Missa de Cristo, Rei do universo. Palavra de Deus: Daniel 7,13-14; Apocalipse 1,5-8; João 18,33b-37.
Para entendermos o título atribuído
a Jesus como Rei do universo, recordemos o que Deus disse ao profeta Samuel,
quando o povo de Israel quis ter um rei: “Não é a ti que eles rejeitam, mas é a
mim que eles rejeitam, porque não querem mais que eu reine sobre eles” (1Sm 8,7).
Ao pedir um rei, Israel queria, na verdade, ter a sua segurança garantida por
um exército, pois era uma época de muitos conflitos e guerras com diversos
povos. O erro de Israel foi se esquecer de que um rei só consegue manter um
exército cobrando impostos do seu povo.
Quem reina sobre nós? Quem nós
queremos ou permitimos que reine sobre nós? O rei exerce domínio sobre seu
povo. Alguém, alguma situação ou algo exerce domínio sobre você atualmente? Não
nos esqueçamos de que ninguém é totalmente livre e autônomo; todo ser humano
escolhe debaixo de qual domínio se colocar. Quem não escolhe livremente
depender de Deus, acaba por sofrer uma dependência imposta a partir de fora,
tornando-se escravo de um vício, de um pecado, de uma relação doentia ou do
próprio espírito do mal.
A história humana já teve inúmeros
reis, mas, na verdade, só existe um rei que faz o mundo dobrar os joelhos diante
dele: o dinheiro. O fascínio por ele provoca guerras, violência e morte. A
servidão a esse “rei” corrompe políticos e líderes religiosos, destrói
casamentos e distancia os pais dos filhos. O próprio Jesus foi tentado a “facilitar”
a sua vida colocando a sua segurança na ilusão das riquezas: “Eu te darei todo
este poder e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e eu a dou a
quem eu quiser” (Lc 4,6). Mas Jesus escolheu viver na absoluta dependência do
Pai e jamais na falsa autonomia de uma vida financeira confortável. Resumindo,
por trás da servidão ao dinheiro está uma dependência escolhida de submissão a
Satanás, o “príncipe deste mundo” (Jo 12,31; 14,30) .
Depois de descrever o desmoronamento
dos reinos humanos, que produzem sofrimento, injustiça, violência e morte,
Daniel nos fala do “Filho do Homem”, representação do Deus humano, a quem foi
entregue o poder de julgar todas as nações: “Seu poder é um poder eterno que
não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá” (Dn 7,14). Quem
livremente se coloca debaixo do seu domínio salvífico é liberto de todo domínio
que escraviza, adoece, fere e mata: “Se o Filho vos libertar, vós sereis
verdadeiramente livres” (Jo 8,36).
Mas a questão é: nós realmente
queremos ser livres? Ser livre significa responsabilizar-se pela sua própria
vida. A maioria das pessoas escolhe responsabilizar alguém ou as circunstâncias
pelos males que lhes acontecem, esquecendo-se de que são as escolhas e as
decisões delas no dia a dia que determinam o seu próprio destino. Que as
circunstâncias influenciam a nossa vida, isso é fato, mas influenciar não
significa determinar. O que, de fato, determina a nossa vida são as nossas
decisões diante das circunstâncias em que nos encontramos. Neste sentido, cada
um precisa tomar nas mãos as rédeas da própria vida e assumir o domínio sobre
suas escolhas e decisões.
A liberdade que Jesus veio nos
oferecer está intimamente ligada ao conhecimento da verdade: “Conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). “Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para
isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a
minha voz” (Jo 18,37). Jesus nunca foi dominado por nenhum tipo de escravidão
porque escolheu viver na verdade do Pai. Essa verdade é a Palavra de Deus (“tua
palavra é verdade”: Jo 17,17) que nos liberta das mentiras do diabo – o “pai da
mentira” (Jo 8,44). Se muitas pessoas hoje vivem debaixo de algum domínio que
as escraviza e adoece é porque não querem escutar a voz de Jesus, isto é, não
querem obedecer à verdade da sua Palavra, abrindo mão das falsas compensações
provenientes da mentira do seu pecado ou dos seus enganos.
Algumas perguntas que cada um de nós
precisa se fazer, nesta Festa de Cristo Rei: Quem eu permito que exerça domínio
sobre mim: o Rei do Universo ou o príncipe deste mundo? Eu escolho me orientar
diariamente pela verdade que é Cristo ou pelo “pai da mentira”, que é o diabo? Eu
me responsabilizo pelo meu destino, que é construído todos os dias pela liberdade
que tenho ao fazer escolhas e tomar decisões, ou me coloco numa posição de
vítima dos acontecimentos?
Senhor Jesus Cristo, o Pai lhe
concedeu o poder de salvar todo ser humano, mas tal salvação é uma escolha que
cada pessoa tem que fazer. Eu escolho obedecer à sua voz e viver segundo a
verdade do seu Evangelho. Retira-me debaixo do domínio do espírito do mal, o
príncipe deste mundo, e guarda-me sob o seu domínio, capaz de me libertar,
curar e salvar. Venha o seu Reino! Reine sobre a consciência e o coração de
cada ser humano. Estende o seu domínio salvífico sobre toda pessoa escrava do
pecado pessoal e desumanizada pelo pecado social. Reine, Senhor, em nossas
casas, escolas, locais de trabalho, cidades e países. Revela-nos a verdade capaz
de nos libertar das mentiras e dos enganos que nos adoecem. Destina cada um de
nós para o seu Reino Eterno. Amém!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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