quarta-feira, 9 de outubro de 2024

A FORÇA DA MULHER TANTO PODE GERAR VIDA QUANTO MORTE; TUDO DEPENDE DOS SEUS VALORES.

 Missa de Nossa Senhora Aparecida. Palavra de Deus: Ester 5,1b-2.7,2b-3; Apocalipse 12,1.5.13a.15-16a; João 2,1-11.

 

            “Mulher peregrina, força feminina, a mais importante que existiu. Com justiça queres que nossas mulheres sejam construtoras do Brasil”. Se antigamente a mulher era vista como “sexo frágil”, hoje essa visão está mais do que ultrapassada. A maior força da Igreja são as mulheres, assim como acontece na maioria das famílias brasileiras. São elas que mais rezam, que mais trabalham e que mais lutam para manter nossas igrejas e nossas famílias em pé.

Esse protagonismo da mulher está retratado na figura da rainha Ester. Se todos temem o rei e o seu cetro, símbolo do seu poder, a beleza e a delicadeza de Ester conseguem mudar os planos do rei (destruição em massa dos judeus) e salvar o seu povo: “Concede-me a vida — eis o meu pedido! — e a vida do meu povo — eis o meu desejo!” (Est 7,3). Ester é a imagem da mulher que não é fútil, nem vulgar, nem egoísta. Ela não pensa em si, nem nos seus caprichos pessoais, mas na sobrevivência do seu povo. Diferente de Ester, nós temos muitas mulheres fúteis e vazias, cuja única preocupação é com sua estética. Aliás, quando a mulher quer, ela também pode usar o seu poder para matar e destruir. Exemplo claro disso é a rainha Jezabel (cf. 1Rs 21).

Se Ester intercede e salva seu povo da destruição, Nossa Senhora intercede e salva um casamento. “Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não têm mais vinho’” (Jo 2,3). A mulher tem uma sensibilidade mais aguçada do que o homem. Ela percebe o que falta. O vinho simboliza a alegria. Mas a falta de alegria em muitas famílias precisa nos fazer perguntar: do que depende a alegria de uma família? A alegria da bebida alcoólica, das músicas altas e do consumismo é rapidamente substituída pela ressaca da depressão, pelo sentimento de vazio e pelas dívidas. Mas a atitude de Nossa Senhora nos fala não só da sensibilidade de quem percebe o que falta; muito mais que isso, ela revela uma mulher que tem atitude. Diante daquilo que está faltando numa casa, numa família, em nossa Igreja, num ambiente de trabalho, no mundo, temos que aprender com Nossa Senhora a nos mexer e a tomarmos atitudes para enfrentarmos o problema da falta de vinho.

Só Jesus pode nos dar o vinho novo, símbolo do Espírito Santo, da alegria de Deus derramada em nossos corações, mas é preciso que estejamos dispostos a viver segundo os ensinamentos do Evangelho: “Sua mãe disse aos que estavam servindo: ‘Fazei o que ele vos disser!’” (Jo 2,5). Ela mesma já havia dito ao anjo Gabriel: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra!” (Lc 1,38). A maneira como lidamos com nossa vida no dia a dia – relacionamentos, estudo, trabalho, lazer, afetividade e sexualidade, escolhas e decisões – tem como orientação a Palavra do Evangelho ou as pressões e tendências do momento? A principal atitude é “servir” e não “mandar”. A pior atitude é assumir a posição de sempre esperar “ser servido”.     

            O resultado da intercessão de Nossa Senhora é o surgimento do “vinho novo”, de um vinho melhor do que aquele que havia no começo da festa. Todos nós tememos pela rotina que desgasta o sentido daquilo que construímos. Nos esquecemos de que Jesus tem o poder de fazer novas todas as coisas; de nos dar o dom do Espírito Santo, que renova a face da terra. Ao mesmo tempo, Ele nos pergunta se, de fato, desejamos o novo e se estamos dispostos a mudar nossas atitudes, para que o novo possa nascer: “Ninguém, após ter bebido vinho velho, quer do novo. Pois diz: ‘O velho é que é bom!” (Lc 5,39). Jesus encontrou resistência em muitas pessoas do seu tempo, que não acolheram a novidade do Evangelho. Esse desejo pelo velho é a tendência atual das novas gerações em nossa Igreja.

            Olhemos, enfim, para a imagem de Nossa Senhora no Apocalipse: uma mulher que dá à luz um filho diante de um Dragão. Esse Dragão é o Maligno, pai da mentira e assassino (cf. Jo 8,44; Ap 12,9). Suas seduções sempre provocam uma violência que leva à morte, ainda que tal violência e tais mortes sejam falsamente justificadas para se combater o mal, o inimigo. Nossa Senhora nos convida e trabalharmos pela vida e pela esperança, mesmo vivendo em um mundo contrário à vida e desesperançado, lembrando o conselho de São Paulo: “Se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, sobretudo dos que têm fé” (1Tm 4,10). Não nos esqueçamos de que Nossa Senhora foi aclamada por Isabel com essas palavras: “Feliz aquele que teve fé na palavra do Senhor!” (Lc 1,45).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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