Missa
do 27º. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 2,18-24; Hebreus 2,9-11; Marcos
10,2-16.
Uma pergunta para os solteiros: você se casaria? Uma pergunta para os
casados: você se casaria com a mesma
pessoa com quem se casou? Uma pergunta para os divorciados e para os viúvos:
você voltaria a se casar?
Esta é a convicção de Deus: “Não é bom que
o homem (ser humano) esteja só” (Gn 2,18). Você compartilha desta convicção ou,
devido à convivência estar hoje cada vez mais difícil, você também decidiu
optar por ficar só? Se é verdade que “não é bom que o ser humano esteja só”
também é verdade que não é bom que o ser humano queira preencher o seu “vazio”
com qualquer coisa, de qualquer forma. É importante suportar-se, ouvir-se,
conhecer-se. É igualmente importante perceber se o que leva você a buscar
alguém é porque quer se sentir feliz ou
porque quer fazer esse alguém feliz...
As novas gerações demonstram não só uma
decepção/rejeição em relação ao casamento – consequência do que vivem em casa?
– como também um medo enorme em fazer uma escolha definitiva. Antes de o ser
humano encontrar-se com o outro, ele precisou dar nome aos animais (cf. Gn
2,19). No campo psicológico, isso significa dar nome/reconhecer nossos
sentimentos, nossas emoções. Significa também saber por que estão ali e ouvir o
que eles estão nos dizendo. Antes de
aprender a conviver com o outro, eu preciso aprender a conviver comigo, com a
minha delícia e com a minha dor.
A Escritura descreve a mulher em relação ao
homem como uma “auxiliar semelhante a ele” (Gn 2,16). Por que “auxiliar”? Por
que o peso da vida precisa ser compartilhado. A palavra “cônjuge” – com jugo,
com peso – pede que se compartilhe o mesmo peso. Tudo tem seu peso. Decidir casar-se tem um peso, assim como
decidir não casar-se tem outro peso. Além disso, esse outro que é meu
“auxiliar” é também “semelhante” a mim. Assim como eu, ele tem sua delícia e
sua dor, sua força e sua fraqueza, seu lado encantador e seu lado
decepcionante...
Onde encontrar o(a) meu(minha) auxiliar? Na
internet? No baile funk? Na igreja? Na boca de fumo? Que critérios usar na
escolha? Pode ser qualquer um, desde que você não esteja só? Para lhe conceder
uma auxiliar semelhante, Deus faz o ser humano cair num sono profundo (cf. Gn 2,21): é ali que sonhamos e é também ali que
“ouvimos” o nosso inconsciente. Deus coloca a presença do outro em minha vida
não como se ele fosse uma criação minha, mas como ele verdadeiramente é: parte de mim. Somos parte um do outro. E,
se somos “parte”, preciso aprender a considerar a parte que é o outro e não
somente a parte que sou eu. A superação
da crise, a cura, a restauração, a revitalização do relacionamento depende das
duas partes, e nunca de uma só.
Para começar um caminho com o outro, eu
preciso deixar meu pai e minha mãe, o que supõe que eu alcancei a minha
maturidade econômica e emocional. Hoje nós temos inúmeras crianças e
adolescentes precocemente “iniciados” na vida sexual, assim como temos inúmeros
adultos infantilizados, mal resolvidos na sexualidade e desorganizados na
administração das finanças, causa de não poucos divórcios.
O autor da carta aos Hebreus fez uma
afirmação a respeito de Jesus que vale para os nossos relacionamentos: “Pela
graça de Deus em favor de todos, ele provou a morte” (Hb 2,9). Hoje é cada vez
mais visível a incapacidade ou a rejeição de “morrer” pelo bem da família, do
casamento, do vínculo. No entanto, só
quem ama verdadeiramente é capaz de “morrer”, de suportar e de enfrentar “momentos
de morte”, para que o relacionamento com a pessoa amada possa reviver.
Quando questionado a respeito do divórcio,
Jesus deixou claro que ele é resultado da “dureza do coração”, isto é, “eu me
recuso a morrer”, a me sacrificar, a renunciar aos meus caprichos (egoísmo)
para revitalizar / sanar / recuperar meu relacionamento. Por isso, quando
falamos de divórcio, precisamos questionar: Eu
fiz tudo o que podia para evitá-lo? Qual foi a minha parcela de responsabilidade
neste divórcio?
Jesus deixa claro que o divórcio não é
desejo de Deus: “O que Deus uniu o homem não separe!” (Mc 10,9). Então, aqui também
cabem algumas perguntas: Deus esteve
junto, no seu relacionamento, desde o início? Quando foi que Ele pôde entrar
na sua casa, no seu relacionamento (se é que pôde)? Depois que tudo havia se
quebrado? Só em Deus é possível superar as crises de um relacionamento. “Deus é
amor” (1Jo 4,8), amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta”
(1Cor 13,7). Foi esse o amor que levou
você a se unir a alguém? Ou foi somente paixão, tesão, atração física,
beleza, emoção, necessidade de sair de casa, de se libertar do “domínio” da mãe
e/ou do pai?
Em muitos casamentos, a frustração aparece
cedo demais porque idealizamos a outra pessoa e colocamos expectativas irreais
no relacionamento. Quanto maior e irreal a expectativa, maior a decepção. Caia
na real: nenhum relacionamento sacia por
completo a sua sexualidade, nem deleta as suas fantasias, nem elimina a sua
solidão, nem preenche aquele lugar em você que só Deus pode ocupar.
Case-se; relacione-se; sonhe, mas com os pés no chão.
Recentemente o Papa Francisco nos lembrou de
que não existem famílias perfeitas, porque ninguém convive sem se machucar e
sem machucar o outro. No entanto, o perdão cura, o amor cura. E, embora a mídia
tenha distorcido esse assunto, Francisco recentemente tomou medidas não para
“facilitar” a nulidade matrimonial nos casamentos realizados na Igreja, mas
para “simplificar” o processo em reconhecer e declarar tal nulidade, a fim de libertar
as pessoas que se sentem condenadas a um fardo injusto.
A cena final do Evangelho – Jesus abraçando
as crianças e as abençoando (cf. Mc 10,16) – lembra que elas são o “termômetro”
da família. As escolas públicas e particulares testemunham como estão as
crianças: algumas, agressivas; outras, deprimidas; algumas com a sexualidade
aflorada precocemente; outras, desonestas, preguiçosas e egoístas etc. Você
ainda consegue abraçar seu filho como “parte” de você, ou vocês já se tornaram
“estranhos” um para o outro? Lembre-se: os aplicativos do seu celular precisam
de atualizações. Sem elas, deixam de
funcionar como devem. Portanto, pergunte-se: Eu tenho atualizado a escolha que fiz da outra pessoa como minha “auxiliar”?
Eu tenho atualizado o meu abraço em
meu filho? E, por fim, eu tenho atualizado
a minha fé?
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Amei esta reflexão o senhor é muito profundo que Deus continue te iluminando para que o senhor possa iluminar as pessoas que precisam de luz.
ResponderExcluirComo sempre abençoado por Deus em suas palavras. Saudades, Afonso e família.
ResponderExcluirDeus te abeçoe, Padre Paulo. Parabéns pela reflexão. Como sempre, iluminadora
ResponderExcluirQue Deus na sua infinita bondade continue iluminando seu pensar, o seu falar.
ResponderExcluirSaudades!