Missa
do Natal. Palavra de Deus: Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14.
“O ser humano
caiu, mas Deus desceu. O ser humano caiu miseravelmente, mas Deus desceu
misericordiosamente. O ser humano caiu por orgulho, mas Deus desceu com a sua
graça”.
Essas palavras de Santo Agostinho nos ajudam a nos recuperar o sentido do
Natal, o sentido do nascimento de Jesus Cristo como Salvador de todo ser
humano, o sentido da Encarnação.
Encarnação:
Jesus Cristo, o Filho de Deus, que existia na condição divina, abriu mão dessa
condição e se fez carne (pessoa humana), para salvar todo ser humano (cf. Fl
2,6-7; Tt 2,11). Jesus, o Verbo de Deus, se fez carne (pessoa humana), porque a
cura, a libertação e a salvação só acontecem quando Deus entra em comunhão com
aquilo que nos adoece, nos aprisiona e nos destrói. Celebrar o nascimento do
Filho de Deus na carne significa reconhecer, então, que não existe salvação sem encarnação: você só pode ajudar a “curar” a
ferida de alguém depois que entrou em comunhão com a dor dessa pessoa; você só
pode ajudar a “libertar” alguém depois que fez a experiência de estar preso com
ele; você só pode ajudar a “salvar” uma pessoa depois de ter sentido em si
mesmo a destruição que se abate sobre ela.
Se
o Natal nos lembra que a salvação se dá na encarnação, nós somos desafiados a
realizar o difícil diálogo de aceitação e de reconciliação com a nossa carne. O
que é a nossa carne? Ela é não somente, mas também, aquilo que não gostamos em
nós e nos outros: fraqueza, limite, imperfeição, processo, demora, necessidade
de amadurecimento, contradição, ambiguidade, mortalidade, pecado. Este foi o
caminho que Deus escolheu para vir até nós e nos salvar: comungar da nossa
realidade humana, ou seja, usar de misericórdia para conosco comungando da
miséria que cada um de nós carrega consigo.
Este Natal está sendo celebrado dentro
do Ano da Misericórdia. Por isso, recordamos as palavras do Papa Francisco, ao
afirmar que “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai... Com a sua
palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a
misericórdia de Deus”. O próprio Jesus nos convidou a sermos misericordiosos
como o nosso Pai celeste é misericordioso (cf. Lc 6,36). Ser uma pessoa
misericordiosa significa não se fechar na indiferença diante da dor do seu
semelhante. Isso significa que não
podemos nos esconder daquele que é a nossa carne (cf. Is 58,7), daquele que
é um ser humano como nós.
Quem se afasta da dor humana, quem
se fecha no individualismo e na indiferença para com os outros, quem se mantém
distante daquele que é sua carne –
seu parente, seu amigo, seu colega de trabalho, seu irmão de igreja, seu
conhecido ou um simples ser humano – ainda não acolheu o mistério do Natal, ainda
não entendeu o desejo do Filho de Deus de comungar com a realidade humana para poder
redimi-la, ainda não se assemelhou ao Pai misericordioso, ainda não quis refletir
sobre esta verdade: “Se Deus é nosso Pai,
quem é que não é nosso irmão?” (Cantores de Deus).
Recordemos
mais uma vez. O Natal é isso: “O ser
humano caiu, mas Deus desceu. O ser humano caiu miseravelmente, mas Deus desceu
misericordiosamente”. Onde há um ser humano caído, nós precisamos descer.
Onde há uma pessoa caída na sua miséria ou derrubada / reduzida à miséria por
causa da miséria da ambição do coração humano, precisamos descer com a nossa
misericórdia.
Porque
o nosso sistema político está caído na miséria da corrupção, alimentada pela
impunidade, ele gera miséria na economia e derruba muitos na miséria do
desemprego, da violência, da dependência química, da desestruturação familiar
etc. Além disso, olhando além das fronteiras do nosso país, lembramos aqueles
que estão diariamente sendo derrubados na miséria da migração forçada, fruto da
miséria da guerra ou da perseguição religiosa. Messias só existe um; só um é o
Salvador do mundo: Jesus Cristo, mas nós somos discípulos d’Ele. Reaprendamos
com Ele a não nos esconder daqueles que estão à nossa volta e que são a nossa
carne, pessoas humanas como nós. Com Jesus, desçamos misericordiosamente até aqueles
que estão caídos miseravelmente perto de nós. Então todos reconhecerão de fato
que Jesus se encarnou para ser o rosto misericordioso do Pai entre os homens.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Muito boa a reflexão. Gostei. Parabéns!!
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