Missa Maria mãe de Deus. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21.
Antes de entrarmos no ano de 2025, vamos
recordar as palavras de Moisés a Israel, do mesmo entrar na terra prometida: “Lembra-te
de todo o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer... Reconhece no teu
coração que o Senhor teu Deus te educava como um homem educa seu filho” (Dt 8,2.5).
Para quem olha a vida com os olhos da fé, cada acontecimento tem algo a
ensinar, sejam os acontecimentos bons, sejam os ruins, os alegres e os tristes.
Para a mentalidade bíblica, a função do pai é “educar” o filho. A palavra “educar”
vem do latim educare, educere,
que significa literalmente “conduzir para fora” ou “direcionar para fora”. Deus
deseja fazer vir para fora o melhor de nós: força, coragem, humanidade,
bondade. No entanto, a nossa dificuldade em aceitar sermos educados por Deus
pode fazer vir para fora o nosso pior: revolta, raiva, teimosia, obstinação no erro etc.
Certamente,
muitas coisas que aconteceram ao longo do ano que termina não faziam parte dos
nossos projetos, e nem foram causadas por nós. Apesar disso, nós confiamos que “o
Senhor desfaz os planos das nações e os projetos que os povos se propõem, mas
os desígnios do Senhor são para sempre, e os pensamentos que ele traz no
coração, de geração em geração vão perdurar” (Sl 33,10-11). Por isso,
bendizemos e agradecemos a Deus não só pelo que pudemos realizar, mas também
por aquilo que foi mudado e até mesmo frustrado em nossa vida, porque sua
vontade para nós era outra, e a nossa confiança repousa nisso: “Deus faz com
que tudo concorra para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados
segundo o seu desígnio” (Rm 8,28).
Ao entrarmos num novo ano, devemos ter
ciência de que “o coração do homem planeja seu caminho, mas é o Senhor que
firma seus passos” (Pr 16,9). Estamos aqui para pedir com o salmista: “Que Deus
nos dê a sua graça e sua bênção, e sua face resplandeça sobre nós!” (Sl 66,2).
Precisamos que a luz da face do Senhor ilumine o nosso caminho, nos proteja dos
perigos e nos dirija segundo a justiça e a verdade. Mais importante de que Deus
esteja conosco em nosso caminho de vida neste novo ano, é que cada um de nós se
disponha a trilhar o caminho que a sua Palavra nos indica, para que alcancemos
a vida e a salvação em seu Filho Jesus Cristo.
A grande bênção que nós já recebemos
de Deus é o fato de Ele ter derramado em nossos “corações o Espírito do seu
Filho, que clama: Abá - ó Pai!” (Gl 4,6). Esse clamor é uma declaração de
confiança: “Eu não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16,32); “Pai, eu sei
que sempre me ouves” (Jo 11,42); “O próprio Espírito se une ao nosso espírito
para atestar que somos filhos de Deus” (Rm 8,16). Não podemos nos comportar
perante a vida como escravos (medo), mas como filhos (confiança). Com toda a
certeza, cada um de nós está preso a algum tipo de escravidão, com seu próprio
consentimento. Isso acontece por causa dos ganhos secundários. Apesar disso,
somos chamados a ser livres – “É para a liberdade que Cristo nos libertou.
Permanecei firmes e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão” (Gl
5,1). Isso supõe aprender a lidar com a frustração, com o tédio, como o “ainda
não”, sem cair na tentação de buscar falsas compensações.
Estamos no oitavo dia do Natal: “Quando
se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de
Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido” (Lc 2,21). A
circuncisão era um corte feito na pele do órgão genital do menino, como sinal
de consagração, de pertença a Deus. Ora, fazer um pequeno corte em nosso corpo
não é tão doloroso quanto tomar a decisão de cortar da nossa vida atitudes,
pessoas e situações que comprometem a nossa consagração diária a Deus e à sua
vontade. Além disso, hoje é declarado ao mundo o nome do menino que nasceu para
a salvação de todo ser humano: “Jesus”, nome que significa “Deus salva”: “Não há debaixo
do céu outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4,12). Em
relação a quem ou ao quê você precisa ser salvo(a)? O nome representa a pessoa.
Invocar o nome de Jesus significa desejar viver junto d’Ele e pautar a própria
conduta imitando-o. Só Jesus pode nos fazer passar da condição de escravos para
a condição de filhos: “Se o Filho vos libertar, sereis, realmente, livres” (Jo
8,36).
Nesta noite pedimos confiantemente ao
Pai a sua bênção para o novo ano. “O Senhor te abençoe e te guarde!” (Nm 6,24).
Todos precisamos que o Senhor nos guarde não apenas do mal dos homens, mas
principalmente do espírito do Mal. Que Ele também nos guarde da covardia, do
vitimismo e da falta de vontade em enfrentar aquilo que seremos chamados a
enfrentar. “O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti”
(Nm 6,25). Todos necessitamos da compaixão do Senhor, porque somos falhos e
pecadores. Se acontecer de tropeçarmos e cairmos, que possamos nos levantar e
prosseguir o caminho, rumo à meta que Deus deseja que alcancemos. “O Senhor
volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,26). Todos desejamos a paz, mas
esta depende de estarmos na vontade de Deus: quando nos afastamos dessa
vontade, perdemos a paz. “Se algo rouba a paz do teu coração, é porque ocupou o
lugar de Deus” (São Francisco de Assis).
Que Maria Santíssima, rainha da paz,
interceda pela paz no mundo e pelo renascimento da esperança no coração de cada
ser humano.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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