sábado, 5 de dezembro de 2015

O CAMINHO ESTÁ DESOBSTRUÍDO?

Missa do 2º. dom. do advento. Palavra de Deus: Baruc 5,1-9; Filipenses 1,4-6.8-11; Lucas 3,1-6.

Viver significa percorrer um caminho. Cada ser humano é chamado a fazer seu caminho de vida neste mundo. O próprio Jesus se definiu como Caminho, dizendo que fora d’Ele ninguém de nós chega ao Pai (cf. Jo 14,6). Portanto, a meta final do nosso caminho de vida é o Pai. Se o nosso caminhar neste mundo não nos levar a Deus, nós teremos desperdiçado nossas energias e tornado inútil o nosso caminhar. Por isso, enquanto caminhamos, precisamos nos perguntar: meu caminho de vida está me conduzindo para Deus? Eu estou seguindo meu próprio caminho, ou estou me deixando levar por caminhos que não têm nada a ver comigo, com os meus valores, com a minha fé?
João Batista recebeu de Deus a missão de ajudar a humanidade a preparar o caminho para receber Jesus pela primeira vez. Como o tempo do Advento não apenas prepara a comemoração desta primeira vinda, mas nos convida a estarmos preparados para a segunda vinda de Jesus, nós ouvimos hoje a voz de João Batista nos dizendo: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Lc 3,4). Em que sentido devemos preparar o caminho para que Jesus tenha acesso a nós? O próprio João Batista explicou: é preciso que o vale seja aterrado, a montanha e a colina sejam rebaixadas, as passagens tortuosas sejam endireitadas e os caminhos acidentados sejam aplainados (cf. Lc 3,5).
Olhe para o caminho da sua existência neste mundo, para a estrada da sua vida. Deus tem tido acesso ao seu coração? É Deus que não tem vindo ao seu encontro, ou é você que O mantém distante, obstruindo o caminho para que Ele não chegue perto? João Batista fala de montanhas, colinas e vales. Montanhas e colinas são imagens do orgulho humano, mas também podem ser mágoas e ressentimentos que se acumularam dentro de nós. Os vales nos lembram que nós costumamos retirar mais do que colocamos, deixando que alguns buracos comecem a se abrir na estrada da nossa vida. Por sua vez, a tortuosidade pode significar uma consciência corrompida, não mais direita, enquanto que os caminhos acidentados são aqueles buracos que nós não nos demos ao trabalho de tapar.
Tanto as montanhas e colinas quanto os vales se formam ao longo dos anos em nossa vida. Não se trata de lamentar as irregularidades do nosso caminho de vida, mas de perceber o quanto fomos ou somos responsáveis por essas irregularidades. Certamente foram algumas das nossas atitudes que fizeram com que, ao longo do tempo, se levantassem montanhas e colinas, ou se abrissem vales profundos na estrada da nossa vida. A questão é: o que eu posso fazer para colocar em ordem o meu caminho de vida, para que o Senhor tenha acesso a mim e me traga a sua salvação? Que vales precisam ser aterrados e que montes e colinas precisam ser rebaixados em meu relacionamento, para que eu e a outra pessoa possamos nos reencontrar?
Ao afirmar que “todas as pessoas verão a salvação de Deus” (Lc 3,6), João Batista deixa claro que Deus quer manifestar a Sua misericórdia e a Sua justiça (cf. Br 5,9) a todo ser humano: a misericórdia, no sentido de socorrer, de comungar da dor, de se fazer presente junto a todo ser humano que sofre; a justiça, no sentido de corrigir, de acordar a consciência de quem tem praticado o mal e aberto feridas profundas na sociedade. Justamente porque somos filhos de Deus, a nossa presença junto às pessoas e no seio da sociedade humana deve ser uma presença que favoreça a misericórdia – sensibilidade para com a dor do outro – e a justiça – combater, o quanto depende de nós, toda forma de injustiça.
Quando Jerusalém estava caída, de luto e aflita, porque seus filhos haviam sido levados para o cativeiro da Babilônia, o profeta Baruc a convidou a levantar-se, a olhar para o oriente e a se alegrar, porque Deus estava devolvendo seus filhos, que haviam sido levados embora pelos inimigos (cf. Br 5,1.5.6). Hoje nós nos voltamos para o Senhor nosso Deus e suplicamos por todas as situações de luto e de aflição: a perseguição aos cristãos em alguns países do Oriente Médio, onde meninas são arrancadas de suas famílias e vendidas para a prostituição; a violência praticada, ora por policiais, ora por traficantes, contra adolescentes e jovens no Brasil; mas suplicamos, sobretudo, misericórdia e justiça ao Senhor por todo o caminho percorrido pela lama tóxica (62 milhões de metros cúbicos de rejeitos) que, por onde passa, deixa a morte atrás de si. Segundo biólogos que estão nas regiões atingidas, a vida nesses lugares demorará muito tempo para voltar a existir. Diante dessa tragédia, a Samarco, empresa responsável pelo desastre, desvia dinheiro de suas contas oficiais para não pagar indenizações, enquanto a presidente Dilma emite nota oficial afirmando que a tragédia foi um “desastre natural”. Que de Deus, e das pessoas decentes e conscientes, venha a misericórdia para com a vida, duramente golpeada por esta tragédia, e a justiça em relação aos verdadeiros responsáveis por ela.
Uma palavra nos anima no início desta segunda semana do advento: “Tenho a certeza de que aquele que começou em vós uma boa obra há de levá-la à perfeição até o dia (da vinda) de Cristo Jesus” (Fl 1,6). Confiemos no Pai, que ao enviar seu Filho ao mundo começou em nós a obra da salvação. Ele tem o poder de concluí-la. Nossas contradições humanas não têm força suficiente para anular o que o Pai tem feito em nós e por nós. Deixemo-nos salvar por Deus. Deixemo-nos abraçar por Sua misericórdia e santificar por Sua justiça. Deixemo-nos aperfeiçoar – no sentido de amadurecimento espiritual – para o encontro com Cristo Jesus. 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

2 comentários:

  1. Padre, sinto muito falta de suas mensagens no facebook. O quero como amigo virtual para poder enriquecer com suas mensagens. ABraços. Que Deus o conserve sempre muito abençoado e iluminado. Abraços.

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  2. Padre, sinto muito falta de suas mensagens no facebook. O quero como amigo virtual para poder enriquecer com suas mensagens. ABraços. Que Deus o conserve sempre muito abençoado e iluminado. Abraços.

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