quinta-feira, 1 de outubro de 2015

TALVEZ ALGO EM VOCÊ PRECISE DE "ATUALIZAÇÃO"

Missa do 27º. dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 2,18-24; Hebreus 2,9-11; Marcos 10,2-16.
           
Uma pergunta para os solteiros: você se casaria? Uma pergunta para os casados: você se casaria com a mesma pessoa com quem se casou? Uma pergunta para os divorciados e para os viúvos: você voltaria a se casar?
Esta é a convicção de Deus: “Não é bom que o homem (ser humano) esteja só” (Gn 2,18). Você compartilha desta convicção ou, devido à convivência estar hoje cada vez mais difícil, você também decidiu optar por ficar só? Se é verdade que “não é bom que o ser humano esteja só” também é verdade que não é bom que o ser humano queira preencher o seu “vazio” com qualquer coisa, de qualquer forma. É importante suportar-se, ouvir-se, conhecer-se. É igualmente importante perceber se o que leva você a buscar alguém é porque quer se sentir feliz ou porque quer fazer esse alguém feliz...
As novas gerações demonstram não só uma decepção/rejeição em relação ao casamento – consequência do que vivem em casa? – como também um medo enorme em fazer uma escolha definitiva. Antes de o ser humano encontrar-se com o outro, ele precisou dar nome aos animais (cf. Gn 2,19). No campo psicológico, isso significa dar nome/reconhecer nossos sentimentos, nossas emoções. Significa também saber por que estão ali e ouvir o que eles estão nos dizendo. Antes de aprender a conviver com o outro, eu preciso aprender a conviver comigo, com a minha delícia e com a minha dor.
A Escritura descreve a mulher em relação ao homem como uma “auxiliar semelhante a ele” (Gn 2,16). Por que “auxiliar”? Por que o peso da vida precisa ser compartilhado. A palavra “cônjuge” – com jugo, com peso – pede que se compartilhe o mesmo peso. Tudo tem seu peso. Decidir casar-se tem um peso, assim como decidir não casar-se tem outro peso. Além disso, esse outro que é meu “auxiliar” é também “semelhante” a mim. Assim como eu, ele tem sua delícia e sua dor, sua força e sua fraqueza, seu lado encantador e seu lado decepcionante...
Onde encontrar o(a) meu(minha) auxiliar? Na internet? No baile funk? Na igreja? Na boca de fumo? Que critérios usar na escolha? Pode ser qualquer um, desde que você não esteja só? Para lhe conceder uma auxiliar semelhante, Deus faz o ser humano cair num sono profundo (cf. Gn 2,21): é ali que sonhamos e é também ali que “ouvimos” o nosso inconsciente. Deus coloca a presença do outro em minha vida não como se ele fosse uma criação minha, mas como ele verdadeiramente é: parte de mim. Somos parte um do outro. E, se somos “parte”, preciso aprender a considerar a parte que é o outro e não somente a parte que sou eu. A superação da crise, a cura, a restauração, a revitalização do relacionamento depende das duas partes, e nunca de uma só.
Para começar um caminho com o outro, eu preciso deixar meu pai e minha mãe, o que supõe que eu alcancei a minha maturidade econômica e emocional. Hoje nós temos inúmeras crianças e adolescentes precocemente “iniciados” na vida sexual, assim como temos inúmeros adultos infantilizados, mal resolvidos na sexualidade e desorganizados na administração das finanças, causa de não poucos divórcios.      
O autor da carta aos Hebreus fez uma afirmação a respeito de Jesus que vale para os nossos relacionamentos: “Pela graça de Deus em favor de todos, ele provou a morte” (Hb 2,9). Hoje é cada vez mais visível a incapacidade ou a rejeição de “morrer” pelo bem da família, do casamento, do vínculo. No entanto, só quem ama verdadeiramente é capaz de “morrer”, de suportar e de enfrentar “momentos de morte”, para que o relacionamento com a pessoa amada possa reviver.
Quando questionado a respeito do divórcio, Jesus deixou claro que ele é resultado da “dureza do coração”, isto é, “eu me recuso a morrer”, a me sacrificar, a renunciar aos meus caprichos (egoísmo) para revitalizar / sanar / recuperar meu relacionamento. Por isso, quando falamos de divórcio, precisamos questionar: Eu fiz tudo o que podia para evitá-lo? Qual foi a minha parcela de responsabilidade neste divórcio? 
Jesus deixa claro que o divórcio não é desejo de Deus: “O que Deus uniu o homem não separe!” (Mc 10,9). Então, aqui também cabem algumas perguntas: Deus esteve junto, no seu relacionamento, desde o início? Quando foi que Ele pôde entrar na sua casa, no seu relacionamento (se é que pôde)? Depois que tudo havia se quebrado? Só em Deus é possível superar as crises de um relacionamento. “Deus é amor” (1Jo 4,8), amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta” (1Cor 13,7). Foi esse o amor que levou você a se unir a alguém? Ou foi somente paixão, tesão, atração física, beleza, emoção, necessidade de sair de casa, de se libertar do “domínio” da mãe e/ou do pai?
Em muitos casamentos, a frustração aparece cedo demais porque idealizamos a outra pessoa e colocamos expectativas irreais no relacionamento. Quanto maior e irreal a expectativa, maior a decepção. Caia na real: nenhum relacionamento sacia por completo a sua sexualidade, nem deleta as suas fantasias, nem elimina a sua solidão, nem preenche aquele lugar em você que só Deus pode ocupar. Case-se; relacione-se; sonhe, mas com os pés no chão.
Recentemente o Papa Francisco nos lembrou de que não existem famílias perfeitas, porque ninguém convive sem se machucar e sem machucar o outro. No entanto, o perdão cura, o amor cura. E, embora a mídia tenha distorcido esse assunto, Francisco recentemente tomou medidas não para “facilitar” a nulidade matrimonial nos casamentos realizados na Igreja, mas para “simplificar” o processo em reconhecer e declarar tal nulidade, a fim de libertar as pessoas que se sentem condenadas a um fardo injusto.
A cena final do Evangelho – Jesus abraçando as crianças e as abençoando (cf. Mc 10,16) – lembra que elas são o “termômetro” da família. As escolas públicas e particulares testemunham como estão as crianças: algumas, agressivas; outras, deprimidas; algumas com a sexualidade aflorada precocemente; outras, desonestas, preguiçosas e egoístas etc. Você ainda consegue abraçar seu filho como “parte” de você, ou vocês já se tornaram “estranhos” um para o outro? Lembre-se: os aplicativos do seu celular precisam de atualizações. Sem elas, deixam de funcionar como devem. Portanto, pergunte-se: Eu tenho atualizado a escolha que fiz da outra pessoa como minha “auxiliar”? Eu tenho atualizado o meu abraço em meu filho? E, por fim, eu tenho atualizado a minha fé?  

Pe. Paulo Cezar Mazzi

4 comentários:

  1. Amei esta reflexão o senhor é muito profundo que Deus continue te iluminando para que o senhor possa iluminar as pessoas que precisam de luz.

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  2. Como sempre abençoado por Deus em suas palavras. Saudades, Afonso e família.

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  3. Deus te abeçoe, Padre Paulo. Parabéns pela reflexão. Como sempre, iluminadora

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  4. Que Deus na sua infinita bondade continue iluminando seu pensar, o seu falar.
    Saudades!

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