Missa
de todos os santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1João 3,1-3; Mateus
5,1-12a.
No dia a dia, nós recebemos uma
série de “cobranças”: ‘Você precisa ter um corpo sarado; ser bonito(a); ser
visto(a)! Você precisa conquistar, ser vitorioso(a); ser bem sucedido(a), fazer
sucesso, brilhar! Você precisa ser admirado(a)/invejado(a)!’... No entanto,
ninguém nos cobra santidade: ‘Você precisa ser santo!’
Ser santo não é um valor para o
mundo atual. Pelo contrário, ser santo é entendido como ser ‘certinho’, ser
‘chato’, ser ‘do contra’, ser ‘ultrapassado’ etc. Jesus tem um outro conceito
de santidade, como acabamos de ver no Evangelho. Para ele, essas são as
atitudes próprias de quem é santo aos olhos de Deus: a pessoa é pobre em
espírito, ou seja, tem a Deus como seu único e verdadeiro bem; a pessoa se
aflige, isto é, sofre com a dor do outro; a pessoa é capaz de mansidão, ao
lidar com os conflitos; os santos são pessoas que têm fome e sede de justiça;
são misericordiosas; são puras de coração; se esforçam em promover a paz. Além
disso, são pessoas perseguidas por causa da justiça e de Jesus Cristo.
Dizendo de outra maneira, sabe
aquele jovem que decidiu morar com os avós, que estão bastante idosos e com
Alzheimer, para cuidar deles ao invés de colocá-los num asilo? Sabe aquela
mulher que passou casada a vida toda com um marido infiel, e agora que ele se
encontra doente, cuida dele? Sabe aquela pessoa que por anos e anos carregou
consigo uma doença ou uma ferida e nunca reclamou disso com ninguém? São santos
de carne e osso!
Para o Apocalipse, as pessoas santas
trazem consigo a marca do Deus vivo. Diferente de uma tatuagem, essa marca não
pode ser vista, porque ela se encontra na consciência da pessoa. É uma marca de
pertença (cf. Ap 7,2.3): ‘Eu pertenço a Deus. Só n’Ele encontro alegria e paz.
Fora d’Ele não encontro nenhum bem. Só quando me deixo conduzir pelo Espírito
de Deus é que experimento felicidade, porque a vontade de Deus a meu respeito é
a minha felicidade’.
Mas, de que maneira a marca do Deus
vivo é dada às pessoas santas? Por meio de uma grande tribulação (cf. Ap 7,14).
Da mesma forma que depois de uma queimadura ou de um corte profundo fica uma
marca no corpo da pessoa, assim a marca de pertença a Deus nos é dada depois de
termos enfrentado uma dor, um sofrimento, uma luta, uma tribulação. Alguns não
querem essa marca, porque ela é vista somente como algo que “mancha” a imagem
da pessoa. Mas outros sentem um saudável “orgulho” dela, porque sabem que a
luta que enfrentaram serviu para lhes amadurecer, corrigir e santificar.
Engana-se
quem pensa que as pessoas santas vivem longe dos conflitos do mundo. Pelo
contrário. Os maiores conflitos e as grandes perseguições se desencadeiam na
vida de quem não aceita tomar a forma do mundo, mas procura viver com sua
consciência voltada para Deus. Engana-se também quem pensa que as pessoas
santas têm uma fé inabalável e vivem numa constante harmonia com Deus. Madre
Teresa de Calcutá viveu um longo período de aridez espiritual que durou 50 anos!
Apesar disso, todos os dias ela rezava, adorava Jesus Eucarístico, participava
da missa e socorria Jesus na pessoa dos pobres. Questionada, certa vez, se ela
um dia seria declarada Santa pela Igreja, respondeu: “Se um dia eu for Santa,
serei com certeza a santa da escuridão. Estarei continuamente ausente do
Paraíso”.
“Escuridão” e “ausência do Paraíso”
significam que pessoas santas são aquelas que muitas vezes não sentem Deus e,
no entanto, passam a vida servindo-O, anunciando-O, lutando com Ele como Jacó
(cf. Gn 32,23-33); lutando consigo também, com o seu ego; lutando com um mundo
que sistematicamente exclui Deus da política e da economia, mas questiona Sua
existência diante das injustiças humanas e das catástrofes naturais.
Se você quiser saber se a santidade
ainda é um valor para você, pergunte-se: Eu procuro agir de acordo com a minha
consciência ou de acordo com a minha conveniência? Eu aceito ser conduzido(a)
pelo Espírito de Deus também quando a direção que Ele quer dar à minha vida não
é aquela que eu quero? Eu suporto “não sentir” Deus e mesmo assim anunciá-Lo
com a minha vida ao mundo? Eu me deixo afetar pela dor do outro? Eu sou
solidário com quem sofre porque tenho fome e sede de justiça ou porque tenho
fome e sede de ser reconhecido como “bom” e, portanto, ser “promovido”?
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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