Missa do 29º dom. comum. Palavra de Deus: Isaías 53,10-11; Hebreus 4,14-16; Marcos 10,27-37.
“Mestre, queremos que faças por nós
o que vamos pedir” (Mc 10,35). Essas palavras de Tiago e João nos colocam
novamente no contexto do Ano da Oração, proposto pelo Papa Francisco, e nos
questionam sobre o que costumamos pedir a Deus, quando rezamos. Eis o pedido
desses dois irmãos a Jesus: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua
esquerda, quando estiveres na tua glória!” (Mc 10,37). O problema é que esse
pedido aconteceu imediatamente após Jesus ter declarado aos discípulos que
estava indo para Jerusalém e lá seria condenado à morte, mas depois
ressuscitaria (cf. Mc 10,32-34). Ora, por que Tiago e João não pediram para
serem crucificados um à direita e outro à esquerda de Jesus? Porque eles eram
como nós, cujo instinto de preservação fala sempre mais alto do que o desejo de
doar a vida por uma causa.
A resposta de Jesus aos dois irmãos
se divide em duas partes: primeiro, um alerta; depois uma pergunta. Este é o
alerta: “Vós não sabeis o que pedis” (Mc 10,38). Aqui podemos nos recordar das
palavras do apóstolo Paulo, a respeito da nossa vida de oração: “Não sabemos o
que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós... segundo
Deus” (Rm 8,26-27). Quando pedimos algo a Deus na oração, sempre visamos aquilo
que pensamos ser necessário para a nossa felicidade, mas o Espírito Santo sabe
o que de fato convém à nossa salvação. Por isso, sua intercessão não vai no
sentido de que Deus faça por nós o que queremos, mas aquilo que Ele, Deus, sabe
ser realmente necessário para a nossa salvação. Portanto, a primeira pergunta a
ser feita é: eu realmente sei o que estou pedindo a Deus quando rezo? Será que
aquilo que eu estou pedindo corresponde, de fato, aos desígnios de Deus a meu
respeito?
Após este alerta, Jesus lança uma
pergunta aos dois irmãos, que queriam estar um à sua direita e outro à sua
esquerda, na glória: “Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?” (Mc
10,38). Antes de ressuscitar e de voltar para a glória do Pai, Jesus precisava
beber o cálice do sofrimento da cruz, e como todo ser humano, ele sentiu em si
uma forte rejeição a esse cálice: “Pai, tudo é possível para ti: afasta de mim
este cálice; porém, não o que eu quero, mas o que tu queres” (Mc 14,36). Aqui
está a diferença entre a nossa oração e a oração de Jesus: a nossa para na
primeira parte – afasta de mim este cálice! –; a de Jesus vai até o fim:
“contudo, não se faça como eu quero, mas como Tu queres!”. Aqui também entra um
princípio inaciano sobre a nossa vida de oração: a oração bem sucedida não é aquela
em que você conseguiu dobrar Deus à sua vontade, mas aquela da qual você saiu
disposto(a) a abraçar a vontade de Deus para a sua vida.
Mas, que Pai é esse que deseja que
um filho seu beba o cálice do sofrimento? Na verdade, o cálice do sofrimento não
foi preparado pelo Pai, mas pelos homens que rejeitaram Jesus e o mataram. O
Pai não pediu ao seu Filho para morrer numa cruz; pediu apenas que Ele amasse
até o fim. Assim também é conosco: Deus não produz sofrimento em nossa vida; o
que Ele pede é que nós não nos desviemos do sofrimento que faz parte da nossa
fidelidade à missão que Ele nos confiou. Dentro do cálice da nossa existência a
vida não derrama somente o vinho doce da alegria, mas também as lágrimas
amargas de uma dor que não escolhemos vivenciar e que cabe a nós beber, não a
outra pessoa. Neste sentido, pais que impedem seus filhos de beberem o cálice
da frustração os tornam incapazes de enfrentarem a vida de cara limpa.
Olhemos agora para os outros dez
discípulos. A indignação deles em relação a Tiago e João escondia a inveja de
quem não teve a coragem de fazer o mesmo pedido a Jesus. Por conhecer o coração
humano, Jesus desafiou os Doze a se desfazerem da pretensão de serem grandes,
segundo os padrões do mundo, e escolherem se fazer pequenos, servos; mais do
que servos, escravos, imitando o próprio Jesus, que veio para servir e dar sua
vida em resgate por muitos. Ora, todo resgate tem um preço, e esse preço está
dentro do cálice a ser bebido. A questão, para cada um de nós, é esta: o que eu
estou disposto(a) a sacrificar para resgatar aquilo que é precioso para mim?
Estou vivendo minha existência a partir do desfrutar – o que a vida tem a me
oferecer? –, ou a partir do doar-me – o que eu tenho a oferecer à vida?
Para
todos aqueles que decidiram seguir Jesus amando até o fim e bebendo do cálice
que lhes cabe beber neste momento, a carta aos Hebreus encoraja: “Permaneçamos
firmes na fé que professamos. Com efeito, temos um sumo sacerdote capaz de
se compadecer de nossas fraquezas... Aproximemo-nos, então, com toda a
confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a
graça de um auxílio no momento oportuno” (Hb 4,14-16). Recordemos também as
palavras do salmista: “O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem, e que
confiam esperando em seu amor, para da morte libertar as suas vidas e
alimentá-los quando é tempo de penúria” (Sl 33,18-19). Façamos nossa a sua
oração: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós
esperamos!” (Sl 33,22).
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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