terça-feira, 31 de dezembro de 2024

VIVER O NOVO ANO COMO FILHOS E NÃO COMO ESCRAVOS

 Missa Maria mãe de Deus. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21.

 

Antes de entrarmos no ano de 2025, vamos recordar as palavras de Moisés a Israel, do mesmo entrar na terra prometida: “Lembra-te de todo o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer... Reconhece no teu coração que o Senhor teu Deus te educava como um homem educa seu filho” (Dt 8,2.5). Para quem olha a vida com os olhos da fé, cada acontecimento tem algo a ensinar, sejam os acontecimentos bons, sejam os ruins, os alegres e os tristes. Para a mentalidade bíblica, a função do pai é “educar” o filho. A palavra “educar” vem do latim educare, educere, que significa literalmente “conduzir para fora” ou “direcionar para fora”. Deus deseja fazer vir para fora o melhor de nós: força, coragem, humanidade, bondade. No entanto, a nossa dificuldade em aceitar sermos educados por Deus pode fazer vir para fora o nosso pior: revolta, raiva,  teimosia, obstinação no erro etc.

            Certamente, muitas coisas que aconteceram ao longo do ano que termina não faziam parte dos nossos projetos, e nem foram causadas por nós. Apesar disso, nós confiamos que “o Senhor desfaz os planos das nações e os projetos que os povos se propõem, mas os desígnios do Senhor são para sempre, e os pensamentos que ele traz no coração, de geração em geração vão perdurar” (Sl 33,10-11). Por isso, bendizemos e agradecemos a Deus não só pelo que pudemos realizar, mas também por aquilo que foi mudado e até mesmo frustrado em nossa vida, porque sua vontade para nós era outra, e a nossa confiança repousa nisso: “Deus faz com que tudo concorra para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio” (Rm 8,28).

Ao entrarmos num novo ano, devemos ter ciência de que “o coração do homem planeja seu caminho, mas é o Senhor que firma seus passos” (Pr 16,9). Estamos aqui para pedir com o salmista: “Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção, e sua face resplandeça sobre nós!” (Sl 66,2). Precisamos que a luz da face do Senhor ilumine o nosso caminho, nos proteja dos perigos e nos dirija segundo a justiça e a verdade. Mais importante de que Deus esteja conosco em nosso caminho de vida neste novo ano, é que cada um de nós se disponha a trilhar o caminho que a sua Palavra nos indica, para que alcancemos a vida e a salvação em seu Filho Jesus Cristo.

            A grande bênção que nós já recebemos de Deus é o fato de Ele ter derramado em nossos “corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá - ó Pai!” (Gl 4,6). Esse clamor é uma declaração de confiança: “Eu não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16,32); “Pai, eu sei que sempre me ouves” (Jo 11,42); “O próprio Espírito se une ao nosso espírito para atestar que somos filhos de Deus” (Rm 8,16). Não podemos nos comportar perante a vida como escravos (medo), mas como filhos (confiança). Com toda a certeza, cada um de nós está preso a algum tipo de escravidão, com seu próprio consentimento. Isso acontece por causa dos ganhos secundários. Apesar disso, somos chamados a ser livres – “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5,1). Isso supõe aprender a lidar com a frustração, com o tédio, como o “ainda não”, sem cair na tentação de buscar falsas compensações.          

            Estamos no oitavo dia do Natal: “Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido” (Lc 2,21). A circuncisão era um corte feito na pele do órgão genital do menino, como sinal de consagração, de pertença a Deus. Ora, fazer um pequeno corte em nosso corpo não é tão doloroso quanto tomar a decisão de cortar da nossa vida atitudes, pessoas e situações que comprometem a nossa consagração diária a Deus e à sua vontade. Além disso, hoje é declarado ao mundo o nome do menino que nasceu para a salvação de todo ser humano: “Jesus”, nome que significa “Deus salva”: “Não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4,12). Em relação a quem ou ao quê você precisa ser salvo(a)? O nome representa a pessoa. Invocar o nome de Jesus significa desejar viver junto d’Ele e pautar a própria conduta imitando-o. Só Jesus pode nos fazer passar da condição de escravos para a condição de filhos: “Se o Filho vos libertar, sereis, realmente, livres” (Jo 8,36).       

Nesta noite pedimos confiantemente ao Pai a sua bênção para o novo ano. “O Senhor te abençoe e te guarde!” (Nm 6,24). Todos precisamos que o Senhor nos guarde não apenas do mal dos homens, mas principalmente do espírito do Mal. Que Ele também nos guarde da covardia, do vitimismo e da falta de vontade em enfrentar aquilo que seremos chamados a enfrentar. “O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti” (Nm 6,25). Todos necessitamos da compaixão do Senhor, porque somos falhos e pecadores. Se acontecer de tropeçarmos e cairmos, que possamos nos levantar e prosseguir o caminho, rumo à meta que Deus deseja que alcancemos. “O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,26). Todos desejamos a paz, mas esta depende de estarmos na vontade de Deus: quando nos afastamos dessa vontade, perdemos a paz. “Se algo rouba a paz do teu coração, é porque ocupou o lugar de Deus” (São Francisco de Assis).

Que Maria Santíssima, rainha da paz, interceda pela paz no mundo e pelo renascimento da esperança no coração de cada ser humano.

   

            Pe. Paulo Cezar Mazzi

Nenhum comentário:

Postar um comentário