Missa da Sagrada Família de Nazaré. Palavra de Deus: Eclesiástico 3,3-7.14-17; Colossenses 3,12-21; Lucas 2,41-52.
A febre é
sempre um sinal importante: ela indica que há alguma infecção no corpo que
precisa ser tratada. No corpo chamado “família” a febre se manifesta
normalmente na criança: depressão, transtorno opositor-desafiador (TOD),
transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno de ansiedade
generalizada (TAG), transtorno obsessivo compulsivo (TOC) etc. Quando
investigamos a causa da febre descobrimos que as infecções podem ser várias:
transtorno de déficit de pai, transtorno de déficit de mãe, ausência de limites,
ausência de frustração, ausência de “não”, ausência de afeto, criação/educação
terceirizada etc.
Também a
Sagrada Família de Nazaré passou por transtornos: espada de dor (cf. Lc 2,35),
fuga para o Egito (cf. Mt 2,13), perda do Menino Jesus em Jerusalém (cf. Lc
2,43-44), para nos recordar de que não existe família perfeita, nem ideal. Pais
não escolhem filhos e filhos não escolhem pais: a vida nos dá uns aos outros,
para que possamos crescer, amadurecer e exercer o cuidado.
A primeira
indicação importante que nos vem do Evangelho é o cuidado da família com a
espiritualidade: “Os
pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa” (Lc 2,41).
Essa realidade mudou drasticamente: nas famílias onde ainda há pai e mãe, a
maioria não pratica nenhuma religião. Cada vez mais as pessoas não veem
necessidade de “irem a um templo”; quando rezam, o fazem em casa mesmo. A única
pessoa da família que vai ao templo é a avó, via de regra. A atitude de Maria e
José de levarem o menino Jesus ao Templo nos recorda uma constatação feita por
Içami Tiba: “Pais que levam seus filhos a uma igreja dificilmente terão que visitá-los
um dia numa prisão”.
“Passados os dias da Páscoa, começaram a
viagem de volta, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais
o notassem” (Lc 2,43). Na vida corrida de hoje em dia quem nota alguém? O
horário de trabalho da mãe ou do pai, somado ao tempo de deslocação para o
mesmo, impede de notar como os filhos estão. Estes, por sua vez, com os olhos
fixados na tela do celular, também não notam como a mãe ou o pai está. A febre
do isolamento, do esgotamento, da depressão ou da ansiedade começa a dar
sinais, mas ninguém nota; se nota, não se tem coragem de enfrentar a situação,
a qual vai exigir um diálogo difícil e a revisão das próprias atitudes.
“Não o tendo encontrado, voltaram para
Jerusalém à sua procura. Três dias depois, o encontraram no Templo” (Lc
2,45-46). Nenhuma família está garantida de não perder ninguém. Quando se
constata o processo de perda, é preciso iniciar o de busca, de regate, de procura.
Os três dias de demora em reencontrar o menino Jesus têm uma ligação teológica
com a sua futura ressurreição ao terceiro dia. Portanto, precisamos resgatar a
nossa confiança de que, em nossa família, aquilo que se perdeu pode ser
reencontrado, assim como aquilo que morreu pode ressuscitar; depende da nossa
decisão em trabalharmos unidos a Deus pela reconstrução da nossa casa, pela
restauração da nossa família.
“Ao vê-lo, seus pais ficaram muito admirados
e sua mãe lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai
e eu estávamos, angustiados, à tua procura’” (Lc 2,48). As atitudes sinalizam
algo, dizem algo. Por que a criança não vai bem, na escola? Por que o filho
adolescente está se isolando cada vez mais? Pai/mãe precisa dialogar com o
filho, questionar suas atitudes. Isso ajuda a entender o que se passa no seu
mundo interior.
“Jesus respondeu: ‘Por que me procuráveis?
Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?’” (Lc 2,49). A resposta de Jesus
a seus pais contém a chave do seu amadurecimento como pessoa: “devo”. Nenhuma
pessoa cresce e se torna responsável fazendo somente o que gosta. É o sentido
do dever que torna uma pessoa capaz de tomar decisões firmes e de não retroceder
diante das dificuldades. Na medida em que vai crescendo, a criança precisa
assumir pequenos deveres. Estudar, arrumar a própria cama, guardar seus
brinquedos, ajudar na limpeza da casa são tarefas que não se faz porque se
gosta, mas porque se deve fazer. Quem só faz o que gosta não cresce, não se
torna adulto e não se responsabiliza pela própria vida; será sempre um adulto
infantilizado, um parasita buscando alguém em quem se encostar e a quem sugar.
“Jesus desceu então com seus pais para
Nazaré, e era-lhes obediente” (Lc 2,51). Só existe obediência quando a mãe ou o
pai não busca ser amado(a), mas respeitado(a) pelo filho. O Eclesiástico deixou
claro que só é ouvido por Deus na oração quem trata com respeito seus pais e
quem não os desampara na velhice.
Ainda uma palavra a respeito da perda:
pais que perderam um filho. “Eu devo estar na casa de meu Pai” (Lc 2,49). Filho
é dom, e não direito dos pais. Quando a vida inverte as coisas e é a mãe ou o
pai que precisa enterrar o filho, é importante lembrar de que aquele filho
pertence, antes de tudo, ao Pai. O filho que partiu está na casa do Pai, lugar
de cada um de nós; casa onde não há mais dor, nem luto, nem sofrimento, nem
lágrimas; lugar onde todos os que foram perdidos serão reencontrados, todos os
que morreram serão ressuscitados, e todas as famílias serão restauradas e se
tornarão uma só família.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
P.S. Países que proíbem ou restringem o
uso de celular nas escolas: Suíça, Portugal, Espanha, Austrália, Estados
Unidos, França, Finlândia, Holanda, México, Escócia e Canadá. Os pais vão
sabotar essa medida no Brasil?
Suécia e outros países abandonam
tecnologia e retornam livros impressos para crianças e jovens.
O que você deu de presente para o seu
filho, no Natal? Um brinquedo eletrônico, uma roupa ou um livro?
Na China o Tik Tok é proibido, e ele é
uma rede social chinesa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário