Missa da Sagrada
Família. Palavra de Deus: Eclesiástico 3,3-7.14-17a; Colossenses 3,12-21; Lucas
2,41-52.
Todos nós nascemos como uma planta,
que aos poucos cresce e se torna uma árvore. Ao longo da existência, esta
árvore expande seus galhos e oferece suas folhas como sombra e seus frutos como
alimento. Quem se admira com a beleza da árvore e se beneficia da sombra e/ou
dos frutos dela, normalmente não se lembra de considerar a importância das suas
raízes. Mas são elas que mantêm a árvore em pé e lhe fornecem a seiva da vida. Nesta
missa da Sagrada Família, nós olhamos para as nossas raízes: nossa família.
Dessas raízes depende a saúde da árvore, a sua fecundidade, a sua resistência,
a sua capacidade de não tombar facilmente diante dos ventos contrários.
Quando as raízes são atacadas, a
árvore começa a adoecer, a definhar, a produzir poucos frutos – quando não, a
produzir frutos doentes, “estragados”. Segundo a psicóloga Rosely Sayão*, a
sociedade atual perturba a família ao priorizar o dinheiro e o consumismo: pai
e mãe estão cada vez mais tempo fora de casa, trabalhando para ganharem
dinheiro. Além disso, eles são seduzidos pela propaganda do “eternamente
jovem”, adotando um estilo de vida que dá pouco espaço para os compromissos que
o vínculo conjugal e familiar exige. Por fim, ao entender a felicidade como
satisfação imediata, os pais trocam sucessivamente de relacionamentos amorosos.
Nos últimos anos, algumas pessoas
que pensam a Educação no país (Governo) resolveram eleger a família como o
maior inimigo dos filhos. Para essas pessoas, os pais são uma presença nociva
para os filhos. Quanto mais cedo retirar os filhos dos pais, melhor. Então, a
educação deve ser função da escola, uma escola que, por meio da ideologia de
gênero, não veja o menino como menino, nem a menina como menina, mas ambos como
pessoas que vão definir sua identidade sexual a partir de experiências com
ambos os sexos. Contraditoriamente, o mesmo Governo que incentiva a ideologia
de gênero adota, na campanha contra o câncer de mama e de próstata, slogans
como “outubro rosa” e “novembro azul”.
Sim. Alguns pais são, de fato, uma
presença nociva para os filhos, como, por exemplo, a mãe que não só apoia, mas
incentiva o filho a agredir a professora. Um dos problemas da geração atual é a
falta de modelos. Os modelos de muitas crianças e adolescentes não são os pais
– muitos deles dependentes químicos –, mas o traficante, o criminoso, o vizinho
da esquina que, como empresário, político, juiz ou policial corrupto, se
enriqueceu rapidamente.
Da mesma forma como não se salva uma
árvore cortando suas raízes, mas medicando-as, assim também não se salva uma
sociedade desintegrando as famílias, mas diagnosticando seus males e tratando
suas feridas. Para o autor do Eclesiástico, o remédio para recuperar a saúde
das raízes consiste em que os pais aceitem viver sob a autoridade de Deus.
Desse modo, o próprio Deus confirmará a autoridade deles sobre os filhos. Que
os pais se façam respeitar pelos filhos, sendo coerentes, isto é, sustentando
com atitudes o que dizem com as palavras. Que os filhos sejam ensinados a
amparar os que estão na velhice. Neste caso, podemos nos perguntar: qual é o
vínculo hoje entre netos e avós? Quantos filhos, já adultos, colocaram seus
pais num asilo e não os visitam mais, e, quando morrem, aparecem rapidamente
para se apropriarem de algum bem material, como se fossem abutres?
O apóstolo Paulo nos fala de alguns remédios
capazes de restabelecer a saúde emocional das famílias: misericórdia, bondade,
humildade, mansidão, paciência e, sobretudo, a capacidade de suportar o outro.
O Evangelho, por sua vez, nos lembra que as perdas e os desencontros podem
acontecer em qualquer família, inclusive naquelas que praticam uma religião.
Deus não é antídoto contra dor, mas força para enfrentá-la. Enquanto Jesus
ficou em Jerusalém, o pai achou que ele estava com a mãe, e a mãe, que estava
com o pai. Quando o pai acha que cabe à mãe cuidar/educar o filho, e a mãe acha
que isso é responsabilidade do pai, o filho acaba jogado de um lado para outro
e não é cuidado/educado por ninguém.
Jesus era obediente a Maria e a José.
Por isso, crescia em sabedoria, estatura e graça. Crescimento supõe poda. Não
se cresce de qualquer jeito, fazendo só o que dá vontade. O desafio dos pais é
incentivar o crescimento dos filhos e realizar as podas necessárias para que o
crescimento seja integral; não só físico, mas emocional e espiritual; não só
capazes de compreender as ciências humanas, mas de compreender a si mesmos; não
só preocupados com seu próprio bem, mas, sobretudo, com o bem do mundo ao seu
redor.
*Rosely Sayão, Famílias em transformação, Folha de São Paulo, 29/09/2015.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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