Missa
Maria, Mãe de Deus. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas
2,16-21.
Nesta noite (ou neste dia) em que
começamos a viver um novo ano, uma pergunta torna-se necessária: Que rumo você
pretende dar à sua vida neste novo ano? Que rumo você gostaria de dar à sua
vida afetiva (relacionamentos), profissional (financeira) ou espiritual, neste
ano de 2017? O rumo que damos à nossa vida depende do que desejamos alcançar;
depende de onde queremos chegar... Por isso, é importante lembrar esta verdade:
“Se você não sabe aonde quer ir, qualquer caminho serve” (Lewis Carroll). Se
você não toma a sua vida nas mãos e não assume a responsabilidade por suas
escolhas e decisões, viverá o ano de 2017 como uma folha seca, jogada de um
lado para o outro pelo vento do acaso...
É verdade que o rumo que escolhemos
dar à nossa vida, seja em que sentido for, também é afetado a partir de fora,
pela situação política e econômica do nosso país; no entanto, é muito
importante que cada um de nós tenha um desejo, um objetivo, uma meta; que cada
um de nós saiba para onde quer ir com sua vida. Isso nos ajuda a fazer escolhas
e tomar decisões segundo os valores que devem orientar a nossa consciência e o
nosso coração, ao invés de simplesmente ‘seguirmos o fluxo’, vivendo como
‘massa de manobra’ e permitindo que o mundo nos ‘deforme’ segundo a sua própria
desorientação.
Ao iniciarmos um novo ano, o
apóstolo Paulo nos coloca diante de uma palavra sempre presente nos lábios e no
coração de Jesus, em seu relacionamento com Deus: a palavra “Abbá”, que
significa “Papai”. Paulo nos convida a rejeitar a identidade que o mundo quer
nos impor a partir de fora, a identidade de escravos: escravos do medo, da
insegurança e da superstição; escravos do consumismo, das drogas e do dinheiro;
escravos da tecnologia, da vaidade e da ignorância religiosa. Eis as palavras do
apóstolo: “Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama:
‘Abbá! Pai!’ Portanto, você já não é escravo, mas filho” (Gl 4,6-7).
A palavra “Abbá/Papai!” deve estar
presente em seus lábios e em seu coração em cada passo, nessa nova estrada que
se abre diante de você, que é o ano de 2017. ‘Eu não sou uma pessoa órfã,
jogada ao acaso neste mundo. Papai me guia, me orienta, me protege. Papai me
sustenta; às vezes, quando é necessário, me carrega no colo; outras vezes, Ele
me lembra que eu tenho duas pernas sobre as quais me sustentar em pé e com as
quais caminhar como uma pessoa adulta, sem fazer corpo mole. Papai também me
corrige, permitindo que eu sofra a consequência de meus erros para que eu possa
aprender o que preciso aprender. Papai constantemente me recorda que Ele é
Papai de todos os seres humanos; portanto, todos os homens são meus irmãos;
todos, sem nenhuma exceção’.
Para o mundo bíblico, a única
“coisa” que mantém um filho vivo, realizado, em paz e feliz, é a bênção de seu
pai. Por isso, cada um de nós, filho/filha de Deus, é convidado a se colocar
sob a bênção do nosso Abbá/Papai, invocando também esta bênção sobre todo ser
humano, especialmente sobre aqueles que, por causa das guerras, dos conflitos,
da violência, das perseguições; por causa de algum tipo de injustiça, da
doença, da fome ou do desemprego, não estão conseguindo saber para onde ir com
sua vida; sobre todos estes, especialmente, nós invocamos a bênção do nosso
Abbá/Papai: “O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a
sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda
a paz” (Nm 6,24-26).
O dia 1º. de janeiro é o dia mundial da
paz. Na sua mensagem para este dia, o Papa Francisco nos convida a fazer “da
não violência ativa o nosso estilo de vida... Desde o nível local e diário até
ao nível da ordem mundial, possa a não violência tornar-se o estilo característico
das nossas decisões, dos nossos relacionamentos, das nossas ações...”. Segundo
Francisco, a humanidade vive hoje uma espécie de “guerra mundial aos pedaços...
Esta violência que se exerce ‘aos pedaços’, de maneiras diferentes e a variados
níveis, provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes: guerras em
diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados
imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico
humano; a devastação ambiental... A violência não é o remédio para o nosso
mundo dilacerado”. Por fim, o nosso Papa afirma que “nenhuma religião é
terrorista. A violência é uma profanação do nome de Deus. Nunca nos cansemos de
repetir: jamais o nome de Deus pode justificar a violência. Só a paz é santa.
Só a paz é santa, não a guerra” (Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial
da Paz 2017).
Voltando nosso coração para o Evangelho
de hoje, somos convidados a aprender com Maria a meditar e conservar no coração
todas as coisas, procurando perceber nos acontecimentos os apelos de Deus, a
voz do Seu Espírito nos falando, nos conduzindo para fora dos nossos horizontes
fechados, nos ajudando a reencontrar o rumo que devemos dar à nossa vida, para
que ela possa atingir a meta que Deus deseja para nós, para toda a humanidade:
a comunhão com Seu Filho Jesus Cristo e sua salvação.
Oito dias depois de seu nascimento, o
Filho de Deus nascido de Maria recebeu o nome de Jesus, que significa “Deus
salva”. Nós, seres humanos, temos consciência de que precisamos ser salvos?
Onde e de que forma costumamos buscar nossa salvação? A salvação do filho está na
presença do Pai junto de si. Se Jesus, ao nascer, nos deu a bênção da filiação
adotiva e, por meio d’Ele, podemos chamar a Deus de Abbá/Papai, o Pai, por sua
vez quis fazer da presença de seu Filho junto a nós a presença da Sua própria
salvação. Que estes dois nomes estejam em nossos lábios e em nosso coração ao
longo deste novo ano: pelo nome “Abbá/Papai”, afirmamos a consciência da nossa
filiação divina, e pelo nome “Jesus” invocamos a salvação do Pai sobre cada um
de nós, sobre cada filho Seu.