quinta-feira, 31 de outubro de 2024

SANTIFICAÇÃO: NOS TORNARMOS A PESSOA QUE FOMOS CHAMADOS A SER

 Missa de todos os Santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1 João 3,1-3; Mateus 5,1-12a.

 

Existe a pessoa que somos agora: imperfeita, falha, pecadora, movida pelos interesses do próprio ego; mas existe também a pessoa que somos a chamados a nos tornar: a nossa configuração a Jesus Cristo, “o Santo de Deus” (Jo 6,69), o Filho obediente ao Pai, Aquele que escolheu se deixar conduzir pelo Espírito Santo. Todos somos chamados a ser santos, porque o nosso Deus é Santo.

Segundo o livro do Apocalipse, as pessoas santas trazem consigo “a marca do Deus vivo” (Ap 7,2). Diferente de uma tatuagem, essa marca não pode ser vista, porque ela se encontra na consciência da pessoa. É uma marca de pertença. Ela é dada à pessoa que tem a convicção de que nenhum bem pode ser encontrado fora de Deus (cf. Sl 16,2-3). Ainda segundo o livro do Apocalipse, os santos “vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). A nossa santificação se dá na terra, em meio a muitas tribulações. É em meio a uma sociedade de valores invertidos que cada cristão é chamado a ter mãos puras, um coração marcado pela inocência e uma mente não dirigida para o mal (cf. Sl 24,4).

É verdade que algumas das tribulações que passamos na vida são resultado da nossa obstinação em caminhar fora da vontade de Deus. Contudo, quando procuramos caminhar na fidelidade a Deus, vamos experimentar muitas tribulações, nas quais a nossa vida será mergulhada no sangue do Cordeiro, isto é, no sofrimento de Cristo na cruz pela sua fidelidade ao Pai: “Embora sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência Deus por aquilo que sofreu” (Hb 5,8). Sempre que escolhemos obedecer a Deus, vamos experimentar algum tipo de sofrimento, principalmente de frustração para o nosso ego. Se é verdade que o mundo não reconhece os filhos de Deus (cf. 1Jo 3,1), devemos estar cientes de que precisamos aprender a suportar não apenas sermos ignorados ou tratados com indiferença pelo mundo, mas também sermos criticados, ridicularizados e perseguidos pelo mesmo.      

Jesus, no Evangelho, nos propõe um caminho de santificação: as bem-aventuranças. Elas são atitudes de vida. A proposta de Jesus é que vivamos diariamente a nossa santificação por meio dessas atitudes: ser pobre em espírito, isto é, viver na absoluta dependência de Deus e na confiança em seu amor; ser aflito, no sentido de deixar-se afetar pelo sofrimento alheio; ser manso, tendo paciência consigo mesmo e com os outros; ter fome e sede de justiça, no sentido de não desistir de ser uma pessoa justa e de trabalhar em favor daquilo que é justo; agir com misericórdia para consigo mesmo e para com os outros; ser puro de coração, tendo reta intenção e enxergando o bem que habita em cada pessoa; promover a paz, evitando discórdias desnecessárias e mantendo o foco naquilo que aproxima e reconcilia as pessoas; suportar ser perseguido ou criticado por ser uma pessoa justa, isto é, que procura viver segundo a vontade de Deus; enfim, suportar ser perseguido ou criticado por servir a Jesus e à causa do Evangelho. 

            Segundo o apóstolo João, a santificação é um processo que dura a vida toda e só vai ter a sua conclusão no momento da nossa ressurreição, do nosso encontro com o Senhor Jesus. Partimos daquilo que somos e caminhamos na direção daquilo que somos chamados a ser. O que nós somos como pessoa não é algo definitivo. Estamos em processo, em transformação: a santificação tem por objetivo nos configurar a Jesus, de forma que as pessoas O vejam e O experimentem em nossas atitudes. Eis alguns exemplos concretos de santidade: o neto que decidiu morar com os avós, que estão bastante idosos e com Alzheimer, para cuidar deles ao invés de colocá-los num asilo; a mulher que passou casada a vida toda com um marido infiel, e agora que ele se encontra doente, decidiu cuidar dele; a pessoa que carregou consigo, durante anos, uma doença ou uma ferida e nunca reclamou disso com ninguém...

            Uma última palavra. Na sua Exortação Apostólica sobre a Santidade, o Papa Francisco afirma que “todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra” (GE, n.14). É na rotina de cada dia, nas ocupações diárias, que cada um de nós é chamado a santificar-se e a santificar o mundo. Na prática, isso significa não nos conformar com o mundo (cf. Rm 12,1), isto é, não permitir que o mundo nos deforme, mas procurar distinguir qual é a vontade de Deus diante de cada escolha que fazemos, de cada decisão que tomamos e de cada situação que vivemos.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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