Missa
de Pentecostes. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1Coríntios
12,3b-7.12-13; João 20,19-23.
Há
uma imagem bíblica que nos ajuda a entender a importância vital do Espírito
Santo em nós, neste dia de Pentecostes. Ao narrar a criação do ser humano, o livro
do Gênesis diz que “o Senhor Deus modelou o ser humano com a argila do solo,
insuflou em suas narinas um hálito de vida e o ser humano se tornou um ser
vivente” (Gn 2,7). A imagem da argila do solo nos diz que nós somos como barro
nas mãos de Deus, o nosso Oleiro: Ele pode fazer de nós um vaso novo, sempre
que nos confiamos às Suas mãos (cf. Jr 18,1-6). Mas o mais importante nesta
imagem é a atitude do Oleiro de insuflar no barro que somos o hálito de vida, o
seu Espírito, de modo que, se Deus retira de nós o seu Espírito, nos sentimos
mortos; mas quando Ele nos envia o seu Espírito, voltamos a nos sentir vivos
(cf. Sl 104,29-30).
Jesus
sopra sobre os discípulos e diz: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Ele
mesmo havia dito aos seus discípulos que esperassem até que fossem revestidos
da força do Alto, que é o Espírito Santo. Da mesma forma como Jesus disse: “Sem
mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5), sabemos que, sem o Espírito Santo, nós
também nada podemos fazer. Só o Espírito dá a vida; nada podemos por nós
mesmos. Foi por isso que Deus disse a Zorobabel, por ocasião da reconstrução do
Templo: “Não pelo poder, não pela força, mas por meu Espírito, diz o Senhor”
(Zc 4,6). Aquilo que temos a realizar, sobretudo em nome do Evangelho, não o
será por nosso poder ou nossa força, mas unicamente pelo Espírito Santo de
Deus.
A Sagrada Escritura nos ensina que é o
Espírito Santo quem nos dá força e coragem para enfrentar o mal que se esconde
dentro de nós e nas estruturas sociais; é Ele quem nos dá o entendimento da
Palavra e abre o nosso coração para a fé. Somente o Espírito Santo transforma a
nossa Babel/confusão/desunião (cf. Gn 11,7-9) em harmonia/diálogo/entendimento,
ajudando-nos a comunicar o Evangelho da salvação na linguagem que cada pessoa é
capaz de entender, possibilitando que ela se abra para a fé (cf. At 2,6.11).
O
Espírito Santo é o nosso Defensor contra o Maligno que nos acusa diante de Deus;
é o Espírito da Verdade, que nos liberta das mentiras do mundo que nos
escravizam; é o nosso Consolador que se faz próximo de nós em cada experiência
de desolação que fazemos na vida. Ele é o bálsamo de Deus que se derrama sobre
as nossas feridas. Quando caímos na tentação de nos fechar, Ele nos abre;
quando nos deixamos armar pela agressividade, Ele nos desarma; quando decidimos
nos tornar rígidos, Ele quebra a nossa rigidez. O Espírito Santo é o amor de
Deus derramado em nossos corações (cf. Rm 5,5), amor que “tudo desculpa, tudo
crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,7).
Jesus
nos ensinou que o Espírito Santo é como o vento: Ele sopra onde quer (cf. Jo
3,8). Ele é sopro, hálito de vida, energia vital, força que impulsiona, que
movimenta e faz viver. Ele é força, mas força que vem do Alto e que nos leva
para o Alto, para Deus. Foi o Espírito Santo de Deus que fez o jovem Daniel salvar
Suzana da condenação à morte por causa de um julgamento injusto (cf. Dn
13,45-64). Foi o Espírito Santo de Deus que, comunicado por meio da Palavra do
profeta Ezequiel, fez o povo de Israel, prostrado no desânimo e na falta de esperança
por causa do exílio na Babilônia, reagir e desejar viver de novo (cf. Ez
37,1-14).
O
dia de Pentecostes nos lembra que o Espírito Santo é dom de Deus, um dom que
Jesus nos ensinou a pedir todos os dias na oração, da mesma forma como pedimos
ao Pai o pão de cada dia: “(...) o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o
pedirem” (Lc 11,13). Precisamos pedir o Espírito Santo. Precisamos suplicar por
Ele. Mas precisamos igualmente nos deixar conduzir pelo Espírito (cf. Rm 8,14).
Só Ele sabe quais são os desígnios de Deus a nosso respeito (cf. 1Cor 2,10-11;
Rm 8,27). Precisamos confiar a direção da nossa vida ao Espírito Santo e não
opor resistência ao que Ele nos diz por meio da nossa consciência, da Igreja,
de pessoas ou dos acontecimentos.
Por fim, a Palavra afirma que “a cada um de
nós é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7). O
Espírito Santo age em vista da edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja.
Se queremos ser fiéis ao dom que recebemos, precisamos ser coerentes com o
Espírito que habita em nosso peito e trabalhar sempre em vista do bem comum,
pois embora sejamos muitos e diversos, “todos nós bebemos de um único Espírito”
(1Cor 12,13) e todos nós só vivemos a partir de um único Espírito.
Quando você clamar a Deus pedindo o Espírito
Santo, lembre-se de que sempre que a Escritura se refere à maneira como Deus
concede o Espírito, ela usa o termo “DERRAMAR” (cf. Jl 3,1; At 2,33; Tt 3,5-6).
O dom do Espírito é imenso como o mar, mas a questão é saber se a sua receptividade
em relação ao Espírito Santo é, grosseiramente falando, do tamanho de uma
xícara de café, de um balde ou de um tambor de 200 litros... O Pai concede o
Espírito a quem pede, e a presença do Espírito em nós é proporcional à abertura
que Lhe damos em nossa vida. Sejamos um pouco mais receptivos ao dom do
Espírito, o que significa ter uma vida de oração mais disciplinada, se lembrar
de pedir o Espírito Santo e se deixar conduzir por Ele. Desse modo, experimentaremos
bem mais a verdade da Sua presença em nós...
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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