sexta-feira, 6 de novembro de 2015

QUEM DEVORA RECEBERÁ A PIOR CONDENAÇÃO

Missa do 32º. dom. comum. Palavra de Deus: 1Reis 17,10-16; Hebreus 9,24-28; Marcos 12,38-44.

“Tomai cuidado com os doutores da lei! Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações” (Mc 12,38.40). Atualizando: tome cuidado com toda pessoa que exerce a função de autoridade – políticos, juízes, líderes religiosos, policiais, diretores, chefes, professores e, inclusive, pais. Por que devemos tomar cuidado com toda pessoa que tem um cargo de autoridade? Porque a autoridade me dá “poder” sobre o outro, e se eu sou uma pessoa mal resolvida, psicologicamente doentia, ou se sou mal intencionado, posso usar da minha autoridade para “devorar” os outros.
Como é que eu “devoro” uma pessoa. Eu a devoro aproveitando-me das suas carências afetivas para satisfazer as minhas fantasias sexuais; eu a devoro tirando dinheiro dela, convencendo-a de que está ajudando a igreja que eu represento ou a causa que eu defendo; eu a devoro transformando-a em minha admiradora e em minha fiel seguidora, porque o meu narcisismo é insaciável; eu devoro pessoas quando as envolvo no trabalho pastoral não em vista de evangelização, mas para que a minha paróquia se projete na Diocese e eu seja futuramente indicado para bispo...
Segundo Jesus, quem conscientemente usa da sua função de autoridade para “devorar” pessoas em vista dos seus projetos pessoais, muitas vezes doentios e sem nenhuma ética, receberá a pior condenação (cf. Mc 12,40). Por que a “pior condenação”? Porque se aproveitou do fraco; porque abusou da inocência alheia; porque traiu a confiança de quem se confiou aos seus cuidados; porque – no caso de alguns líderes religiosos – profanou o nome de Deus, de Cristo e da sua Igreja; em suma, porque escandalizou a pessoa, no sentido de fazê-la perder a fé.
“(...) eles receberão a pior condenação” (Mc 12,40). Eles quem? Investidores estrangeiros e donos de bancos que devoram países e povos com a especulação financeira e os juros abusivos; policiais que abusam do poder, que “modificam” a cena do crime para incriminarem os que eles mataram injustamente; juízes que vendem sentenças; políticos e empresários que se beneficiam com a corrupção; traficantes e bandidos do crime organizado que exploram crianças e adolescentes e os tornam criminosos precocemente; países ricos que financiam armas para alimentar a guerra civil em outros países, por causa de interesses financeiros como o petróleo, o minério ou a água...
            No mundo atual está difícil encontrar alguém que não seja “devorador” do outro. Todos nós estamos nos habituando a só enxergar as pessoas quando elas podem nos “dar” alguma coisa. Para nos curar dessa doença, para nos livrar desse mal, Jesus nos convida a olhar para uma “pobre viúva” que “deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada” (Mc 12,42). E Jesus faz esta comparação: “Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (Mc 12,44).
            O grande mal da sociedade moderna, aquilo que acaba com um relacionamento, que joga no descrédito tantas autoridades, aquilo que “desautoriza” tantos de nós, é dar para os outros aquilo que temos de sobra, quando sobra e se é que sobra. Se sobra tempo, disposição, vontade ou energia, eu me dou para o outro, eu penso em alguém além de mim mesmo(a), eu me envolvo numa causa social, eu sirvo a Deus, eu me comprometo com a minha igreja. Se sobra... Caso contrário, não.
            Só existe cura, conserto, restauração, só existe mudança, libertação, transformação quando paramos de devorar os outros e passamos a oferecer-lhes tudo aquilo que possuímos para viver, ou seja, o melhor de nós. Sim, pode ser que você acredite que oferecer as suas duas moedas não vai resolver nada, não vai fazer diferença. Afinal, elas não valem quase nada, não é? Engano seu. Não é verdade que o seu abraço, o seu olhar, o seu ouvir, a sua palavra não valem quase nada para a outra pessoa. Não é verdade que a sua atitude em economizar água e energia não vale nada para o planeta. Não é verdade que a sua decisão em ser honesto(a) e ter um comportamento justo não vai fazer diferença para o seu ambiente de trabalho, ou para a sua cidade ou para o nosso país. O seu gesto, a sua atitude, a sua decisão aparentemente “não vale quase nada”, mas é isso que faz a diferença, é isso que salva, é isso que começa a pôr fim nessa atitude desumana, antiética e anticristã de “devorar” os outros.

Para a sua oração: Minha essência (Thiago Brado)

                                                                 Pe. Paulo Cezar Mazzi

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