quinta-feira, 9 de maio de 2013

A FORÇA QUE NOS ELEVA ATÉ DEUS


Missa da Ascensão do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Lucas 24,46-53.         

       Se nós pudéssemos fazer um gráfico que simbolizasse a nossa existência, ele se pareceria com uma montanha: iniciamos aqui embaixo, aos poucos vamos subindo, atingimos o topo do nosso crescimento, experimentando o auge das nossas forças; depois, começamos a declinar aos poucos, sentindo o enfraquecimento não só do vigor físico, mas também psicológico e mesmo espiritual; descemos a montanha pelo outro lado, até chegar ao chão, quando ali, então, termina a nossa vida.
       Por mais coisas que o mundo invente, tentando nos manter numa constante ascensão, numa constante subida – e quantas vezes essa subida é feita à custa de mentira, corrupção, injustiça, desrespeitando e usando pessoas como se fossem apenas degraus para a nossa ascensão – a lei da gravidade nos puxa para baixo, para nos lembrar de que sempre chegará o momento em que teremos que descer e voltar para a terra de onde viemos: “Tu és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19).
         Mas, celebrando a solenidade da ascensão de Jesus, a Palavra de Deus nos recorda que o final de nossa vida não é a decomposição de tudo o que fizemos na terra, mas o nosso encontro definitivo com Deus e com seu Filho Jesus, como o próprio Jesus disse: “Virei novamente e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14,3); e como ele próprio orou: “Pai, aqueles que tu me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que contemplem a minha glória” (Jo 17,24).
         A ascensão de Jesus nos lembra que a meta final da nossa vida é Deus. Mas a nossa chegada até Deus se dará por meio da cruz, como aconteceu com Jesus: primeiro, sofrer; depois, ressuscitar (cf. Lc 24,46); por fim, assentar-se junto de Deus no céu (cf. Ef 1,20). Por mais contraditória que isso pareça, a força que nos leva para o alto, a força que nos faz ascender ao céu é a cruz! Quem rejeita a presença da cruz em sua vida perde a oportunidade de experimentar a elevação da sua vida até Deus.
       Se o destino final da nossa vida, como o de Jesus, é a comunhão com o Pai, a solenidade da ascensão nos ajuda a compreender a vida de uma outra forma. Devemos viver a nossa vida como Jesus, que passou pelo mundo fazendo o bem (cf. At 10,38), pois somente os que tiverem feito o bem ressuscitarão para a vida (cf. Jo 5,29). A ascensão de Jesus também nos recorda que nós estamos aqui apenas de passagem: “Todos estamos de visita neste momento e lugar. Só estamos de passagem. Viemos observar, aprender, crescer, amar e voltar para casa” (Dito aborígene australiano).
       Para a nossa geração, tão escrava do consumismo, vale recordar essa estória:  Conta-se que um turista americano foi à cidade do Cairo no Egito, com o objetivo de visitar um famoso sábio. O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco. - Onde estão seus móveis? Perguntou o turista. - E o sábio, bem depressa olhou ao seu redor e perguntou também: - E onde estão os seus...? - Os meus?! Surpreendeu-se o turista. - Mas estou aqui só de passagem! - Eu também... - concluiu o sábio. Moral da estória: A vida na Terra é somente uma passagem... No entanto, alguns vivem como se fossem ficar aqui eternamente, e se esquecem de ser felizes (e de fazer os outros felizes).
           Nossos olhos não podem ver Jesus, assentado à direita do Pai, no céu (cf. At 1,9), mas nós cremos na Palavra que diz que o Pai fez Jesus “sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda a autoridade... Ele pôs tudo sob seus pés” (Ef 1,20-22), o que significa que Jesus está acima de todas as coisas que poderiam nos atingir, pois o Pai lhe concedeu o poder de nos socorrer em todas as nossas tribulações terrenas. Por isso, como os discípulos, nós também podemos experimentar uma profunda alegria (cf. Lc 24,52-53), apesar das dificuldades que enfrentamos neste mundo, pois temos a certeza da vitória de Jesus Cristo em nossa vida, na vida da Igreja e na vida da humanidade.          
          Como discípulos daquele que sofreu, morreu, ressuscitou e está junto do Pai no céu, nós caminhamos na terra confiando nossa vida aos cuidados do Espírito Santo que nos foi prometido, sabendo que Ele nos dá a força para sermos testemunhas vivas de Jesus (cf. At 1,8), e nos revestirá da “força do alto” (Lc 24,49) sempre que a pedirmos na oração (cf. Lc 11,13), essa mesma força que nos fará ascender um dia com Jesus ao céu (cf. Rm 8,11).
                                                                       Pe. Paulo Cezar Mazzi

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