quinta-feira, 21 de novembro de 2024

QUEM EU PERMITO QUE EXERÇA DOMÍNIO SOBRE MIM?

 Missa de Cristo, Rei do universo. Palavra de Deus: Daniel 7,13-14; Apocalipse 1,5-8; João 18,33b-37.

 

            Para entendermos o título atribuído a Jesus como Rei do universo, recordemos o que Deus disse ao profeta Samuel, quando o povo de Israel quis ter um rei: “Não é a ti que eles rejeitam, mas é a mim que eles rejeitam, porque não querem mais que eu reine sobre eles” (1Sm 8,7). Ao pedir um rei, Israel queria, na verdade, ter a sua segurança garantida por um exército, pois era uma época de muitos conflitos e guerras com diversos povos. O erro de Israel foi se esquecer de que um rei só consegue manter um exército cobrando impostos do seu povo.

            Quem reina sobre nós? Quem nós queremos ou permitimos que reine sobre nós? O rei exerce domínio sobre seu povo. Alguém, alguma situação ou algo exerce domínio sobre você atualmente? Não nos esqueçamos de que ninguém é totalmente livre e autônomo; todo ser humano escolhe debaixo de qual domínio se colocar. Quem não escolhe livremente depender de Deus, acaba por sofrer uma dependência imposta a partir de fora, tornando-se escravo de um vício, de um pecado, de uma relação doentia ou do próprio espírito do mal.

            A história humana já teve inúmeros reis, mas, na verdade, só existe um rei que faz o mundo dobrar os joelhos diante dele: o dinheiro. O fascínio por ele provoca guerras, violência e morte. A servidão a esse “rei” corrompe políticos e líderes religiosos, destrói casamentos e distancia os pais dos filhos. O próprio Jesus foi tentado a “facilitar” a sua vida colocando a sua segurança na ilusão das riquezas: “Eu te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e eu a dou a quem eu quiser” (Lc 4,6). Mas Jesus escolheu viver na absoluta dependência do Pai e jamais na falsa autonomia de uma vida financeira confortável. Resumindo, por trás da servidão ao dinheiro está uma dependência escolhida de submissão a Satanás, o “príncipe deste mundo” (Jo 12,31; 14,30) .

            Depois de descrever o desmoronamento dos reinos humanos, que produzem sofrimento, injustiça, violência e morte, Daniel nos fala do “Filho do Homem”, representação do Deus humano, a quem foi entregue o poder de julgar todas as nações: “Seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá” (Dn 7,14). Quem livremente se coloca debaixo do seu domínio salvífico é liberto de todo domínio que escraviza, adoece, fere e mata: “Se o Filho vos libertar, vós sereis verdadeiramente livres” (Jo 8,36).

            Mas a questão é: nós realmente queremos ser livres? Ser livre significa responsabilizar-se pela sua própria vida. A maioria das pessoas escolhe responsabilizar alguém ou as circunstâncias pelos males que lhes acontecem, esquecendo-se de que são as escolhas e as decisões delas no dia a dia que determinam o seu próprio destino. Que as circunstâncias influenciam a nossa vida, isso é fato, mas influenciar não significa determinar. O que, de fato, determina a nossa vida são as nossas decisões diante das circunstâncias em que nos encontramos. Neste sentido, cada um precisa tomar nas mãos as rédeas da própria vida e assumir o domínio sobre suas escolhas e decisões.

            A liberdade que Jesus veio nos oferecer está intimamente ligada ao conhecimento da verdade: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).  “Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37). Jesus nunca foi dominado por nenhum tipo de escravidão porque escolheu viver na verdade do Pai. Essa verdade é a Palavra de Deus (“tua palavra é verdade”: Jo 17,17) que nos liberta das mentiras do diabo – o “pai da mentira” (Jo 8,44). Se muitas pessoas hoje vivem debaixo de algum domínio que as escraviza e adoece é porque não querem escutar a voz de Jesus, isto é, não querem obedecer à verdade da sua Palavra, abrindo mão das falsas compensações provenientes da mentira do seu pecado ou dos seus enganos.

            Algumas perguntas que cada um de nós precisa se fazer, nesta Festa de Cristo Rei: Quem eu permito que exerça domínio sobre mim: o Rei do Universo ou o príncipe deste mundo? Eu escolho me orientar diariamente pela verdade que é Cristo ou pelo “pai da mentira”, que é o diabo? Eu me responsabilizo pelo meu destino, que é construído todos os dias pela liberdade que tenho ao fazer escolhas e tomar decisões, ou me coloco numa posição de vítima dos acontecimentos?

 

            Senhor Jesus Cristo, o Pai lhe concedeu o poder de salvar todo ser humano, mas tal salvação é uma escolha que cada pessoa tem que fazer. Eu escolho obedecer à sua voz e viver segundo a verdade do seu Evangelho. Retira-me debaixo do domínio do espírito do mal, o príncipe deste mundo, e guarda-me sob o seu domínio, capaz de me libertar, curar e salvar. Venha o seu Reino! Reine sobre a consciência e o coração de cada ser humano. Estende o seu domínio salvífico sobre toda pessoa escrava do pecado pessoal e desumanizada pelo pecado social. Reine, Senhor, em nossas casas, escolas, locais de trabalho, cidades e países. Revela-nos a verdade capaz de nos libertar das mentiras e dos enganos que nos adoecem. Destina cada um de nós para o seu Reino Eterno. Amém!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi     

 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O FIM ESTÁ DENTRO DE UMA FINALIDADE

 Missa do 33º dom. comum. Palavra de Deus: Daniel 12,1-3; Hebreus 10,11-14.18; Marcos 13,24-32.

 

Os dois textos principais da Liturgia da Palavra de hoje – o profeta Daniel e Jesus (Evangelho) – querem nos tornar conscientes de que existe um fim. Este fim é a intervenção definitiva de Deus na história humana, para acabar de vez com o mal, a injustiça e a morte e fazer triunfar o bem, a justiça e a vida. Tanto Daniel quanto Jesus falam conosco a partir de uma linguagem apocalíptica, segundo a qual a história humana não está nas mãos de nenhum homem poderoso da face da terra, mas de Deus, cujo Reino se estabelecerá após o fim de todos os reinos humanos, que causaram dor e sofrimento à humanidade.

Aos judeus, que estavam sendo massacrados pelo rei Antíoco IV Epífanes (167 aC), Daniel encoraja afirmando a intervenção de Deus através do Arcanjo Miguel, que se levantará para defender o povo de Deus, que vive mergulhado num tempo de grande angústia: “Será um tempo de angústia, como nunca houve até então... Mas, nesse tempo, teu povo será salvo” (Dn 12,1). Nós também vivemos um tempo de grande angústia, não somente devido aos problemas do tempo presente, mas em relação ao nosso próprio futuro. O que agrava o sentimento de angústia em nós é o enfraquecimento da esperança e a consequente perda de sentido da vida. Temos a impressão de que o mal sempre vence o bem, e o próprio Deus parece ausente da história humana, tendo abandonado o homem a si mesmo.

Mas, na época de Daniel, os judeus perguntavam: ainda que Deus intervenha e faça justiça, acabando com o mal no mundo, de que adiantaria isso se tantos que nós amamos morreram e não serão beneficiados com a salvação de Deus? Eis aqui a resposta de Daniel: os mortos ressuscitarão e terão destinos diferentes: os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida eterna; os que fizeram o mal, para a vergonha eterna (cf. Jo 5,28-29!). Nada ficará impune. Portanto, se vivemos num mundo onde cada vez mais pessoas desistem de fazer o bem e se entregam à indiferença, lembremos a advertência de Jesus: “Aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24,13; Mc 13,13).   

Vivendo num tempo de grande angústia, precisamos renovar diariamente nossa confiança em Deus, rezando com o salmista: “Meu destino está seguro em vossas mãos! Eis por que meu coração está em festa, minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no repouso (na morte!) está tranquilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte” (Sl 16,5.9-10). Nossa vida não está nas mãos do acaso, mas de Jesus, a quem o Pai confiou o destino de salvação da humanidade. Se existe um fim, esse fim significa finalidade: “recapitular (reunir, resgatar, sanar) em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra” (Ef 1,10).

Jesus também nos torna conscientes do fim, no Evangelho de hoje. Esse fim será precedido por uma grande tribulação (“No mundo tereis tribulações, mas coragem: eu venci o mundo!” – Jo 16,33). Após essa tribulação, sol, lua e estrelas perderão o brilho, uma linguagem bíblica apocalíptica para falar da intervenção de Deus para destruir o mal e libertar o seu povo (cf. Is 13,10). Aqui voltamos para a profecia de Daniel: “Os que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos homens os caminhos da virtude, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade” (Dn 12,3). É uma referência à glorificação dos corpos dos ressuscitados.

Na verdade, essa escuridão total do céu já se deu no momento da morte de Jesus (cf. Mc 15,33). Ali começou o julgamento de Deus sobre a humanidade e a condenação de todos os que fazem o mal. Jesus, por sua vez, contrasta a escuridão do céu com a luz da sua vinda gloriosa: “Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra” (Mc 13,26-27). Portanto, nós, cristãos, não vivemos angustiados esperando pelo fim do mundo, mas vivemos cheios de esperança pela vinda do nosso Salvador Jesus Cristo: “Ele virá uma segunda vez, (...) para aqueles que o esperam para lhes dar a salvação” (Hb 9,28).

  Olhemos para a nossa história pessoal e social. Nós já experimentamos a angústia do fim diversas vezes: o fim da infância, da adolescência, da juventude, da idade adulta, da saúde, do relacionamento, da vida de uma pessoa que amamos, do nosso animal de estimação, de um sonho etc. Para quantos de nós o fim de algo precioso conseguiu colocar fim à nossa alegria, à nossa fé, à nossa esperança em Deus? Mas hoje a Palavra de Deus nos convida a olhar para além do fim. Não existe “algo” além do fim, mas “Alguém”, nosso Salvador Jesus, Aquele a quem a Igreja, animada, sustentada, pela força do Espírito Santo, chama continuamente: “Vem!” (cf. Ap 22,17). Portanto, o fim está dentro de uma finalidade...

 

Oração: Senhor Jesus, a minha existência está dentro de uma finalidade e não entregue às mãos do acaso. Cada fim que eu já experimentei em minha história de vida só foi permitido pelo Pai porque há uma finalidade, há um propósito, uma razão de ser que ultrapassa a minha compreensão, mas que eu confio, porque sei que o meu destino está seguro em tuas mãos. Quero confiar que o fim deste mundo injusto é necessário para o nascimento de um mundo novo, de “novos céus e de uma nova terra onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). Que o Senhor, ao vir, me encontre perseverando no bem, cuidando com fidelidade e amor da tarefa que me foi confiada. Ajuda-me a atravessar esse tempo de grande angústia mantendo meu coração firmado na intervenção final do Pai em vista da restauração de todas as coisas em Ti. Que o teu Santo Espírito complete em mim a obra começada, até o dia da Tua vinda. Amém!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi  

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

QUAL BARULHO CHAMA A SUA ATENÇÃO?

 Missa do 32º dom. comum. Palavra de Deus: 1Reis 17,10-16; Hebreus 9,24-28; Marcos 12,38-44.

 

            A liturgia da Palavra nos coloca diante de duas viúvas. Elas representam toda pessoa que precisa ser amparada, protegida. Ao meu redor há alguma viúva? Há alguma pessoa desamparada e desprotegida, para a qual eu posso fazer algo? Na verdade, nossas cidades estão cheias de “viúvas”, de mulheres que lutam para sustentar, sozinhas, sua casa e seus filhos. Nossas igrejas também estão cheias de “viúvas”, de mulheres que vêm sozinhas às nossas celebrações: em suas casas, são as únicas que buscam a Deus.

            O profeta Elias, homem de Deus, encontra uma viúva em Sarepta. É uma época de grande fome, por falta de chuva. Elias está com fome e com sede, e pede ajuda à viúva. Esta, por sua vez, não tem praticamente nada em casa: “Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra” (1Rs 17,12). Mas Elias provoca a fé desta viúva: “Primeiro, prepara-me com isso um pãozinho, e traze-o. Depois farás o mesmo para ti e teu filho. Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até ao dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra’” (1Rs 17,13-14). E, de fato, não faltou alimento na casa da viúva até o dia em que voltou a chover.

            Às vezes, Deus entra em nossa vida não como Aquele que dá, mas como Aquele que pede. Ele deseja saber se nós vivemos fechados em nós mesmos ou se, mesmo tendo quase nada, não perdemos a sensibilidade de socorrer alguém que esteja mais desamparado do que nós. Deus deseja saber se a nossa fé n’Ele se mantém também no tempo da fome, no tempo do pouco, do quase nada, confiando que “Ele dá alimento aos famintos... Ele ampara a viúva e o órfão” (Sl 146,7.9). Só experimenta o socorro de Deus quem, apesar das suas necessidades, é capaz de socorrer quem está mais necessitado do que ele mesmo.  

            Antes de chamar a nossa atenção para a oferta da viúva, no Evangelho, Jesus nos convida a observar e a tomar cuidado com determinados líderes religiosos que, ao invés de cuidar dos desamparados, estão em constante busca de reconhecimento para alimentar a própria vaidade e afirmar a sua posição de poder. São homens que se afastam da simplicidade, que alimentam um padrão de vida caro e que, quando se aproximam de alguma “viúva”, é em vista de explorá-la financeiramente. São homens que frequentam constantemente as casas das viúvas ricas e nunca encontram tempo para visitar uma viúva pobre. Quando falece um paroquiano pobre, por exemplo, nunca são encontrados para fazer a encomendação do corpo; já quando falece um paroquiano rico, antecipam-se em entrar em contato com a família e prestarem toda a assistência necessária. Quem sabe sua dedicação exemplar, embora hipócrita e interesseira, seja reconhecida e retribuída com uma oferta robusta na missa de sétimo dia?... Em relação a esse tipo de líder religioso, Jesus é muito claro: “Tomem cuidado!” (Mc 12,38); literalmente, “Afastem-se desse tipo de líder religioso!”.   

            Depois de denunciar o péssimo exemplo de alguns líderes religiosos, Jesus convida seus discípulos a aprenderem com a atitude de uma pobre viúva, que depositou no cofre das esmolas do Templo duas pequenas moedinhas. No texto grego, língua em que foram escritos os Evangelhos, as moedinhas se chamam “leptá”. O “leptá” era uma moeda de cobre, a menor e mais insignificante das moedas judaicas. Detalhe: o cofre das esmolas era feito de bronze; quando as moedas caíam dentro faziam barulho. Ora, as ofertas dos ricos faziam muito barulho, pois eles “depositavam grandes quantias” (Mc 12,41)! Quão insignificante deve ter sido o “barulho” das duas moedinhas da viúva!

            Quem é que faz barulho nas nossas comunidades, ao executar um trabalho voluntário ou ao efetuar uma oferta? Não nos esqueçamos de que, quanto mais vazia uma carroça, mais barulho ela faz. Além disso, nossos ouvidos são como os ouvidos de Jesus, capazes de ouvir o insignificante barulho da “insignificante” presença das “viúvas” em nossas comunidades? Sabemos reconhecer e agradecer a doação do dízimo tanto de quem dá “muito” como de quem dá “pouco”? A aplicação do dízimo tem como prioridade as melhorias na Matriz e nas capelas, ou o conforto da casa paroquial ou, pior ainda, as frequentes saídas do pároco para descansar?   

            Para terminar, não nos esqueçamos de que a viúva do Evangelho é a imagem do próprio Jesus: ela “ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (Mc 12,44); da mesma forma, Ele oferecerá sua vida na cruz, pela salvação de todo ser humano. Em outras palavras, Jesus se reconheceu numa pobre viúva e não nos líderes religiosos do seu tempo. Qualquer semelhança com a nossa época não é mera coincidência.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

SANTIFICAÇÃO: NOS TORNARMOS A PESSOA QUE FOMOS CHAMADOS A SER

 Missa de todos os Santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1 João 3,1-3; Mateus 5,1-12a.

 

Existe a pessoa que somos agora: imperfeita, falha, pecadora, movida pelos interesses do próprio ego; mas existe também a pessoa que somos a chamados a nos tornar: a nossa configuração a Jesus Cristo, “o Santo de Deus” (Jo 6,69), o Filho obediente ao Pai, Aquele que escolheu se deixar conduzir pelo Espírito Santo. Todos somos chamados a ser santos, porque o nosso Deus é Santo.

Segundo o livro do Apocalipse, as pessoas santas trazem consigo “a marca do Deus vivo” (Ap 7,2). Diferente de uma tatuagem, essa marca não pode ser vista, porque ela se encontra na consciência da pessoa. É uma marca de pertença. Ela é dada à pessoa que tem a convicção de que nenhum bem pode ser encontrado fora de Deus (cf. Sl 16,2-3). Ainda segundo o livro do Apocalipse, os santos “vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). A nossa santificação se dá na terra, em meio a muitas tribulações. É em meio a uma sociedade de valores invertidos que cada cristão é chamado a ter mãos puras, um coração marcado pela inocência e uma mente não dirigida para o mal (cf. Sl 24,4).

É verdade que algumas das tribulações que passamos na vida são resultado da nossa obstinação em caminhar fora da vontade de Deus. Contudo, quando procuramos caminhar na fidelidade a Deus, vamos experimentar muitas tribulações, nas quais a nossa vida será mergulhada no sangue do Cordeiro, isto é, no sofrimento de Cristo na cruz pela sua fidelidade ao Pai: “Embora sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência Deus por aquilo que sofreu” (Hb 5,8). Sempre que escolhemos obedecer a Deus, vamos experimentar algum tipo de sofrimento, principalmente de frustração para o nosso ego. Se é verdade que o mundo não reconhece os filhos de Deus (cf. 1Jo 3,1), devemos estar cientes de que precisamos aprender a suportar não apenas sermos ignorados ou tratados com indiferença pelo mundo, mas também sermos criticados, ridicularizados e perseguidos pelo mesmo.      

Jesus, no Evangelho, nos propõe um caminho de santificação: as bem-aventuranças. Elas são atitudes de vida. A proposta de Jesus é que vivamos diariamente a nossa santificação por meio dessas atitudes: ser pobre em espírito, isto é, viver na absoluta dependência de Deus e na confiança em seu amor; ser aflito, no sentido de deixar-se afetar pelo sofrimento alheio; ser manso, tendo paciência consigo mesmo e com os outros; ter fome e sede de justiça, no sentido de não desistir de ser uma pessoa justa e de trabalhar em favor daquilo que é justo; agir com misericórdia para consigo mesmo e para com os outros; ser puro de coração, tendo reta intenção e enxergando o bem que habita em cada pessoa; promover a paz, evitando discórdias desnecessárias e mantendo o foco naquilo que aproxima e reconcilia as pessoas; suportar ser perseguido ou criticado por ser uma pessoa justa, isto é, que procura viver segundo a vontade de Deus; enfim, suportar ser perseguido ou criticado por servir a Jesus e à causa do Evangelho. 

            Segundo o apóstolo João, a santificação é um processo que dura a vida toda e só vai ter a sua conclusão no momento da nossa ressurreição, do nosso encontro com o Senhor Jesus. Partimos daquilo que somos e caminhamos na direção daquilo que somos chamados a ser. O que nós somos como pessoa não é algo definitivo. Estamos em processo, em transformação: a santificação tem por objetivo nos configurar a Jesus, de forma que as pessoas O vejam e O experimentem em nossas atitudes. Eis alguns exemplos concretos de santidade: o neto que decidiu morar com os avós, que estão bastante idosos e com Alzheimer, para cuidar deles ao invés de colocá-los num asilo; a mulher que passou casada a vida toda com um marido infiel, e agora que ele se encontra doente, decidiu cuidar dele; a pessoa que carregou consigo, durante anos, uma doença ou uma ferida e nunca reclamou disso com ninguém...

            Uma última palavra. Na sua Exortação Apostólica sobre a Santidade, o Papa Francisco afirma que “todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra” (GE, n.14). É na rotina de cada dia, nas ocupações diárias, que cada um de nós é chamado a santificar-se e a santificar o mundo. Na prática, isso significa não nos conformar com o mundo (cf. Rm 12,1), isto é, não permitir que o mundo nos deforme, mas procurar distinguir qual é a vontade de Deus diante de cada escolha que fazemos, de cada decisão que tomamos e de cada situação que vivemos.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

É MELHOR VOLTAR A VER OU CONTINUAR CEGO?

 Missa do 30º dom. comum. Palavra de Deus: Jeremias 31,7-9; Hebreus 5,1-6; Marcos 10,46-52.

 

              Estamos diante do último milagre de Jesus no Evangelho de São Marcos: a cura do cego Bartimeu. Bartimeu não nasceu cego, mas perdeu a visão em algum momento da sua vida. Ele é o nosso retrato. Nós também perdemos a visão: deixamos de enxergar um horizonte para a nossa vida; deixamos de enxergar a beleza e o valor da pessoa pela qual um dia nos apaixonamos; deixamos de ver sentido na missão que abraçamos; deixamos de enxergar Deus junto a nós; a rotina e a correria da vida tiraram de nós a capacidade de enxergar as pessoas com as quais moramos, convivemos e/ou trabalhamos; para agravar a nossa cegueira, nossos olhos vivem grudados numa tela – grudados porque viciados –, um vício que nos torna cegos para o que está acontecendo à nossa volta.

               De uma certa forma, a cegueira de Bartimeu é o retrato da nossa fé: nós não podemos ver Deus. O apóstolo Paulo afirma que nós “caminhamos pela fé, não pela visão clara” (2Cor 5,7). Num momento de grande aflição na sua vida, quando não enxergava mais solução para o seu problema, Agar, escrava de Sara, esposa de Abraão, foi chorar perto de uma fonte no deserto. Ali Deus falou com ela, e Agar chamou Deus de “El-Roí”, que pode ser traduzido por: “Tu és o Deus que me vê (que vê a minha aflição) e me faz ver, quando eu não via mais saída para a minha vida” (cf. Gn 16,7-14). O Deus que não podemos ver nos vê – conhece o que se passa conosco – e nos faz ver, nos devolve a capacidade de enxergar a vida para além do problema que estamos enfrentando agora.

Bartimeu não podia ver, mas podia gritar: “Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: ‘Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!’” (Mc 10,47). A fé é exatamente isso: eu grito Àquele que não vejo, mas que sei que me ouve: “Naquele dia em que gritei, vós me escutastes e aumentastes o vigor da minha alma” (Sl 138,3). Mesmo sendo repreendido para que se calasse, Bartimeu gritava mais ainda, até ser ouvido por Jesus. Talvez muitos hoje desencoragem você a rezar, a gritar a Deus... A quais pessoas você dá ouvidos: àquelas que lhe dizem que não adianta gritar, porque Deus não escuta, ou àquelas que lhe dizem: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” (Mc 10,49)?

Quando Bartimeu se colocou diante de Jesus, este lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?” (Mc 10,51). Jesus sabia que Bartimeu era cego, mas sua pergunta era necessária para que tomasse consciência do que de fato ele queria para a sua vida. O que eu quero que Jesus me faça: que Ele me dê apenas um anestésico para a minha dor ou que coloque o dedo na minha ferida mais profunda e a faça sangrar, para poder ser tratada e curada? Quero que Jesus me carregue no colo ou que fortaleça as minhas pernas para que eu continue o meu caminho de seguimento d’Ele como verdadeiro discípulo? Quero que Jesus resolva todos os meus problemas num passe de mágica ou que me dê força e sabedoria para colocar em ordem a minha vida?

Bartimeu tinha plena consciência do que queria: “Mestre, que eu possa ver novamente!”. A tradução do texto litúrgico simplificou a palavra do texto grego (“anablepo”), língua original em que foi escrito o Evangelho. Bartimeu não pediu apenas para “ver”, “enxergar”, mas para “ver de novo”, o que comprova que ele não havia nascido cego. Eis a questão: você quer voltar a enxergar? Diante da sua decisão em não mais querer ver, para, quem sabe, não se responsabilizar, você quer voltar a ver e, consequente, se comprometer no processo da cura, da mudança, da libertação do problema que lhe aflige? Você quer voltar a se responsabilizar por sua história de vida e pela missão que você é?

Eis a resposta de Jesus ao pedido de Bartimeu: “Vai, a tua fé te curou” (Mc 10,52). A fé que me cura é a fé que não desiste de gritar ao Deus que eu não vejo, mas que me vê! A fé que me cura é a fé que não perde a coragem de gritar, mesmo quando muitos me dizem: “Não adianta!”. A fé que me cura é aquela que, mesmo quando me sinto numa situação de exílio, abandonado por Deus, continuo a clamar: “Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como torrentes no deserto. Os que lançam as sementes entre lágrimas colherão com alegria” (Sl 126,4-5). A fé que me cura é aquela que me faz seguir Jesus continuamente, no cotidiano da minha vida, exatamente como Bartimeu: “ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho” (Mc 10,52); seguia continuamente, fielmente, permanentemente.

Não nos esqueçamos: “caminhamos pela fé, não pela visão clara” (2Cor 5,7). O que nos mantém no seguimento de Jesus Cristo não é o que vemos, mas o que cremos. Não é o fato de vermos tudo claramente que nos faz caminhar, mas o fato de que cremos, amamos e nos deixamos conduzir por Aquele que nos vê e nos faz ver além das cegueiras do nosso tempo.

 

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

O CÁLICE

 Missa do 29º dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 53,10-11; Hebreus 4,14-16; Marcos 10,27-37.

 

            “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir” (Mc 10,35). Essas palavras de Tiago e João nos colocam novamente no contexto do Ano da Oração, proposto pelo Papa Francisco, e nos questionam sobre o que costumamos pedir a Deus, quando rezamos. Eis o pedido desses dois irmãos a Jesus: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!” (Mc 10,37). O problema é que esse pedido aconteceu imediatamente após Jesus ter declarado aos discípulos que estava indo para Jerusalém e lá seria condenado à morte, mas depois ressuscitaria (cf. Mc 10,32-34). Ora, por que Tiago e João não pediram para serem crucificados um à direita e outro à esquerda de Jesus? Porque eles eram como nós, cujo instinto de preservação fala sempre mais alto do que o desejo de doar a vida por uma causa.   

            A resposta de Jesus aos dois irmãos se divide em duas partes: primeiro, um alerta; depois uma pergunta. Este é o alerta: “Vós não sabeis o que pedis” (Mc 10,38). Aqui podemos nos recordar das palavras do apóstolo Paulo, a respeito da nossa vida de oração: “Não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós... segundo Deus” (Rm 8,26-27). Quando pedimos algo a Deus na oração, sempre visamos aquilo que pensamos ser necessário para a nossa felicidade, mas o Espírito Santo sabe o que de fato convém à nossa salvação. Por isso, sua intercessão não vai no sentido de que Deus faça por nós o que queremos, mas aquilo que Ele, Deus, sabe ser realmente necessário para a nossa salvação. Portanto, a primeira pergunta a ser feita é: eu realmente sei o que estou pedindo a Deus quando rezo? Será que aquilo que eu estou pedindo corresponde, de fato, aos desígnios de Deus a meu respeito?

            Após este alerta, Jesus lança uma pergunta aos dois irmãos, que queriam estar um à sua direita e outro à sua esquerda, na glória: “Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?” (Mc 10,38). Antes de ressuscitar e de voltar para a glória do Pai, Jesus precisava beber o cálice do sofrimento da cruz, e como todo ser humano, ele sentiu em si uma forte rejeição a esse cálice: “Pai, tudo é possível para ti: afasta de mim este cálice; porém, não o que eu quero, mas o que tu queres” (Mc 14,36). Aqui está a diferença entre a nossa oração e a oração de Jesus: a nossa para na primeira parte – afasta de mim este cálice! –; a de Jesus vai até o fim: “contudo, não se faça como eu quero, mas como Tu queres!”. Aqui também entra um princípio inaciano sobre a nossa vida de oração: a oração bem sucedida não é aquela em que você conseguiu dobrar Deus à sua vontade, mas aquela da qual você saiu disposto(a) a abraçar a vontade de Deus para a sua vida.

            Mas, que Pai é esse que deseja que um filho seu beba o cálice do sofrimento? Na verdade, o cálice do sofrimento não foi preparado pelo Pai, mas pelos homens que rejeitaram Jesus e o mataram. O Pai não pediu ao seu Filho para morrer numa cruz; pediu apenas que Ele amasse até o fim. Assim também é conosco: Deus não produz sofrimento em nossa vida; o que Ele pede é que nós não nos desviemos do sofrimento que faz parte da nossa fidelidade à missão que Ele nos confiou. Dentro do cálice da nossa existência a vida não derrama somente o vinho doce da alegria, mas também as lágrimas amargas de uma dor que não escolhemos vivenciar e que cabe a nós beber, não a outra pessoa. Neste sentido, pais que impedem seus filhos de beberem o cálice da frustração os tornam incapazes de enfrentarem a vida de cara limpa.  

            Olhemos agora para os outros dez discípulos. A indignação deles em relação a Tiago e João escondia a inveja de quem não teve a coragem de fazer o mesmo pedido a Jesus. Por conhecer o coração humano, Jesus desafiou os Doze a se desfazerem da pretensão de serem grandes, segundo os padrões do mundo, e escolherem se fazer pequenos, servos; mais do que servos, escravos, imitando o próprio Jesus, que veio para servir e dar sua vida em resgate por muitos. Ora, todo resgate tem um preço, e esse preço está dentro do cálice a ser bebido. A questão, para cada um de nós, é esta: o que eu estou disposto(a) a sacrificar para resgatar aquilo que é precioso para mim? Estou vivendo minha existência a partir do desfrutar – o que a vida tem a me oferecer? –, ou a partir do doar-me – o que eu tenho a oferecer à vida?  

               Para todos aqueles que decidiram seguir Jesus amando até o fim e bebendo do cálice que lhes cabe beber neste momento, a carta aos Hebreus encoraja: “Permaneçamos firmes na fé que professamos. Com efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas... Aproximemo-nos, então, com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno” (Hb 4,14-16). Recordemos também as palavras do salmista: “O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem, e que confiam esperando em seu amor, para da morte libertar as suas vidas e alimentá-los quando é tempo de penúria” (Sl 33,18-19). Façamos nossa a sua oração: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!” (Sl 33,22).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi 

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

NÃO BASTA VIVER BIOLOGICAMENTE; É PRECISO SENTIR-SE VIVO A PARTIR DE DENTRO

Missa do 28º dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 7,7-11; Hebreus 4,12-13; Marcos 10,17-27 (forma breve).

 

            Estamos no ano da oração, proposto pelo Papa Francisco em preparação para o Jubileu dos 2025 anos do nascimento de nosso Salvador Jesus Cristo. A oração nos lembra que somos seres necessitados; somos filhos, e o filho vive daquilo que recebe do Pai. Para receber, é preciso pedir. Mas, o que pedir?

            A oração do rei Salomão nos ajuda a perceber o que é o mais importante a ser pedido: “Orei, e foi-me dada a prudência; supliquei, e veio a mim o espírito da sabedoria” (Sb 7,7). Normalmente, o nosso pedido está diretamente relacionado com aquilo que julgamos ser o mais importante para a nossa vida. Salomão não pediu nem ouro, nem prata – riqueza material –, mas Sabedoria, entendendo-a como mais importante que a própria saúde e a beleza. O que nós pediríamos a Deus em nossa oração hoje? Quantas coisas que pedimos a Deus não são verdadeiramente necessárias para a nossa vida, e ainda que sejam para esta vida terrena, não o são para a nossa salvação?

            Aqui entra a pergunta do jovem rico a Jesus: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17). Por que uma pessoa muito rica se preocuparia com a vida eterna? Porque ela tomou consciência de que a verdadeira vida não é esta; que há uma necessidade profunda no ser humano que dinheiro ou coisa material alguma consegue responder; que não adianta ter todos os meios materiais para se viver bem quando não se tem uma razão, um sentido, para viver. Pois bem: quem de nós está preocupado com a vida eterna? Quem de nós consegue elevar os olhos acima das necessidades terrenas e se perguntar por sua salvação, pela vida eterna?   

            O jovem rico praticava sua religião de maneira exemplar; não só conhecia como também buscava viver segundo os mandamentos de Deus. Por isso, “Jesus olhou para ele com amor” (Mc 10,21) e, por conhecer cada ser humano por dentro, teve a liberdade de dizer àquele jovem rico: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” (Mc 10,21). “Só uma coisa te falta”. O que me falta para ser plenamente de Deus? O que me falta para poder entrar na vida eterna? Qual coisa, pessoa ou situação tomou o lugar de Deus em meu coração e está comprometendo a minha salvação? Meu tempo é dedicado a muitas coisas que julgo serem importantes para a minha sobrevivência neste mundo, mas que tempo eu dedico para cuidar da minha salvação?

            Quando aquele jovem ouviu a proposta de Jesus, “ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mc 10,22). Aqui entra a importância da Palavra de Deus em nossa vida: “Ela julga os pensamentos e as intenções do coração” (Hb 4,12). Ela nos torna conscientes das nossas ilusões e das nossas falsas seguranças. Ela nos revela o quanto nossas atitudes religiosas estão cheias de intenções mundanas, e o quanto Deus é buscado por nós não por Ele mesmo, mas por algo que desejamos que Ele nos dê para a vida aqui e agora. Por ser sinônimo de Verdade, a Palavra de Deus nos confronta com o fato de que, diferente do jovem do Evangelho, o melhor do nosso tempo e dos nossos esforços não são gastos na busca pela vida eterna, mas na busca por uma felicidade mundana. Para a maioria das pessoas, a pergunta que não cala no coração não é “O que devo fazer para ganhar a vida eterna?”, mas “O que devo fazer para ser feliz?”. Em nome da felicidade aqui e agora, pessoas perdem a própria salvação, destruindo a vida de outras pessoas e do Planeta.

Jesus não amenizou as exigências do Evangelho para evitar que o jovem rico fosse embora. Ele apenas aproveitou o acontecimento para fazer um alerta aos seus discípulos de ontem e de hoje: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!” (Mc 10,23). Por que? Porque “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm 6,10). É a ganância pelo dinheiro que está por trás do tráfico de drogas e de órgãos, do desmatamento e dos incêndios que visam destruir a vegetação nativa e criar pasto para engordar bois e exportar carne; é o desejo por mais dinheiro que corrompe advogados, juízes, políticos e empresários; que leva indústrias a poluírem a água e o ar; que faz a indústria farmacêutica e a indústria das armas promoverem a disseminação da morte em nosso mundo; que leva países a preferirem a guerra à paz; que torna os pais ausentes da vida dos filhos, provocando nestes uma série de enfermidades psíquicas...

A ganância por mais dinheiro cria o inferno não só na vida do ganancioso, mas também na sociedade humana, porque aprofunda a desigualdade social, a qual, por sua vez, dissemina a violência que provoca a morte. Portanto, quem, com sua ganância, cria o inferno na Terra não tem como experimentar o Reino de Deus, que é “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17). Quem escolheu dar prioridade em sua vida ao Dinheiro, o deus deste mundo, o deus terreno, ao morrer terá como destino “ser enterrado” (cf. Lc 16,22), e não entrar no Reino dos Céus, pois cada um colhe aquilo que planta.

            “Então, quem pode ser salvo?”, perguntaram os discípulos a Jesus, já que todos nós precisamos de dinheiro para viver e todos nós vemos o dinheiro como garantia de uma vida tranquila. “Jesus olhou para eles e disse: ‘Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível’” (Mc 10,27). A salvação não é mérito, nem conquista do ser humano, seja ele rico, seja ele pobre, mas puro dom de Deus. Ele pode tocar na consciência da pessoa apegada ao dinheiro e convencê-la de que ela precisa de salvação e esta pode ser obtida usando o excesso do seu dinheiro para diminuir as injustiças sociais, como aconteceu com o rico Zaqueu (cf. Lc 19,8-10).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

A FORÇA DA MULHER TANTO PODE GERAR VIDA QUANTO MORTE; TUDO DEPENDE DOS SEUS VALORES.

 Missa de Nossa Senhora Aparecida. Palavra de Deus: Ester 5,1b-2.7,2b-3; Apocalipse 12,1.5.13a.15-16a; João 2,1-11.

 

            “Mulher peregrina, força feminina, a mais importante que existiu. Com justiça queres que nossas mulheres sejam construtoras do Brasil”. Se antigamente a mulher era vista como “sexo frágil”, hoje essa visão está mais do que ultrapassada. A maior força da Igreja são as mulheres, assim como acontece na maioria das famílias brasileiras. São elas que mais rezam, que mais trabalham e que mais lutam para manter nossas igrejas e nossas famílias em pé.

Esse protagonismo da mulher está retratado na figura da rainha Ester. Se todos temem o rei e o seu cetro, símbolo do seu poder, a beleza e a delicadeza de Ester conseguem mudar os planos do rei (destruição em massa dos judeus) e salvar o seu povo: “Concede-me a vida — eis o meu pedido! — e a vida do meu povo — eis o meu desejo!” (Est 7,3). Ester é a imagem da mulher que não é fútil, nem vulgar, nem egoísta. Ela não pensa em si, nem nos seus caprichos pessoais, mas na sobrevivência do seu povo. Diferente de Ester, nós temos muitas mulheres fúteis e vazias, cuja única preocupação é com sua estética. Aliás, quando a mulher quer, ela também pode usar o seu poder para matar e destruir. Exemplo claro disso é a rainha Jezabel (cf. 1Rs 21).

Se Ester intercede e salva seu povo da destruição, Nossa Senhora intercede e salva um casamento. “Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não têm mais vinho’” (Jo 2,3). A mulher tem uma sensibilidade mais aguçada do que o homem. Ela percebe o que falta. O vinho simboliza a alegria. Mas a falta de alegria em muitas famílias precisa nos fazer perguntar: do que depende a alegria de uma família? A alegria da bebida alcoólica, das músicas altas e do consumismo é rapidamente substituída pela ressaca da depressão, pelo sentimento de vazio e pelas dívidas. Mas a atitude de Nossa Senhora nos fala não só da sensibilidade de quem percebe o que falta; muito mais que isso, ela revela uma mulher que tem atitude. Diante daquilo que está faltando numa casa, numa família, em nossa Igreja, num ambiente de trabalho, no mundo, temos que aprender com Nossa Senhora a nos mexer e a tomarmos atitudes para enfrentarmos o problema da falta de vinho.

Só Jesus pode nos dar o vinho novo, símbolo do Espírito Santo, da alegria de Deus derramada em nossos corações, mas é preciso que estejamos dispostos a viver segundo os ensinamentos do Evangelho: “Sua mãe disse aos que estavam servindo: ‘Fazei o que ele vos disser!’” (Jo 2,5). Ela mesma já havia dito ao anjo Gabriel: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra!” (Lc 1,38). A maneira como lidamos com nossa vida no dia a dia – relacionamentos, estudo, trabalho, lazer, afetividade e sexualidade, escolhas e decisões – tem como orientação a Palavra do Evangelho ou as pressões e tendências do momento? A principal atitude é “servir” e não “mandar”. A pior atitude é assumir a posição de sempre esperar “ser servido”.     

            O resultado da intercessão de Nossa Senhora é o surgimento do “vinho novo”, de um vinho melhor do que aquele que havia no começo da festa. Todos nós tememos pela rotina que desgasta o sentido daquilo que construímos. Nos esquecemos de que Jesus tem o poder de fazer novas todas as coisas; de nos dar o dom do Espírito Santo, que renova a face da terra. Ao mesmo tempo, Ele nos pergunta se, de fato, desejamos o novo e se estamos dispostos a mudar nossas atitudes, para que o novo possa nascer: “Ninguém, após ter bebido vinho velho, quer do novo. Pois diz: ‘O velho é que é bom!” (Lc 5,39). Jesus encontrou resistência em muitas pessoas do seu tempo, que não acolheram a novidade do Evangelho. Esse desejo pelo velho é a tendência atual das novas gerações em nossa Igreja.

            Olhemos, enfim, para a imagem de Nossa Senhora no Apocalipse: uma mulher que dá à luz um filho diante de um Dragão. Esse Dragão é o Maligno, pai da mentira e assassino (cf. Jo 8,44; Ap 12,9). Suas seduções sempre provocam uma violência que leva à morte, ainda que tal violência e tais mortes sejam falsamente justificadas para se combater o mal, o inimigo. Nossa Senhora nos convida e trabalharmos pela vida e pela esperança, mesmo vivendo em um mundo contrário à vida e desesperançado, lembrando o conselho de São Paulo: “Se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, sobretudo dos que têm fé” (1Tm 4,10). Não nos esqueçamos de que Nossa Senhora foi aclamada por Isabel com essas palavras: “Feliz aquele que teve fé na palavra do Senhor!” (Lc 1,45).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

QUE AS MINHAS ATITUDES NÃO SEPAREM O QUE AS MÃOS DE DEUS UNIU

 Missa do 27º dom. comum. Palavra de Deus: Gênesis 2,18-24; Hebreus 2,9-11; Marcos 10,2-12 (forma breve).

 

            O ser humano não foi criado para a solidão, mas para a comunhão: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele” (Gn 2,18). Ao mesmo tempo, só pode conviver com o outro quem aprendeu a conviver primeiro consigo mesmo. Nós não somos pedaços de pessoas que precisam encontrar outros pedaços de pessoas para nos tornarmos uma pessoa inteira. A primeira pessoa que precisa ser sua companhia é você mesmo(a). Só pode amar alguém quem aprendeu a amar a si mesmo(a).

Apesar do desejo de Deus de que o ser humano não esteja só, a solidão é hoje a realidade da maioria das pessoas, seja por fatores externos, seja por uma escolha interna. Além disso, se Adão não encontrou entre os animais um ser humano como ele, hoje é cada vez maior o número de pessoas que escolhem animais para conviver, pois estes retribuem ao amor que recebem, além de demonstrarem ser mais “humanos” do que as pessoas. Estranho mundo esse em que vivemos!!! A incapacidade de conviver com outro ser humano tem levado pessoas, em alguns países da Europa, a pedirem autorização da Justiça para se casarem com animais! Progresso ou regressão? Evolução ou involução? São os animais que estão cada vez mais humanizados, ou somos nós que estamos cada vez mais desumanizados? Uma coisa é fato: o encanto por animais é consequência direta do desencanto com as pessoas.

Numa época em que as separações superam as uniões e a opção por não se casar, mas apenas morar junto, é infinitamente maior do que a decisão em se casar, a pergunta que os fariseus fizeram a Jesus a respeito do divórcio é profundamente necessária: tem sentido ainda hoje se casar? Jesus entende que a lei do divórcio, dada no séc. XII aC por causa da dureza de coração dos israelitas, não pode, de maneira alguma, ser mais importante do que o projeto original de Deus para o ser humano: “Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher” (Mc 2,6). Homem e mulher são dois seres humanos, iguais em dignidade, para profundamente diferentes. O divórcio é justamente a incapacidade de conviver com alguém diferente de mim. Como eu não consegui transformar a pessoa na minha imagem e semelhança, eu decido me separar dela.

Obviamente que essa não é a única causa do divórcio. Além disso, há inúmeros “casais de segunda união” que vivem de maneira muito mais cristã e respeitosa do que casais vinculados pelo sacramento do matrimônio. Se Jesus entende que a ação pastoral da Igreja deve ser guardar as noventa e nove ovelhas num lugar seguro e ir atrás daquela que se extraviou (cf. Mt 18,12-14), a nossa ação pastoral junto às famílias funciona exatamente no sentido contrário: enquanto cuidamos de uma família “tradicional”, nos mantemos quase que totalmente ausentes da realidade das noventa e nove famílias em situação “irregular”, agindo exatamente na direção contrária de Jesus e do Evangelho.

A pergunta não pode ser reduzida ao estado de divórcio ou de casamento, mas à razão pela qual o divórcio aconteceu e como a atual família está vivendo. “Há também o caso daqueles que fizeram grandes esforços para salvar o primeiro matrimônio e sofreram um abandono injusto, ou o caso daqueles que contraíram uma segunda união em vista da educação dos filhos, e, às vezes, estão subjetivamente certos em consciência de que o precedente matrimônio, irremediavelmente destruído, nunca tinha sido válido” (Papa Francisco, AL n.298). “Compreendo aqueles que preferem uma pastoral mais rígida, que não dê lugar a confusão alguma; mas creio sinceramente que Jesus Cristo quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito derrama no meio da fragilidade: uma Mãe que, ao mesmo tempo que expressa claramente a sua doutrina objetiva, não renuncia ao bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada... Jesus espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura” (Papa Francisco, AL n.308).    

            Jesus deixa claro que todo divórcio expõe o homem e a mulher ao adultério, ao se contrair uma nova união. No entanto, o próprio Jesus já havia alertado que o adultério nasce no coração, quando os nossos desejos estão desordenados (cf. Mt 5,28). A nossa geração escolheu abrir mão da consciência e entregar à emoção, ao sentimento, à paixão, a (ir)responsabilidade pelas nossas escolhas e decisões. Deixamos de nos comportar como adultos perante a vida, sobretudo afetiva, e damos livre curso aos nossos desejos e afetos desordenados, como é comum acontecer com qualquer adolescente. Desse modo, machucamos e somos machucados, desencantamos pessoas e nos desencantamos com pessoas. Somos, na verdade, uma geração adúltera porque não estamos dispostos a frustrar nenhum dos nossos desejos: entre pagar o alto preço da fidelidade e desfrutar das inúmeras ofertas baratas e ilusórias de prazer momentâneo, não é difícil saber qual será a nossa escolha. Enfim, não nos esqueçamos de que adúlteros são também os pregadores moralistas que condenam ao inferno casais em segunda união, enquanto eles mesmos não vivem a vida de castidade que aparentemente ostentam.

            O mal do divórcio ganhou um fortíssimo aliado, no mundo atual. O adultério hoje está na palma da nossa mão: o celular. A facilidade de acesso a fotos e vídeos é um grande problema, especialmente para as pessoas casadas. Mas a causa do divórcio nem sempre é a infidelidade conjugal. Há também o problema da má administração financeira, os baixos salários, as dívidas, a compulsão em comprar etc. Há ainda a influência de um dos pais (a dependência infantil de um dos cônjuges em relação à mãe), que sempre interfere na relação conjugal. Há ainda os maus conselhos dos colegas de trabalho, cujo casamento fracassou e eles se tornaram ótimos especialistas em “como destruir seu casamento”.

            Sejam quais forem as portas de entrada que abrimos para o adultério e para o divórcio, só existe um interessado em destruir o casamento e ferir a família: o Maligno. Ele é o divisor; sua especialidade é dividir, separar, quebrar, desintegrar, fazer voar em pedaços aquilo que Deus uniu. Não que ele possa disputar com Deus, mas ele ataca o ponto fraco do sacramento do matrimônio: o casal, que ao longo do tempo deixa de trabalhar em sintonia com Deus e começa a ter atitudes que sabotam o que Deus uniu. Por isso, que os casais olhem para a própria aliança que carregam na mão esquerda e se perguntem se suas atitudes, representadas pelas próprias mãos, estão trabalhando para, de fato, manter unido o que Deus uniu.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi    

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

TRÊS GRANDES PAULADAS EM NOSSA CONSCIÊNCIA

 Missa 26º dom. comum. Palavra de Deus: Números 11,25-29; Tiago 5,1-6; Marcos 9,38-43.45.47-48

 

            Chegamos ao último domingo do mês da Bíblia. Às vezes, a Palavra de Deus, na liturgia do domingo, nos oferece um único fio condutor para a nossa reflexão, como aconteceu domingo passado: a questão da necessidade de reconhecimento e de aceitação. Hoje, não temos um único fio condutor, mas ao menos três: a questão da inveja no campo religioso, a questão do escândalo que leva as pessoas a perderem a fé e a questão das injustiças sofridas pelos pobres por causa das desigualdades sociais.

 

A inveja no campo religioso.

 

Tanto Josué (1ª leitura) quanto João (Evangelho) tiveram dificuldade em compreender que Deus é livre e age onde quer, independente de qualquer instituição religiosa. O Espírito de Deus é livre como o vento (cf. Jo 3,8) e não pode ser aprisionado por nenhuma instituição religiosa. “Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Os caminhos que Ele usa para isso nunca podem ser determinados por qualquer igreja ou religião.

A inveja nasce do sentimento de inferioridade: eu me sinto menos do que o outro; por isso, qualquer coisa que ele aparente ser ou ter a mais do que eu mexe com a minha inferioridade e me faz invejar o que ele tem ou é. A cura da inveja passa pelo reconhecimento do meu valor como pessoa: eu não sou e não devo ser como o outro, pois isso cancelaria a minha originalidade e a minha unicidade. Somos todos “notas musicais”: nenhuma nota sozinha é capaz de fazer uma canção. É a originalidade de cada nota, em comunhão (harmonia) com as demais, que possibilita o nascimento da música.

Dois grandes erros precisam ser evitados, quando se trata da pluralidade religiosa do mundo atual: o relativismo – a ideia de que tudo é de Deus e tudo leva para o mesmo objetivo – e a pretensão da exclusividade – “Só a minha igreja/religião salva”.  

 

A questão do escândalo que leva à perda da fé.

 

Onde existe o ser humano, existe a possibilidade do escândalo, do erro, da falha, do pecado. Jesus não se escandaliza com o pecado de ninguém, pois ele foi humano como nós e é capaz de se compadecer das nossas fraquezas (cf. Hb 4,15). No entanto, deixa claro que quando uma atitude nossa – consciente e intencional – leva uma pessoa a perder a fé em Deus, isso terá como consequência a nossa condenação eterna. Quem “joga” uma pessoa nos braços do Maligno com o seu erro terá o Maligno por “recompensa”.

            Jesus quer nos tornar conscientes de que todos nós temos o nosso “calcanhar de Aquiles”, o nosso ponto fraco, e quem acha que nunca se tornará causa de escândalo para alguém não se conhece verdadeiramente. A única forma de se evitar causar escândalo é frustrar o próprio desejo. As expressões “cortar a mão”, “cortar o pé” e “arrancar o olho” significam dar um corte em nós mesmos – especificamente, na área do desejo. Aqui precisamos recordar mais uma vez: sentir não significa consentir. O pecado não entra no sentir, mas no consentir. Não escolhemos sentir desejo, mas temos liberdade e responsabilidade quanto ao consentir que ele nos leve a pecar e, consequentemente, a nos tornar causa de escândalo para os outros. Por que causa de escândalo? Porque o próprio Jesus garantiu: “Não há nada encoberto que não venha a ser descoberto, nem de oculto que não venha a ser revelado” (Mt 10,26).

            Se o mundo atual reduziu o sentido da vida a sentir prazer, devemos estar cientes de que frustrar o próprio desejo é uma tarefa difícil, sofrida e que pouquíssimas pessoas se disporão a enfrentar. No entanto, é a capacidade de lidar com frustração que diferencia um adulto de uma criança. Só quem é verdadeiramente uma pessoa madura, adulta, consegue dizer “não” a si mesma. Quanto mais somos pessoas infantilizadas, adultas quanto a algumas questões, mas adolescentes quanto a outras, menos capacidade – e, sobretudo, vontade – temos de frustrar determinados desejos que darão origem a escândalos, que por sua vez farão pessoas desacreditarem de nós mesmos, de Deus e da nossa Igreja.     

 

Gerar ou alimentar desigualdade social é condenar-se perante Deus.

 

São Tiago nos alerta que todo salário mal pago grita aos ouvidos de Deus! Empresários cristãos precisam se libertar da ganância desmedida do enriquecimento individual e tornar suas empresas promotoras de justiça social. A desigualdade de salários nas empresas em geral é, via de regra, absurda e gritante. Os que mais trabalham, os que mais estão expostos a riscos para a sua saúde, são os que têm os salários mais baixos. Se o enriquecimento de uma Empresa é fruto de salários miseráveis pagos aos seus funcionários, esse enriquecimento está condenado perante Deus: “Vós vivestes luxuosamente na terra, entregues à boa vida, cevando os vossos corações para o dia da matança. Condenastes o justo e o assassinastes; ele não resiste a vós” (Tg 5,5-6). Todo empresário que paga salários de fome aos seus funcionários enquanto ele mesmo vive uma vida de luxo é um assassino aos olhos de Deus.

 

Enfim, por uma questão de verdade e de justiça, lembremos que o outro lado da moeda se chama “Justiça do Trabalho”, onde muitos trabalhadores desonestos, orientados por advogados igualmente desonestos, vão reivindicar valores financeiros injustos e absurdos, “quebrando” empresários. Todas as pessoas que participam desse jogo sujo, que assassina a verdade e a justiça em nome do dinheiro, terão que prestar contas das suas atitudes perante o Justo Juiz, cuja justiça não tem como ser comprada.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi    

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

VOCÊ CONSEGUE AMAR A SUA INSIGNIFICÂNCIA?

 Missa do 25º dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 2,12.17-20; Tiago 3,16 – 4,3; Marcos 9,30-37.

            Todo ser humano tem necessidade de ser reconhecido. Quando somos ignorados ou tratados com indiferença, sofremos. O problema é: que preço estamos dispostos a pagar para sermos reconhecidos e aceitos pelas pessoas? Se considerarmos que vivemos numa sociedade de valores invertidos, o nosso reconhecimento e a nossa aceitação dependem de sermos como a maioria é, e isso compromete a nossa fidelidade a Deus. Sendo assim, precisamos escolher qual preço pagar: o preço de sermos desprezados pelas pessoas, mas valorizados por Deus, ou o preço de ganharmos a aceitação das pessoas, com a condição de nos afastarmos de Deus e da verdade da sua Palavra.

            O livro da Sabedoria nos revela o alto preço que a pessoa de Deus paga por não ser igual à maioria: “Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda: ele se opõe ao nosso modo de agir” (Sb 2,12). Quem deseja viver segundo o Evangelho vai incomodar os que não aceitam a verdade do mesmo, e o preço desse incômodo não é apenas o ser excluído ou ser tratado com indiferença, mas o ser perseguido e atacado, na tentativa de convencer a pessoa a desistir de se configurar a Jesus e se tornar como a maioria é: “Vamos pô-lo à prova com ofensas e torturas, para ver a sua serenidade e provar a sua paciência” (Sb 2,19). Essas ofensas e torturas são muito comuns nos ambientes de trabalho; quando não, acontecem na própria família ou entre os “amigos”.

Se essa é a condição de quem deseja se configurar a Jesus Cristo, a questão é saber o quanto o cristão consegue suportar ser desprezado pelos homens e se manter fiel às promessas de Deus; o quanto ele consegue manter-se firme na sua fé, como o salmista: “Quem me protege e me ampara é meu Deus; é o Senhor quem sustenta minha vida!” (Sl 54,6).

A inversão de valores, própria de um mundo cada vez mais pagão como o nosso, encontra espaço até mesmo dentro das igrejas. A carta de São Tiago hoje nos revela que as igrejas estão tão doentes quanto o nosso mundo: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más” (Tg 3,16). Inveja e rivalidade são sentimentos e atitudes próprias de ambientes onde as pessoas brigam por reconhecimento. Desse modo, o serviço que a pessoa abraçou em favor da comunidade se corrompe em “cargo”, em “lugar de poder”. Essa deformação do Evangelho não está presente somente no Clero (carreirismo), nem é “privilégio” da nossa Igreja, mas está presente em todas as igrejas; mais ainda, pode estar presente em qualquer grupo humano. Portanto, também em nossas pastorais e movimentos, há muitos fiéis contaminados com o vírus da inveja e da rivalidade.  

            Convidando as igrejas a um sério exame de consciência, São Tiago pergunta: “De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós?” (Tg 4,1). É vergonhoso constatar que nas nossas comunidades ocorrem eventualmente “guerras” e “brigas”, tudo por causa de algo mal resolvido dentro da pessoa: a necessidade de ser reconhecida, de ocupar um “cargo” de destaque; a perversão do “servir” em “ter poder” sobre os outros, exatamente como os discípulos de Jesus, que discutiam entre si sobre qual deles era o maior (cf. Mc 9,34).

            A denúncia profética de São Tiago revela o quão doente pode ser tornar uma comunidade de cristãos: “Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir” (Tg 4,2). Quando as igrejas se tornam tão doentes quanto o mundo, como podem as mesmas ser instrumentos de salvação para a humanidade? Todas essas atitudes mundanas – cobiça, matar o outro com palavras ou através do ódio e da inimizade, brigas e guerras para derrubar quem está no “poder” –, só conseguem um resultado: o descrédito da própria igreja; pior ainda, o descrédito do Evangelho e do próprio Jesus Cristo.

            A inversão de valores e o comportamento pagão são tão nocivos que podem corromper até mesmo a oração dos cristãos: “Pedis, (...), mas não recebeis, porque pedis mal. Pois só quereis esbanjar o pedido nos vossos prazeres” (Tg 4,3). Aqui vale um sério exame de consciência: o que eu peço na minha oração visa unicamente o meu bem-estar pessoal ou o bem dos meus irmãos, da minha igreja? Meus pedidos estão reduzidos às minhas necessidades (ou seriam “ambições”?) materiais, ou eu peço bênçãos espirituais para a salvação de todo ser humano?

            Ao ter consciência de que seus discípulos estavam discutindo sobre quem deles seria o maior, o mais importante, Jesus lançou-lhes um desafio: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35). Aqui Jesus vira do avesso a nossa necessidade de reconhecimento! Suas palavras são um convite a sairmos da prisão dessa necessidade doentia de sermos reconhecidos como importantes! Ser o “último” e o “servo” de todos significa não alimentar o nosso ego, que sempre deseja estar no centro das atenções.

Mais do que falar com os discípulos, Jesus tem uma atitude pedagógica: toma uma criança, coloca-a no meio deles e a abraça, dizendo que naquela criança está Ele e também o Pai que o enviou. A criança, na cultura judaica, era a pessoa mais desprezível e insignificante da família e da sociedade. Portanto, Jesus está nos desafiando a colocar no centro de nós mesmos não o nosso ego e a sua necessidade doentia de se sentir importante, mas a nossa própria insignificância. Ao abraçar aquela criança Jesus está nos convidando a abraçar e a amar o nosso ser insignificante perante um mundo de valores invertidos. Enfim, quem quiser se encontrar com o Filho e com o Pai, nunca os encontrará na grandiosidade, mas na pequenez; nunca naquilo que o mundo e as próprias igrejas consideram importantes, mas naquilo que ambos desprezam e consideram insignificantes. Esse é o papel do Evangelho: virar do avesso os contra valores que nos adoecem e ferem nosso convívio com as pessoas.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

ALIMENTAR REPULSA DIANTE DA DOR OU OUVIR O QUE ELA TEM A DIZER?

 Missa do 24º. Dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 50,5-9a; Tiago 2,14-18; Marcos 8,27-35.

Entre duas possibilidades – ganhar ou perder, ser feliz ou sofrer, ser forte como um leão ou frágil como um cordeiro – dificilmente alguém escolheria a segunda opção. A coisa mais natural do ser humano é fugir da dor, desviar-se de dificuldades e desejar uma vida longe de problemas. No entanto, para cada um de nós, a vida se apresenta como ela é, e não como nós gostaríamos que ela fosse. Viver é lidar com dor, e a melhor forma de entender isso é estar consciente de que “se não está em suas mãos mudar uma situação que te causa dor, sempre poderá escolher a atitude com que encara esse sofrimento” (Victor Frankl).  

Jesus foi uma pessoa feliz e, no entanto, a sua vida nunca foi vivida a partir de uma estratégia calculada para se manter o mais distante possível da dor. Muito pelo contrário; ele sempre foi de encontro à dor de quem sofria – “homem sujeito à dor, familiarizado com o sofrimento” (Is 53,3) – e não se desviou da dor que lhe coube enfrentar. Isso fica claro na expressão “eu devo”. Diferente de nós, que na busca do próprio bem-estar nos movemos quase sempre na direção do “eu quero”, Jesus entendeu que o sentido da sua vida estava na fidelidade à missão para a qual Ele veio ao mundo. Por isso, sempre que foi necessário, Ele submeteu o “eu quero” ao “eu devo”.

Sempre que a dor entra em nossa vida, é para nos ensinar algo. O Servo do Senhor entendeu isso, ao afirmar: “O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás” (Is 50,5). Quanto mais nós resistimos em aprender, mais a dor se intensifica em nós, e o nosso grande desafio é não voltar atrás, isto é, não abandonar a missão que somos simplesmente porque a fidelidade a essa missão está doendo neste momento. Assim como o Servo do Senhor, precisamos fortalecer a nossa confiança no fato de que “o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo” (Is 50,7). Assim como o salmista, devemos nos manter firmes na oração, repetindo quantas vezes for preciso: “Prendiam-me as cordas da morte, apertavam-me os laços do abismo; invadiam-me angústia e tristeza: eu então invoquei o Senhor ‘Salvai, ó Senhor, minha vida!’... Libertou minha vida da morte, enxugou de meus olhos o pranto e livrou os meus pés do tropeço” (Sl 115,3-4.8).

Sempre que a dor entra em nossa vida, traz consigo uma pergunta: “Quem é Jesus, para você?”: ele é o Leão no qual você se espelha para ser uma pessoa forte e vencedora, ou o Cordeiro que te convida a abraçar o seu “eu devo”? Quando Jesus tornou os discípulos conscientes do seu “eu devo”, Pedro o tomou “à parte e começou a repreendê-lo” (Mc 8,32). Nós também repreendemos Deus, quando Ele permite a dor em nossa vida. Quem Ele pensa que é, para nos tirar aquilo que nos deu? Por que Ele não elimina o mal do mundo uma vez por todas? Como pode um Deus que é amor deixar a humanidade exposta a tanta dor, como atualmente? Por que Ele escolheu deixar o seu Filho único morrer numa cruz, ao invés de destruir todo tipo de cruz que faz a humanidade sofrer?   

Diante da atitude de Pedro, que estava dizendo indiretamente aos outros discípulos que é preciso desviar-se da dor da cruz o quanto for possível, Jesus foi firme com ele: “Vá para trás de mim, Satanás!” – o lugar do discípulo não é na frente do Mestre, dizendo como Ele deve proceder, mas atrás, aprendendo com Ele como lidar com a dor da cruz. Desviar-se do seu “eu devo” em nome de uma felicidade egoísta, de um prazer momentâneo, de um bem-estar ilusório, é cair nas mentiras de Satanás, o qual nos promete uma vida sem dor. Toda propaganda de uma vida sempre feliz, sem nenhuma dor, é satânica, diabólica, mentirosa.

Jesus nos deixa perplexos, ao dizer para Pedro: “Tu não pensas como Deus, e sim como os homens” (Mc 8,33). Para Deus, a vida comporta luz e sombra, alegria e tristeza, ganho e perda, vitória e fracasso; para nós, homens, a vida só vale a pena quando o polo negativo é eliminado e só desfrutamos do positivo. Para Deus, mais importante do que ter um “como” viver – o máximo de facilidade e o mínimo de dificuldade – é ter uma “razão” para viver. Em outras palavras, o sentido da vida não está em não sofrer, mas em manter-se fiel à tarefa que a vida está lhe pedindo para abraçar neste momento, ainda que isso comporte dor para você. Parafraseando Nietzsche, quem tem uma razão para viver, quem tem uma missão a cumprir, quem tem um sentido para viver, suporta qualquer dor que essa missão comporte. Foi assim que Jesus enfrentou a cruz. É assim que Ele convida você a enfrentar a sua.  

            

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

FECHAR-SE É ADOECER; ABRIR-SE É CURAR-SE!

 Missa do 23º dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 35,4-7a; Tiago 2,1-5; Marcos 7,31-37.

 

É muito conhecida a figura dos três macaquinhos: um tapando os olhos; outro, os ouvidos, e o outro, a boca. Ela representa um provérbio budista: “Não veja o mal, não ouça o mal, não fale o mal”. Se esse ensinamento tem validade para não sermos propagadores do mal na sociedade humana, a imagem dos três macaquinhos pode hoje representar também o mal do individualismo, do fechamento sobre si mesmo e da indiferença para com o próximo: “Não veja o próximo, não ouça o próximo, não fale com o próximo”, uma atitude que nos adoece e nos desumaniza.

A cura deste homem surdo, que falava com dificuldade, nos recorda que há uma relação direta entre ouvir e falar: só aprende a falar quem consegue ouvir. Exatamente porque estamos no mês da Bíblia, é oportuno recordar que o discípulo é aquele que primeiro escuta a Palavra de Deus, para depois se tornar capaz de levar uma palavra de conforto à pessoa abatida: “O Senhor Deus me deu língua de discípulo para que soubesse levar ao cansado uma palavra de conforto. Toda manhã ele me desperta, sim, desperta o meu ouvido para que eu ouça como os discípulos” (Is 50,4).

Já foi dito que, no mundo atual, ninguém escuta ninguém. Consequentemente, cada vez mais ninguém fala com ninguém. O maior estrago acontece nas famílias: seja devido aos horários de trabalho e de estudo, seja devido à correria da vida, não existe tempo dedicado à escuta: pais não escutam seus filhos e estes não escutam seus pais, mesmo porque cada um, no momento em que poderiam dialogar, “vai” para o seu celular, substituindo o escutar e o falar com aquele que está no mesmo ambiente por escutar e falar com quem está fora do ambiente.

A primeira cura de que necessitamos é aquela que se refere à escuta: escutar nossa própria consciência, onde Deus nos fala; escutar os sentimentos que habitam em nosso coração; escutar o nosso corpo, que quando não é ouvido por bem, se faz ouvir por mal (doença); escutar as pessoas com as quais convivemos, cujas atitudes comunicam muito mais do que as palavras; enfim, escutar a vida que nos fala por meio dos acontecimentos. Ao mesmo tempo, precisamos tapar os ouvidos para tantas coisas que nos adoecem, nos fazem mal e nos afastam da nossa própria verdade.  

A segunda cura de que necessitamos é aquela que se refere ao falar. Se é verdade que as palavras podem ferir, também é verdade que podem curar. Às vezes o silêncio é uma forma de agredir o outro. Alguém disse: “Conversem! Conversem sempre! Sobre tudo! Porque o silêncio são pedras, e pedras se tornam muros, e muros dividem”. É preciso comunicar o que se sente, e não esperar que o outro adivinhe o que estamos sentindo. “A cura vem pela fala” (Freud). Importante lembrar também que o falar não é feito somente através de palavras, mas de gestos, atitudes, toques: abraçar, beijar, tocar, acariciar...

            Para curar o homem surdo, que falava com dificuldade, “Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão” (Mc 7,33). Embora o motivo principal seja o fato de que Jesus não queria transformar aquela cura num “espetáculo” para chamar a atenção sobre si mesmo, há aqui uma indicação importante para nós: a cura da minha surdez começa quando eu me afasto do barulho externo da multidão de vozes que fala comigo, impedindo-me de ouvir o meu próprio interior. A multidão de mensagens, de imagens e de vídeos das redes sociais, além de nos intoxicar, nos torna surdos para a voz da sanidade que precisa ser ouvida dentro de nós e nos ajudar a nos concentrar naquilo que de fato é essencial para a nossa vida.   

            Após afastar-se da multidão com o homem, Jesus “colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele” (Mc 7,33). Jesus tocou nos ouvidos e na língua do homem que não ouvia e praticamente não falava. A vida de um relacionamento começa a morrer, começa a atrofiar, quando não existe mais o toque. Nunca como hoje nossos dedos tocam tanto em telas, mas não nas pessoas com as quais convivemos. Nós nos esquecemos de que precisamos ser tocados para saber que existimos.

Eis a terceira atitude de Jesus: “Olhando para o céu, suspirou e disse: ‘Efatá!’, que quer dizer: ‘Abre-te!’ Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade” (Mc 7,34-35). O olhar de Jesus para o céu nos lembra que para Deus nada é impossível. Como afirmou o salmista hoje: o nosso Deus “faz justiça aos que são oprimidos; ele dá alimento aos famintos, é o Senhor quem liberta os cativos. O Senhor abre os olhos aos cegos o Senhor faz erguer-se o caído” (Sl 146,7-8). Através de seu Filho Jesus, o Pai veio sanar a criação, adoecida pelo pecado; Ele veio pronunciar sobre tudo o que está fechado em nós o seu “Abra-se!”.

“Efatá!”; “Abra-se!”. Não se feche na sua dor, na sua solidão, no seu isolamento. Abra-se àquilo que Deus está lhe dizendo, àquilo que a vida está lhe chamando a realizar! Abra-se para ouvir as pessoas à sua volta! Abra-se para falar não só o que você sente, mas também para levar palavras de conforto à pessoa cansada, abatida, deprimida: “Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo!’” (Is 35,4). Abra-se ao amanhã, ao futuro, à esperança, àquilo que Deus deseja realizar em você! Não se feche na sua dor, mas mantenha o seu horizonte aberto àquilo que a vida está lhe trazendo. Não se feche em si mesmo, mas abra-se a tantas pessoas que estão precisando dos seus ouvidos e das suas palavras!

  

Pe. Paulo Cezar Mazzi