Missa
da Santíssima Trindade. Palavra de Deus: Provérbios 8,22-31; Romanos 5,1-5;
João 16,12-15.
Observe
os carros que passam nas ruas: você não consegue ver as pessoas que estão
dentro deles devido à película protetora, colocada nos vidros não apenas para
atenuar o calor, mas também para guardar a privacidade de quem está dentro dos
carros. Observe os portões e os muros das casas, observe as entradas dos
prédios e dos condomínios: você não consegue ver, nem saber se há alguém lá
dentro. Cada vez mais o ser humano cria formas de se isolar, não apenas devido
à violência, mas também motivado pelo individualismo. O fato é este: estamos
cada vez mais nos isolando uns dos outros, cada vez mais sozinhos, porque
achamos que sozinhos estamos melhor.
O
nosso Deus não é e nunca foi sozinho. O livro dos Provérbios nos fala que,
antes de Deus criar todas as coisas, havia “alguém” junto dele: “Desde a
eternidade fui constituída, desde o princípio, antes das origens da terra... Eu
estava ao seu lado como mestre-de-obras, eu era seu encanto, dia após dia,
brincando todo o tempo em sua presença” (Pr 8,22.30). Observe essas palavras:
“Eu estava ao seu lado”... “Eu era seu encanto”... “Eu brincava todo o tempo em
sua presença”... São palavras que se referem a Jesus, por quem e em quem o Pai
criou todas as coisas (cf. Jo 1,1-2; Cl 1,16).
O
Pai nunca esteve sozinho. Com Ele sempre esteve, desde toda a eternidade, o
Filho, e com o Pai e o Filho sempre esteve também o Espírito Santo (cf. Gn 1,1).
Considere novamente essas palavras: “Eu estava ao seu lado”. Alguém está ao seu
lado agora, ou você tem seguido na vida se fechando em seu isolamento? “Eu era
seu encanto”. Por qual motivo nós, cada vez mais e com muita facilidade,
perdemos o encanto de estar juntos com as pessoas? “Eu brincava todo o tempo em
sua presença”. Você consegue imaginar Jesus brincando na presença do Pai? Sem
dúvida, é possível brincar sozinho, mas brincar supõe a presença de alguém com
quem brincamos. Há quanto tempo você não brinca? Há quanto tempo você não
encontra uma pessoa para “brincar”, ou seja, para viver com ela momentos de
gratuidade, onde não seja preciso produzir nem obter resultado?
O
individualismo e a solidão do mundo atual nos adoecem e nos desumanizam. Eles
nos transformam em poços profundos, escuros e vazios. São Francisco de Sales
certa vez ficou sabendo que numa cidade próxima de onde ele se encontrava em
missão existia um poço em que as pessoas diziam que havia alguém no fundo dele.
Quando se jogava uma moeda e se gritava “olá!”, essa pessoa no fundo do poço
respondia: “olá!”. São Francisco de Sales quis conhecer esse poço. Chegando lá,
viu uma fila enorme de pessoas, que jogavam moedas, diziam “olá!’ e ouviam de
volta um outro “olá!”. Observando aquilo,
São Francisco de Sales se deu conta de que, na verdade, a voz que vinha
do fundo do poço era apenas o eco das pessoas que gritavam fora dele... Alguém
se aproveitava da ingenuidade das pessoas e, durante a noite, recolhia as
moedas que elas jogavam no poço.
Jesus
disse que o Espírito da Verdade nos conduzirá à plena verdade (cf. Jo 16,13).
Qual é a sua verdade? Você tem permitido que o individualismo te transforme num
poço vazio? Dentro de você existe a voz de Deus ou apenas o eco do mundo? Alguém
habita em você? Há uma Presença que mora dentro de você? Dentro de você habitam
o Pai, o Filho e o Espírito Santo? Você permite se tornar habitação da
Santíssima Trindade? Você tem vivido como uma pessoa portadora do Espírito da
Verdade, ou apenas como um poço de mentira?
No mundo atual, as pessoas se isolam cada vez
mais, deixam de cultivar relacionamentos presenciais, se refugiam na internet e
passam a cultivar apenas relacionamentos virtuais. Nós também estamos cada vez
mais inseridos nas redes sociais. Se nessas redes nós não nos comportarmos como
poços vazios, portadores apenas do eco do mundo, mas como pessoas habitadas por
Deus, certamente poderemos ajudar muitas outras pessoas a redescobrirem o
encanto da convivência, a se darem conta de que há uma Presença dentro delas
que espera ser reconhecida, a decidirem não mais viver como poços vazios, mas
como habitação da Santíssima Trindade, alegrando-se por estarem na constante
presença do Pai que está acima delas, do
Filho que está junto delas e do Espírito Santo que está dentro delas
(parafraseando o Pe. Adroaldo).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Obrigado por fazer parte dos meus momentos de oração, as suas homilias são sábias e mostra que a Santíssima trindade esta presente no seu coração que Deus lhe lnspire sempre para que nós leitos possamos desfrutar de seus ensinamentos
ResponderExcluirSebastião Osasco sp