quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O FIM ESTÁ DENTRO DE UMA FINALIDADE

 Missa do 33º dom. comum. Palavra de Deus: Daniel 12,1-3; Hebreus 10,11-14.18; Marcos 13,24-32.

 

Os dois textos principais da Liturgia da Palavra de hoje – o profeta Daniel e Jesus (Evangelho) – querem nos tornar conscientes de que existe um fim. Este fim é a intervenção definitiva de Deus na história humana, para acabar de vez com o mal, a injustiça e a morte e fazer triunfar o bem, a justiça e a vida. Tanto Daniel quanto Jesus falam conosco a partir de uma linguagem apocalíptica, segundo a qual a história humana não está nas mãos de nenhum homem poderoso da face da terra, mas de Deus, cujo Reino se estabelecerá após o fim de todos os reinos humanos, que causaram dor e sofrimento à humanidade.

Aos judeus, que estavam sendo massacrados pelo rei Antíoco IV Epífanes (167 aC), Daniel encoraja afirmando a intervenção de Deus através do Arcanjo Miguel, que se levantará para defender o povo de Deus, que vive mergulhado num tempo de grande angústia: “Será um tempo de angústia, como nunca houve até então... Mas, nesse tempo, teu povo será salvo” (Dn 12,1). Nós também vivemos um tempo de grande angústia, não somente devido aos problemas do tempo presente, mas em relação ao nosso próprio futuro. O que agrava o sentimento de angústia em nós é o enfraquecimento da esperança e a consequente perda de sentido da vida. Temos a impressão de que o mal sempre vence o bem, e o próprio Deus parece ausente da história humana, tendo abandonado o homem a si mesmo.

Mas, na época de Daniel, os judeus perguntavam: ainda que Deus intervenha e faça justiça, acabando com o mal no mundo, de que adiantaria isso se tantos que nós amamos morreram e não serão beneficiados com a salvação de Deus? Eis aqui a resposta de Daniel: os mortos ressuscitarão e terão destinos diferentes: os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida eterna; os que fizeram o mal, para a vergonha eterna (cf. Jo 5,28-29!). Nada ficará impune. Portanto, se vivemos num mundo onde cada vez mais pessoas desistem de fazer o bem e se entregam à indiferença, lembremos a advertência de Jesus: “Aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24,13; Mc 13,13).   

Vivendo num tempo de grande angústia, precisamos renovar diariamente nossa confiança em Deus, rezando com o salmista: “Meu destino está seguro em vossas mãos! Eis por que meu coração está em festa, minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no repouso (na morte!) está tranquilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte” (Sl 16,5.9-10). Nossa vida não está nas mãos do acaso, mas de Jesus, a quem o Pai confiou o destino de salvação da humanidade. Se existe um fim, esse fim significa finalidade: “recapitular (reunir, resgatar, sanar) em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra” (Ef 1,10).

Jesus também nos torna conscientes do fim, no Evangelho de hoje. Esse fim será precedido por uma grande tribulação (“No mundo tereis tribulações, mas coragem: eu venci o mundo!” – Jo 16,33). Após essa tribulação, sol, lua e estrelas perderão o brilho, uma linguagem bíblica apocalíptica para falar da intervenção de Deus para destruir o mal e libertar o seu povo (cf. Is 13,10). Aqui voltamos para a profecia de Daniel: “Os que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos homens os caminhos da virtude, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade” (Dn 12,3). É uma referência à glorificação dos corpos dos ressuscitados.

Na verdade, essa escuridão total do céu já se deu no momento da morte de Jesus (cf. Mc 15,33). Ali começou o julgamento de Deus sobre a humanidade e a condenação de todos os que fazem o mal. Jesus, por sua vez, contrasta a escuridão do céu com a luz da sua vinda gloriosa: “Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra” (Mc 13,26-27). Portanto, nós, cristãos, não vivemos angustiados esperando pelo fim do mundo, mas vivemos cheios de esperança pela vinda do nosso Salvador Jesus Cristo: “Ele virá uma segunda vez, (...) para aqueles que o esperam para lhes dar a salvação” (Hb 9,28).

  Olhemos para a nossa história pessoal e social. Nós já experimentamos a angústia do fim diversas vezes: o fim da infância, da adolescência, da juventude, da idade adulta, da saúde, do relacionamento, da vida de uma pessoa que amamos, do nosso animal de estimação, de um sonho etc. Para quantos de nós o fim de algo precioso conseguiu colocar fim à nossa alegria, à nossa fé, à nossa esperança em Deus? Mas hoje a Palavra de Deus nos convida a olhar para além do fim. Não existe “algo” além do fim, mas “Alguém”, nosso Salvador Jesus, Aquele a quem a Igreja, animada, sustentada, pela força do Espírito Santo, chama continuamente: “Vem!” (cf. Ap 22,17). Portanto, o fim está dentro de uma finalidade...

 

Oração: Senhor Jesus, a minha existência está dentro de uma finalidade e não entregue às mãos do acaso. Cada fim que eu já experimentei em minha história de vida só foi permitido pelo Pai porque há uma finalidade, há um propósito, uma razão de ser que ultrapassa a minha compreensão, mas que eu confio, porque sei que o meu destino está seguro em tuas mãos. Quero confiar que o fim deste mundo injusto é necessário para o nascimento de um mundo novo, de “novos céus e de uma nova terra onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). Que o Senhor, ao vir, me encontre perseverando no bem, cuidando com fidelidade e amor da tarefa que me foi confiada. Ajuda-me a atravessar esse tempo de grande angústia mantendo meu coração firmado na intervenção final do Pai em vista da restauração de todas as coisas em Ti. Que o teu Santo Espírito complete em mim a obra começada, até o dia da Tua vinda. Amém!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi  

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