Missa
do 28. dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 7,7-11; Hebreus 4,12-13; Marcos
10,17-30.
Dizem que “todo homem tem seu
preço”, isto é, todos nós somos passíveis de sermos corrompidos; todos nós colocamos
de lado valores como ética e justiça, quando se trata de “ganhar” dinheiro,
mesmo que ele seja fruto de desonestidade ou injustiça. O filósofo Nietzsche discordava
dessa afirmação. Ele dizia: “Todo homem tem seu preço, diz a
frase. Não é verdade. Mas para cada homem existe uma isca que ele não consegue
deixar de morder” (Nietzsche). Talvez nem
todos nós sejamos passíveis de sermos corrompidos, mas, com certeza, ninguém de
nós consegue resistir àquela “isca” que nos mantêm presos ao “anzol de ouro” do
mundo atual, chamado “dinheiro”.
Qual “isca” tem cevado você? Em que
tipo de anzol sua vida se encontra enroscada? Que tipo de situação “fisga” a
sua alma, puxando você para fora da água de que tanto precisa para viver? Como está
sua vida financeira? Como anda a sua liberdade diante da propaganda de consumo?
Como você lida com o dinheiro? Você é uma pessoa livre ou “possessa”, isto é,
possuída por seus bens? (E, consequentemente, atormentada por dívidas?)
O livro da Sabedoria faz uma
comparação a respeito de “valores”: “Preferi a sabedoria... à riqueza (...),
pois a seu lado, todo ouro do mundo é um punhado de areia... Amei-a mais que a
saúde e a beleza... Todos os bens me vieram com ela” (Sb 7,8-11). Quando você
tem sabedoria, discernimento, equilíbrio, liberdade interior, muito pouco é
necessário para que se sinta feliz. Mas, quando te falta sabedoria, tudo o que
você possa vir a ter, a possuir, a acumular, a construir, arruína, se perde,
porque você não tem cabeça: seu coração está fragmentado, você perdeu sua
bússola interior.
Diz Tagore: “Há triunfos que só se obtêm pelo preço da alma, mas a alma é mais
preciosa que qualquer triunfo”. Quem se corrompe para se enriquecer, ou não
crê na existência da alma, ou ignora quão preciosa ela seja. Por isso,
precisamos pedir, como o salmista: “Ensinai-nos a contar os nossos dias e dai
ao nosso coração sabedoria!” (Sl 90,12). Precisamos permitir que a Palavra do
Senhor penetre em nós “até dividir alma e espírito”, ou seja, até nos tornar
conscientes dos “pensamentos” e das verdadeiras “intenções” do nosso coração
(cf. Hb 4,12).
Existe o palco e existem os
bastidores. Enquanto os nossos olhos veem aquilo que algumas pessoas ricas ostentam,
os olhos de Deus enxergam os “bastidores”, e sabe de onde vem essa ostentação:
se ela é fruto de trabalho honesto ou de atitudes corruptas. Além disso, ainda
que o dinheiro possa comprar alguns juízes, ele não pode comprar o verdadeiro
Juiz, cuja Palavra julgará as atitudes de cada um de nós (cf. Hb 4,13).
Foi diante dessa Palavra que um
homem rico se colocou. Ao que tudo indica, ele tinha um coração bom e caminhava
na retidão diante de Deus. Mas Jesus, que conhece o que há no coração do ser
humano, percebeu que ele estava preso a um “anzol”, e então lhe disse: “Só uma
coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro
no céu. Depois, vem e segue-me!” (Mc 10,21).
Este é o motivo pelo qual fazemos
questão de não silenciar, de não ouvir Deus em nossa consciência ou em nosso
coração: temos medo de que Ele nos diga: “Ainda te falta uma coisa”. O que
falta para que você seja um ser humano melhor, um cristão melhor? Você está
disposto a deixar de morder a isca e se desenroscar desse anzol que te prende à
margem do rio da vida, impedindo você de mergulhar em águas mais profundas, de
experimentar uma felicidade mais verdadeira?
Ao se dar conta de que podia ser um
ser humano melhor, desvencilhando-se da falsa segurança da sua riqueza, aquele
homem “ficou abatido e foi embora cheio de tristeza” (Mc 10,22). Quando você
estiver lendo a Bíblia ou ouvindo a Palavra numa celebração e sentir-se triste,
angustiado, incomodado, agradeça a Deus! É sinal de que a Palavra penetrou em
você e acordou o seu coração, para lhe mostrar que você precisa se abrir mais
para Deus, que você precisa dar de si e não dar apenas dinheiro, que você
precisa despojar-se da falsa segurança que o dinheiro te dá e ter a consciência
de que você precisa ser salvo.
Ao final desse “diálogo” entre a Palavra de
Deus e a sua consciência, se você se der conta de que precisa ter uma outra
postura diante dos pobres, reflita sobre essas palavras do Papa Francisco: “A verdadeira pobreza dói. Desconfio da
esmola que não custa nem dói. A atenção pelos pobres está no Evangelho”.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Padre Paulo, suas homilias contêm sempre belas diretrizes para nossos ajustes interior.
ResponderExcluirFrases chaves desta homilia que me chamaram atenção e auxiliam em sentido amplo:
1. para cada homem existe uma isca que ele não consegue deixar de morder”.
2. Qual “isca” tem cevado você?
3. Em que tipo de anzol sua vida se encontra enroscada?
4. Quando você tem sabedoria, discernimento, equilíbrio, liberdade interior, muito pouco é necessário para que se sinta feliz.
5. quando te falta sabedoria, tudo o que você possa vir a ter, a possuir, a acumular, a construir, arruína, se perde, porque você não tem cabeça.
6. Você está disposto a deixar de morder a isca e se desenroscar desse anzol