Missa do 28º dom. comum. Palavra de Deus: Sabedoria 7,7-11; Hebreus 4,12-13; Marcos 10,17-27 (forma breve).
Estamos no ano da oração, proposto
pelo Papa Francisco em preparação para o Jubileu dos 2025 anos do nascimento de
nosso Salvador Jesus Cristo. A oração nos lembra que somos seres necessitados;
somos filhos, e o filho vive daquilo que recebe do Pai. Para receber, é preciso
pedir. Mas, o que pedir?
A oração do rei Salomão nos ajuda a
perceber o que é o mais importante a ser pedido: “Orei, e foi-me dada a
prudência; supliquei, e veio a mim o espírito da sabedoria” (Sb 7,7).
Normalmente, o nosso pedido está diretamente relacionado com aquilo que
julgamos ser o mais importante para a nossa vida. Salomão não pediu nem ouro,
nem prata – riqueza material –, mas Sabedoria, entendendo-a como mais
importante que a própria saúde e a beleza. O que nós pediríamos a Deus em nossa
oração hoje? Quantas coisas que pedimos a Deus não são verdadeiramente
necessárias para a nossa vida, e ainda que sejam para esta vida terrena, não o são para a nossa salvação?
Aqui entra a pergunta do jovem rico
a Jesus: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17).
Por que uma pessoa muito rica se preocuparia com a vida eterna? Porque ela
tomou consciência de que a verdadeira vida não é esta; que há uma necessidade profunda no ser humano que dinheiro ou
coisa material alguma consegue responder; que não adianta ter todos os meios
materiais para se viver bem quando não se tem uma razão, um sentido, para
viver. Pois bem: quem de nós está preocupado com a vida eterna? Quem de nós
consegue elevar os olhos acima das necessidades terrenas e se perguntar por sua
salvação, pela vida eterna?
O jovem rico praticava sua religião
de maneira exemplar; não só conhecia como também buscava viver segundo os
mandamentos de Deus. Por isso, “Jesus olhou para ele com amor” (Mc 10,21) e,
por conhecer cada ser humano por dentro, teve a liberdade de dizer àquele jovem
rico: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e
terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” (Mc 10,21). “Só uma coisa te
falta”. O que me falta para ser plenamente de Deus? O que me falta para poder
entrar na vida eterna? Qual coisa, pessoa ou situação tomou o lugar de Deus em
meu coração e está comprometendo a minha salvação? Meu tempo é dedicado a
muitas coisas que julgo serem importantes para a minha sobrevivência neste
mundo, mas que tempo eu dedico para cuidar da minha salvação?
Quando aquele jovem ouviu a proposta
de Jesus, “ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico”
(Mc 10,22). Aqui entra a importância da Palavra de Deus em nossa vida: “Ela
julga os pensamentos e as intenções do coração” (Hb 4,12). Ela nos torna
conscientes das nossas ilusões e das nossas falsas seguranças. Ela nos revela o
quanto nossas atitudes religiosas estão cheias de intenções mundanas, e o
quanto Deus é buscado por nós não por Ele mesmo, mas por algo que desejamos que
Ele nos dê para a vida aqui e agora. Por ser sinônimo de Verdade, a Palavra de
Deus nos confronta com o fato de que, diferente do jovem do Evangelho, o melhor
do nosso tempo e dos nossos esforços não são gastos na busca pela vida eterna,
mas na busca por uma felicidade mundana. Para a maioria das pessoas, a pergunta
que não cala no coração não é “O que devo fazer para ganhar a vida eterna?”,
mas “O que devo fazer para ser feliz?”. Em nome da felicidade aqui e agora,
pessoas perdem a própria salvação, destruindo a vida de outras pessoas e do
Planeta.
Jesus não amenizou as exigências do
Evangelho para evitar que o jovem rico fosse embora. Ele apenas aproveitou o
acontecimento para fazer um alerta aos seus discípulos de ontem e de hoje: “Como
é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!” (Mc 10,23). Por que? Porque “a
raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm 6,10). É a ganância pelo
dinheiro que está por trás do tráfico de drogas e de órgãos, do desmatamento e
dos incêndios que visam destruir a vegetação nativa e criar pasto para engordar
bois e exportar carne; é o desejo por mais dinheiro que corrompe advogados,
juízes, políticos e empresários; que leva indústrias a poluírem a água e o ar;
que faz a indústria farmacêutica e a indústria das armas promoverem a disseminação
da morte em nosso mundo; que leva países a preferirem a guerra à paz; que torna
os pais ausentes da vida dos filhos, provocando nestes uma série de
enfermidades psíquicas...
A ganância por mais dinheiro cria o
inferno não só na vida do ganancioso, mas também na sociedade humana, porque aprofunda
a desigualdade social, a qual, por sua vez, dissemina a violência que provoca a
morte. Portanto, quem, com sua ganância, cria o inferno na Terra não tem como
experimentar o Reino de Deus, que é “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm
14,17). Quem escolheu dar prioridade em sua vida ao Dinheiro, o deus deste
mundo, o deus terreno, ao morrer terá como destino “ser enterrado” (cf. Lc
16,22), e não entrar no Reino dos Céus, pois cada um colhe aquilo que planta.
“Então, quem pode ser salvo?”,
perguntaram os discípulos a Jesus, já que todos nós precisamos de dinheiro para
viver e todos nós vemos o dinheiro como garantia de uma vida tranquila. “Jesus
olhou para eles e disse: ‘Para os homens isso é impossível, mas não para Deus.
Para Deus tudo é possível’” (Mc 10,27). A salvação não é mérito, nem conquista
do ser humano, seja ele rico, seja ele pobre, mas puro dom de Deus. Ele pode
tocar na consciência da pessoa apegada ao dinheiro e convencê-la de que ela
precisa de salvação e esta pode ser obtida usando o excesso do seu dinheiro
para diminuir as injustiças sociais, como aconteceu com o rico Zaqueu (cf. Lc
19,8-10).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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