos e diz: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Ele mesmo havia dito aos seus discípulos que esperassem até que fossem revestidos da força do Alto, que é o Espírito Santo. Da mesma forma como Jesus disse: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5), sabemos que, sem o Espírito Santo, nós também nada podemos fazer. Só o Espírito dá a vida; nada podemos por nós mesmos. Foi por isso que Deus disse a Zorobabel, por ocasião da reconstrução do Templo: “Não pelo poder, não pela força, mas por meu Espírito, diz o Senhor” (Zc 4,6). Aquilo que temos a realizar, sobretudo em nome do Evangelho, não o será por nosso poder ou nossa força, mas unicamente pelo Espírito Santo de Deus.
 A Sagrada Escritura nos ensina que é o Espírito Santo quem nos dá força e coragem para enfrentar o mal que se esconde dentro de nós e nas estruturas sociais; é Ele quem nos dá o entendimento da Palavra e abre o nosso coração para a fé. Somente o Espírito Santo transforma a nossa Babel/confusão/desunião (cf. Gn 11,7-9) em harmonia/diálogo/entendimento, ajudando-nos a comunicar o Evangelho da salvação na linguagem que cada pessoa é capaz de entender, possibilitando que ela se abra para a fé (cf. At 2,6.11).
O Espírito Santo é o nosso Defensor contra o Maligno que nos acusa diante de Deus; é o Espírito da Verdade, que nos liberta das mentiras do mundo que nos escravizam; é o nosso Consolador que se faz próximo de nós em cada experiência de desolação que fazemos na vida. Ele é o bálsamo de Deus que se derrama sobre as nossas feridas. Quando caímos na tentação de nos fechar, Ele nos abre; quando nos deixamos armar pela agressividade, Ele nos desarma; quando decidimos nos tornar rígidos, Ele quebra a nossa rigidez. O Espírito Santo é o amor de Deus derramado em nossos corações (cf. Rm 5,5), amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,7).
Jesus nos ensinou que o Espírito Santo é como o vento: Ele sopra onde quer (cf. Jo 3,8). Ele é sopro, hálito de vida, energia vital, força que impulsiona, que movimenta e faz viver. Ele é força, mas força que vem do Alto e que nos leva para o Alto, para Deus. Foi o Espírito Santo de Deus que fez o jovem Daniel salvar Suzana da condenação à morte por causa de um julgamento injusto (cf. Dn 13,45-64). Foi o Espírito Santo de Deus que, comunicado por meio da Palavra do profeta Ezequiel, fez o povo de Israel, prostrado no desânimo e na falta de esperança por causa do exílio na Babilônia, reagir e desejar viver de novo (cf. Ez 37,1-14).
O dia de Pentecostes nos lembra que o Espírito Santo é dom de Deus, um dom que Jesus nos ensinou a pedir todos os dias na oração, da mesma forma como pedimos ao Pai o pão de cada dia: “(...) o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem” (Lc 11,13). Precisamos pedir o Espírito Santo. Precisamos suplicar por Ele. Mas precisamos igualmente nos deixar conduzir pelo Espírito (cf. Rm 8,14). Só Ele sabe quais são os desígnios de Deus a nosso respeito (cf. 1Cor 2,10-11; Rm 8,27). Precisamos confiar a direção da nossa vida ao Espírito Santo e não opor resistência ao que Ele nos diz por meio da nossa consciência, da Igreja, de pessoas ou dos acontecimentos.  
 Por fim, a Palavra afirma que “a cada um de nós é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7). O Espírito Santo age em vista da edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Se queremos ser fiéis ao dom que recebemos, precisamos ser coerentes com o Espírito que habita em nosso peito e trabalhar sempre em vista do bem comum, pois embora sejamos muitos e diversos, “todos nós bebemos de um único Espírito” (1Cor 12,13) e todos nós só vivemos a partir de um único Espírito. 
Quando você clamar a Deus pedindo o Espírito Santo, lembre-se de que sempre que a Escritura se refere à maneira como Deus concede o Espírito, ela usa o termo “DERRAMAR” (cf. Jl 3,1; At 2,33; Tt 3,5-6). O dom do Espírito é imenso como o mar, mas a questão é saber se a sua receptividade em relação ao Espírito Santo é, grosseiramente falando, do tamanho de uma xícara de café, de um balde ou de um tambor de 200 litros... O Pai concede o Espírito a quem pede, e a presença do Espírito em nós é proporcional à abertura que Lhe damos em nossa vida. Sejamos um pouco mais receptivos ao dom do Espírito, o que significa ter uma vida de oração mais disciplinada, se lembrar de pedir o Espírito Santo e se deixar conduzir por Ele. Desse modo, experimentaremos bem mais a verdade da Sua presença em nós... 
                                                 Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A FORÇA QUE NOS ELEVA ATÉ DEUS


Missa da Ascensão do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Lucas 24,46-53.         

       Se nós pudéssemos fazer um gráfico que simbolizasse a nossa existência, ele se pareceria com uma montanha: iniciamos aqui embaixo, aos poucos vamos subindo, atingimos o topo do nosso crescimento, experimentando o auge das nossas forças; depois, começamos a declinar aos poucos, sentindo o enfraquecimento não só do vigor físico, mas também psicológico e mesmo espiritual; descemos a montanha pelo outro lado, até chegar ao chão, quando ali, então, termina a nossa vida.
       Por mais coisas que o mundo invente, tentando nos manter numa constante ascensão, numa constante subida – e quantas vezes essa subida é feita à custa de mentira, corrupção, injustiça, desrespeitando e usando pessoas como se fossem apenas degraus para a nossa ascensão – a lei da gravidade nos puxa para baixo, para nos lembrar de que sempre chegará o momento em que teremos que descer e voltar para a terra de onde viemos: “Tu és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19).
         Mas, celebrando a solenidade da ascensão de Jesus, a Palavra de Deus nos recorda que o final de nossa vida não é a decomposição de tudo o que fizemos na terra, mas o nosso encontro definitivo com Deus e com seu Filho Jesus, como o próprio Jesus disse: “Virei novamente e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14,3); e como ele próprio orou: “Pai, aqueles que tu me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que contemplem a minha glória” (Jo 17,24).
         A ascensão de Jesus nos lembra que a meta final da nossa vida é Deus. Mas a nossa chegada até Deus se dará por meio da cruz, como aconteceu com Jesus: primeiro, sofrer; depois, ressuscitar (cf. Lc 24,46); por fim, assentar-se junto de Deus no céu (cf. Ef 1,20). Por mais contraditória que isso pareça, a força que nos leva para o alto, a força que nos faz ascender ao céu é a cruz! Quem rejeita a presença da cruz em sua vida perde a oportunidade de experimentar a elevação da sua vida até Deus.
       Se o destino final da nossa vida, como o de Jesus, é a comunhão com o Pai, a solenidade da ascensão nos ajuda a compreender a vida de uma outra forma. Devemos viver a nossa vida como Jesus, que passou pelo mundo fazendo o bem (cf. At 10,38), pois somente os que tiverem feito o bem ressuscitarão para a vida (cf. Jo 5,29). A ascensão de Jesus também nos recorda que nós estamos aqui apenas de passagem: “Todos estamos de visita neste momento e lugar. Só estamos de passagem. Viemos observar, aprender, crescer, amar e voltar para casa” (Dito aborígene australiano).
       Para a nossa geração, tão escrava do consumismo, vale recordar essa estória:  Conta-se que um turista americano foi à cidade do Cairo no Egito, com o objetivo de visitar um famoso sábio. O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco. - Onde estão seus móveis? Perguntou o turista. - E o sábio, bem depressa olhou ao seu redor e perguntou também: - E onde estão os seus...? - Os meus?! Surpreendeu-se o turista. - Mas estou aqui só de passagem! - Eu também... - concluiu o sábio. Moral da estória: A vida na Terra é somente uma passagem... No entanto, alguns vivem como se fossem ficar aqui eternamente, e se esquecem de ser felizes (e de fazer os outros felizes).
           Nossos olhos não podem ver Jesus, assentado à direita do Pai, no céu (cf. At 1,9), mas nós cremos na Palavra que diz que o Pai fez Jesus “sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda a autoridade... Ele pôs tudo sob seus pés” (Ef 1,20-22), o que significa que Jesus está acima de todas as coisas que poderiam nos atingir, pois o Pai lhe concedeu o poder de nos socorrer em todas as nossas tribulações terrenas. Por isso, como os discípulos, nós também podemos experimentar uma profunda alegria (cf. Lc 24,52-53), apesar das dificuldades que enfrentamos neste mundo, pois temos a certeza da vitória de Jesus Cristo em nossa vida, na vida da Igreja e na vida da humanidade.          
          Como discípulos daquele que sofreu, morreu, ressuscitou e está junto do Pai no céu, nós caminhamos na terra confiando nossa vida aos cuidados do Espírito Santo que nos foi prometido, sabendo que Ele nos dá a força para sermos testemunhas vivas de Jesus (cf. At 1,8), e nos revestirá da “força do alto” (Lc 24,49) sempre que a pedirmos na oração (cf. Lc 11,13), essa mesma força que nos fará ascender um dia com Jesus ao céu (cf. Rm 8,11).
                                                                       Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 3 de maio de 2013

NÓS TEMOS UM DEFENSOR!


Missa do 6º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 15,1-2.22-29; Apocalipse 21,10-14.22-23; João 14,23-29

            Estamos caminhando para o término do Tempo Pascal. Jesus começa a se despedir dos seus discípulos. Ele deve voltar ao Pai, e enviar de lá o Espírito Santo prometido. Mas o fato de Jesus começar a se despedir dos seus discípulos não significa que ele vai se ausentar da vida deles. Sua presença junto a eles será de outra forma: não mais externa, mas interna; não mais física, mas espiritual.
Nós nascemos num tempo diferente dos discípulos. Nunca convivemos com Jesus fisicamente, mas entramos em contato com Ele por meio da sua palavra, o Evangelho. Portanto, a nós também Jesus dirige essas palavras: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23). Nenhum de nós pôde conviver fisicamente com Jesus, mas qualquer um de nós pode se tornar morada de Jesus e do Pai, na medida em que amamos Jesus e colocamos em prática o seu Evangelho.
Ao se despedir, Jesus nos garante que o Pai nos enviará um outro Defensor, o Espírito Santo. Porque travamos uma luta constante em nossa vida espiritual, nós precisamos de um Defensor. O inimigo nos persegue, e de diversas formas combate contra a nossa fé. Ele quer nos fazer acreditar que somos órfãos e estamos sozinhos neste mundo, mas o Espírito Santo nos garante que somos filhos de Deus e que Ele cuida de nós como Pai (cf. Rm 8,16). O inimigo quer nos fazer pensar que Jesus nos deixou para sempre, mas o Espírito Santo nos garante que Jesus está conosco todos os dias (cf. Mt 28,20) e que ele dia e noite ele intercede ao Pai em nosso favor (cf. Hb 7,25). O inimigo quer apagar da nossa memória e do nosso coração as palavras e as promessas de Jesus, mas o Espírito Santo nos fará recordar cada palavra de Jesus e experimentar a realização de cada promessa sua em nossa vida (cf. Jo 14,26).
Essa assistência do Espírito Santo junto aos discípulos de Jesus foi testemunhada nos Atos dos Apóstolos (15,1-2.22-29). Num momento em que haviam surgido confusão e discussão na Igreja primitiva, e as palavras de alguns haviam causado perturbações e transtornado o espírito dos primeiros cristãos, os discípulos ser reuniram, se colocaram em oração e se submeteram àquilo que o Espírito Santo lhes inspirou. Mesmo sabendo que ao longo da nossa vida de fé teremos que lidar com conflitos, Jesus nos convida a não deixarmos isso perturbar nem intimidar o nosso coração, confiando que o Espírito Santo nos dará discernimento e nos fortalecerá diante de cada dificuldade.
“Vou, mas voltarei a vós... porque o Pai é maior do que eu” (Jo 14,28). Jesus foi tirado dos discípulos pelas mãos dos homens, na sua morte de cruz, mas o Pai devolveu Jesus aos discípulos por meio da ressurreição. Jesus, que agora está junto do Pai para interceder por nós, voltará um dia para julgar a humanidade, para restaurar todas as coisas, para submeter tudo ao Pai (cf. Ef 1,10; Cl 1,20; 1Cor 15,24-28), para nos devolver definitivamente às mãos do Pai, que é maior que tudo e que todos.
            Invoquemos a defesa do Espírito Santo sobre nós, sobre nossa fé, sobre nossa Igreja, sobre os cristãos espalhados pelo mundo todo... Invoquemos a defesa do Espírito Santo sobre as crianças, os jovens, as famílias, os casais... Invoquemos a defesa do Espírito Santo sobre os doentes, os sofredores e os injustiçados... Acolhamos a presença do Pai e do Filho em nós mesmos e reconheçamos cada ser humano como lugar sagrado onde o Pai e o Filho habitam... 
              Como nos convida o livro do Apocalipse, deixemo-nos cercar pela muralha maciça e alta, que é o Espírito Santo. Tenhamos abertura (as doze portas) àquilo que o Espírito quer nos dizer. Fundamentemos a nossa fé sobre o alicerce sólido do Evangelho de Jesus Cristo, transmitido a nós pelos apóstolos. Tornemo-nos presença de Deus junto às outras pessoas, vivendo como discípulos do Cordeiro, ou seja, como lâmpadas que refletem em si a luz que é o próprio Deus (cf. Ap 21,12.14.22-23). 

               Pe. Paulo Cezar Mazzi