Missa do 33º dom. comum. Palavra de Deus: Daniel 12,1-3; Hebreus 10,11-14.18; Marcos 13,24-32.
Os dois textos principais da Liturgia da
Palavra de hoje – o profeta Daniel e Jesus (Evangelho) – querem nos tornar
conscientes de que existe um fim. Este fim é a intervenção definitiva de Deus
na história humana, para acabar de vez com o mal, a injustiça e a morte e fazer
triunfar o bem, a justiça e a vida. Tanto Daniel quanto Jesus falam conosco a
partir de uma linguagem apocalíptica, segundo a qual a história humana não está
nas mãos de nenhum homem poderoso da face da terra, mas de Deus, cujo Reino se
estabelecerá após o fim de todos os reinos humanos, que causaram dor e
sofrimento à humanidade.
Aos judeus, que estavam sendo
massacrados pelo rei Antíoco IV Epífanes (167 aC), Daniel encoraja afirmando a
intervenção de Deus através do Arcanjo Miguel, que se levantará para defender o
povo de Deus, que vive mergulhado num tempo de grande angústia: “Será um tempo
de angústia, como nunca houve até então... Mas, nesse tempo, teu povo será
salvo” (Dn 12,1). Nós também vivemos um tempo de grande angústia, não somente
devido aos problemas do tempo presente, mas em relação ao nosso próprio futuro.
O que agrava o sentimento de angústia em nós é o enfraquecimento da esperança e
a consequente perda de sentido da vida. Temos a impressão de que o mal sempre
vence o bem, e o próprio Deus parece ausente da história humana, tendo
abandonado o homem a si mesmo.
Mas, na época de Daniel, os judeus
perguntavam: ainda que Deus intervenha e faça justiça, acabando com o mal no
mundo, de que adiantaria isso se tantos que nós amamos morreram e não serão
beneficiados com a salvação de Deus? Eis aqui a resposta de Daniel: os mortos
ressuscitarão e terão destinos diferentes: os que fizeram o bem ressuscitarão
para a vida eterna; os que fizeram o mal, para a vergonha eterna (cf. Jo
5,28-29!). Nada ficará impune. Portanto, se vivemos num mundo onde cada vez
mais pessoas desistem de fazer o bem e se entregam à indiferença, lembremos a
advertência de Jesus: “Aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt
24,13; Mc 13,13).
Vivendo num tempo de grande angústia,
precisamos renovar diariamente nossa confiança em Deus, rezando com o salmista:
“Meu destino está seguro em vossas mãos! Eis por que meu coração está em festa,
minha alma rejubila de alegria, e até meu corpo no repouso (na morte!) está
tranquilo; pois não haveis de me deixar entregue à morte” (Sl 16,5.9-10). Nossa
vida não está nas mãos do acaso, mas de Jesus, a quem o Pai confiou o destino
de salvação da humanidade. Se existe um fim, esse fim significa finalidade: “recapitular
(reunir, resgatar, sanar) em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as
que estão na terra” (Ef 1,10).
Jesus também nos torna conscientes do
fim, no Evangelho de hoje. Esse fim será precedido por uma grande tribulação (“No
mundo tereis tribulações, mas coragem: eu venci o mundo!” – Jo 16,33). Após
essa tribulação, sol, lua e estrelas perderão o brilho, uma linguagem bíblica apocalíptica
para falar da intervenção de Deus para destruir o mal e libertar o seu povo
(cf. Is 13,10). Aqui voltamos para a profecia de Daniel: “Os que tiverem sido
sábios, brilharão como o firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos homens
os caminhos da virtude, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade” (Dn
12,3). É uma referência à glorificação dos corpos dos ressuscitados.
Na verdade, essa escuridão total do céu
já se deu no momento da morte de Jesus (cf. Mc 15,33). Ali começou o julgamento
de Deus sobre a humanidade e a condenação de todos os que fazem o mal. Jesus,
por sua vez, contrasta a escuridão do céu com a luz da sua vinda gloriosa: “Então
vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele
enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma
extremidade à outra da terra” (Mc 13,26-27). Portanto, nós, cristãos, não vivemos angustiados esperando pelo
fim do mundo, mas vivemos cheios de esperança pela vinda do nosso Salvador
Jesus Cristo: “Ele virá uma segunda vez, (...) para aqueles que o esperam para
lhes dar a salvação” (Hb 9,28).
Olhemos para a nossa história pessoal e
social. Nós já experimentamos a angústia do fim diversas vezes: o fim da infância,
da adolescência, da juventude, da idade adulta, da saúde, do relacionamento, da
vida de uma pessoa que amamos, do nosso animal de estimação, de um sonho etc.
Para quantos de nós o fim de algo precioso conseguiu colocar fim à nossa alegria,
à nossa fé, à nossa esperança em Deus? Mas hoje a Palavra de Deus nos convida a
olhar para além do fim. Não existe “algo” além do fim, mas “Alguém”, nosso
Salvador Jesus, Aquele a quem a Igreja, animada, sustentada, pela força do Espírito
Santo, chama continuamente: “Vem!” (cf. Ap 22,17). Portanto, o fim está dentro
de uma finalidade...
Oração: Senhor Jesus, a minha existência
está dentro de uma finalidade e não entregue às mãos do acaso. Cada fim que eu
já experimentei em minha história de vida só foi permitido pelo Pai porque há
uma finalidade, há um propósito, uma razão de ser que ultrapassa a minha
compreensão, mas que eu confio, porque sei que o meu destino está seguro em
tuas mãos. Quero confiar que o fim deste mundo injusto é necessário para o
nascimento de um mundo novo, de “novos céus e de uma nova terra onde habitará a
justiça” (2Pd 3,13). Que o Senhor, ao vir, me encontre perseverando no bem,
cuidando com fidelidade e amor da tarefa que me foi confiada. Ajuda-me a
atravessar esse tempo de grande angústia mantendo meu coração firmado na
intervenção final do Pai em vista da restauração de todas as coisas em Ti. Que
o teu Santo Espírito complete em mim a obra começada, até o dia da Tua vinda.
Amém!
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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